segunda-feira, dezembro 04, 2006

Pena

Sinto muita pena dos jovens artistas e das bandas novas que estão aparecendo por aí. Sinto que não tenho como ajudá-las porque, se posso, poderia soar doideira ou que eu sou um cara metido, sabichão ou simplesmente seria mal interpretado. Conselho e opinião, particularidades são difíceis de serem digeridas naturalmente. Acho que, se os jovens artistas e as novas bandas não se tocarem, elas irão para o buraco mais rápido do que elas mesmas podem imaginar.
Engana-se a pessoa que está desinformada. Apesar da falta de gosto e aptidão, eu tenho o costume de sempre estar buscando nas novidades algo que me interesse, segundos de reflexão. As músicas de hoje em dia não são boas. São carentes de verdade, são previsíveis e tolas. As bandas jovens, que me perdoem sempre se possível, não são bandas, são apenas clubes de reuniões semanais onde existe a tentativa de se fazer algo próximo do que se chama um álbum, ou uma canção. Elas não tem como ser culpadas do caminho que trilham e nem de como se realizam os negócios musicais de hoje em dia. Uma grande ilusão mascarada de glória, da realização de gravar um disco em estúdio ou de tocar para grandes multidões, uma grande ilusão é tudo o que permeia a vida do artista. E os jovens artistas, claro que existem excessões bem vindas, são despreparados pela própria família e por uma sociedade que vive dos resultados obtidos, das estatísticas da Crowley, das aparições articuladas em programas de T.V populares, das grandes vendagens que nada representam para o artista do que, senão, mais responsabilidade e mais trabalho.
Tomo como exemplo a banda NX Zero. Já tinha ouvido falar nesta banda, assim como já tinha ouvido Fresno, Edu Ribeiro, Leela, Canto do Malditos na terra do nunca, Móveis Coloniais de Acajú, Ludov, etc. Essas bandas são muito similares entre si porque conseguiram, algumas, ser contratadas por um selo ou Major e outras por terem destaque nos canais jovens de rádio e televisão. O NX Zero tem execução garantida na Jovem Pan, é a banda do momento. Minha vizinha ouve a música deles todos os dias e da janela eu já sei a letra e as partes da música de cór, mas é só isso. Quando eu lembro da minha própria banda, no ano 2000, fazendo uma turnê de 3 semanas sem roadie ou técnicos de som e de luz, sem empresário ou mesmo sem um contrato, percebi que estava me preparando para o que é realmente importante: saber conectar com o fã, fazer um show que produza fãs, que seja uma verdadeira aula de vontade musical e, claro, com músicas boas. Nós tínhamos Um anjo do Céu, Quero Ver, Lua... já estávamos compondo Folhas Secas e Quando o Sol Nascer, Asas estava sendo preparada para o repertório... Ela, só ela era uma realidade; o Maskavo nem dormia de tanto perseguir o contato fiel com seu público e deixar de depender das ondas do momento... sim, viramos uma banda ousada, cabra-homem mesmo, e aprendemos assim como se faz para continuar no mercado musical.
Daí, me flagro temendo pelo NX Zero, vejo meus amigos do Alma D'jem na mesma rota de colisão com o submundo da fama, quê? É, o mercado de shows se pergunta: por que uma banda iniciante chega aqui com tanta estrutura, cobrando por essa estrutura, quem disse que ela tem público? O contratante só quer ver um show bom e lotado. Não interessa seu coração, o importante é o resultado. E as bandas iniciantes tem tudo, menos o tal show. Aposto bolinhas que o NX Zero tem um cachê de R$5000,00, R$ 6000,00, mas ela deveria pensar que, além destes cinco mil, é preciso fazer valer os cinco mil reais. No fundo, NX Zero ficou com menos da metade do bolo. Foi tudo gasto para manter a tal teoria do Status, que uma banda iniciante tem que ter postura de banda grande, séria e profissional. E, na verdade, o que eu sugiro é que as bandas tenham a coragem de ser elas mesmas. Essa banda tem que ser eximida de culpa.
Eu só comecei a ganhar algum dinheiro com banda depois de mais de 3 anos investindo tudo, tempo e dinheiro, em mim, em instrumentos musicais, em discos, livros e viagens. Três anos sem dormir, sem sossego, sem alguém para afagar os cabelos. Era tudo um só sentimento: preciso fazer o máximo necessário, o perfeito, para ser um artista duradouro, com uma carreira além das gravadoras, das rádios. O Maskavo todo é esse sentimento. Como? Como?
Lembro do Renato Russo, ele tinha 18 anos quando escreveu Faroeste Caboclo, uns 22 anos quando escreveu Índios, canções profundas que não condiziam com sua idade tamanho realismo e maturidade contidas nas linhas e nas melodias dessas canções. E hoje em dia um menino de 18 já sofreu tudo no amor, já sofreu decepções profundas, desilusões... mas elas são comuns, superficiais, todo mundo sente que foi abandonado ou que uma paixão se perdeu... mas é tudo tão raso e mal escrito, fácil, entregue, que não me passa a epiderme, as canções dos jovens não me afetam em nada. As vezes eu me pergunto se minhas canções tem alguma profundidade. Posso dizer que sim, mas menos da metade da metade delas são honestas. As que foram gravadas, as canções, são mais formatos simplificados de idéias do que peças de alta qualidade auditivas. Um artista sofre muito com isso, o verdadeiro artista sofre por muitas coisas.
Eu espero dos jovens talentos coragem e seriedade, mas também rebeldia e jovialidade. Os jovens me parecem fantoches caretas, reflexos do Green Day ou do Simple Plan, caretas no aspecto mais simples possível: não estão aí para ousar! E sem ousadia, elas não terão nada de brilhante para contar. Eu acho que o Maskavo é uma banda ousada. Fomos pra São Paulo devendo dinheiro pra Deus e o mundo, mas certos de que esta era a única saída, a fagulha atômica que desencadearia a nossa trajetória bem sucedida para a vida de artista como músicos, compositores, intérpretes, personalidades. Nunca nos apoiamos na idéia de que uma só canção tocando na rádio ou que um vídeoclipe ou ida de 30 segundos ao programa do Faustão iria nos alavancar como banda. Isso nunca ocorreu. O Maskavo sempre se apoiou no seu trabalho e veja como deu certo tudo o que nos propusemos.
Riscos. Uma banda não é nada se não sabe assumir os riscos! Ainda estou com pena dos jovens artistas depois de tudo isso.

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