quinta-feira, abril 10, 2008

Desarmar

É muito fácil perceber como são livres os beija-flores que descansam no jardim de minha casa porque neles não se nota a insegurança que o modo de vida urbano implica no indivíduo e no seu modo de vida. Há uma razão especial para isso e ela não é uma falha humana e, sim, um instinto de proteção às avessas.
Cada pessoa é um ser indivisível, ou seja, é um elemento Uno formado por bilhões de elementos únicos. É, cada qual, uma máquinha complexa de muitas partes que funcionam ininterruptamente dia após dia e que desempenha a função exclusiva de manter-se viva e funcionando em equilíbrio.
A alma é um componente muito difícil de discutir porque envolve crença com certas experiências de vida que são únicos e só dizem respeito à cada indivíduo que o experimenta e que aceita a impermanência do estar.
Cada pessoa é levada à crer que a melhor maneira de viver é competindo com as inconstâncias de cada etapa do ciclo da vida, aprender a andar quando bebê mais rápido, aprender a ler mais rápido, aprender a se safar dos problemas mais rápido, escolher a profissão mais rápido, ganhar bem mais rápido, etc, e cada pessoa é condicionada protamente a se levar a sério. Essa situação mental tem como efeito um tipo de depressão interior muito profundo que é a fonte da insegurança que percebe-se na sociedade em geral. Um senso de estar marcado pela pressão do psicológico do eu contra o eu-próprio, uma marcação baseada em desempenhos que tratam de glorificar a existência do indivíduo e que estimulam nele estima e confiança em si.
O inverso disso é o indivíduo esforçado ou desestimulado ou colecionador de fracassos quaisquer que sejam os motivos que não encontra segurança em si e nas suas escolhas ou é forçado a ser aquilo que ele precisa ser e, por isso, vê com insegurança todas os outros indivíduos e processos sociais nos quais ele esteja inserido. O senso de competir está marcado nesse indivíduo também porque os processos sociabilizantes de hoje são os mesmos no mundo todo: família, escola, amizades, local de trabalho, etc, e por isso dá à todos os mesmos estímulos de consumo e sonhos em massa e sonhos de carreira.
Há também a insegurança na indiferença pelo indivíduo que percebe e desiste de se enquadrar nesse sistema do medo e da desconfiança humana. Ninguém anda armado como os desbravadores de Minas Gerais ou Cortez, mas não desarma sua condição de competir a cada momento por alguma oportunidade melhor para si do que para o outro, simplesmente o princípio oposto do que Jesus, o profeta mais discutido no ocidente e influente?, pregava em suas paródias. Esse desarmamento mental seria um passo rumo ao abismo do contrário do que é o sistema vigente, ou seja, seria como observar os inseguros sem se deixar dominar pela insegurança dos outros, manter-se calmo e passivo aos ataques e ativo ao ser um indivíduo que vive no inseguro das almas de hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário