quarta-feira, outubro 06, 2010

Biografia recém-lançada recupera material inédito para traçar carreira de Louis ArmstrongBiografia recém-lançada recupera material inédito para traçar carreira de Louis Armstrong - LUIZA FECAROTTA

Era o último dia de 1912, em Nova Orleans. Aos 11 anos, Louis Armstrong abriu a arca da mãe e furtou um revólver carregado com balas de festim. Na mesma noite, disparou um tiro, foi retido e levado a um reformatório.

Foi lá que se tornou o interno modelo. Integrava a banda de metais, tocava corneta para as filas e os toques que anunciavam a missa.

Uma das mais importantes influências do jazz, de peito estufado e mandíbula forte, o músico que nasceu na virada do século em uma área pobre de Nova Orleans foi alvo de Terry Teachout em "Pops - A Vida de Louis Armstrong".

Primeiro biógrafo a ter acesso a 650 rolos de fitas pessoais de gravações do jazzman, Teachout também recuperou blocos de notas e pesquisas acadêmicas para reconstruir a vida do trompetista, que deixou registros datilografados com apenas dois dedos. E pilhas de cartas.


VIDA E MORTE

Abandonado pelo pai, Armstrong foi criado por uma prostituta. Ajudava em casa revendendo carnes que achava no lixo. Entregou a roupa que a avó lavava, transportou carvão numa carroça e vendeu jornal.

Antes de comprar seu primeiro cornetim em uma loja de penhores, improvisava em uma trompa de lata.

No verão de 1919, se juntou à orquestra de um navio turístico a vapor que cruzava o rio Mississipi. E foi a bordo que aprendeu a ler partituras com precisão --com um sujeito que entendia "pouco de jazz, mas tudo sobre disciplina". No barco, também ganhou peso e passou a usar "calça para gordos".

Sempre manteve a atração por roupas sofisticadas. Na estrada, levava um camareiro para coordenar as 20 malas e passar os 200 lenços.

Sua (quarta) mulher o vestiu com a mesma elegância quando foi enterrado, depois de sofrer um ataque cardíaco em 1971. Terno preto, camisa cor-de-rosa e prateada.

O jazzista agenciado por um empresário de lutadores de boxe acabou a vida cultuado pelo mundo.

Não dispensava maconha, fazia aquecimento com óperas italianas e insistia nas notas agudas. Para manter os lábios fortes, carregava uma pomada desenvolvida por um trompetista alemão.

Tinha linguagem corporal invejável e combinava música e humor no palco.

Não costumava pegar no pé dos instrumentistas, mas dava sempre uma lição: é preciso sorrir. Certa vez, numa apresentação de Ano-Novo, mesmo com o lábio superior sangrando --por conta de uma doença genética que também o levou a ter voz áspera--, foi capaz de sorrir.

POPS - A VIDA DE LOUIS ARMSTRONG
AUTOR Terry Teachout
TRADUÇÃO Andrea Gottlieb de Castro Neves
EDITORA Larousse do Brasil

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