Quando sou obrigado pela força do que faço a sair de minha casa, de minha rotina planejada, de meu filho querido, quando sou um artista nivelado pelo ibope das rádios e quando estou fora da mídia é quando eu caio na real e vejo que, mais do que a necessidade de criar, eu tenho necessidade de estar e de ver e de viver e quando eu estou em São Paulo eu não sinto nada disso.
Aqui tem alguma coisa muito errada no modo de vida das pessoas que normalizou tudo e a todos, atinge da mesma forma azedos e doces, coloca no bolo dentistas, artistas, seguranças do metrô, produtores, modelos fotográficas, na mesma festa da luta pelo ganha-pão ou do ouro dos tolos e, lá estão todos, buscando um certo tipo de satisfação na felicidade de estar lá porque não há para onde ir sem um roubo acontecer, um trânsito enfrentar, numa calçada deformada tropeçar e uma japonesa namorada perder de vista.
O bahiano diz que quem faz o que gosta não precisa trabalhar e há um fundo de verdade nisso. O que é trabalho e o que é fazer o que gosta?
Da minha parte, trabalho é viajar, compor música, cuidar do quintal com meu irmão, cuidar do estúdio e dos equipamentos que tenho nele, fazer supermercado, lavar o carro e manter a churrasqueira nos trinques. O que faço que gosto é tocar ao vivo, tocar baixo em casa com meus irmãos e amigos, acusticuzinho de quarta-feira, ter meu filho comigo e cuidar dele, gravar uma canção muito boa, gosto de arrumar meu quarto para quando meu filho dorme comigo, eu arrumo ele todos os dias na verdade, gosto de cozinhar pros amigos e amigas, gosto de dirigir sob a influência de Miles Davis e do siricutico.
O resto é a vida, é a forma como se segue a vida e a forma do que se quer na vida.
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