Ainda não rolou com o Reggae o que aconteceu com o Rock ou com a Bossa Nova. O Reggae, como estilo musical e estilo de vida, continua muito próximo de suas raízes ideológicas.
Muitas coisas contribuem para isso. E o Brasil tem em si tudo para que não mude por muito tempo.
A idéia do profissionalismo musical já é algo que dói nos ouvidos de quem tem ideologia radical sobre viver de música, se comprometer com a mesma e com sua banda. No Brasil, na cabeça de quem não está em uma gravadora ou fazendo shows semanais, se vender é tocar no radio ou assinar um contrato de 3 anos. Se vender é tocar na televisão ou abrindo shows de outros estilos musicais. Não há espaço para radicalismos nem para “rixas” entre bandas.
O que chamo de underground no título do texto é a idéia de existência de um circuito forte musical e de cultura que margeie a industria atual. Música comercial é um termo que se tornou pejorativo porque mistura o que é feito para massificar e vender um título ou artista plástico, com artistas de carreira e bandas emergentes. O intercâmbio é a primeira arma do underground. Intercâmbio de música, de bandas, de zines. O Reggae esbarra ainda no seu isolamento artístico no Brasil. Felizmente, esta situação tem mudado porque algumas pessoas e bandas já notaram que viabilizar shows, o que é o caso do underground, faz mais pela música do que tentar entender porque é a Kelly Key e não a sua banda que esta na MTV.
terça-feira, fevereiro 14, 2006
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
Verdade, vontade, crítica do amanhã - Hoje é que é importante.
No auge de períodos nebulosos que coincidem mais ou menos com o começo deste século os fenômenos naturais se confundem com as trevas do pensamento humano. É fato que os heróis já não mais fazem parte deste mundo. É fato que não fomos capazes de viver em harmonia prodigiosa com o que chamamos de natureza. A comunhão que os povos americanos, africanos e asiáticos tinham com o solo, com as plantas e com os animais, de onde tiravam tudo que precisavam sem depredar ou gerar inveja entre eles, foi literalmente enterrada nas profundezas do pensamento antropocêntrico e das idéias iluministas e positivistas na busca pela razão, por uma verdade. Tal verdade vem sendo usada como desculpa para que nações invadissem nações, para que a exploração do meio ambiente tivesse uma finalidade humana, para que a escravidão pudesse, enfim, fazer parte da racionalidade do homem.
A verdade se tornou, para todos os fins, uma forma evidente de inclusão social, depois se tornou o muro das lamentações, o chicote da religião católica, o diálogo dos filósofos que buscam uma verdade universal e a desculpa para que a independência do homem fosse soterrada pelo desejo de existir individualmente. A verdade virou uma cruzada em busca de seu cálice de libertação.
Para todos os fins, povos dotados de grandes habilidades morais foram dizimados e uma nova realidade, o chamado livre-arbítrio, foi entalhado em nossos corações para que justificásse nossa falta de vontade de mudar o que está errado. Quem enxerga além do que vê sabe muito bem quais vertentes de maldade se formaram depois do renascimento europeu, das idéias cartesianas ambíguas que amparam até hoje o pensamento ocidental, que está impresso em nossa bandeira como “ordem e progresso” de forma que nos engana, nos ilude, nos faz menos do que europeus.
Não bastando a importação de valores que estupraram as almas que aqui já existiam e as almas que foram traficadas para cá, somos obrigados a deserdar nossa identidade em formação. Ser brasileiro e falar o português, ter vontade de beleza como nossos índios ancestrais ou saber a genealogia que nos formou, saber que nossos algarismos numéricos são de origem árabe ou que o Brasil é o mais influente país latino do mundo não basta?
Recebi um email dos mais incomuns outro dia. Era do auto-proclamado fã número 1 do Maskavo. Dizia para que olhássemos o mundo a nossa volta com novos olhos, para que almejássemos ser algo que ainda não somos, para que abandonássemos o reggae e virássemos uma banda de rock porque merecíamos o reconhecimento de bandas como Skank e Jota Quest que fazem a festa do povo, que tocam em todas as Fms, que são conhecidas nacionalmente. Pensei no plano que o coração deste fã bolou durante todos esses anos para nós e cheguei a conclusão de que ele não sabe do que está falando.
Se fosse pelo sucesso que ele nos deseja, eu preferiria ser a banda Calypso ou uma dupla sertaneja, que não dispensam a pitadinha de Brasil que existe em nosso sangue e tocam uma música divertida, sincera, que não existe em nenhum lugar do mundo. Uma música brasileira de verdade, então. O rock, infelizmente, é coisa de gringo e até o rock nacional carece de uma nova adequação pois qual a diferença do Skank pro Oasis? Eu diria que a diferença é gigantesca, mas a comparação é uma tremenda bobagem. O fã brasileiro não é fã de música feita no Brasil. Assim como a escravidão, a cultura também foi usada como forma de dominação dos povos. Alexandre, o grande, que o diga! Se for pra tocar algo que realmente seja 'sui generis”, eu faria do Maskavo uma banda de Bossa Nova como nunca existiu. Pois o que é uma crítica sem pé-nem-cabeça do fã é, na realidade, a metade da verdade. E o Maskavo não pertence a essas tendências pois elas vem e vão, como os anos, os verões e as tempestades. O Maskavo não é uma banda heróica para salvar a música brasileira também. Mas se nos rendermos ao rock é porque deixamos de lado muitas das mensagens que pregamos. E se o reggae não é do Brasil, diga isso pro Gilberto Gil que fez alguns dos mais belos reggaes do mundo. DO MUNDO! Mas como ministro da cultura fez do Maskavo mais uma banda que só existe em seu próprio nicho, trilhando espaços obscuros dentro do território nacional, sem o devido reconhecimento por seu trabalho e que assumiu como compromisso manter-se fiel, não ao reggae, mais a música feita no Brasil. E pra quem tem dúvidas sobre o reggae é só ir na Jovem Pan ouvir a versão de “Pra não dizer que não falei das flores”, do Geraldo Vandré, tocada pelo Charlie Brown Jr. Se for pra ter um sonho, eu gostaria de ter escrito músicas como aquela e que o povo quisesse e tivesse a mesma vontade de beleza dos nossos antepassados índios. Acho que os índios iriam gostar de Maskavo, no final das contas.
A verdade se tornou, para todos os fins, uma forma evidente de inclusão social, depois se tornou o muro das lamentações, o chicote da religião católica, o diálogo dos filósofos que buscam uma verdade universal e a desculpa para que a independência do homem fosse soterrada pelo desejo de existir individualmente. A verdade virou uma cruzada em busca de seu cálice de libertação.
Para todos os fins, povos dotados de grandes habilidades morais foram dizimados e uma nova realidade, o chamado livre-arbítrio, foi entalhado em nossos corações para que justificásse nossa falta de vontade de mudar o que está errado. Quem enxerga além do que vê sabe muito bem quais vertentes de maldade se formaram depois do renascimento europeu, das idéias cartesianas ambíguas que amparam até hoje o pensamento ocidental, que está impresso em nossa bandeira como “ordem e progresso” de forma que nos engana, nos ilude, nos faz menos do que europeus.
Não bastando a importação de valores que estupraram as almas que aqui já existiam e as almas que foram traficadas para cá, somos obrigados a deserdar nossa identidade em formação. Ser brasileiro e falar o português, ter vontade de beleza como nossos índios ancestrais ou saber a genealogia que nos formou, saber que nossos algarismos numéricos são de origem árabe ou que o Brasil é o mais influente país latino do mundo não basta?
Recebi um email dos mais incomuns outro dia. Era do auto-proclamado fã número 1 do Maskavo. Dizia para que olhássemos o mundo a nossa volta com novos olhos, para que almejássemos ser algo que ainda não somos, para que abandonássemos o reggae e virássemos uma banda de rock porque merecíamos o reconhecimento de bandas como Skank e Jota Quest que fazem a festa do povo, que tocam em todas as Fms, que são conhecidas nacionalmente. Pensei no plano que o coração deste fã bolou durante todos esses anos para nós e cheguei a conclusão de que ele não sabe do que está falando.
Se fosse pelo sucesso que ele nos deseja, eu preferiria ser a banda Calypso ou uma dupla sertaneja, que não dispensam a pitadinha de Brasil que existe em nosso sangue e tocam uma música divertida, sincera, que não existe em nenhum lugar do mundo. Uma música brasileira de verdade, então. O rock, infelizmente, é coisa de gringo e até o rock nacional carece de uma nova adequação pois qual a diferença do Skank pro Oasis? Eu diria que a diferença é gigantesca, mas a comparação é uma tremenda bobagem. O fã brasileiro não é fã de música feita no Brasil. Assim como a escravidão, a cultura também foi usada como forma de dominação dos povos. Alexandre, o grande, que o diga! Se for pra tocar algo que realmente seja 'sui generis”, eu faria do Maskavo uma banda de Bossa Nova como nunca existiu. Pois o que é uma crítica sem pé-nem-cabeça do fã é, na realidade, a metade da verdade. E o Maskavo não pertence a essas tendências pois elas vem e vão, como os anos, os verões e as tempestades. O Maskavo não é uma banda heróica para salvar a música brasileira também. Mas se nos rendermos ao rock é porque deixamos de lado muitas das mensagens que pregamos. E se o reggae não é do Brasil, diga isso pro Gilberto Gil que fez alguns dos mais belos reggaes do mundo. DO MUNDO! Mas como ministro da cultura fez do Maskavo mais uma banda que só existe em seu próprio nicho, trilhando espaços obscuros dentro do território nacional, sem o devido reconhecimento por seu trabalho e que assumiu como compromisso manter-se fiel, não ao reggae, mais a música feita no Brasil. E pra quem tem dúvidas sobre o reggae é só ir na Jovem Pan ouvir a versão de “Pra não dizer que não falei das flores”, do Geraldo Vandré, tocada pelo Charlie Brown Jr. Se for pra ter um sonho, eu gostaria de ter escrito músicas como aquela e que o povo quisesse e tivesse a mesma vontade de beleza dos nossos antepassados índios. Acho que os índios iriam gostar de Maskavo, no final das contas.
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