"Quem é da periferia aí levanta a mão? Samambaia, Taguatinga Sul, Ceilândia, Recanto das Emas, São Sebastião. Quero ver todo mundo levantando a mão, O,O,O,O,O,O,O"
No centro comunitário da Universidade de Brasília estavam reunidas mais de mil pessoas para uma festa de hip hip a lá Brasil, porque não tocou Snoop Dog ou Jay-Z ou hits da Jovem Pan em nenhum momento, uma festa no centro de Brasília com o melhor da periferia. Todos dançam sem parar os ritmos quebrados do hip hop; ritmos tão variados e mesclados para todos os gostos e humores; dois pra lá dois pra cá, break dance e street dance são para poucos e quem tem essa habilidade não exita em mostrá-la aos seus camaradas e todo mundo oha e aplaude com orgulho o talento do cara; o clima de azaração é muito diferente que se possa imaginar. É tanta gente bonita e bem vestida e orgulhosa disso, dessa beleza interior da semente do mestiço, que é preciso personalidade, certeza e sensibilidade para que um homem chegue em uma mulher. É uma guerra de sedução de um passado não tão distante. É uma farra dos sóbrios e dos maconhistas, é uma festa semi-alcoólica pode-se dizer sem dúvida porque o único exagero que acontece lá dentro é excesso de passos de dança.
Os Deejays são pessoas muito interessantes. São o inverso do que se parecem os deejays de música eletrônica. Não esbanjam nos adereços, não tem medo de se comunicar ao microfone com as pessoas ali presentes e fala que é uma benção aquela festa com aquelas pessoas e que isso é bom e que o bom é estar na paz e dançar. Todo mundo agita, se pronuncia com assovios e ovações. Ninguém fica parado quando o MC ou o Deejay pedem algo deles, um pensamento positivo! simplesmente; existe um universo de canções e batidas mais populares entre eles e, na emoçao de uma discotecagem, a periferia se unifica prontamente.
"Eu vim aqui pra fazer farra!" - Disse Deejay Celsão
Afrika Bambatta. Não é preciso explicar a natureza autêntica desse cara. Ele é a crista da onda do começo do que é hoje o hip hop. Ele mixa, faz scratch, produz, cria com o povo e possuí linguagem dançante e repertório musical extenso e rico. Ele não tem medo de tocar Kiss, do Prince. Enfrentou durante meia hora um problema técnico com a SoundSystem que sonorizava o local com cara feia, mas sem deixar de soltar bases boas o suficiente para manter a galera na expectativa. Quando o subgrave funcionou daí foi difícil alguém ficar sem mexer nem que fosse um dedo.
Quem mora na periferia tem que esperar até as 5 da manhã pelos ônibus e seis da manhã pelo metrô então muita gente não tem pressa em ir embora. Em São Paulo era comum um grupo de amigos, 5 ou até mesmo 6 pessoas, juntarem dinheiro para dividirem um carro e farrearem pela cidade. Cada dia um dirigia e pronto. Não pode-se duvidar de que isso esteja acontecendo aqui em Brasília.
Apesar do alto volume, não há resquícios de violência sonora nos ouvidos e isso se deve ao fato da música ser mais grave e influenciar no que se sente ao ouvir aquela batida do que nos agudos que poluem os fones de ouvido dos ipods do mundo. E isso é o lado melhor de uma festa de hip hop desse nível. Qualidade nas pessoas, no som e na farra em si. Gol!
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