sexta-feira, setembro 30, 2005

O crime é a cidade - análise do paradigma social ocidental

Estou em frangalhos pois a distância de casa me torna uma pessoa incapaz de fazer aquilo que gosta. Eu gosto de espremer laranjas e fazer arroz com ervas; fazer café bem cedinho e deixar a louça limpa antes de tocar violão. Antes de dominar as palavras e escrevê-las, eu curto deixar a harmonia e as ressonâncias tomarem conta dos meus dedos e talvez seja nesta hora que eu pense nas soluções dos meus problemas. Estou com saudades de casa sempre!
Por isso minha mulher me deu um excelente livro para ler nesta viagem. A teoria das revoluções científicas, de Thomas Kuhn. O que me levou ao questionamento social mais próximo de um paradigma moderno que eu pude conceber. Seja ele verdadeiro ou não, exato não haveria de ser pois estou escrevendo de cabeça e sem muito discernimento do que há de vir, antecipo algumas coisas que me ocorre há anos, que me dá medo de antecipar uma condição inevitável de incerteza, o COMUNISMO CAPITALISMO CHINÊS.
Antes de estar onde estou eu tive a oportunidade de ler um texto do Osho sobre a impossibilidade de existência do que sugiro, dois sistemas fundamentalmente opostos, e que o comunismo era um vilão menos perigoso do que o capitalismo. O Osho não teve a oportunidade de ver a queda do muro de Berlin ou o advento da pirataria, este a ponta de lança do novo império mundial e virtual criador do novo sistema de controle do comércio global.
A pirataria é chinesa. Foi a forma como um país de economia planificada e sociedade baseada no equilíbrio estatal debruçou-se nas brechas da ganância capitalista, ou seja, na desigualdade social dos países pobres e em desenvolvimento para suprí-los com a alta tecnologia de cópia mandarim. A pirataria é também a melhor forma de testar uma tecnologia comprovada com baixíssimos custos em pequisas e pessoal especializado. Mão de obra na China serve para erguer suntuosos edifícios, construir estradas gigantescas ou pontes e simplesmente não estar nem aí pra tudo isso que é o capitalismo. Pois foram os países capitalistas, eles mesmos, que procuraram Deng Xiaoping nos anos 80 para produzir muito, mais muito mesmo na China pelo custo benefício da exploração da mão-de-obra chinesa. Talvez hoje um chinês possa usufruir com mais desejo alguns benefícios da vida ocidental mas não existe brasileiro ou argentino ou senegalês que não dependa dos produtos baratos fabricados na China. De tudo, um tudo. Pirataria virou sinônimo de "novo valor de mercado". O direito à exclusividade está com seus dias contados?
Uma nação de população global com um mercado alto suficiente precisa apenas de comida e de combustível fóssil na medida em que desenvolve esponecialmente seu comércio com capital gerado pela exploração de seu regime, com a apropriação de produtos sem licença e patente, com a adaptação das regras de comércio entre os países do mundo e por sua importância na criação de mercados piratas pelo mundo, cada um abastecido com os mais diversos produtos destinados a sustentar a circulação de dinheiro entre a população menos favorecida e de baixa renda e que atinge em cheio os olhos e os bolsos da classe média, danificada pelo consumismo e pea manutenção de juros sobre tudo na vida do cidadão em si.
Mas o que define o paradigma não é a ascensão da China como virtual potência global e sim o que transfere para a sociedade o medo do fim das cidades.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Radical - um processo químico que nos torna obsessivo ou livre.

Lembro muito bem dos tempos de escola. Os radicais livres das aulas de química e os alunos dando aquela sacaneada: "eu sou um radical livre. e eu sou um radical doido."
Na época o jogo de palavras era muito interessante. Cada nome, cada partícula, cada expressão inventada tinha sentido volátil. Outras idéias, de tão boas, permanecem até hoje. Os apelidos e a lembrança do dia em que duas turmas completas do segundo ano do ensino médio mataram aula no parque para ver o eclipse solar, uma raridade que motivou amigos e inimigos a se juntarem em prol de uma verdade momentânea. Uma verdade.
Estava ao telefone conversando com o Quim e, de repente, soltei que eu achava uma música muito boa, porém a letra ruim. Fui chamado de radical. Pensei, concordei com o Quim. Por que do meu radicalismo com tal música? Hoje tenho a resposta. A música é como o radical livre. Ela se associa. Ela surge do acaso microscópico, das vibrações que se misturam no ar, da humidade. A música é uma tentativa pessoal de expressão e pode ser boa ou não, diferente, ousada e intimista. Fazer uma música pelo sucesso pode ser parte da viagem e geralmente é essa que toca o subconsciente popular nos aspectos ruins dos radicais livres. Em uma banda uma música tem que tocar a alma de quem não a compôs. Tem que gerar aquela pulga xexelenta atrás da orelha que instiga "putz, esta música também é minha" e brilhar na escuridão de nossa mediocridade. OLha, eu amo tantas músicas que a lista seria infinita. Músicas radicais, em todos os sentidos. Lembrei de Frank Zappa e talvez o Quim ainda não tenha ouvido este tipo de radicalismo ou mesmo um disco do cara, talvez só o seu nome.
Um radical também sofre pois geralmente se sente confundido ou mal interpretado pela sorte das pessoas que orbitam sua vida. Sua opinião é tida como pouco espiritual, impensada e a estrutura da loucura medida pela intensidade com que defende suas idéias, atroz. Até o tom de sua voz interfere na digestão de um pensamento racional. Mas a busca pelo equilíbrio não é uma faceta do homem. É parte do mecanismo natural que dimensiona quanta loucura pode existir no meio de tanta caretice entre os seres vivos. Gorilas, abelhas, grilos, gatos, amebas, um rotovírus e você.
Nutro muita simpatia pelas idéias que rompem com a normalidade do cotidiano. Dizer CU ou foda-se quando dá vontade. Ou não dizer nada no meio de um temporal, ficar sem dizer nada para a pessoa amada (quem mais entenderia o silêncio?), tocar as cordas do violão as duas horas da manhã. Fumar charutos todos os dias sem ser incomodado e apreciar o sucesso alheio. Só não entendo emails pois considero tudo o que há neles supérfluo e inócuo até porque quem passa muito tempo lendo e escrevendo emails acaba se deparando com as aberrações da língua portuguesa escrita verborragicamente, as distorções do uso comum da palavra.
Um radical obssessivo já pode ser problemático. Ele não respeita as diferenças e tende a agredir seu ambiente com facetas naturais da humanidade. Faz coisas para mudar a atenção do senso comum, conflita o sim e o não através da divergência crônica dos laços pessoais e ganha, geralmente ganha, pela exaustão de seus gritos. Não conheci Buda, mas acho que quando criança todo mundo é meio assim. Ter uma obssessão na vida faz parte do pacote sistêmico do capitalismo, do individualismo e do materialismo. Tantos "ismos" amparam os reflexos da mente radical do descrente que propiciam terreno fértil para os manipuladores de opiniões e geram força quase nuclear para interromper o bem e fazer prevalecer a dissimulação do bem e do mal.
O verdadeiro radical está além de tudo isso.

terça-feira, setembro 13, 2005

Reflexão - demorou mas saiu

Em um Domingo a não muito tempo atrás estava eu assitindo ao quadro SE VIRA NOS 30, que na verdade é um scatch moderno do Gugu Liberato, empenhado em premiar com dinheiro artistas anônimos, os palhaços da casa, os desajustados da juventude que, enfim, se tornam úteis por 30 segundos. Eu ia assistir ao jogo das 16:00h e resolvi já ir esquentando o sofá antes do apito inicial quando me deparei com a seguinte cena. O Fausto Silva chama um rapaz que iria fazer uma caveira dançar. Estava o candidato disposto a fazer seu número, se concentrando, o cicerone do programa mantinha o público entretido exaltando a feiura do rapaz. Quando ia começar seu truque, da dança da caveira, nada deu certo pro rapaz. Para mim ficou evidente que o Fausto Silva tinha excedido nas piadas com o rosto do rapaz e ele não teve pulso firme para fazer seu número. Não obstante a falha, o apresentador ainda deu mais uma sacaneada no rapaz, em sua feiura pra ser mais exato, e pediu para que ele repetisse o número. No meio do sucesso do truque, e eu acho que a música ao fundo era do Michael Jackson, o rapaz foi cortado de sua ação e fim. Fiquei meio passado com o desrespeito imediato que assisti. Afinal o garoto tinha ido lá para mostrar uma habilidade e não para servir de motivo de piada para o programa. Fiquei meio triste com o que vi.
Uma vez a uns 2 anos atrás voltando de Florianópolis tive o prazer de conhecer um senhor e sua filha, ambos fãs de Maskavo, que iam apresentar-se no SE VIRA NOS 30. O truque do senhor era perigosíssimo pois envolvia passar corrente elétrica pelo corpo enquanto ele ia ligando lâmpadas, aparelhos eletro-eletrônicos e fogos de artifício. Uma batedeira dava o toque final ao truque. A tecnologia empregada para a transmissão de energia era das mais mambembes, os conectores de energia da bateria para o senhor eram forrados com papel laminado para favorecer a corrente. E ele ainda comentou que existia ali um perigo de morte caso um curto-cicuito ocorresse. Para mim, ao ouvir aquilo no avião soou muito perigoso, mas pela t.v. eu percebi o tamanho da ousadia daquele simples homem. O homem mais simples que eu já conheci. Era a primeira vez que ele andava de avião e ia para o Rio de Janeiro. Não lembro qual o valor do prêmio que ele estava pleiteando mas eu lembro que ele ia gastar com a filha dele ralizando um sonho dela e da famíiia. Quando ele ganhou, eu fiquei feliz.
Mas o programa em destaque não transmite inteligência nem coragem. Apenas o desespero das pessoas em serem descobertas e ficarem famosas em seu círculo de amizade ou pelo dinheiro. E dinheiro não é um bom motivo e nem uma boa motivação carnal. Existem coisas piores na televisão aberta, eu sei, mas pra mim a degradação da imagem do jovem rapaz que ia fazer a caveira dançar foi crucial para esta reflexão. O que é preciso fazer para nos contentarmos com a vida? Viver a vida no sistema impregnado e potente buscando sorte e fortuna ou saúde e vivacidade? Obrigado!

domingo, setembro 11, 2005

Existe ordem na desordem - trucidando

SInto muito por não estar em minha própria casa. Nada tem compensado a distância de casa. E flagrado por não sorrir me peguei ainda tentando fechar os olhos e vendo meu futuro ardente tão atrelado ao vai-e-vêm das viagens de ônibus em uma espiral de solidão, silêncio e pura paciência que chorar quieto ouvindo Velvet Underground infinito no fone de ouvido era a solução. Apenas uma lágrima me separa da paternidade do átomo e do leite materno e mesmo com tanta coisa para pensar e resolver, o trabalho cada dia mais opressor e a nebulosidade do mercado cdmatográfico talvez não tenha me feito entender. Pura dor no meu coração. Quando eu ouço uma asneira eu me sinto pior ainda. Fui contemplado com a imagem de um tristonho cachorro ao sair do aeroporto. Um daqueles cachorros feios e abandonados, despelados e sarnentos das ruas. Está tudo errado na cabeça daquele animal como uma febre veraneira ou ressaca das brabas enquanto justiça, justiça, nada de justiça para os desmemorizados pelo excesso de uso do celular nos aeroportos, clones urbanos. Números. Hoje eu me senti um número.