domingo, julho 10, 2005

Um telescópio apontado para o meu coração - Extemporânea n# 1

Já tive muito tempo para questionar a sanidade das coisas que penso sobre política, sobre o papel da humanidade, tecnologia e modernidade, pós-modernidade, artes plásticas. Sei quais são minhas preferências e tenho tido grande prazer estudando novamente os conceitos do que revolucionou o modo de pensar científico do século retrasado. O que são ideologias deixou de ser uma preocupação pois estou entretido na observação do que está acontecendo conosco. Sim! Conosco pois a cada dia que passa eu me sinto mais e mais compromissado com o todo do que comigo de um jeito especial. Nas fases boas da vida, onde tudo conspira a nosso favor, realmente vemos a maldade nas coisas e a podridão dos nossos anos de escravidão intelectual moldados em nosso sorriso. Apenas o amor toca de verdade o ser humano, isto eu aprendi na carne.
O que penso é simples. Eu vejo uma espiral de fatos todos rolando sobre nós e cada um destes fatos representa uma idéia do que está acontecendo, acontecerá e as conseqüências do que já foi ao mesmo tempo em que esqueço minha origem e tento refletir a humanidade. Uma meditação instantânea e pronto. Assim, vinte e quatro horas por dia, desde o dia em que eu nasci e constantemente. O sono representa uma fração do que é a experiência do saber.
Por exemplo. O referendo sobre desarmamento foi votado e estabelecido que o voto popular irá decidir se armas serão ou não vendidas no Brasil. Fato: mais de trezentos mil armas foram recolhidas pela campanha de desarmamento do governo. Efeito: a classe média não tem interesse em mudar o que está presenciando. O povo está efetivamente desarmado e qualquer situação de revolução civil seria facilmente controlada pelas forças do governo. O voto seria a democratização do sentimento mais do que especial sobre a preservação da vida em todos os sentidos. Então por que votar?
A verdadeira vitória seria vivenciar um desinteresse geral na agressão do cidadão através do que se tornou uma guerra urbana. Parar de pensar em contas e contas, em C.P.I.s, em política opressiva, na escolaridade dos presidiários e empreender o tempo útil, converter tudo o que há de mais sagrado em horas de ócio criativo. Incluir a todos na mesma idéia. Até hoje me espanta a idéia de que, sob qualquer justificativa, alguém possa me dizer que há alguma boa coisa nas idéias do segundo anti-cristo de Nostradamus, Hitler, safado. Pois bem, até hoje discutimos muito coisas antiquadas, passadas mesmo a tempos demais. Minha perplexidade se estende aos anos 20 e 30 do século XX, um período onde o Brasil flutuava nas mesmas ondas, nas mesmas vibrações, em sua corrente única no fluxo da modernidade. Alguém em nossa terra esqueceu de acabar de vez com os resquícios do império, da colonização e modernizar o pensamento fomentando ruptura com tudo o que nos afasta de ser humano no sentido mais profundo do que era ser brasileiro no mundo moderno. Estou sempre atento à televisão. Panis et circensis!
Para que ter acesso a tecnologia se apenas nos atentamos ao que há de mais fútil nela? Pois é isso que está em minha espiral. Eu trabalho com tecnologia e me interesso por tecnologia em tempo real. Tudo o que engloba comunicação em tempo real, streaming, downloads me interessa. Interessa também o que existe no pensamento de Foucault, Niestzche, na tecnologia da mente do Dalai Lama, o som universal e o silêncio absoluto, eletro-acústica, baixo elétrico, freqüências sonoras e tecnologia de gravação e registro de sons.
Política me interessa. E muito. Aristóteles sabia que na nossa era todo mundo seria tão político que repudiaria esta faceta de si em troca da abstinência, do comodismo e das proteções filosóficas da república. A república do Brasil é estranha, pelo que eu tenho estudado. No fundo eu aprendi que em todo governo republicano é impossível conter as humanidades no poder legislativo pois ele se alimenta do calcanhar de Aquiles do homem:querer mais do que precisa! O poder judiciário é que não pode ter falhas de caráter. Tem que defender as nossas falhas pessoais de maneira imparcial nos sentidos mais profundos. Um jovem advogado de Marília me disse que nosso sistema judiciário bebe em fontes demais, de todas elas bebe apenas o paleativo remédio que nos aproxima da Itália, EUA, Inglaterra, Portugal, Grécia. Mas e nossas raízes? são apenas estas nossas referências? Temos que exigir um sistema próprio para nossos problemas e vivê-lo calado, pagando em impostos as diferenças entre bolsas de valores, preço do aluguel e das parcelas do cartão de crédito? Pois bem, não entendo isso como ser adulto nem político. Entendo por isso escravidão forçada.