sexta-feira, julho 11, 2008

Vida em São Paulo

Percebo que os cinco anos em que eu vivi na cidade de São Paulo serviram apenas para desacelerar o descompasso da juventude e não foram muito inspiradores de beleza em si e nem por si só. Foram anos muito solitários e de um tipo de aprendizado estranho que não aparece em nada do meu trabalho autoral. Eu morei em São Paulo, sou paulistano de nascimento mas o que eu suguei da experiência foi diluído na efervescência dos shows e das viagens e dos check ins de hotéis e aeroportos, ou seja, São Paulo foi um porto provisório de ilusões e quedas na realidade alternativa urbana metropolitana paulistana.
A cidade tem tudo o que se espera da maior cidade do país e concentra no seio de seu bairrismo a diversidade que contribuí para fazer de São Paulo um labirinto enigmático de procura por tudo o que há de bom repetidamente. É padaria, é loja de utilidade, é loja de produtos importados, representantes de roupas, grifes famosas, prostíbulos de luxo, avenidas, marginais e pontes.
Por uma questão misteriosa entre sorte e oportunidade acabei indo morar com o resto do Maskavo na região Oeste, na Pompéia, que na minha mente era o berço do rock paulistano, Mutantes, Made in Brazil, Tutti Frutti, etc, em um quarto, uma edícola nos fundos da casa do Felipe e da Lu, amigos do Dudu. Os dois foram pessoas fundamentais e hospitaleiras e nos mostraram, em essência, as dificuldades de se estar querendo uma vida burguesa por aqui. Aluguel caro, custo de vida caro. No fundo, eu era sortudo de poder dividir isso com a banda porque, do contrário, a labuta teria sido muito maior e de outro formato, com outra cara. Não havia glamour, não havia música tocando na rádio que fosse do Maskavo, havia uma chance de fazer o esquema dar certo com uma certa pessoa no Rio Grande do Sul. Isso! Havia uma grande esperança.
Fazia tanto frio como está fazendo em 2008. Fazia até mais frio e com o meu primeiro cachê comprei um edredon da Zêlo que me acompanha até os dias de agora. Minha tia Suely me emprestou dois cochonetes e eles foram muito usados por mim e por todas as pessoas que abrigamos durante os 5 anos de Pompéia juntos. Isso! Também abrigamos todas as pessoas que pediram, precisaram e quiseram com fé mudar de Brasília para São Paulo. Ou de São Leopoldo para São Paulo. Abrigamos assim como fomos abrigados. Um ciclo de gentilezas.
Comi durante meses em um restaurante bastante humilde que batizamos de R$2,80 porque você almoçava arroz, feijão, alface, tomate, cebola, bife de boi ou de frango, farofa por esta quantia. Eu lembro de subir a Barão do Bananal tantas vezes para lá ir comer rapidamente o rango, tomar um café expresso e voltar para aquele sonho de ser bem sucedido no meio musical. Na volta, eu parava na loja de discos usados do Marcelo e comprava vinis ou cds por um real, dois reais, as vezes eu me dava ao luxo de pagar vinte reais e levava algo para destruir em meus neurônios jovens e joviais.
Foi uma das poucas épocas da minha vida em que eu não tinha um livro por semana na cabeceira da cama ou na minha mala. Eu me dei um tempo para digerir tudo o que eu havia lido e também para emburrecer meu racionalismo e ceticismo.
A única pessoa que chegou próximo de ser minha namorada foi uma excelente menina, uma japonesa da pele morena, chamada Babi. Mas eu viajava tanto, tanto e tanto que minha energia para um relacionamento era fraca e meus nós eram fracos, assim como o meu caô. Eu era um bom amigo, no entanto. Uma boa pessoa para ir no Venice ou no América, acompanhar para uma farra privê no Brancaleone as minhas amigas ou simplesmente sentar no bar e beber e chorar as mágoas até amanhecer. Fiz o método do viciado: comprei uma planta e me propus a cuidar dela até estar pronto para ter um animal. A planta viva seria um sinal de que eu consegui cuidar dela. Depois de nove meses a planta morreu e eu vi que não estava pronto pra Babi. Nem pra nenhuma menina.
Dirigir em São Paulo não é um mistério. Tampouco é perigoso ou opressor. Eu curtia esse sentimento de grandeza daqui. Curtia. Hoje acho desgastante cruzar algo que demora muito para ser cruzado de carro. Prefiro dirigir em Brasília.

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