Esteja consciente e deixe de lado à razão. Esta frase é muito boa e, dita em algum restaurante sob forma de chacota com o Marceleza, ilumina uma séria questão humana aparentemente abandonada: a política humana. O que eu digo com isso é que as relações humanas chegaram a um ápice individualista, perto dele talvez estejamos, onde a síntese do cotidiano está tão concretada na política que o assunto virou motivo de piada. Além de saber que a maioria absoluta das pessoas no Brasil apresentam um saber político mas não exercem a sua função social, os direitos e os deveres dos cidadãos brasileiros, faz com que a alienação ou o descaso se tornem verdadeiras ferramentas para a manutenção do sistema vigente de eleição e governabilidade. O poder de votar e seu efeito estão sendo anulados diariamente nas atitudes mesquinhas, materialistas, na desinformação e nas classes emergentes e elitistas e encerram com pesar qualquer postura ideológica a que se submetem os rebeldes do capitalismo ou surfistas de ondas gigantes do sistema.
A quem interessa a anulação do poder de votar? O deputado quarto mais votado em São Paulo, Sr. Clodovil, não sabe nem porque se elegeu, não tem proposta política nenhuma, está disposto a aprender e ganhou a confiança de meio milhão de paulistas e paulistanos. A maioria absoluta de Alckriminalistas de São Paulo elegeu Paulo Maluf em primeiro lugar e Celso Russomano em segundo lugar. Frank Aguiar, o cachorrinho dos teclados, tem uma proposta lá no Congresso defendendo uma classe que não existe no papel e na legislação do Brasil: músico. A hipocrisia do estado mais rico do país é a cara do que estou abordando. O poder de votar anulou aqui ou atrapalha por mais quatro anos um processo de desenvolvimento subtropical vigente em toda a américa. É impossível sermos socialistas ou totalmente neoliberais porque jogamos nos dois lados destes conceitos. Somos grandes no continente e pequenos no jogo atômico e de segurança. Fazemos aço de baixa qualidade, produzimos soja e cana-de-açúcar como loucos e ainda não fizemos uma reforma agrária. Apostamos tudo na urbanização e no êxodo rural para que, entupidos e amontoados em prédios sejamos espectadores do bizarro. Toda terra produtiva do Brasil será de, no máximo, umas trinta pessoas do mundo. E, sem exagero, com o poder de votar em tão franco abandono e com uma nação aprovada sem recuperação nas escolas, sem renda garantida pelo trabalho marxista, sem terra pra cair morto se tudo der errado, é fato que o Brasil não passa de uma bomba-relógio. Ainda não foi inventada uma burguesia no Brasil. Temos aristocracia e elite, menos burguesia. A que tinha morreu na ditadura, foi perseguida, catequizada no exílio e na saudade de casa, mudou-se para a Califórnia, toca Bossa Nova mundo afora ou dá aulas na Sorbounne. Mas não está aqui desempenhando seu papel social. Existe um abismo enorme entre quem vota por aqui. O mais baixo escravo do sistema, o proletário e o autônomo pulam de galho em galho em busca de uma saída para pagar os crediários e as parcelas daquele carrão que vemos a Cicarelli vender nos intervalos da novela as oito horas. Quase não possuí posses, terras, casas. O que tem é status e olhe lá. E existem os emergentes industrialistas, agronegociantes, agiotas e banqueiros e políticos profissionais que detem um grande poder de comprar os votos de quem tem o poder de votar, manipulam as fontes de riqueza do país de acordo com as especulações e necessidades dos mercados externos, extorquem a si mesmos destruindo patrimônios naturais em detrimento do desenvolvimento copiado, do modelo de urbanização de Nova Iorque ou Tóquio e deixando de lado nosso potencial turístico, humano e cultural, tradicional e único em busca de uma cadeira em alguma reunião em Genebra onde nenhum deles poderá sequer pisar. Acho bizarro que o plano de mudança do brasileiro seja, depois do Lula, retroceder aos tempos de FHC com o robótico e anticarismático Sr. Alckmin. Acho bizarríssimo porque não muda em nada a direção da vela deste barco remendado.
Daí surgiu a estranheza: nossas eleições estão cada vez mais parecidas com as que vemos na televisão, as norte-americanas... um lado Bush e outro Gore, o mesmo lado no final. Aqui é Lula e PSDB, porque Alckmin é o fantoche do diabo, a pele de cordeiro mesmo, o mesmo pacto de corrupção velada dos anos 80 e 90, é o amigo dos gente ruim, assim como Lula era amigo do Palocci, do José Dirceu, do Waldomiro, e assim sempre será a política enquanto ela não se humanizar de novo. O povo abriu mão de mudar seu voto mais uma vez. Abriu mão de radicalizar. Até a campanha do voto nulo foi abortada na reta final porque? Por que o brasileiro é um eleitor covarde? Agora não temos mais direito à radicalizações. É PT ou PSDB e se fodemos por mais quatro anos. E eu aqui em São Paulo com Serra, Maluf, Clodovil, Russomano, Aguiar, João Paulo Cunha, Berzoini. As vezes eu me pergunto qual é a relevância em ser músico e não poder fazer um quase nada para impedir que esta máquina do mal contínua, com suas engrenagens bem azeitadas, breque pelo menos no momento de lucidez do jovem e entenda que está, há e virá algo podre no ar. Silêncio.