sexta-feira, outubro 03, 2008
sobre como começa o sonho
lembro nitidamente de encostar a cabeça no travesseiro antes de dormir, descansar o corpo da gravidade e dos baques da rotina e esquecer de tudo; fechar os olhos, desligar a luz, aquele breu acolhedor e aquele silêncio que só o meu bairro possuía, só o atrito dos meus cabelos na fronha de algodão, aquele cheiro de amaciante acolhedor. lembro de ser uma criança que tinha muitos sonhos durante o sono, mas eu não sonhava acordado. depois de ouvir música egípcia na cabeça e ter uma revelação pessoal muito forte, uma revelação cujo teor seria útil até os dias de ontem, comecei a ouvir o barulho de aplausos todas as noites antes de dormir. Esse barulho parecia o de ondas do mar, incessantes e harmônicas e de uma simetria sonora caótica que parte da bagunça e chega ao uníssono como em uma explosão muito forte. Todos os dias eu ouvia esse mesmo barulho e no começo eu não reconhecia isso como aplausos. Eu achava que era coisa da minha mente. Muito tempo depois, perturbado pela idéia de que esse barulho não me abandonava, que teria de fazer sentido em algum momento, resolvi que ele seria esse barulho que eu ouvi quando fui a um show muito grande e me pareceu ser o mesmo barulho: o de muita gente aplaudindo ao mesmo tempo. Isso foi em 1995. Hoje em dia eu não ouço mais esse mesmo barulho e nem de longe eu lembro do sabor e do som dele.
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