Já faz uns dias que eu lembrei do Edson. Para muitos, este é mais um nome na lista dos nomes. Mas o Edson que eu conheci, o Edinho, foi certamente o segurança escolar, o BEDEL, mais interessante que conheci. Não sei dele desde 1993, mas sei que ele é como qualquer pessoa que ultrapassou algumas barreiras mentais, algumas dificuldades que se apresentam para quem tem dificuldades em viver nesse momento tão materialista da história social, e se abastece do que é bom, do que é belo e do que importa. Na época, o Edinho estava começando a escrever poesias. Eu? Eu queria namorar uma menina lá da turma"E", eu estava apaixonado.
"Escrevo como os suicidas. Eles sim são corajosos"
Com esta frase começava o primeiro poema que eu li do Edinho. Ele era um típico mestiço que usava camisetas com estampas do Che antes de virar moda até mesmo entre os estudantes universitários dos anos 90. Li Pablo Neruda e estudava História no CEUB, e por isso ele trabalhava: para pagar os estudos de terceiro grau.
O meu primeiro poema já era uma tentativa de explodir as baboseiras que eu estudava no Leonardo da Vinci: "Tinha um sapo na sala. Ele estava... tinha uma mosca voando na sala." Isso ia até semana que vem, se deixasse. Mas era como a minha mente funcionava, em forma de quadros; como em um filme de película: 24 quadros por segundo portanto.
"Se eu pequei por minha alma tirar
diga-me, Jesus, onde pousar
se eu vou pras profundezas da terra
ou se eu vou pro mais alto do ar"
Conheci a dona de uma das mais importantes escolas de Brasília dos anos 2000 naquele vôo que saiu de Congonhas para Brasília e fez um pouso de emergência para a retirada de um menino doido que começou a quebrar o avião e dizer coisas do tipo:"jesus, eu não gosto desse cara... o povo brasileiro é tudo burro e eu não gosto do Lula...ei, gente, não morre não que eu quero todo mundo vivo..." . O que eu ia escrever sobre isso, esqueci.
Tenho elaborado a idéia sobre desenvolver algo ligado à ficção científica por aqui. Quando eu era menor e o desenho dos Jetsons passava na Tv, eu achava que aquilo, nos anos 60, era o ideal de futuro. Na aparência, talvez, mas no conceito tudo o que tem no desenho dos Jetsons está disponível no mundo de hoje. Microondas que infla a comida e deixa ela pronta. Telefone de orelha. Música em plásticos de 2mm. Os carros são os aviões, aquilo foi uma projeção muito, mas muito avançado. Mas somos os Jetsons hoje em dia.
E o que será do futuro, em termos de imaginação, projeção, civilização? Isso muito me interessa; tenho pensado muito sobre isso. Até que tipo de música se ouviria no futuro. Acho que penso muito no mundo que será do meu filho, mas tenho interesse total em prepará-lo, não para ser advogado, mas para ser mais vivo e esperto do que sou. Eu tenho 31 anos e ainda tenho coisas demais à desvendar porque muito me foi escondido na infância, na adolescência, até nesta fase adulta ninguém diz nada relevante que mude de vez a minha visão de que isso aqui não está tão bom assim. Por isso o futuro se tornou, de repente, tão relevante para mim.
O Edinho, não sei. Mas era um cara interessante. Tão interessante quanto o Cláudio, o cobrador do ônibus noturno que ia da Asa Norte para o Lago Norte, õnibus este que eu tomava 3 vezes por semana indo e voltando das aulas de inglês. Cláudio era rapper quando ser rapper era algo do tipo: que? nunca ouvi falar - publicava uma revista underground sobre cultura de rua e periferia de Brasília, produzia shows e era professor em preparação da rede pública. E cobrador, como eu mencionei. Muito inteligente e vaidoso, já usava aqueles tererês no cabelo, estilo afro, em 1992, sempre de jaqueta de couro, sempre simpático e feliz e decidido a mudar de vida através da palavra e do trabalho. Li todas as ediçoes de sua revista. Confesso que aquilo era ficção científica pra mim. Era como "Tão perto, tão longe" do Wim Wenders, era como estar morto no meio dos vivos ou vice-versa. De que valia toda a minha preparação e instrução se eu não estava sendo preparado pra vida?
Eu tinha 15 anos. A música mudava a minha vida todo o tempo. resolvi ir arranjar emprego e depois de um tempo até isso eu consegui. Edinho e Cláudio eram muito diferentes de tudo o que me rondava na vida. Mas ninguém sabia, nem eles, que em casa a vida estava difícil, dura, escassa pra caralho. Era 1992 e dali pra frente foram dois anos comendo arroz, milho, salsicha, água, macarrão de vez em quando. Meu lado que morreu está enterrado no quintal de alguma casa de algum amigo meu. Aquela morte fez nascer em mim uma coisa que até hoje levo comigo. Lembro da frase do Edinho, do seu poema e digo: "não sou suicida porra nenhuma. Meu barato é estar vivo."!
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