Em um Domingo a não muito tempo atrás estava eu assitindo ao quadro SE VIRA NOS 30, que na verdade é um scatch moderno do Gugu Liberato, empenhado em premiar com dinheiro artistas anônimos, os palhaços da casa, os desajustados da juventude que, enfim, se tornam úteis por 30 segundos. Eu ia assistir ao jogo das 16:00h e resolvi já ir esquentando o sofá antes do apito inicial quando me deparei com a seguinte cena. O Fausto Silva chama um rapaz que iria fazer uma caveira dançar. Estava o candidato disposto a fazer seu número, se concentrando, o cicerone do programa mantinha o público entretido exaltando a feiura do rapaz. Quando ia começar seu truque, da dança da caveira, nada deu certo pro rapaz. Para mim ficou evidente que o Fausto Silva tinha excedido nas piadas com o rosto do rapaz e ele não teve pulso firme para fazer seu número. Não obstante a falha, o apresentador ainda deu mais uma sacaneada no rapaz, em sua feiura pra ser mais exato, e pediu para que ele repetisse o número. No meio do sucesso do truque, e eu acho que a música ao fundo era do Michael Jackson, o rapaz foi cortado de sua ação e fim. Fiquei meio passado com o desrespeito imediato que assisti. Afinal o garoto tinha ido lá para mostrar uma habilidade e não para servir de motivo de piada para o programa. Fiquei meio triste com o que vi.
Uma vez a uns 2 anos atrás voltando de Florianópolis tive o prazer de conhecer um senhor e sua filha, ambos fãs de Maskavo, que iam apresentar-se no SE VIRA NOS 30. O truque do senhor era perigosíssimo pois envolvia passar corrente elétrica pelo corpo enquanto ele ia ligando lâmpadas, aparelhos eletro-eletrônicos e fogos de artifício. Uma batedeira dava o toque final ao truque. A tecnologia empregada para a transmissão de energia era das mais mambembes, os conectores de energia da bateria para o senhor eram forrados com papel laminado para favorecer a corrente. E ele ainda comentou que existia ali um perigo de morte caso um curto-cicuito ocorresse. Para mim, ao ouvir aquilo no avião soou muito perigoso, mas pela t.v. eu percebi o tamanho da ousadia daquele simples homem. O homem mais simples que eu já conheci. Era a primeira vez que ele andava de avião e ia para o Rio de Janeiro. Não lembro qual o valor do prêmio que ele estava pleiteando mas eu lembro que ele ia gastar com a filha dele ralizando um sonho dela e da famíiia. Quando ele ganhou, eu fiquei feliz.
Mas o programa em destaque não transmite inteligência nem coragem. Apenas o desespero das pessoas em serem descobertas e ficarem famosas em seu círculo de amizade ou pelo dinheiro. E dinheiro não é um bom motivo e nem uma boa motivação carnal. Existem coisas piores na televisão aberta, eu sei, mas pra mim a degradação da imagem do jovem rapaz que ia fazer a caveira dançar foi crucial para esta reflexão. O que é preciso fazer para nos contentarmos com a vida? Viver a vida no sistema impregnado e potente buscando sorte e fortuna ou saúde e vivacidade? Obrigado!