segunda-feira, agosto 14, 2006

Extemporâneas N#5 - adendo Sudeste

Há muitas coisas que me inspiram nessa vida. Ontem foi meu primeiro dia dos pais como pai. O que me inspirou nesse dia, além da vontade louca de voltar pra casa depois do dever cumprido, ainda que sob ameaça de ser parado em alguma blitz por causa do vídeo do PCC. Vamos fazer um raio-x do crime.
O assunto PCC não é do meu interesse pessoal por um motivo: não se dá visibilidade ao crime. Isso não deveria estar acontecendo, nem em São Paulo, nem no Rio de Janeiro e nem em Brasília. Nem em Recife ou Ceará, Vitória ou Macapá. Organizações criminosas, na minha infãncia, eram movimentos paramilitares de oposição ao regime extremamente de direita, popularmente conhecidos como Ditaduras Militares das Américas, que usavam a força para criar mercados ilegais de abastecimento de drogas, o famoso narcotráfico, ou guerras tribais que moíam a identidade cultural africana e do Oriente Médio. Era o lado negro do capitalismo, a guerrilha, o terrorista. Eram os locais para onde as velhas armas do Vietnã, da segunda guerra mundial também,, da guerra da Coréia, iam parar. Eram os locais das guerras das sucatas da corrida armamentista russo-norte-americana, a tal Guerra Fria, e das ampliações do antigo colonialismo, um quase feudalismo aristrocrático sem rei ou rainha, o cinismo da dominação global por via da política do crescimento e dominação exacerbada do fogo, da terra, da água, do ar e do espaço, do vácuo na ciência e na corrida pela biotecnologia. O PCC não é um rabisco disso. Não tem identidade e não está em sintonia com nada, a não ser com a sem-vergonhice, vagabundagem e a ladroagem. Querem ganhar nas costas de quem ganha sua vida honestamente, extorquem quem os deve sem dever, sem querer; matam que lhes dá na telha, inclusive em sua pequena disputa interna por poder. Poder vender drogas, armas e munições captadas entre a polícia, o exército ou em trocas por armas, geralmente com países do leste europeu, do oriente médio e das nações africanas. Uma bazuca, doze fuzis AR-15 e pistolas 9mm. Para que dar atenção a isso?
O Sudeste tem problemas muito mais sérios a serem resolvidos. O sistema carcerário em si é, a priori, uma deficiência da sociedade e dos mecanismos de inclusão social em todos os países do mundo. O crime existe pelo excesso de regras que conduzem a ilegalidade à boa-vida. Mordomia na cadeia, eu declaro. Porque eu pago minha água, minha luz e uso elas o quanto eu quiser. Não tenho T.V. a cabo porque não posso pagar. Não tenho internet ADSL pelo mesmo motivo. Me incluo como posso nessa pequeníssima parcela da classe média que possuí acesso, pouco acesso a porra nenhuma. Quando eu ligo a Globo na hora do jornal eu me espanto todos os dias ao assistir matérias especiais sobre o PCC, sobre o CV, menos sobre temas importantes. Menos sobre os países onde o Brasil investe pesadamente seus cobrados impostos em petróleo, minério e outros bens materiais. O mesmo Brasil que fica sustentando uma classe, no sentido mais marxista possível, de criminosos que se misturam a uma camada substancial, grande, de contraventores, bandidos menores ou apenas desajustados, homens e mulheres desesperados pela máquina de subsistência capitalista ou bandidos do colarinho branco, os novos-ricos e ricas, os mal pagadores e sonegadores de impostos. Daí como se sustentam os presos? Com direito a energia elétrica paga pelo contribuinte? Contradição constituinte. Com direito a ver o sol? Para tanto, bastava não ter sido preso. Ditar normas de conduta especiais para os piores indivíduos incorporados ao sistema carcerário do pior escalão? Sim, e sem direito a contato individual. Basta você estar livre para ter esse direito também. Ou seja, o PCC não merece nem o direito à mídia porque é nela que se fortalece e se estabele um contato entre algo que inexiste, o poder dentro do presídio e a busca por direitos sobre as regras que limitam os direitos dos presos em comparação aos ditados pela Constituição ao cidadão comum e íntegro.
Na minha infância existia o Cartel de Medelín e um cara conhecido mundialmente como Pablo Escobár. Esse era o maior bandido do mundo depois de Fidel Castro. Era assim que a mídia usava o narcotráfico, a exploração infantil e outras manobras de massa para instigar o que, de acordo com as pesquisas, indica que são 43% os brasileiros de direita, notícias de que estaríamos vivendo em meio aos criminosos. Eu me pergunto se, nas origens do Brasil, deva existir a busca por algum alinhamento político de origem norte-americana ou européia visto que elas nunca nos beneficiaram na forma de poder, escolher e entender as questões vitais de nosso país. Eu me pergunto se não é melhor defender um plano que nos salve da desordem indireta a que estamos submetidos, nem de direita ou de esquerda, um plano pleno e que mexa nas cicatrizes de nossos problemas. Um plano que nos honre e que nos manche de glórias. A direita, historicamente falando, foi quem criou todos os mecanismos de influência funestos na sociedade global. O tráfico, as corporações, a escravidão, o capitalismo, o neoliberalismo, a centralização do sistema energético em torno do Petróleo e dos remédios, das pesquisas em busca de cura. É disso tudo aí que o Brasil não precisa. Falta-nos malícia para superar as idéias aristotélicas e cartesianas, Deus e a filosofia que se inspirou no divino e a dependência comercial baseada na agroindústria mundial. Silêncio.

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