Estou começando a compor uma canção e resolvi dividir um pouco do processo criativo dela incluindo aqui alguns questionamentos que irão levar ao final da criação da mesma. Até porque, o tema me parece extemporâneo.
Ao sabor do silêncio que paira no bairro de águas claras, o pensamento em minha cabeça não cessa até que algo de trabalho escrito tenha sido produzido em um dia. Essa mecanização da mente, essa auto-sugestão do labor, é algo muito útil nesses tempos de campos inférteis na área da vida. A internet, no entanto, nunca me causou qualquer tipo de urgência ou tensão; minha mente à ela se adaptou de maneira muito particular. É como se ela, a internet, sempre tivesse existido pra mim em algum lugar...
No entanto, uma canção é escrita à mão; caneta preta de preferência. papel branco, apenas um basta para iniciar uma canção. Ela não parte do nada. Ela é o iceberg surgindo no mar gelado. Pode ser na aurora, mas comigo a jornada começa na madrugada bem depois que meu filho e esposa dormem e bem durante o ciclo dos ventos noturnos brasiliense. O iceberg nasce porque, durante meses, todos os dias desde que me mudei pra brasília, tem roupa pra passar amontoada em cima da cama. Isso é um fato, desagrada a mim e a minha mulher imensamente mas só estamos dando jeito nas coisas agora, quase um ano após nos mudarmos para cá.
A cena nunca me emocionou, mas a uns dias atrás ela me causou certo efeito. Tudo por causa da minha opinião sobre a qualidade de vida que leva-se no Brasil. Partindo do princípio do bom senso, eu, percebi que todo brasileiro vive entulhado de coisas sem importância nenhuma. tantas roupas novas e brilhantes que não serão devidamente usadas e, depois de tanto ficarem guardadas, serão doadas com aquele orgulho idiota e aquele sorriso fosco alfinetados no ato da entrega. quem recebe a camisa seminova está entulhado de coisas que eu nem sei como definir, mas está lá entulhado de coisas e ele doa pra pessoas entulhadas de outras coisas, etc... lixo do capitalismo.
No fundo, todo "eu" procura viver da maneira que lhe parece mais adequada, tanto no luxo como na miséria, tanto evitando quanto consumindo absurdamente, pagando à vista ou dividindo no crédito ou até devendo e rolando dívidas e mais dívidas. O fato é que todo "eu" come algo e precisa beber água. E precisa dormir sossegados sem se preocupar com as costas abertas, com a idéia de que lhe furtem algum bem material ou, pior, de que seja abusado ou morto. Tanto dormindo na rua quanto dormindo em casa. O roubo ficou muito sofisticado...
A pilha de roupas lavadas é grande, não é enorme ou maior do que se deve imaginar afinal somos três em casa.
Vamos ver quanto tempo leva para terminar a melodia e cristalizar essa idéia...
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