Este final de semana foi bastante produtivo. Eu e meus irmãos conseguimos produzir, ensaiar, executar, gravar, mixar e masterizar duas canções. Deixa pra lá e Proibido são as canções. A urgência nos impediu de ficar em casa no decorrer das horas sem fazer algo delas.
Proibido é uma canção antiga minha e do Breno composta para o Maskavo em 2004. Tinha outra letra e outra intenção mas naturalmente conseguimos perceber que ela não é um reggae e nem mesmo uma canção de amor. É um desabafo. Gosto muito dela e trabalhei bastante as estrofes, as rimas, mesmo que não cantando como o Caruso, quando eu ouço a gravação, fico com a imagem de mim mesmo gritando rouco ela aqui na sala onde gravamos todas, todas, as nossas demos desde 1994. É santuário total! A mensagem agora mesmo me soa pertinente. O que é proibido, o que não faz sentido, anúncios de Domingo, o que não está escrito, por que é tão difícil viver bem esse conflito? por que é tão difícil viver bem?!
Deixa pra lá é uma canção antagônica. É de amor. Composta pelo Breno ano passado. Diferente de mim, ele tem uma banda que não conseguia acompanhar seu ritmo de composição e também que não é dedicada o suficiente para rasgar à seda da vergonha ou da preguiça. Com a disposição dele em darmos o próximo passo, porque uma música só existe se você tocá-la, gravá-la, fizemos o arranjo em meia hora e depois engatamos na onda de sua letra. Deixa pra lá, o que não dizemos é mais complexo, deixa eu te tocar, eu acompanho os seus gestos, você dançando no escuro, você chorando no escuro, desafiando absurdos e imendando assuntos, eu tenho medo do escuro mas deixa pra lá! É amor dele pela namorada e de um jeito que me agrada. É direto, bem escrito e poético, características essenciais do estilo que meu irmão criou para ele mesmo e desenvolve a séculos.
O Vitor é especial. Foi com certeza a alma deste final de semana e nos transbordou com sua energia jovem e vitalidade. Nos impediu de desistir no meio das adversidades técnicas ou na hora de cantarmos. Com sua irreverência e sinceridade deu os melhores conselhos possíveis para completarmos arranjos e detalhes vocais que finalizaram as gravações. Sábado eu e ele tínhamos a mesma quantia de dinheiro na conta corrente. O que pra mim seria um pequeno problema pra ele é um nada. "Bruno, semana que vem eu recebo e começa tudo de novo... gasta, gasta, gasta. Precisamos ser felizes com isso, Bruno." Admito que aprendi um bocado sobre ele e com ele dividi as dívidas e os sonhos. Agora mesmo ele saiu pra ir trabalhar e eu estou aqui, lágrima nos olhos, falando sobre meu irmão caçula. Se não fosse ele tudo teria sido fraco e insípido. Ainda bem que eu tenho irmãos de aço!
Foi um final de semana onde ouvimos muitos lps inspiradores, ouvimos cds ainda melhores, ouvimos nós mesmos reclamando da vida enquanto preparávamos, ou um novo canal de gravação, ou preparando um quitute - limão, açúcar, gelo, pitu ou excess, água gelada - ou buscando uma latinha na geladeira. Olhando o quintal da casa da minha mãe, senti muitas saudades de casa e da minha vida. Mas estou aqui produzindo e construindo em família o que ninguém fez por nós até hoje.
Também montei uma banda chamada NOVA ONDA, de jazz moderno e pop. As composições ainda estão brotando, mas as versões de Jamie Cullum e John Butler Trio estão ótimas. Aliás, tocar música dos outros foi a forma como eu aprendi a tocar baixo e até hoje essa é a única forma que eu sinto ser ideal pra se depurar o ouvido musical. Quem não consegue tirar um som de ouvido, me desculpe, não irá muito longe no ramo. Nos vocais, Marquinho da banda Capitão do Cerrado, meu amigo de juventude, e César Borgatto, o primeiro baterista profissional de quem eu ouvi falar quando tinha 17 anos. E ele é só dois anos mais velho que eu apenas. Eu me profissionalizei com 23 anos e até hoje preciso estudar muito pra continuar escrevendo e compondo e tocando sempre melhor.
Como se percebe, ao invés de descansar e aproveitar o Carnaval, eu só trabalhei e trabalhei e trabalhei. Ainda compus duas canções pro Maskavo de títulos existenciais: Tão Humano (canção de amor) e Contraponto, ambas sobre a dificuldade dos relacionamentos que tendem à ter futuro e sobre as dificuldades em aceitar as diferenças.
Tenho uma lupa no meu coração? Não! Ninguém poderá jamais ver alguma coisa aqui dentro. Mas eu peço. Ouça a canção, procure ali a minha emoção e achará. É a sua emoção também porque o meu trabalho é criar algo maior do que a própria criação e torcer para ela fazer diferença no final.
É como uma onda. É sempre nova e nunca para!
Nenhum comentário:
Postar um comentário