A Morte não é exclusiva e nem é o fim. A morte é como o selo de uma carta
que você quer enviar para uma pessoa distante. A morte, enfim, é um meio de
vida e de sentir que existe vida em tudo. Em uma sociedade dominada pela
rapidez da informação, está cada vez mais difícil digerir o que é real e o
que é apenas notícia. Está difícil dicernir o que é volátil e o que veio pra
ficar. A sociedade civil, de professores, médicos, policiais, músicos, vive
nas cidades com aquele medo de ser assaltado, medo de perder a namorada,
medo de não ter dinheiro para comprar fraldas descardáveis. Medo de quase
tudo que não se tem poder. Mas ninguém pode com a morte. A morte é o cessar
da vida, do coração, mas não da memória, da lembrança, da saudade e das
referências e influências que as pessoas, em vida, legam aos seus
familiares. Por isso ter filho, como a natureza sabiamente ensina, faz parte
do ciclo da vida e da morte.
Uma morte acidental, um assassinato, é muito sério. É brutal para a família
e para os amigos. É brutal porque fere a natureza e seu ciclo perfeito. Fere
porque geralmente acontece, um assassinato, por causa de inveja,
má-educação, por causa do excesso de materialismo a que somos submetidos. As
expectativas de um jovem são rasas e muito pouco criativas. Faculdade é bom,
mas pra que? Posso ser morto, assim como uma menina em São Paulo, pelo
namorado no campus da Universidade pública. Posso ficar rico e famoso e
tomar um tiro perdido na frente de uma boate, assim como aconteceu em São
Paulo no final do ano passado com um conhecido, posso estar dirigindo e ser
fuzilado porque não quis parar meu carro. Putz, ser conivente com bandido já
é a melhor maneira de não morrer em uma cidade. Abre-se mão do que se chama
segurança por uma casa em um condomínio fechado. Mas seu vizinho pode ser
ladrão do colarinho branco. Qual a diferença afinal?
Pra mim a diferença são as prioridades. Se o que fizeram no Rio de Janeiro, uma
tentativa de assalto contra uma família, onde uma das pessoas era o músico
dos Detonautas e amigo, Rodrigo, onde deixaram o carro baleado, o menino
morto e seu irmão ferido, não fosse algo que me aproximou da morte, então
continuaremos todos cínicos e silenciados pelo medo e pela incapacidade de
reagir a algo tão violento, mas que parece real nos noticiários, jornais e
bate-papos de boteco.
A guerra precisa acabar dentro de casa. Normalmente é assim que acontece a
primeira morte: a morte do bandido.
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