Nascido em Worcester, Massachusetts, ele morava em Manhattan desde 1978. Foi vivendo ali que virou amigo do diretor Jim Jarmusch e de Tom Waits ("Daunbailó"), fez sucesso com o grupo The Lounge Lizards e usou cocaína com outras personalidades "cool".
Um amigo que conheceu nos anos 1990 foi o motivo da fuga da cidade à qual ficaria para sempre associado.
O pintor John Perry, 13 anos mais novo, havia se tornado uma das pessoas mais próximas de Lurie, mesmo após 2002, quando o ator foi dominado pelos sintomas de uma doença misteriosa.
Enquanto era diagnosticado com inúmeros distúrbios, de esclerose múltipla a epilepsia, Lurie, sem poder tocar nem filmar, fechou-se em seu apartamento, no Soho.
"Depois que fiquei doente, meus amigos artistas, à exceção de Flea [do Red Hot Chili Peppers] e Steve Buscemi, me largaram", Lurie disse à revista "New Yorker", que, na edição de agosto, dedicou dez páginas ao ator.
Perry ficou ao seu lado. Até que, em 2008, pediu-lhe um favor. O pintor queria que Lurie posasse para ele na gravação do piloto de um programa sobre desenho, na esperança de ser contratado por um canal de TV.
A revista conta que, em uma noite de novembro de 2008, Lurie se sentiu mal algumas horas depois do início das filmagens, que teve um investimento de US$ 6 mil (cerca de R$ 10 mil).
Quando começou a ter a sensação de que abelhas o estavam picando, avisou de sua "agonia". Pediu desculpas e cortou a gravação. Precisou de ajuda para pegar um táxi para casa.
Ao observá-lo indo embora, Perry "tinha o semblante intenso, perdido, infantil. Mais tarde, pensei, aquele foi o momento em que decidiu me matar", afirma Lurie.
Inconformado com a inconclusão do vídeo, Perry passou a acreditar que Lurie saíra para assistir a uma luta de boxe pela TV. Ligava e escrevia pedindo explicações.
Quando Lurie tentou cortar relações, passou a ser perseguido e concluiu que o amigo queria matá-lo.
Em entrevista à Folha, o ator, que viaja de um lado a outro e evita contar onde está, atribui a fuga ao fato de ter "um amigo que ficou louco e quer me machucar a qualquer custo".
À "New Yorker" Perry reconheceu que "nunca havia ficado tão bravo", mas disse que jamais teve a intenção de fazer mais do que "bater nele" --queria apenas aterrorizá-lo até ser compreendido.
Leia a seguir trechos da entrevista que o ator concedeu à Folha:
Folha - Como vê hoje a sua carreira como ator? Algum orgulho ou arrependimento?
John Lurie - Eu não sei, nunca senti realmente que tivesse uma carreira como ator. Nunca fiz o bastante para saber o que estava fazendo. Não, não me arrependo de nada.
Quando começou a pintar profissionalmente?
Comecei quando criança e nunca parei. Quando fiquei doente e preso em casa, concentrei-me mais nisso.
As pessoas falam muito de sua amizade com Jean-Michel Basquiat [1960-1988], mas me parece que o acha superestimado. Por quê?
Eu não acho que ele seja superestimado. Quero dizer, ele fez algumas pinturas que não eram tão boas, mas também algumas ótimas. É estranho como as pessoas falam sobre a nossa amizade. Ele era um garoto que me seguia. Dormia no meu chão. E, de repente, ele era esse sucesso gigantesco como pintor --e então ficou desagradável e confuso.
O que o fez deixar Nova York?
Tenho um amigo que ficou louco e quer me machucar a qualquer custo.
Pode me contar onde está morando agora? Vive sozinho? Sente-se isolado?
Eu não me sinto isolado, eu estou isolado.
Algo mudou por causa da reportagem da "New Yorker"? John Perry ainda o persegue?
A reportagem era realmente ruim. Nada mudou, exceto pelo fato de que as pessoas supõem que o problema está resolvido porque apareceu em uma revista --mas nada poderia estar mais distante da verdade.
As pessoas dizem que você é um "ícone 'cool' de NY". O que acha disso?
Eu ignoro. O que isso quer dizer? Não gosto da ideia de "cool" ["frio", na tradução literal]. Preferiria ser "warm" ["quente", "afetuoso"].
Quais são seus planos para o futuro?
Não tenho a menor ideia.

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