quinta-feira, março 08, 2007

Da Paternidade

Aos vinte e nove anos de idade eu, Bruno Prieto, fiquei sabendo as 18:36hs de um 04/05/06 que minha mulher havia dado à luz ao nosso filho. Naquele momento eu estava me preparando para apresentar um show de bolso na Fnac da Av. Paulista. Sou músico e por isso já havia me preparado para esta eventualidade. Mas eu não estava pronto para nada...


Uma das coisas mais difíceis de se assimiliar sobre a paternidade é que ela não é debatida nos almoços familiares ou nas rodas de amizade. A paternidade é um caminho solitário que margeando à normalidade, todo mundo é filho de alguém afinal de contas, desbotou-se do imaginário social e do mundo. Ser pai, para um homem, é normal. Tão normal que meu primeiro pensamento ao olhar meu filho foi: por onde eu começo? E, acessando um conhecimento adormecido, um amor profundamente resguardado dentro de mim, usei a intuição e meu lado animal. Foi isso que me deu à luz à paternidade. Ninguém me ensinou nada. Eu aprendi o que pude e todo mundo terá destino igual se não houver uma verdadeira avaliação e debate sobre o tema, pois como homens que somos não podemos alegar que isso, ter um filho, é tarefa de mãe ou coisa parecida.

A responsabilidade paterna é, sobretudo, criar um campo de força favorável para que a mulher em gestação sinta-se o mais confortável possível para ser o ambiente perfeito de desenvolvimento do bebê. Um fato importante é entender que as mudanças de comportamento e hábitos da mulher com quem você terá um filho influenciam e transformam as 24 horas do seu dia. Mesmo que você e sua mulher não sejam um casal, inclusive, e não morem no mesmo teto é preciso ter coragem para amparar e dar toda confiança para a mãe em questão. A natureza humana e sua imperfeição provavelmente minará a energia, a vontade de ser companheiro o tempo todo e sempre nos reservaremos a hora do futebol, da cerveja com os amigos ou uma saída pra comprar pão. A gravidez não é uma doença. É importante frisar isso porque não é preciso iludir e enganar uma mulher grávida. As condições sobre a saúde dela e o que ela pode ou não fazer, além do resguardo natural, são indicadas pela(o) obstetra de confiança dela. Perder a confiança de uma mulher grávida é pedir pra ela se irritar com você e isso não é bom pra ninguém.

Obstetras são profissionais muito difíceis de se confiar. No Brasil existe uma grande tendência ao parto de cesariana, ao aleitamento com mamadeira e outros catalisadores de desenvolvimento do bebê que estão longe de serem os melhores. Claro que existem casos onde existe rejeição ao leite ou sintoma alérgico, que as vezes uma cesariana de emergência poupa o bebê de uma situação desconfortável ou de risco. Mas, no meu caso, foram precisos mais de cinco consultas diferentes para encontrar a obstetra que fez o parto do meu filho. Minha mulher queria ter nosso bebê de forma natural e três obstetras tentaram convencê-la do contrário. Com eles não houve uma segunda consulta. A quarta médica, quatro semanas antes da quadragésima semana, nos disse que não aceitava mais nosso plano e que nos indicaria outra pessoa, caso fôssemos pobres. E a quinta médica acabou sendo a que fez o parto. Isso gera um stress enorme para a família e por isso é muito importante apoiar a decisão da mulher nestes casos e, se possível, mostrar que o caminho da natureza é o melhor apesar dos médicos apelarem para a dor e outros recursos para demover a mãe deste procedimento. O caso é que a cesariana é controlada, é uma intervenção cirúrgica rápida e que custa mais caro para o hospital. A recuperação da mulher é mais demorada e, para que tudo dê certo, você deve estar preparado para trocar a primeira fralda, colocar a primeira roupinha e ajudar o bebê na primeira mamada.

Os três primeiros meses de gestação são muito estranhos em vários sentidos. À começar pela primeira diferenciação entre sexos, o homem não sente e não entende nada do que está acontecendo com sua parceira. E a mãe já começa a experimentar os enjôos, as náuseas e a indisposições naturais das primeiras doze semanas. Ao homem cabe tomar à dianteira sobre as decisões rotineiras, presevar e criar um ambiente saudável. A alimentação e sono da gestante são muito importantes nesta fase; são fundamentais para o desenvolvimento do bebê e das diversas camadas que o compõe. Nesta fase forma-se o coração, o cérebro e a medula óssea, a coluna vertebral. Com isso seu bebê passa de um feijãozinho a um alienzinho e é emocionante a hora de ouvir seu coração, normalmente batendo a mais de 150 ritmos por minuto, no ultrasom.

A maior dúvida do homem é saber se ele já é pai ou não. Já que a experiência física do pai é diretamente relacionada à observação do desenvolvimento físico e emocional da mãe resta a ele direcionar seus atos e pensamentos ao que interessa: informações atualizadas sobre tudo relacionado à gravidez. A internet é a grande responsável pela democratização de textos, experiências, teses e notícias sobre o assunto. Revistas especializadas são ótimas para descobrir os debates sobre infância e papel dos pais nesta fase tão importante da vida da criança. Conversar com outros jovens pais é mais útil e fácil do que se imagina nessas horas. Novos pais se reconhecem e falam a mesma língua, acredite. É crescente o interesse do homem pela maternidade e vale todo o esforço saber algo que pode deixar a mãe geradora mais confortável e segura em sua cachola.

Quanto mais cedo você encontrar um(a) obstetra de confiança da família que mostre domínio sobre todas as situações fundamentais para uma gestação tranqüila e ajeitada, melhor. Não deixe ninguém criar expectativas sobre o parto, sobre enxoval, sobre o sexo ou o nome do bebê. Nada disso importa ainda. Observe os horários em que a sua parceira enjoa. Se for de manhã, por exemplo, faça um bom jantar pra ela comer antes de dormir. Enjôos normalmente acontecem porque o bebê demanda muita energia para crescer. Uma grávida exige dieta rica em muitas coisas. A internet possuí muitas receitas disponíveis para alegrar estes momentos. É importante enriquecer a dieta com ácido fólico, presente em verduras e legumes crus. Muitas mulheres enjoam com o cheiro de alho, cebola e feijão cozinhando. Normal.

Existe um grande debate sobre o parto natural e amamentação. Muitas mulheres temem a dor, a demora e a explosão de sentimentos que antecede o parto natural. Para o homem, este momento é mais do que ser “aquela mão apertando a mão”. A verdade é que nas primeiras doze semanas é muito difícil saber quais são as condições de nascimento do bebê. Eu e minha esposa fizemos juntos um curso de parto que, além de esclarecer dúvidas, nos colocou à disposição dezenas de opiniões singulares sobre como resolver os medos e estar preparado para o dia do nascimento, qual tipo de parto escolher, qual maternidade faz isso ou aquilo, como amamentar, etcetera. Mas a minha esposa tinha tanto sono que sua maior preocupação era acordar na hora de ir pra faculdade ou se teria eu já cozinhado o feijão quando ela chegasse em casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário