sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Para socióloga, megaoperação é "divisor de águas" na história das polícias do Rio - Janaina Garcia

Uma operação “bastante simbólica, divisora de águas” na história das polícias do Estado do Rio de Janeiro e que servirá de “contribuição importante para uma virada de página” daqui em diante. É essa a análise da socióloga Julita Lengruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio, sobre a megaoperação desencadeada nesta sexta-feira (11) por agentes da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público do Estado. Desde o início da manhã, 35 pessoas já foram presas na chamada Operação Guilhotina --27 delas são policiais civis (oito) e militares (19). Ouvidora das polícias do Estado do Rio de 1999 a 2000, a socióloga, no entanto, fez um alerta: ainda que a ação coordenada de hoje tenha apresentado resultados concretos, o combate à corrupção policial tem ainda uma tarefa extensa e contínua pela frente.

“Foi uma operação que representa um divisor de águas no combate a esse tipo de corrupção, pois até então o que tínhamos eram muitos casos isolados de corrupção”, disse. “Mas a gente espera que a iniciativa não se esgote em si mesma, e sim, que abra caminho para uma grande limpeza na corporação."

Na operação, a força-tarefa coordenada pela MP apurou que policiais vendiam informações a grupos criminosos do Rio, tais como traficantes de comunidades recentemente ocupadas, além de se apropriarem de apreensões realizadas em operações para venda posterior ao tráfico.

Para a estudiosa, pensar em acabar com a corrupção é praticamente uma utopia. O que é possível, defende, é reduzir os mecanismos pelos quais ela ainda se manifesta.

“A corrupção está presente em variados graus da sociedade, em todos os níveis de governo. Ela precisa é ser controlada, absolutamente combatida, pois o ser humano é muito hábil quando quer cometer desvios”, comentou. “É preciso uma grande reforma na polícia, envolvendo não apenas vontade política, como também modernização da corporação e mecanismos de controle interno e externo que, bem azeitados, mostrem que a corrupção não é um bom, mas um péssimo negócio."
Ouvidorias deficientes

Os mecanismos aos quais a especialista em segurança se refere passam necessariamente, defende ela, por corregedoria e controladoria internas atuantes e, sobretudo, por sistemas de ouvidoria eficientes --qualidade que elas deixaram de possuir, pontuou, desde o final da década de 1990.

“Tivemos nos anos 2000 um esmorecimento desse controle externo; elas se tornaram uma pálida imagem. E isso a gente precisa recuperar. No início do governo Lula (2003/2006 e 2007/2010), tínhamos 14 ouvidorias de polícia em 14 Estados; oito anos depois, ainda que nos direitos humanos se tenha avançado, esse número permanece igual --o que é indesculpável."
Nova York e Bogotá

Se modernização e mecanismos de controle podem ser eficientes, Lengruber citou que a “vontade política” de mudar um cenário de corrupção policial já deu resultados, também no fim dos anos 1990, em cidades como Nova York, nos EUA, e Bogotá, capital colombiana, em uma época em que a ação de gangues e os altos índices de criminalidade eram realidades comuns nas duas metrópoles.

“Essas cidades se decidiram pelo processo de limpeza das polícias e as modernizaram, fatores importantes, inclusive, para a redução da criminalidade como um todo”, defendeu. “Não adianta você querer derrubar índices negativos se percebe que inúmeros de seus parceiros são, na verdade, parceiros de atividades criminosas, aí não tem mesmo como avançar. Por isso que se espera que essa determinação de limpar, na polícia do Rio, seja permanente”, concluiu.

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