quarta-feira, outubro 28, 2009

Procurando Bruno Prieto

Esse papo de sonhar me deixou preocupado comigo. Estava dormindo agora mesmo, caí da cama, verifiquei se o sono do meu filho estava ok, tive que ir ao banheiro, sentei e pensei, descobri porque não sonho mais, porque sou perseguido por fantasmas da minha consciência, porque tenho muitas questões mau resolvidas. Acordei tendo um flashback de um mail que eu li, um mail antigo, de Julho, que dizia um monte de desaforos e pessoalidades, desabafos de anos e anos de convivência, os argumentos pareciam palavras secas, travadas, adstringentes, eu ali excluindo aquele arquivo porque preciso parar de tentar entender o passado, já passou, e os diálogos do passado são os meus fantasmas.
Seria como o louco que ouve vozes, mas não sou nada disso.
Lembro muito bem das decisões realmente sérias que tive que tomar na vida e todas elas foram muito dolorosas para mim. Eu fui criado para execitar uma força mental enorme para não chorar e sucumbir ao primeiro fracasso. Mas chorei muito nos últimos quatro anos. Lavei com lágrimas sentimentos que fui acumulando, torrei dinheiro para ver se conseguia um pouco de sossego mas não adiantou. Mudei de cidade algumas vezes para ter novos horizontes, nada serviu. Namorei, casei, tive filho, aluguei casa, mobiliei tudo e quis ali formar um lar, desgastando minha coluna vertebral em quase todas as companhias de ônibus da região sul do país; me separei, não tinha nada e nem precisava. Fui roubado por um dos meus empresários, pouco dinheiro, o outro abandonou a banda por motivos pessoais e agora, depois de trabalhar anos e anos construindo algo que durou, mas está no osso de manter, preciso recomeçar a erguer minha banda. Fiz músicas que nunca serão gravadas, produzi canções que nunca serão ouvidas, tudo para que uma delas, como uma gota, caia nas mãos de alguma editora que não irá trabalhar ou vender esta canção.
Não tenho apoio financeiro de ninguém. Meus pais são pessoas ótimas e me legaram um teto onde morar. Mas só isso. Nunca ganhei mesada, nunca fui pra Disney, nunca ganhei carro do ano, nunca achei que isso seria mais importante do que o apoio moral que eu necessitava para ser artista, músico, escritor, até historiador. Não foi em casa que eu consegui esse suporte. Foda-se.
Mas agora, embalado por minhas reclamações, vejo porque os fantasmas da minha mente me assolam. Enquanto outros esquecem, fingem que não enxergam, dão as costas, eu acho que tenho essa vida escondida, cheia de mentiras e desaprovações, ilusões, separações, dor de cotovelo, tudo isso encrustado em alguma parte viva de mim. E talvez isso esteja, enfim, saindo pra fora porque é preciso aceitar que estou muito feliz, muito bem resolvido, muito trabalhador, muito sério, muito focado em fazer coisas que sejam reais para mim, para meu filho, para minha família, para meus sócios e amigos, para o amor que algumas mulheres ainda sentem por mim, pela paz universal, pelo dinheiro que ainda vou ter que conquistar.
Estou procurando e na verdade o caminho é todo, todo, todo, todinho bem longe do passado. E que morra esse passado.


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