A vida me colocou na rota de colisão de muitas pessoas. A maioria delas nem sabe quem é René Decartes, mas já ouviu falar dele na escola ou por aí, em algum debate religioso, se deus existe, ou quando falamos do famosíssimo estudo dos X e Ys, a função cartesiana dos gráficos, os dois eixos. E, desde o renascimento, embalados pelas funções e pelo desabroxar científico, desde tanto tempo estamos submersos no plano existencial: existe o bem e existe o mal.
Penso nisso como um rato de bosque inofensivo em minha toca. O sol, penso, nasce todos os dias para as pessoas. Elas acham que a vida é isso, o sol nasce e ela vai pra vida, tenta aproveitar a vida de todas as maneiras que o mundo de hoje permite. Ou senão a vida é o oposto, é notívaga das mesas dos bares e botecos até os puteiros, as raves e dentro dos palácios da velha boemia.
Por outro lado vejo isso tudo como uma grande ilusão. O sol nunca parou de brilhar desde que explodiu o big ben mas é verdade que estamos imersos no mais profundo processo emburrecedor onde, depois que o sol se pôs ele cessa em existir. Decartes era o tipo de homem que devia saber muito mais do que seu plano. É dos tempos dos hindus e de Confúcio a já tão explorada sabedoria dos ciclos. E os ciclos infinitos dos átomos são como o sol.
A ilusão já é retratada como nome próprio desde os tempos imemoriáveis. Chama-se Maya, chama-se véu, chama-se matrix. Na ilusão, o pensamento é o grande vilão. Você se deixou levar pelo cartesianismo, depois pelo bum das reformas religiosas do ocidente, depois fomos pelo caminho do empirismo da matéria e do éter, e depois você já não sabe mais quem é neste ciclo infinito. Porque você já não sabe mais pensar em outra coisa.
Tive uma grandiosa infecção no fígado por culpa de algo que eu comi. O mundo girando desde João Pessoa e o meu sentimento de dor só ia crescendo. Dentro do avião saindo de recife eu só pude me concentrar em uma força apenas: no todo. A Hatha-yoga tem um ásana, uma postura, que se chama savásana: posição do cadáver. Para os ocidentais falou cadáver falou em fim da vida. Bobagem. O savásana me salva quase todos os dias. Agradeço meu amigo Bicudo pelo excelente livro que ele me deu sobre o assunto. No prefácio o autor deixa entender que a ilusão é uma doença dos nossos tempos, um câncer pequeno acumulado em cada ser humano existente.
Daí o sol apareceu pra mim. Quanto mais eu me concentrava no todo mais fraca era a dor. Uma hora a dor passou mas eu também tinha passado com ela. Eu estive morrendo com ela desde a madrugada de sexta-feira para sábado, ela foi comigo a todos os cantos, fez 4 shows comigo, me deixou todo dolorido, com falta de ar, com saudades de casa.
Quando eu tive meu bebê, a primeira coisa que me veio foi um belo tapa da realidade. Hoje não sou yin yang tanto quanto eu fui. As forças das quais eu me abasteço são as senhoras do yin yang. Hoje é tudo muito intenso para mim. O sol brilha mais forte e a ilusão que faz efeito em minha vida é a mesma que poluí a vida de todos. Ainda não encontrei uma forma melhor do que ficar rico para esquecer que a vida é uma riqueza, mas também ainda não tive o gosto da desilusão plena.
Meu filho se chama sol e a prima dele que acabou de nascer se chama ilusão. Vi que os nomes deles tem toda uma relação com o infinito dos pensamentos. Eles são mais do que complementares, são nomes que trouxeram à luz uma réstia daquilo que o instinto entende e que o conhecimento desconhece, na ordem das coisas nomes e palavras são nada mais do que joguinhos, quebra-cabeças. Eu me chamo Bruno e tenho certeza que meu nome é muito mais do que eu sou. Eu sou apenas um homem moreno que está cansado de brigar por causas perdidas, a própria ilusão é uma causa perdida. Quero declarar uma guerra silenciosa ao relativismo, ao cartesianismo, ao empirismo e ao positivismo. Quero uma guerra aberta contra o marxismo, contra o terrorismo social e deixar brilhar em meu coração o diapasão do amor.
Estou mais forte para dizer: o bem e o mal existem muito bem dentro da nossa mente. Grande ilusão! O sol brilha sempre, mesmo quando as nuvens atravessam os seus raios.
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