Por que eu reclamo tanto nestas linhas? Como um desafiante de boxe quase caído na lona, com meu protetor de dentes pendendo entre a língua e os lábios, estou pronto para receber o último golpe e ser knocked out. Eu já experimentei algo como "decadência" pessoal, parcial, momentânea. Esse tipo de decadência, segundo Nieztsche, nos permite sair de um bunker e ir para outro estado natural e parcial: o estado de luz.
É uma guerra ser quem se quer ser exatamente. E exatamente por isso é que não existe uma forma boa de desistir dos nossos problemas ou esquecê-los. Como eu disse, eu me sinto em falta comigo, sou nota 1, uma pessoa que a dois dias atrás, bem vestida, cheirosa, com os cabelos presos, conseguia vender uma imagem totalmente diferente do que sentia. Porque o sentir é tão interior e pequeno, como uma pedrinha de urânio, pequena e cheia de energia. E eu sinto que minha energia está toda focada em descansar, abandonar o barco, deixar de existir momentaneamente, não atender o celular, não me pronunciar quando perguntado e apenas respirar calmamente enquanto assisto aos jogos mais importantes do torneio de Wimbledon. Qualquer ruído está me deixando irritado e escuto cada vez menos músicas. Inclusive, tirei o som do carro e agora só dirijo ao som dos amortecedores e do motor do carro. Não, não posso relaxar dentro do carro quando existe uma nova lei que não me permite relaxar mesmo dentro do carro. E não que eu goste de beber e dirigir ou dirigir bêbado, etc, eu só bebo de verdade na minha casa. Mas o fato é que medidas proibitivas me causam ojeriza, tiram do indivíduo a capacidade de decidir se ele está fazendo o certo ou o errado por opção. Isso é tão humano!!! E proibir é o mesmo que dizer "ei, todos são culpados até que se prove o contrário", porque acredito que as leis servem pros bandidos, pros vagabundos, desocupados, corruptos e mercenários. Mas uma pessoa bem criada no bom senso e cercada de confiança e amor, mesmo nos tempos de guerra e fome e falência, essa pessoa não precisa de leis. Ela precisa de opções. Pra mim, isso é liberdade no sentido mais simples.
Antes de dormir fui deixar meu filho em casa. É um longo trajeto de ida e volta, muito bonito de se dirigir e bater um papo com meu filho, cantar com meu filho e saber o que ele pensa de estar no carro indo pra lá e pra cá. Para quem pensa que não, meu filho descreve os objetos, diz bom dia e boa noite pra lua e pro céu, comenta o que aprendeu na escolinha, as musiquinhas novas, os amiguinhos, fala da saudade de casa e da mamãe e do papai e da vovó e da Nara e do Bóris e da Uma e ainda tem forças pra não largar o brinquedo que pende em sua mãozinha naquele corpo sonolento. Meu filho já consegue imaginar e criar situações que só ele pode ver e isso é muito bom, é lúdico, é a forma como ele está aprendendo a interagir com as palavras, com seu pensamento e com o mundo a sua volta. Meu filho diz "tchau, senhora!" e conta os números pra mim. Eu olho e me sinto capaz de sorrir e ser feliz com isso e ainda esqueço quem sou. É tão intenso. Eu volto pra casa feliz. Daí lembrei da lei seca ridícula que vigora hoje em dia no país e tomei uma decisão: comprei 5 latas de cerveja e fui pra casa bebê-las. Sem problemas, sem confusão, no silêncio da noite, uma cerveja e um homem feliz. Um homem buscando a nota 2.
sábado, junho 28, 2008
sexta-feira, junho 27, 2008
Deixando pra trás algumas coisas
Eu fui criado e meus pais sempre me deixaram claro que, se eu quisesse desempenhar atividades as quais eles se sentissem responsáveis por mim, eu teria que começae e ir até o fim com aquela atividade. Foi assim jogando tênis ou fazendo karatê, foi assim em todo o meu período escolar e nas tarefas domésticas importantes. Era fundamental você ter o ímpeto de ir até o fim; nas conseqüências finais dos meus atos eu sempre encontraria algo maior do que um prêmio ou troféu: estaria lá a experiência de ter trilhado um caminho só meu, com as dificuldades inerentes, as pessoas costurando esse caminho seriam parte dessa experiência e eu estaria natiuralmente crescendo.
Hoje em dia, eu deixo muitas coisas de lado porque me envolvo em causas sem fim ou causas perdidas e tenho a tendência a abandonar o que simplesmente não tem mais solução ou conserto. O que me pôs a pensar nisso foi um hard disk velho onde eu tenho armazenada as fotos do primeiro ano do meu filho e mais uma porrada de arquivos que já não me lembro mais. Fiz um backup disso tudo em um HD que não funciona mais. 5 gigabytes de fotos que eu preciso recuperar e havia me esquecido. É cedo, são 6 horas da manhã e eu acordei mais cedo do que isso pensando no medo que seria perder definitivamente estes registros da minha vida... os meus vídeos estão todos com um amigo em São Paulo que eu usei disponibilizei para fazer o making of do Maskavo. Por que ainda não recuperei estes vídeos? Morei em Marília e peguei emprestado para meu estúdio uma potência emprestada que nunca funcionou. Tentei arrumá-la, mas era tão caro fazer isso que eu comprei uma nova, fiz uma dívida numa época em que eu não deveria, e continuei o estúdio humildemente. Hoje, o dono da potência quebrada me pediu satisfações sobre o paradeiro dela e eu não sei onde ela está agora, mas ela estava com meu sócio na época e, bem, isso está me obrigando a lembrar da época em que eu decidi esquecer tudo o que não era meu e comecei a cuidar do pouco que eu tinha produzido e construído até então. Meu carro, meu velho Fiat, eu não consigo reformar por falta de dinheiro então ele vai comigo até o final. Eu comprei um alarme para a casa onde era meu estúdio, foi uma grana. Paguei sozinho porque tive a chance e escolhi um sócio bom de coração, mas falido. Eu entrei com o pouco que eu tinha, ele com a parte que eu não tinha, mas a estrutura técnica importante fui eu quem comprou tudo. Briguei muito comigo e com minha mulher por causa disso e veja que até hoje isso me dá problema. Eu deveria ter ido até o final com a história do estúdio em Marília. Eu fui. Paguei a casa, o alarme que foi roubado depois por quem me vendeu o produto, devolvi algumas coisas pro meu vizinho Beah, outras coisas meu sócio ficou de devolver. Mas pelo visto ele não fez isso...
Deixei muita coisa sem fim em Marília e talvez por isso eu tenha retornado até lá agora nessas linhas. É uma cidade boa com muitos fantasmas. Eu enterrei dois dos meus por lá, inclusive. Espero nunca mais pisar naquelas bandas.
Então, eu fui roubado, meu estúdio faliu, não fiz amigos, meu sócio não cumpriu com a parte dele financeira, eu e minha mulher engravidamos, eu estava ensaiando e produzindo o Transe Acústico ou dentro do Expresso de Prata trajeto Marília/São Paulo/Marília, estava começando a compor seriamente, nunca fui visitado pela minha mãe, meu irmão gêmeo, pelo meu sogro, por ninguém além do meu pai e meu irmão mais novo e pela minha sogra e pela cumadre da minha mulher. Conheci poucas pessoas realmente confiáveis em Marília e tive que aprender a ser só mesmo estando com a pessoa que eu amava. Eram muitas decisões maritais e mais um monte delas que eu tinha que decidir sozinho. Falta de dinheiro por falta de shows rolou demais. Foi um péssimo 2005 para o Maskavo até então. 2008 está tão ruim quanto e por isso que estou analisando o passado: pra não voltar aquele perrengue que me levou tudo o que eu tinha. Fui desorganizado com tudo o que eu pude. Confiei nas pessoas erradas. Fui ajudado por bandidos para salvar meu carro do Detran de lá. Tive ótimos vizinhos, no entanto. Ótimos, prestativos, humildes, sossegados vizinhos que me ajudaram demais. Cuidaram da minha casa e da minha gata, zelaram pela minha casinha. Eu só não abandonei minha mulher e meu trabalho. Fui nota 7 no casamento e nota 10 no Maskavo. E fui nota 1 comigo. Pelo visto, eu preciso finalizar algumas coisas antes de fazer o que eu quero hoje em dia.
Hoje em dia, eu deixo muitas coisas de lado porque me envolvo em causas sem fim ou causas perdidas e tenho a tendência a abandonar o que simplesmente não tem mais solução ou conserto. O que me pôs a pensar nisso foi um hard disk velho onde eu tenho armazenada as fotos do primeiro ano do meu filho e mais uma porrada de arquivos que já não me lembro mais. Fiz um backup disso tudo em um HD que não funciona mais. 5 gigabytes de fotos que eu preciso recuperar e havia me esquecido. É cedo, são 6 horas da manhã e eu acordei mais cedo do que isso pensando no medo que seria perder definitivamente estes registros da minha vida... os meus vídeos estão todos com um amigo em São Paulo que eu usei disponibilizei para fazer o making of do Maskavo. Por que ainda não recuperei estes vídeos? Morei em Marília e peguei emprestado para meu estúdio uma potência emprestada que nunca funcionou. Tentei arrumá-la, mas era tão caro fazer isso que eu comprei uma nova, fiz uma dívida numa época em que eu não deveria, e continuei o estúdio humildemente. Hoje, o dono da potência quebrada me pediu satisfações sobre o paradeiro dela e eu não sei onde ela está agora, mas ela estava com meu sócio na época e, bem, isso está me obrigando a lembrar da época em que eu decidi esquecer tudo o que não era meu e comecei a cuidar do pouco que eu tinha produzido e construído até então. Meu carro, meu velho Fiat, eu não consigo reformar por falta de dinheiro então ele vai comigo até o final. Eu comprei um alarme para a casa onde era meu estúdio, foi uma grana. Paguei sozinho porque tive a chance e escolhi um sócio bom de coração, mas falido. Eu entrei com o pouco que eu tinha, ele com a parte que eu não tinha, mas a estrutura técnica importante fui eu quem comprou tudo. Briguei muito comigo e com minha mulher por causa disso e veja que até hoje isso me dá problema. Eu deveria ter ido até o final com a história do estúdio em Marília. Eu fui. Paguei a casa, o alarme que foi roubado depois por quem me vendeu o produto, devolvi algumas coisas pro meu vizinho Beah, outras coisas meu sócio ficou de devolver. Mas pelo visto ele não fez isso...
Deixei muita coisa sem fim em Marília e talvez por isso eu tenha retornado até lá agora nessas linhas. É uma cidade boa com muitos fantasmas. Eu enterrei dois dos meus por lá, inclusive. Espero nunca mais pisar naquelas bandas.
Então, eu fui roubado, meu estúdio faliu, não fiz amigos, meu sócio não cumpriu com a parte dele financeira, eu e minha mulher engravidamos, eu estava ensaiando e produzindo o Transe Acústico ou dentro do Expresso de Prata trajeto Marília/São Paulo/Marília, estava começando a compor seriamente, nunca fui visitado pela minha mãe, meu irmão gêmeo, pelo meu sogro, por ninguém além do meu pai e meu irmão mais novo e pela minha sogra e pela cumadre da minha mulher. Conheci poucas pessoas realmente confiáveis em Marília e tive que aprender a ser só mesmo estando com a pessoa que eu amava. Eram muitas decisões maritais e mais um monte delas que eu tinha que decidir sozinho. Falta de dinheiro por falta de shows rolou demais. Foi um péssimo 2005 para o Maskavo até então. 2008 está tão ruim quanto e por isso que estou analisando o passado: pra não voltar aquele perrengue que me levou tudo o que eu tinha. Fui desorganizado com tudo o que eu pude. Confiei nas pessoas erradas. Fui ajudado por bandidos para salvar meu carro do Detran de lá. Tive ótimos vizinhos, no entanto. Ótimos, prestativos, humildes, sossegados vizinhos que me ajudaram demais. Cuidaram da minha casa e da minha gata, zelaram pela minha casinha. Eu só não abandonei minha mulher e meu trabalho. Fui nota 7 no casamento e nota 10 no Maskavo. E fui nota 1 comigo. Pelo visto, eu preciso finalizar algumas coisas antes de fazer o que eu quero hoje em dia.
quinta-feira, junho 26, 2008
Parte de mim
Os pensamentos diurnos são soluços, resquícios de sonhos que eu não consigo lembrar. Eu durmo como um cadáver e já não sei mais dormir abraçado com alguém. O passado tem me acordado, tem me poluído os primeiros pensamentos do dia. Antes de abrir os olhos já estou com sonhos, pendências, dívidas, pequenos deslizes, acertos e erros, tudo isso, e muito mais fervilhando como sílabas bobas dentro da minha mente e eu digo a mim mesmo "pare de pensar" e tento extrair as palavras desse tormento, tento extrair os sentimentos passados, tento acabar com a ponta de dor de cabeça que brota em minha fronte. Não passa.
Parte de mim está buscando no passado uma explicação lógica para a situação em que estou. Morando na casa de minha mãe e convivendo, como eu tenho feito, com as pessoas que fizeram parte de minha vida a 10 anos atrás, e digerindo as duas mais fortes frustrações possíveis no momento: lado pessoal em frangalhos, lado profissional estagnado: aceito sem pesar as conseqüências de ter escolhido em determinado ponto da vida abandonar os estudos, abandonar aquele Bruno que era certo, obediente, resignado porém satisfeito, para me tornar este homem, este pai, este filho, este ser que, apesar de sentir muito amor no coração, não sabe mais o que fazer, o que escrever, o que dizer de bom para seus amigos e pessoas queridas, e que suporta a insatisfação assim como bebe água de manhã. Lutei muito para ter minha própria família, minha casa e meu lar. Em um certo ponto, eu abri meu próprio negócio e ele afundou junto com minhas expectativas. Perdi dinheiro lutando para ter algo mais do que uma banda. Perdi minha mulher e não moro com meu filho porque eu quis escrever uma música sublime, especial, que fosse um retrato contemporâneo, que me fez endurecer os cascos e aguentar a pressão que eu mesmo me impus. Eu trabalhei 3 anos sem parar para produzir, ensaiar, gravar, arranjar e mixar dois discos e um dvd, compus 83 músicas... tudo isso não me levou onde eu queria estar agora. Eu não sabia se tudo o que eu tinha me proposto à fazer até os 30 anos ia dar certo, mas eu fiz e quase tudo deu errado no final das contas.
Hoje eu tenho que lidar com coisas tão sem importãncia que cuidar do meu filho virou algo fundamental. É a melhor coisa do mundo ser pai e, se eu pudesse, só ficaria com ele. O sol é lindo e todos os dias eu me banho dele abrindo meu coração pra novos desafios que já estão na ponta do meu nariz assim como busco na felicidade e no sossego do meu filho algo que foi plantado em mim quando eu era criancinha como ele. É fundamental a gente se encontrar e proteger aquilo que nos define. E eu tenho sido muito feliz aqui na mesma casa onde tudo começou para mim. Esses pensamentos estão tão presentes no meu sono porque eu estou simplesmente descansando, de férias, sossegado. A minha mente está tentando me pregar uma peça, isso eu consigo perceber. Mas não vai conseguir porque sou eu quem está com as rédeas dessa confusão mental. É uma poluição que está se agregando na Cubatão da minha mente para, logo,logo, ser descarregada na descarga.
É fundamental ser um bom pai para doar ao meu filho aquilo que me foi ensinado à custo de muita briga. O peso do meu filho é tudo para mim e as bochechas dele, eu beijo, beijo, beijo sem parar porque ele crescerá e não permitirá mais que eu faça tanto carinho e chamegos nele. Um dia será ele o papai de alguém e ele fará instintivamente aquilo que eu faço por gosto. É tanto amor que eu sinto que já não tem espaço aqui no meu peito pra nenhuma mulher ou pra trabalhar músicas insossas, ou mesmo para sair de casa para me envergonhar com as atitudes dos outros. Não há espaço pra nada por enquanto.
Parte de mim está buscando no passado uma explicação lógica para a situação em que estou. Morando na casa de minha mãe e convivendo, como eu tenho feito, com as pessoas que fizeram parte de minha vida a 10 anos atrás, e digerindo as duas mais fortes frustrações possíveis no momento: lado pessoal em frangalhos, lado profissional estagnado: aceito sem pesar as conseqüências de ter escolhido em determinado ponto da vida abandonar os estudos, abandonar aquele Bruno que era certo, obediente, resignado porém satisfeito, para me tornar este homem, este pai, este filho, este ser que, apesar de sentir muito amor no coração, não sabe mais o que fazer, o que escrever, o que dizer de bom para seus amigos e pessoas queridas, e que suporta a insatisfação assim como bebe água de manhã. Lutei muito para ter minha própria família, minha casa e meu lar. Em um certo ponto, eu abri meu próprio negócio e ele afundou junto com minhas expectativas. Perdi dinheiro lutando para ter algo mais do que uma banda. Perdi minha mulher e não moro com meu filho porque eu quis escrever uma música sublime, especial, que fosse um retrato contemporâneo, que me fez endurecer os cascos e aguentar a pressão que eu mesmo me impus. Eu trabalhei 3 anos sem parar para produzir, ensaiar, gravar, arranjar e mixar dois discos e um dvd, compus 83 músicas... tudo isso não me levou onde eu queria estar agora. Eu não sabia se tudo o que eu tinha me proposto à fazer até os 30 anos ia dar certo, mas eu fiz e quase tudo deu errado no final das contas.
Hoje eu tenho que lidar com coisas tão sem importãncia que cuidar do meu filho virou algo fundamental. É a melhor coisa do mundo ser pai e, se eu pudesse, só ficaria com ele. O sol é lindo e todos os dias eu me banho dele abrindo meu coração pra novos desafios que já estão na ponta do meu nariz assim como busco na felicidade e no sossego do meu filho algo que foi plantado em mim quando eu era criancinha como ele. É fundamental a gente se encontrar e proteger aquilo que nos define. E eu tenho sido muito feliz aqui na mesma casa onde tudo começou para mim. Esses pensamentos estão tão presentes no meu sono porque eu estou simplesmente descansando, de férias, sossegado. A minha mente está tentando me pregar uma peça, isso eu consigo perceber. Mas não vai conseguir porque sou eu quem está com as rédeas dessa confusão mental. É uma poluição que está se agregando na Cubatão da minha mente para, logo,logo, ser descarregada na descarga.
É fundamental ser um bom pai para doar ao meu filho aquilo que me foi ensinado à custo de muita briga. O peso do meu filho é tudo para mim e as bochechas dele, eu beijo, beijo, beijo sem parar porque ele crescerá e não permitirá mais que eu faça tanto carinho e chamegos nele. Um dia será ele o papai de alguém e ele fará instintivamente aquilo que eu faço por gosto. É tanto amor que eu sinto que já não tem espaço aqui no meu peito pra nenhuma mulher ou pra trabalhar músicas insossas, ou mesmo para sair de casa para me envergonhar com as atitudes dos outros. Não há espaço pra nada por enquanto.
terça-feira, junho 10, 2008
Parte de mim
Não estou em Brasília
e muito menos meus pés tocam o chão
é outuno, mas não sei onde estou
sei apenas desta nova missão
consolidar a minha intenção de viver
e continuar a viver
pois estou tão ermitão
tão isolado em meu mundo
enfrunhado nessas malditas canções que só serão ouvidas amanhã
abandonado às minhas próprias fantasias
sendo que nelas estou literalmente perdido
e não sei como agir
o que dizer
como me portar
e fluir
É tanta estática
é tamanha a solidão
é tamanho o meu dessossego
não sei por que renego tanto encontrar algo
que não está em casa
esse algo que pode me acalmar
estou sem calma
com pulso
e firme em minhas decisões
sem você
sem ninguém ao meu lado pra me acariciar os cabelos
ou dizer ao fundo da minha alma
que a calma
é apenas
um
estado temporário
que antecede a explosão
Parte de mim quer muito explodir
mas não sei bem o que me aguardará depois
e isso me trava e me inibe
e não há uma só risada sua ao telefone que me satisfará
nada!
Porque parte de mim já não sabe mais ser livre
e essa liberdade tem um gosto tão bom
e um som tão delicioso de se ouvir
e quando esteve nos meus braços
foi bom
ah, foi bom demais...
e foi e não mais vem. Venha!
e muito menos meus pés tocam o chão
é outuno, mas não sei onde estou
sei apenas desta nova missão
consolidar a minha intenção de viver
e continuar a viver
pois estou tão ermitão
tão isolado em meu mundo
enfrunhado nessas malditas canções que só serão ouvidas amanhã
abandonado às minhas próprias fantasias
sendo que nelas estou literalmente perdido
e não sei como agir
o que dizer
como me portar
e fluir
É tanta estática
é tamanha a solidão
é tamanho o meu dessossego
não sei por que renego tanto encontrar algo
que não está em casa
esse algo que pode me acalmar
estou sem calma
com pulso
e firme em minhas decisões
sem você
sem ninguém ao meu lado pra me acariciar os cabelos
ou dizer ao fundo da minha alma
que a calma
é apenas
um
estado temporário
que antecede a explosão
Parte de mim quer muito explodir
mas não sei bem o que me aguardará depois
e isso me trava e me inibe
e não há uma só risada sua ao telefone que me satisfará
nada!
Porque parte de mim já não sabe mais ser livre
e essa liberdade tem um gosto tão bom
e um som tão delicioso de se ouvir
e quando esteve nos meus braços
foi bom
ah, foi bom demais...
e foi e não mais vem. Venha!
segunda-feira, junho 09, 2008
Partes desiguais
Parte de mim
tem este desejo incrível de realizar coisas que não me parecem impossíveis
mas são
Parte de mim
tem esta dificuldade de encontrar parceiros que ampliem meu sonho
mas não ampliam
Parte de mim
sofre da mesma tensão que é produzir arte no escuro da mente
mas produz
Parte de mim
aceita que é preciso mudar de estilo, cabelo, tendências e virar DJ
mas não vira
Parte de mim
quer produzir festas onde eu possa dividir o que aprendo
mas não divido
Parte de mim
está mais do que na porra seca de não encontrar companhia feminina
mas encontra
Parte de mim
acha que dançar samba rock é uma boa forma de dançar com mulheres sem querer nada demais
mas quer
Parte de mim
vive esperando alguma coisa maior
mas não existe esse algo maior
Parte de mim
sempre mente
sempre ausente
sempre atenta
sempre criando
sempre preparada
sempre sozinha
sempre insone
sempre observando
sempre deixando
sempre abandonando
sempre mudando
sempre aprendendo
sempre querendo
sempre dividindo
sempre sem amigos
sempre lutando
sempre gritando
Parte de mim
sofre com o sistema moderno que nos define roboticamente
mas não é robô
tem este desejo incrível de realizar coisas que não me parecem impossíveis
mas são
Parte de mim
tem esta dificuldade de encontrar parceiros que ampliem meu sonho
mas não ampliam
Parte de mim
sofre da mesma tensão que é produzir arte no escuro da mente
mas produz
Parte de mim
aceita que é preciso mudar de estilo, cabelo, tendências e virar DJ
mas não vira
Parte de mim
quer produzir festas onde eu possa dividir o que aprendo
mas não divido
Parte de mim
está mais do que na porra seca de não encontrar companhia feminina
mas encontra
Parte de mim
acha que dançar samba rock é uma boa forma de dançar com mulheres sem querer nada demais
mas quer
Parte de mim
vive esperando alguma coisa maior
mas não existe esse algo maior
Parte de mim
sempre mente
sempre ausente
sempre atenta
sempre criando
sempre preparada
sempre sozinha
sempre insone
sempre observando
sempre deixando
sempre abandonando
sempre mudando
sempre aprendendo
sempre querendo
sempre dividindo
sempre sem amigos
sempre lutando
sempre gritando
Parte de mim
sofre com o sistema moderno que nos define roboticamente
mas não é robô
quarta-feira, junho 04, 2008
Atento e refletindo sobre o que escrevo
Não consigo sentar e tomar um uísque na minha casa e descansar depois do trabalho. Não consigo me imaginar sentado em casa, com o sentido pleno de lar ao meu redor, com um uísque na mão e sentado no sofá sabendo que vivo atormentado por pensamentos inseguros sobre viver de música neste país. Viver de música nesse país é uma aventura. Podem dizer o que quiser, seja músico rico ou falido, seja bem sucedido ou desastrado artista, seja tocando no Carnigie Hall ou na boate mais pé sujo do Brasil, ser músico no Brasil é um desafio à moral e a fé das pessoas.
Nesse mar de generalizações e de massificações, onde ser BBB ou artista da moda, da tendência, etc, é o "must", eu vivo tendo de me definir e explicar como não tem nada de especial em ser músico, pelo contrário: o músico quando é desconhecido é faminto e quando fica famoso vira modelo e ser for um péssimo modelo é julgado publicamente e, mesmo sem ser famoso, só por ter fãs, deve à eles ser aquilo que eles projetam em sei lá o que ser e esquecem que esse músico é uma pessoa que vai ao supermercado, que pratica seu instrumento e estuda música semanalmente, que é pai de família e precisa pagar muitas contas e que, além de tudo isso, não vive uma vida comum porque viaja nos finais de semana, justo quando todos descansam, para fazer seu trabalho. E o músico não pode dar bandeira; não pode exigir nada, não pode nem ficar com uma menina, no caso dos homens, sem que alguém comente, espie, julgue, diga, opine, até mesmo se ele está com um copo de suco na mão ou uma lata de cerveja. O músico só não é comum quando está no palco. Lá é o lar do músico, um lar efêmero cheio de energias conflitantes e de volume sonoro que tem começo, meio e fim e o resto é voltar pra casa, mas muitos músicos não podem dizer que tem um lar pra retornar. E mesmo assim, continuam sendo pessoas normais que vão a farmácia na segunda-feira comprar analgésicos ou antibióticos para curar o que só umas férias curam: a alma.
Fazer uma música é outra tarefa alienígena que a todos fascina, mas que não salva a alma do músico e também não dá a ele nenhuma garantia de vida. Ser músico em um país onde não há uma legislação especial para esta classe é difícil. Mais! Onde o orgão que fiscaliza as execuções de música no país não presta conta nem pro governo e repassa o que quer pra classe musical toda, do intérprete ao compositor.
Ser músico é uma aventura. Assim como ser qualquer coisa que exige de nós uma definição que não existe porque é algo que o significado diminuí, essa vontade de explicar porque 2+2 é 4 e não outra coisa. Por que não sou historiador? Por que não sou professor?
Daí, do jeito que eu tenho que dar explicações sobre coisas que são tão inócuas em meu trabalho e deixam de lado o essencial, a música que inspira um mundo melhor, porque cobram de mim até que eu beba água, coma pão seco e sente em cadeira de plástico torta no meu camarim, as mesmas pessoas que estão buscando o mesmo que eu? Fazer algo que dê sentido a vida sem preconceitos, sem machucar ninguém, sem abandonar a si próprio às opiniões alheias e as tentações da máquina social imperialista? As mesmas pessoas que podem usufruir daquilo que trabalham para ter, seja sentar em casa e beber um uísque relaxado, seja viajar 1300km de ônibus, mal comer e entrar no palco com aquela ansiedade no estômago, seja aquela pessoa que nem sabe o que quer e mesmo assim faz alguma coisa?
Bom, neste caso, ser músico é uma sina. Eu simplesmente faço o que posso para ir de encontro as expectativas das pessoas que me conhecem pela estrada. Mas estou cansado de não responder realmente às reais expectativas das pessoas que eu conheço, pelo menos da minha parte afirmo: sou o exemplo de pessoa que não era pra ser músico. Era pra eu ter diploma universitário e salário. Era para eu ganhar mais de 10mil reais por mês. Era para eu ter carro do ano todos os anos. Foi para isso que eu fui treinado. Mas não é isso que sou. Eu sou um sonhador que pôs tudo à perder em busca de uma experiência de vida que me completasse, me permitisse hoje escrever estas linhas em defesa de todas as pessoas que estão cansadas de terem que se definir, ser isso ou aquilo. Eu sou músico porque eu sou um pouco de tudo, inclusive eu erro mais do que acerto comigo, mas não falho como ser humano e nem com minha família. Eu falho mais comigo, sacou? E não tenho um lar pra retornar, porque até isso eu pus à perder por ser do jeito que eu sou. E mesmo assim eu não desisto, nem das críticas, nem das sugestões e dos toques e nem da ignorância que é escrever isso tudo aqui. É melhor gritar do que ter cabelos brancos por stress e raiva.
Nesse mar de generalizações e de massificações, onde ser BBB ou artista da moda, da tendência, etc, é o "must", eu vivo tendo de me definir e explicar como não tem nada de especial em ser músico, pelo contrário: o músico quando é desconhecido é faminto e quando fica famoso vira modelo e ser for um péssimo modelo é julgado publicamente e, mesmo sem ser famoso, só por ter fãs, deve à eles ser aquilo que eles projetam em sei lá o que ser e esquecem que esse músico é uma pessoa que vai ao supermercado, que pratica seu instrumento e estuda música semanalmente, que é pai de família e precisa pagar muitas contas e que, além de tudo isso, não vive uma vida comum porque viaja nos finais de semana, justo quando todos descansam, para fazer seu trabalho. E o músico não pode dar bandeira; não pode exigir nada, não pode nem ficar com uma menina, no caso dos homens, sem que alguém comente, espie, julgue, diga, opine, até mesmo se ele está com um copo de suco na mão ou uma lata de cerveja. O músico só não é comum quando está no palco. Lá é o lar do músico, um lar efêmero cheio de energias conflitantes e de volume sonoro que tem começo, meio e fim e o resto é voltar pra casa, mas muitos músicos não podem dizer que tem um lar pra retornar. E mesmo assim, continuam sendo pessoas normais que vão a farmácia na segunda-feira comprar analgésicos ou antibióticos para curar o que só umas férias curam: a alma.
Fazer uma música é outra tarefa alienígena que a todos fascina, mas que não salva a alma do músico e também não dá a ele nenhuma garantia de vida. Ser músico em um país onde não há uma legislação especial para esta classe é difícil. Mais! Onde o orgão que fiscaliza as execuções de música no país não presta conta nem pro governo e repassa o que quer pra classe musical toda, do intérprete ao compositor.
Ser músico é uma aventura. Assim como ser qualquer coisa que exige de nós uma definição que não existe porque é algo que o significado diminuí, essa vontade de explicar porque 2+2 é 4 e não outra coisa. Por que não sou historiador? Por que não sou professor?
Daí, do jeito que eu tenho que dar explicações sobre coisas que são tão inócuas em meu trabalho e deixam de lado o essencial, a música que inspira um mundo melhor, porque cobram de mim até que eu beba água, coma pão seco e sente em cadeira de plástico torta no meu camarim, as mesmas pessoas que estão buscando o mesmo que eu? Fazer algo que dê sentido a vida sem preconceitos, sem machucar ninguém, sem abandonar a si próprio às opiniões alheias e as tentações da máquina social imperialista? As mesmas pessoas que podem usufruir daquilo que trabalham para ter, seja sentar em casa e beber um uísque relaxado, seja viajar 1300km de ônibus, mal comer e entrar no palco com aquela ansiedade no estômago, seja aquela pessoa que nem sabe o que quer e mesmo assim faz alguma coisa?
Bom, neste caso, ser músico é uma sina. Eu simplesmente faço o que posso para ir de encontro as expectativas das pessoas que me conhecem pela estrada. Mas estou cansado de não responder realmente às reais expectativas das pessoas que eu conheço, pelo menos da minha parte afirmo: sou o exemplo de pessoa que não era pra ser músico. Era pra eu ter diploma universitário e salário. Era para eu ganhar mais de 10mil reais por mês. Era para eu ter carro do ano todos os anos. Foi para isso que eu fui treinado. Mas não é isso que sou. Eu sou um sonhador que pôs tudo à perder em busca de uma experiência de vida que me completasse, me permitisse hoje escrever estas linhas em defesa de todas as pessoas que estão cansadas de terem que se definir, ser isso ou aquilo. Eu sou músico porque eu sou um pouco de tudo, inclusive eu erro mais do que acerto comigo, mas não falho como ser humano e nem com minha família. Eu falho mais comigo, sacou? E não tenho um lar pra retornar, porque até isso eu pus à perder por ser do jeito que eu sou. E mesmo assim eu não desisto, nem das críticas, nem das sugestões e dos toques e nem da ignorância que é escrever isso tudo aqui. É melhor gritar do que ter cabelos brancos por stress e raiva.
Sempre atento e com boa memória
Já faz uns dias que eu lembrei do Edson. Para muitos, este é mais um nome na lista dos nomes. Mas o Edson que eu conheci, o Edinho, foi certamente o segurança escolar, o BEDEL, mais interessante que conheci. Não sei dele desde 1993, mas sei que ele é como qualquer pessoa que ultrapassou algumas barreiras mentais, algumas dificuldades que se apresentam para quem tem dificuldades em viver nesse momento tão materialista da história social, e se abastece do que é bom, do que é belo e do que importa. Na época, o Edinho estava começando a escrever poesias. Eu? Eu queria namorar uma menina lá da turma"E", eu estava apaixonado.
"Escrevo como os suicidas. Eles sim são corajosos"
Com esta frase começava o primeiro poema que eu li do Edinho. Ele era um típico mestiço que usava camisetas com estampas do Che antes de virar moda até mesmo entre os estudantes universitários dos anos 90. Li Pablo Neruda e estudava História no CEUB, e por isso ele trabalhava: para pagar os estudos de terceiro grau.
O meu primeiro poema já era uma tentativa de explodir as baboseiras que eu estudava no Leonardo da Vinci: "Tinha um sapo na sala. Ele estava... tinha uma mosca voando na sala." Isso ia até semana que vem, se deixasse. Mas era como a minha mente funcionava, em forma de quadros; como em um filme de película: 24 quadros por segundo portanto.
"Se eu pequei por minha alma tirar
diga-me, Jesus, onde pousar
se eu vou pras profundezas da terra
ou se eu vou pro mais alto do ar"
Conheci a dona de uma das mais importantes escolas de Brasília dos anos 2000 naquele vôo que saiu de Congonhas para Brasília e fez um pouso de emergência para a retirada de um menino doido que começou a quebrar o avião e dizer coisas do tipo:"jesus, eu não gosto desse cara... o povo brasileiro é tudo burro e eu não gosto do Lula...ei, gente, não morre não que eu quero todo mundo vivo..." . O que eu ia escrever sobre isso, esqueci.
Tenho elaborado a idéia sobre desenvolver algo ligado à ficção científica por aqui. Quando eu era menor e o desenho dos Jetsons passava na Tv, eu achava que aquilo, nos anos 60, era o ideal de futuro. Na aparência, talvez, mas no conceito tudo o que tem no desenho dos Jetsons está disponível no mundo de hoje. Microondas que infla a comida e deixa ela pronta. Telefone de orelha. Música em plásticos de 2mm. Os carros são os aviões, aquilo foi uma projeção muito, mas muito avançado. Mas somos os Jetsons hoje em dia.
E o que será do futuro, em termos de imaginação, projeção, civilização? Isso muito me interessa; tenho pensado muito sobre isso. Até que tipo de música se ouviria no futuro. Acho que penso muito no mundo que será do meu filho, mas tenho interesse total em prepará-lo, não para ser advogado, mas para ser mais vivo e esperto do que sou. Eu tenho 31 anos e ainda tenho coisas demais à desvendar porque muito me foi escondido na infância, na adolescência, até nesta fase adulta ninguém diz nada relevante que mude de vez a minha visão de que isso aqui não está tão bom assim. Por isso o futuro se tornou, de repente, tão relevante para mim.
O Edinho, não sei. Mas era um cara interessante. Tão interessante quanto o Cláudio, o cobrador do ônibus noturno que ia da Asa Norte para o Lago Norte, õnibus este que eu tomava 3 vezes por semana indo e voltando das aulas de inglês. Cláudio era rapper quando ser rapper era algo do tipo: que? nunca ouvi falar - publicava uma revista underground sobre cultura de rua e periferia de Brasília, produzia shows e era professor em preparação da rede pública. E cobrador, como eu mencionei. Muito inteligente e vaidoso, já usava aqueles tererês no cabelo, estilo afro, em 1992, sempre de jaqueta de couro, sempre simpático e feliz e decidido a mudar de vida através da palavra e do trabalho. Li todas as ediçoes de sua revista. Confesso que aquilo era ficção científica pra mim. Era como "Tão perto, tão longe" do Wim Wenders, era como estar morto no meio dos vivos ou vice-versa. De que valia toda a minha preparação e instrução se eu não estava sendo preparado pra vida?
Eu tinha 15 anos. A música mudava a minha vida todo o tempo. resolvi ir arranjar emprego e depois de um tempo até isso eu consegui. Edinho e Cláudio eram muito diferentes de tudo o que me rondava na vida. Mas ninguém sabia, nem eles, que em casa a vida estava difícil, dura, escassa pra caralho. Era 1992 e dali pra frente foram dois anos comendo arroz, milho, salsicha, água, macarrão de vez em quando. Meu lado que morreu está enterrado no quintal de alguma casa de algum amigo meu. Aquela morte fez nascer em mim uma coisa que até hoje levo comigo. Lembro da frase do Edinho, do seu poema e digo: "não sou suicida porra nenhuma. Meu barato é estar vivo."!
"Escrevo como os suicidas. Eles sim são corajosos"
Com esta frase começava o primeiro poema que eu li do Edinho. Ele era um típico mestiço que usava camisetas com estampas do Che antes de virar moda até mesmo entre os estudantes universitários dos anos 90. Li Pablo Neruda e estudava História no CEUB, e por isso ele trabalhava: para pagar os estudos de terceiro grau.
O meu primeiro poema já era uma tentativa de explodir as baboseiras que eu estudava no Leonardo da Vinci: "Tinha um sapo na sala. Ele estava... tinha uma mosca voando na sala." Isso ia até semana que vem, se deixasse. Mas era como a minha mente funcionava, em forma de quadros; como em um filme de película: 24 quadros por segundo portanto.
"Se eu pequei por minha alma tirar
diga-me, Jesus, onde pousar
se eu vou pras profundezas da terra
ou se eu vou pro mais alto do ar"
Conheci a dona de uma das mais importantes escolas de Brasília dos anos 2000 naquele vôo que saiu de Congonhas para Brasília e fez um pouso de emergência para a retirada de um menino doido que começou a quebrar o avião e dizer coisas do tipo:"jesus, eu não gosto desse cara... o povo brasileiro é tudo burro e eu não gosto do Lula...ei, gente, não morre não que eu quero todo mundo vivo..." . O que eu ia escrever sobre isso, esqueci.
Tenho elaborado a idéia sobre desenvolver algo ligado à ficção científica por aqui. Quando eu era menor e o desenho dos Jetsons passava na Tv, eu achava que aquilo, nos anos 60, era o ideal de futuro. Na aparência, talvez, mas no conceito tudo o que tem no desenho dos Jetsons está disponível no mundo de hoje. Microondas que infla a comida e deixa ela pronta. Telefone de orelha. Música em plásticos de 2mm. Os carros são os aviões, aquilo foi uma projeção muito, mas muito avançado. Mas somos os Jetsons hoje em dia.
E o que será do futuro, em termos de imaginação, projeção, civilização? Isso muito me interessa; tenho pensado muito sobre isso. Até que tipo de música se ouviria no futuro. Acho que penso muito no mundo que será do meu filho, mas tenho interesse total em prepará-lo, não para ser advogado, mas para ser mais vivo e esperto do que sou. Eu tenho 31 anos e ainda tenho coisas demais à desvendar porque muito me foi escondido na infância, na adolescência, até nesta fase adulta ninguém diz nada relevante que mude de vez a minha visão de que isso aqui não está tão bom assim. Por isso o futuro se tornou, de repente, tão relevante para mim.
O Edinho, não sei. Mas era um cara interessante. Tão interessante quanto o Cláudio, o cobrador do ônibus noturno que ia da Asa Norte para o Lago Norte, õnibus este que eu tomava 3 vezes por semana indo e voltando das aulas de inglês. Cláudio era rapper quando ser rapper era algo do tipo: que? nunca ouvi falar - publicava uma revista underground sobre cultura de rua e periferia de Brasília, produzia shows e era professor em preparação da rede pública. E cobrador, como eu mencionei. Muito inteligente e vaidoso, já usava aqueles tererês no cabelo, estilo afro, em 1992, sempre de jaqueta de couro, sempre simpático e feliz e decidido a mudar de vida através da palavra e do trabalho. Li todas as ediçoes de sua revista. Confesso que aquilo era ficção científica pra mim. Era como "Tão perto, tão longe" do Wim Wenders, era como estar morto no meio dos vivos ou vice-versa. De que valia toda a minha preparação e instrução se eu não estava sendo preparado pra vida?
Eu tinha 15 anos. A música mudava a minha vida todo o tempo. resolvi ir arranjar emprego e depois de um tempo até isso eu consegui. Edinho e Cláudio eram muito diferentes de tudo o que me rondava na vida. Mas ninguém sabia, nem eles, que em casa a vida estava difícil, dura, escassa pra caralho. Era 1992 e dali pra frente foram dois anos comendo arroz, milho, salsicha, água, macarrão de vez em quando. Meu lado que morreu está enterrado no quintal de alguma casa de algum amigo meu. Aquela morte fez nascer em mim uma coisa que até hoje levo comigo. Lembro da frase do Edinho, do seu poema e digo: "não sou suicida porra nenhuma. Meu barato é estar vivo."!
terça-feira, junho 03, 2008
É preciso estar atento
Eu só ouço reclamação sobre o frio. Principalmente das pessoas que moram nas regiões mais frios no inverno brasileiro. Mas, ao cruzar a serra catarinense naquele frio de menos cinco graus celsius imaginando o noticiário do dia seguinte me flagrei observando a mais bela natureza gelada que esses olhos cor de mel puderam alcançar. Era aquele gelo todo cobrindo a planície, as plantações, os arbustos e as copas das árvores, aquele gelo todo e a luz do sol espelhando levemente seu arco-íris por dentre o gelo. E era tanto gelo e o ônibus ia contra o vento gelado, estava mesmo aquela dor de respirar, mas tudo tão geladamente interessante que não dava pra reclamar. A notícia do outro dia seria exatamente aquilo que só eu pude ver daquele ônibus naquela hora naquele dia naquele momento, era tanto gelo. Daí eu tentei acordar meu brother ao lado, ei, veja que bonito, e o cara não conseguia sair debaixo do cobertor tamanho frio. Era eu o doido? Então, na minha imaginação, aquela loucura era extremamente sadia e me dava a sensação especial de estar no lugar certo na hora certa com as pessoas erradas. Mas é essa a importante lição: a gente nunca está perto de quem ama quando está à serviço. Isso não tem valor na hora do serviço.
Doido.
Doido.
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