Bruno estava sentado à frente de sua máquina de escrever quando sentiu uma pesada mão bater-lhe o ombro. Como de costume, não olhou para trás; apenas esperou por alguma pergunta. "Bruno, tem uma carta aqui pra você".
Como não houve uma pergunta, Bruno olhou para o lado esquerdo e não viu ninguém, apenas uma carta flutuando no espaço. Envelope branco bem fechado. Nada de selo ou de carimbo do Correio. Com aquela cara de cansado e os bigodes despenteados, alcançou a carta flutuante, abriu-a e começou a ler.
"Bruno, querido. Esta carta serve para te mostrar que a vida, sua vida, está como um mar de sofrimento. Veja bem: Um homem na sua idade é obrigado a fazer e ser responsável por muitas escolhas, não é? Você sonhou e teve quase tudo o que quis. Teve uma infância maravilhosa e sem traumas. Teve uma adolescência conturbada, mas não passou fome, não ficou doente nenhuma vez sequer. Descobriu o amor com uma pessoa que te amava de verdade, que te admirava e que sonhava com você. Sua bicicleta ou suas roupas, seu tênis Try On nunca foram lá grandes coisas, mas isso nunca afetou seus planos. Na fase da faculdade, o bicho pegou, mas você, ao invés da depressão, escolheu seguir seu coração e virou músico com um pouco de sorte e com muito esforço. É um adulto normal com contas à pagar e sua ideologia é apostar numa humanidade falida que tem tendências caóticas e destrutivas. Eu sei, eu sei disso porque ajudei a criar este mundo todo. Não o mundo dentro da sua cabeça, mas este mundo que você fotografa com seu filho pelas lentes da Canon, do celular. Você, meu querido, é otimista mesmo quando se sente sozinho. Aliás, a sua busca pela solidão lhe mostrou caminhos incríveis e te colocou no caminho de pessoas interessantes e maravilhosas. Veja, Bruno, estou aqui esrevendo em poucas linhas o roteiro da sua vida pra que você vislumbre a minha existência. Como você já é feliz e tem opinião formada, a única coisa que eu lhe peço é que acorde, erga-se da cama e enfrente a vida como ela é. Você sofre demais e isso precisa acabar. Quando você quiser, eu te esticarei minhas mãos.
Um beijo
Deus"
Para Bruno aquilo ali não foi epifania ou viagem astral ou resquícios de algum tipo de psicotrópico antigo instalado na medula. Mantendo-se em silêncio, olhou para o lado esquerdo da mesa onde estava sua máquina de escrever, suspirou e suavemente disse: "Carlos, isso só pode ser pegadinha do diabo."
Uma risada bem aguda soava dentro do escritório. Surgiu das sombras o amigo do Bruno: Carlos, a quem ele sempre atribuiu o destino de ser o próprio diabo. Carlos, me ajuda aqui a terminar meu livro porque estou a mais de dez anos tentando e não consigo. E Carlos disse: "Pô, bicho, se tu não bota fé na carta escrita e assinada por Deus então porque você acredita em mim?" E Bruno olhou para as teclas da Olivetti e disse dentro de sua cabeça:"o diabo é coisa dos homens e deus é coisa de deus."
Como não houve uma pergunta, Bruno olhou para o lado esquerdo e não viu ninguém, apenas uma carta flutuando no espaço. Envelope branco bem fechado. Nada de selo ou de carimbo do Correio. Com aquela cara de cansado e os bigodes despenteados, alcançou a carta flutuante, abriu-a e começou a ler.
"Bruno, querido. Esta carta serve para te mostrar que a vida, sua vida, está como um mar de sofrimento. Veja bem: Um homem na sua idade é obrigado a fazer e ser responsável por muitas escolhas, não é? Você sonhou e teve quase tudo o que quis. Teve uma infância maravilhosa e sem traumas. Teve uma adolescência conturbada, mas não passou fome, não ficou doente nenhuma vez sequer. Descobriu o amor com uma pessoa que te amava de verdade, que te admirava e que sonhava com você. Sua bicicleta ou suas roupas, seu tênis Try On nunca foram lá grandes coisas, mas isso nunca afetou seus planos. Na fase da faculdade, o bicho pegou, mas você, ao invés da depressão, escolheu seguir seu coração e virou músico com um pouco de sorte e com muito esforço. É um adulto normal com contas à pagar e sua ideologia é apostar numa humanidade falida que tem tendências caóticas e destrutivas. Eu sei, eu sei disso porque ajudei a criar este mundo todo. Não o mundo dentro da sua cabeça, mas este mundo que você fotografa com seu filho pelas lentes da Canon, do celular. Você, meu querido, é otimista mesmo quando se sente sozinho. Aliás, a sua busca pela solidão lhe mostrou caminhos incríveis e te colocou no caminho de pessoas interessantes e maravilhosas. Veja, Bruno, estou aqui esrevendo em poucas linhas o roteiro da sua vida pra que você vislumbre a minha existência. Como você já é feliz e tem opinião formada, a única coisa que eu lhe peço é que acorde, erga-se da cama e enfrente a vida como ela é. Você sofre demais e isso precisa acabar. Quando você quiser, eu te esticarei minhas mãos.
Um beijo
Deus"
Para Bruno aquilo ali não foi epifania ou viagem astral ou resquícios de algum tipo de psicotrópico antigo instalado na medula. Mantendo-se em silêncio, olhou para o lado esquerdo da mesa onde estava sua máquina de escrever, suspirou e suavemente disse: "Carlos, isso só pode ser pegadinha do diabo."
Uma risada bem aguda soava dentro do escritório. Surgiu das sombras o amigo do Bruno: Carlos, a quem ele sempre atribuiu o destino de ser o próprio diabo. Carlos, me ajuda aqui a terminar meu livro porque estou a mais de dez anos tentando e não consigo. E Carlos disse: "Pô, bicho, se tu não bota fé na carta escrita e assinada por Deus então porque você acredita em mim?" E Bruno olhou para as teclas da Olivetti e disse dentro de sua cabeça:"o diabo é coisa dos homens e deus é coisa de deus."
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