quinta-feira, junho 30, 2005

Tripudiando sobre os cadáveres - Ensaio veemente sobre justiça e moral.

Me preocupa muito a forma como o povo brasileiro tem aceitado sem manifestações as denúncias de corrupção, desvios de verbas públicas e a safadeza presentes no governo federal. Me preocupa pois o povo não sabe diferenciar justiça de moral e eu, com 28 anos, enfim posso compreender melhor porque está difícil ser músico no meu país.
As leis são criadas para não serem transgredidas, enfim, são limites do livre arbítrio e da moral. A justiça é a legitimação dos indivíduos. A moral humana é o que livra o homem do pecado de matar pois a fome e as desigualdades humanas validam qualquer atitude do nosso básico instinto. A sociedade é a forma que construímos para não nos comermos a todos. A moral foi devidamente trocada pela vontade coletiva, ou seja, pela proteção contra a morte, pela segurança civil e pelos direitos públicos respeitados pelo regime governamental. E no Brasil somos uma república democrática manca, de fragmentos europeus, norte-americanos e da antiguidade grega. A justiça é um fragmento de tudo o que deveria ser mais sólido e prático no país. Não é! A federação e a população estão aos pedaços.
Fiquei feliz com o tratoraço em Brasília. Enfim, quem mora lá parece não estar nem aí pro Roriz ou pras manifestações verdadeiras. Para quem não sabe, em 1998 eu decidi ir embora de minha cidade por causa do governador eleito Roriz e hoje moro em Marília, SP. Aqui rolam politicagens econômicas e roubo igualmente, mas o custo de vida mais justo e a facilidade de alienação são menores do que na capital do país.
Outra coisa injusta pra caramba é a CPMF, dinheiro separado na fonte dos contribuintes para resolver problemas da saúde pública que não está em uso. Daqui a pouco vem um espertalhão e desvia tudo para o exterior e nunca mais veremos estes tributos.
Outra pouca vergonha é o IPVA. Imposto sobre veículos, com seguro obrigatório e tudo o menos para cuidar das estradas e rodovias federais. Você paga ainda um pedágio, uma invenção neo-liberal, ou pedágios em rodovias estaduais para ter o direito de trafegar decentemente. Então para que serve o IPVA?
Privatizações? Maior vergonha pela qual já passamos. Ali retrocedemos uns 40 anos em questão de política pública. O povo foi deixado de lado mais uma vez.
Hoje pagamos por muitos serviços. Mas o que me preocupa mesmo é a justiça. Serão os condenáveis presos e obrigados a devolver o dinheiro público? Serão eles moralizados pelo esquecimento popular? Bom, é direito de quem está com fome ir atrás de alguns deles e comê-los, seria uma arte moderna antropofágica pois os imorais não cometem suicídio no Brasil.

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