sexta-feira, agosto 26, 2005

O alimento da mente e do espírito = VIDA

Claude Leví-Strauss é um grande conselheiro meu. Na época da faculdade costumávamos pensar em nossos nomes artísticos, eu e os eus, e meu nome talvez fosse de um acadêmico auto-explicativo quase imperceptível aos laicos. Mas Leví-Strauss era um excelente nome. E Paul Little? Scott Randall Paine foi quase um ídolo anônimo para mim. Onde estará Paine? Leví-Strauss anda muito ocupado comigo. Nós temos muito em comum com relação ao conceito de raça. Muito me interessa o assunto e hoje em dia, tão em debate e moda estão as raças, é necessária a reflexão sobre o que é ser brasileiro e mais, brasileiro é raça?
Somos os brasileiros descendentes de uma porção grande de mestiços. Dos índios aqui nascidos aos europeus portugueses, africanos aqui exilados e traficados e colônias de embranquecimento italianas tudo nos leva a ser brasileiro. Muito me espanta o comentário do Ronaldinho onde ele afirma ser branco. Quem e o que é ser branco? O branco na quantidade de Gobineau, assim como o amarelo e o negro, nada tem de diferente entre si. Mas sua qualidade misturada seria uma degenerescência racial e um empobrecimento. Ser brasileiro já é, por herança cultural, uma mestiçagem bacana e talvez a melhor forma de prosseguirmos na escala do desenvolvimento humano pois raças acabam e culturas, idem.
Se ser brasileiro não é ser uma raça e a cultura brasileira está em franco deslizamento com a massificação cultural norte-americana e japonesa a melhor forma de surfar as ondas da modernidade é reconstituir a inteligência perdida nos anos de ditadura militar e vanguardismo social dos anos 30, 40 e 50. Na forma de pensamento, por favor, pois corrupção, perseguições políticas, movimentos armados e guerras não combinam com meu modo de ser. Quando eu morei em São Paulo vivia perto de uma rua chamada Tavares Bastos mas nunca me atentei ao seu nome ou a sua pessoa. Tavares Bastos era uma rua apenas. Hoje eu sei que ele foi um articulador das idéias renovadoras da república. "Conservador, liberal, monarquista e democrata, católico e protestante, eu tenho por base de todas as minhas convicções a CONTRADIÇÃO; não a contradição mais palavrosa do que inteligível das antinomias de Proudhon, porém a contradição entre duas idéias que na aparência se repelem mas na realidade se completam, a contradição, finalmente, que se resolve na harmonia dos contrastes. Eu declaro francamente que não sacrifico à lógica das teorias extremas. Guio-me pelos fatos, combino os opostos, encadeio as analogias e construo a doutrina. Não tenho um sistema preconcebido. Não idolatro o prejuízo. Aceito o sistema que os acontecimentos me impõem." BASTOS, A.C. Tavares. Cartas Solitárias, 1931. Ele foi meu vizinho durante 5 anos e só agora tomei conhecimento de sua pessoa. Do Leví, eu sou amigo há anos. Obrigado.