Ele fica esperando no carro por dez minutos. O horário da reunião de pais é as onze horas da manhã. Enquanto em silêncio, aproveita esse tempo para registrar no celular uma nova canção, um blues inspirado na leitura da biografia de Big Bill Broonzy, um autêntico descarrego de emoções, uma experiência real.
Entrou em silêncio na sala designida para a reunião onde outras mães já se encontravam. Em poucos minutos outro casal chegou, eram dois pais apenas e algumas mães. Ele olhou atentamente o boletim de desempenho de seu filho, nada de notas e números, apenas anotações sobre o interesse da criança nas atividades da turminha e sobre seu grau de desenvolvimento ao longo do ano, ele olhou, achou graça de algumas colocações, sim, verdadeiras colocações, e esperou.
No meio da explicação de técnicas pedagócias e das atividades empregadas no alunos, ele quis saber como a concordância dos verbos poderia ser utilizada de forma criativa na escola. Sem nem deixar a professora responder, uma jovem mãe logo coloca, olha, na minha casa não é assim e minha filha já usa todas as concordâncias verbais. A gente ensina com exemplos. Vai ver na sua casa, com a convivência com a faxineira, os filhos dela, seu filho esteja vendo coisas erradas e tal..." Ignorância?
Como uma sábia coruja, ele postou-se calado. Todos os outros pais ficaram calados ante um comentário tão impróprio e carregado de preconceito.
E ele ficou ainda mais confuso. Será que a professora, a monitora, a pedagoga, o porteiro, ele mesmo, tem noção de que está o tempo todo usando corretamente a concordância dos verbos perto das crianças?
Ele não ficou mais confuso. Na sua família, com seu filho, ele nunca usou a expressão "a gente". Apenas "nós". Sorriu, foi dar um beijo no filho depois da reunião orgulhoso e foi pro trabalho continuar a rotina.
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