quinta-feira, fevereiro 10, 2011
A deselegância em ser violento - Bruno Prieto
No discurso em que dissolveu a ordem teosófica na Índia, Krishnamurti expõe que o mundo, em seus cinco mil anos de civilização, já teve mais de quinze mil guerras. A média de três guerras por ano já foi ultrapassada desde 1960. O mundo hoje é assolado por tanta violência, de todos os tipos, que é anormal ter fé em processos pacíficos. A violência extrapolou dos campos de batalha para as cidades e para os lares de povos de todas as partes. Há de se ver que o Egito não é o motivo destas linhas. Foi a Costa do Marfim com seus quase trezentos mortos. E o Congo com seus estupros em massa. O senhor do Maranhão com seus oito filhos tido com sua filha. Josef Fritz. A mãe que jogou seu recém nascido por um muro de mais de dois metros de altura. A namorada que avança no namorado com uma garrafa na mão. A mãe que rouba a pensão do filho e chama ele de gay e drogado. Se o limite dos campos de batalha são os lares então estamos em um período de trevas. Há deselegância e violência em atos mais simples. Vi com meus olhos uma pessoa dizer para outra: olha, acho que o que você faz é uma bosta. E pensar que em dias mais auspiciosos era mais prudente ficar calado do que abrir a boca para fazer esse tipo de coisa. A tristeza é enorme. A violência da televisão é apenas ilustrativa, é notícia para boi ver. Quem consegue dormir tranquilo desse jeito? Tem no futebol a falta de respeito para com o profissional adversário. Me parece que, dentro das quatro linhas, existem mais inimigos do que competidores. É uma correria selvagem deslavada com muitas canelas, torções de joelho, estiramentos, do que a inteligência do toque de bola do time catalão. Muitos monges meditam. Muitas pessoas rezam. O stress da vida ocidental sai pelo suor em academias. Nada justifica tanta falta de respeito e é visível que a violência chegou até as pessoas omissas e desprotegidas. Atinge a todos nós subliminarmente porque, em nosso mundo dentro da nossa cabeça, existe espaço para os dias em que tudo deu errado e descontamos nossa raiva no lombo do cachorro ou na pessoa amada. No livro Sidarta, de Herman Hesse, tem um parágrafo que ilustra as três virtudes que toda pessoa deveria exercitar: pensar, esperar, jejuar. Para o caso da violência, de dentro de nossa alma para fora, para não ferir alguém ao nosso redor, pensamos nos atos positivos e negativos para justificar qualquer violência. Esperamos pra ver se passa esse torpor. E deixamos os excessos de lado pra fazer algo que seja construtivo. Se houver três guerras por ano de novo, elas serão coisas de gente gananciosa porque a vida já é perigosa em si.
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