quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Redes sociais - fé e inutilidade - Bruno Prieto

O mundo parece bem maior nos dias de hoje e a internet e suas renovadas formas de divulgar informações estão diretamente relacionadas a esta nova visão das fronteiras que separam as pessoas e os seus limites. A internet já foi o berço do anominato e das idéias anárquicas nos anos 90 do século XX. Já foi e ainda é o espaço dos emails e da transmissão de idéias e de manifestações embrionárias que se tornaram eventos públicos. É pela internet que a fé na propagação de ideais revolucionários e emancipadoras se realiza. A arte da fotografia está cada dia mais presente do que nunca. Os blogs são os novos fanzines e revistas. As redes sociais são os bares e as vernisságes da atualidade.
As redes sociais, no entanto, merecem um debate profundo. Apesar do anonimato estar perdendo força nos facebooks e orkuts, etc, e hoje muitas pessoas parecem ser aquilo que elas postam e divulgam, links e vídeos ganham destaque e unem as pessoas, há nas redes sociais uma diluição excessiva, assim como suco com água, da essência virtual. Pode ser que o login nos une a todos, mas é justamente o contrário. Ele restringe o conteúdo aberto pelo qual se lutou o tempo todo na internet. Há um incômodo: acomodados buscam apenas o que outras pessoas mais interessadas pesquisam e divulgam pelas redes. Assim é a vida real. Uns escrevem livros ou criam teses ou lutam pelos direitos humanos; outros fazem cinema, cuidam dos afazeres domésticos, vivem de renda. Mas é nas redes sociais onde isso não importa. Todo mundo pode fazer alguma coisa tendo uma lista de contatos extensa. É condição primordial adicionar o máximo de pessoas para ramificar a inteligência e a sagacidade dos posts. É importante estar conectado o máximo de tempo possível e ler o que os outros linkam pela rede. O que menos se faz, assim como na vida real, é criar algo que faça a diferença. Nas redes sociais, diferente do que aconteceu entre bósnios, egípcios e tunisianos, uma contracultura da repressão da informação, é que a informação no ocidente continua alienada. Divulga-se aquilo que já foi divulgado; propagam-se as idéias que estão disponíveis nos youtubes e jornais virtuais e fica deixado de lado a formação de debates entre pessoas.
O mundo virtual é real. É instantâneo. É iminente. Está pra todo tipo de gente ver e continua anárquico. Se bem que o item mais vinculado nas redes sociais e emails ainda é a pornografia, cada vez mais e mais frequente nos lares de todos os ips conectados de toda a rede mundial. Então a internet, apesar de essencial, pode estar se tornando um item tão inútil quanto é a máquina de escrever. Veja bem, funciona como ferramenta acessível e que as pessoas almejam. Está sendo acessada agora mesmo em celulares mais para ler as fofocas do cotidiano, tão importantes quanto saber sobre paparazzis ou celebridades instantâneas, ou sobre os pardais de trânsito na sua cidade, do que para aprender sobre o peixinho do aquário que você não sabe a espécie e que seu filho tanto quer saber o nome. Aprender sobre como limpar a injeção eletrônica do seu carro é possível, mas ninguém quer saber sobre este conhecimento. Poesia em baixa nos livros e na internet também. Ao invés disso, reprises do Pânico e do CQC estão entre os downloads mais concorridos. Os filmes inéditos do cinema mais próximo da sua casa que você nunca debaterá com seus amigos estão lá também. É! As redes sociais são, como diria minha mãe, uma bagunça organizada.
Literalmente, ao invés de estarmos legando para o futuro uma ferramenta genial com aparelhos cada dia mais intuitivos, estamos criando a cultura do conhecimento fracionado e da superficialidade da nossa existência. Então saber é esconder para si o conteúdo de horas e horas dedicadas ao acesso irrestrito da classe média à uma internet que está sendo inutilizada em tempo real. E não há floresta que resistirá ou ar que não será poluído ou água que ficará escassa que possa competir com isso porque estarão muitas pessoas apenas logadas em franca latência sem fazer nada demais apenas esperando que algum gênio, anônimo ou reconhecido, os salve por alguns momentos da responsabilidade que é estar vivo no século XXI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário