quinta-feira, dezembro 27, 2007

Vazio

O mundo é um grande vazio bizarro. O vazio é uma multidimensionalidade ao alcance de nossa consciência à toda hora. Existe uma explicação científica para entender o poder da meditação. Alcançar o estado de vacuidade levará a estágios mais avançados de humanidade.
A experiência de algumas pessoas próximas já me alcançaram sobre a forma de relatos familiares. O vazio que existe na busca pelo vazio é algo muito difícil de descrever pois abre elaboradas portas sobre a mesma percepção do todo sobre o nada. O todo é tão importante para nós que nunca será bastante. No entanto, ele é parte do nada assim como estou me sentindo agora mesmo. Em silêncio, me ponho a divagar sobre trabalho. Tudo o que fiz hoje foi trabalhar. Pedi um sossego da família porque precisava trabalhar. Três canções que eu já dedilhei enecentesimalmente precisavam ser trabalhadas. Pedi desculpas ao meu filho e mulher "hoje eu preciso gravar", eles saíram e eu me pus a montar o equipamento sem saber quais monstros sairiam daquela empreitada.
Para quem nunca escreveu uma música não tem mistério. Mas para quem já gravou algumas existe sempre o dever de ousar, melhorar, colocar à prova o objeto de trabalho. Não é à tôa que pessoas gostam de música que não são feito por elas, mas para elas. Daí, montado o equipamento e dispostos o baixo e o violão lado à lado, como que comungando uns sons, é que vem a difícil tarefa de escolher: qual canção!
No total, eu escrevi umas 100 letras. Trabalhei umas 30 delas e gosto mesmo de umas 10 canções no total. Nenhuma delas tem arranjo definitivo nem terá até o dia verdadeiro.
O processo de escolher a primeira canção falhou. Como eu sou teimoso, deixei de lado momentaneamente aquele petardo e fui direto para uma canção que eu fiz pra minha mulher chamada TUDO DE BOM. Até eu pegar a batida que eu queria, ideal e dançante, levaram milhares de segundos... para gravar as partes então, outros milhares... as horas voavam no visor do laptop e eu grudado no "protudo" resolvendo detalhes que me desconcentravam mais do que tudo.
Pense nos meus vizinhos ouvindo eu gravar os vocais. Quantas vezes eu repeti as mesmas partes, refrãos e versos, estribilhos e assobios e eles lá ouvindo "que é isso aí? é verdade que tem gente assim no mundo?" ou melhor "agora eu sei porque o vizinho de cima vive de moleton". Confesso que só pensei na babá dos vizinhos ao lado que só ouve hinos evangélicos, o mesmo cd todos os dias no repeat. Eu cantei para ela toda hora... vai, vai, vai ouvindo reggae aí!
Processo completo de gravação: 5 horas
canais utilizados: 4 por canção
instrumentos utilizados: voz, baixo fender jazz bass, violão hofma aço 0.11

O vazio veio depois de tudo isso. Foi quando me deu vontade de escrever. Que vazio mais doloroso esse. Vazio sem sentido...

terça-feira, dezembro 18, 2007

Saber aprender

O tempo
não cessa
e o homem
tenta
ceder
um pouco

o homem
não cessa
e o trabalho
faz
acontecer
um pouco

o trabalho
não cessa
e os calos
ardem
latejam
um pouco

o calo
é o fim
da pele
é a dor
da pele
é de tudo
um pouco

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Saber aprender

Com o primeiro dinheiro que me sobrou no ano 2000 comprei o baixo fender que me acompanha até hoje na estrada. É meu instrumento preferido. Nunca tive por ele nenhum amor especial ou cuidei dele com se fosse um poodle branco. Na realidade, o baixo está gasto, cheio de pancadinhas nos lugares mais pitorescos e ficando cada dia mais envelhecido. Aquele baixo é como um vinho. E, por isso, hoje ele fica comigo em casa. Depois de mais de 700 shows e três discos gravados chegou ao fim sua trajetória na estrada.
Comprei, logo depois do baixo, em 2003, meu segundo carro. Um fiat tipo 94 que está comigo até hoje. Não sinto por ele nenhum amor especial ou sinto que aquele carro seja melhor do que é. Mas ele serve para tudo o que eu preciso, é econômico e cabe meus equipamentos de homestudio que eu levo de cá para lá quase toda semana. Depois de mais de 50 mil quilômetros rodados eu não sinto nada por aquele carro. Ele é uma máquina.
A vida não tem valor. Ela é a própria caminhada, o próprio fim dos meios e dos começos. Apegar-se ao passado, às coisas materiais, às pessoas em si é quase uma sina, mas também uma forma de pecado. Somos todos menos do que elétrons livres. Somos pequenas partículas que compõem o campo harmônico-magnético-eletrônico da vida, assim como o vai-e-vêm de veículos, cada um com seu condutor, indo e vindo pelas ruas... todos em um ritmo caótico de quase nada sentir, mas indo em direção ao seu destino sem pensar em nada melhor para fazer do que comprar, gastar, usufruir.
Ontem o sol estava de rachar aqui em Brasília. O ar estava abafado, agonizante. O leigo não sabe mas um sinal assim significa chuva pesada. Hoje, chove desde madrugada e parece que será assim até o fim do dia. O que tem para aprender com isso?
Eu vou tocar baixo... o carro ficará na garagem. E a chuva irá diluir os nutrientes minerais do solo para alimentar os vegetais, armazenará água nos mananciais e limpará os céus de Brasília. Essa é a natureza se refrescando do dióxido de carbono lançado pelos carros nas ruas.
Silêncio.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Café Filosófico - apenas um breve olhar

bruna radtke para mim

Bruno...
Não sou artista, nunca tive esta pretensão. Não sou musicista, sei mt pouco de arranjos e afins.
Mas de uma coisa eu sei. Sei que em algumas rodas de "pseudo-gênios" o louvável é gostar de mpb, dos mestres do samba de raíz e dos caras que fizeram história, desafiando o público através da arte. Já ouvi por diversas vezes colegas comentarem sobre amar Chico Buarque, tecerem críticas ao pagode, ao sertanejo e a uns "artistas" aspirantes que pipocam por aí.
Em termos de gosto próprio, posso até concordar que tem um puta lixo cultural sendo vendido às custas de uma melodia pegajosa e fraca. Mas em termos de bom-senso, devo admitir que, embora para mim, as letras do funk e seu ritmo acelerado sejam uma baboseira, "pros" moleques lá da Santa Marta este som é um entorpecente pra miséria diária. E eles nem ligam se aquilo é superficial, insosso, perene, se é arte ou não. O que pega é a batida.
Sabe de uma coisa? Eles "tão" certos. Num país como o nosso, tem artista pra todo gênero e público pra todo artista. Se fosse td maravilhoso, uns não seriam realmente músicos por excelência. Mas pra mim, todos são artistas. Cada qual com seu valor, seu mérito.
O importante nisso tudo, é ser capaz de perceber estas diferenças como um fator humano e tb social. Me sinto privilegiada por conseguir apurar minha crítica qnd ouço um mc qualquer, mas acima disso, por saber que desmecer é julgar. Por reconhecer o que é comercial ou não, mas ouvir mesmo assim, se é que me agrada os sentidos. Num tempo "cinza", uma melodia revolucionária ou não, é bálsamo.
Acho que a cultura e o conhecimento servem para tornar as pessoas mais abertas, compreensivas, sensíveis ao que é fato.
Sou apaixonada por manifestações como a música. A elevação que provoca no espírito, no intelecto, no corpo todo. Arte não é só aquilo que parece erudito, superior, classudo. Arte é se vestir de robocop, cantar uma piada e fazer um bando de gente cansada "sucumbir" ao humor. É inventar uma droga de metáfora erótica, vestir uma roupinha mínima e colada, cantar "segura o tchan" e fazer o povo estressado esquecer dos problemas. Não é imbecilizar, é oferecer, é democratizar. É respeitar espaços e renegar o preconceito de toda sorte.
Talvez os meros mortais não saibam nada sobre dilemas, discussões refinadas. Mas a vida não é feita somente disso. Creio que a melhor parte ainda é se divertir.
beijos e tenha uma otima semana
bruna


Bruno Prieto para bruna

Bruna, arte é uma visão para mim.
O funk, o que faz o Dj Malboro, as metáforas de Chico Buarque, os elementos de grito de dor do Rap e do Hip Hop, tudo isso feito com a intenção de agir, de estar, pode ser música, mas talvez não seja arte.
Pablo Picasso, um artista que nunca estagnou, fez centenas de obras de arte, mas fez milhares de rascunhos, milhares de estudos e deve ter colhido outra centena de milhares de fracassos.
O artista caminha com sua visão e na maior parte dela não há nada artístico nisso.
É a vida

beijo do Bruno

quarta-feira, dezembro 05, 2007

32 milhões de descendentes - Genghis Khan

Hoje é o primeiro dia em que Zé Pessoa sente que o peso do mundo saiu das costas para os dedos dos pés.
Na televisão assiste History Channel como de costume e aprende silenciosamente que o implacável Genghis Khan, na sua admirável idéia de império e descendência, criou um plano de multiplicação de seus genes que depois de 800 anos soma um total de 32 milhões de descendentes do imperador mongol. O que isso significa? Qual a idéia por trás de tanto sexo?
Simplesmente o futuro. Ao brasileiro, falta senso de irmandade. Aqui, assim como nos EUA ou na Venezuela, assim como é em Londres ou Lisboa, cada indivíduo tem que lutar pelo seu espaço. Na Mongólia aparece o fruto da idéia de Khan. Quem é descendente direto nessa linhagem genética é respeitado por ser a imagem da magnitude construída pelo guerreiro imperador, temido pelos europeus, dessacralizado pelos persas, odiado por todos, menos pelo povo que ele ajudou a criar. Todos como irmãos, primos, enteados queridos e assim até que se diluam todos os genes do mundo.
Zé Pessoa pensa que isso é muito doido, mas é uma idéia que perdura até os tempos de hoje, assim como pirâmides, livros, profecias, monumentos e estátuas, árvores e povos.