domingo, janeiro 25, 2009

intenso

sabe viver intensamente?
diria, o iogue, que viver intensamente é o que há
é o jeito, é o caminho
intensidade me tira do mundo
e o êxtase de estar me divertindo com meus irmãos
fazendo um som meticulosamente improvisado
amigos ao redor cantando
gente que nunca vi pode ter percebido nossa alegria
entre as pálpebras semi cerradas eu podia ver
era linda, era linda, na cadeira de balanço
no entanto, o êxtase de estar fazendo um som era total
abandonar?
ir em frente
a gente é o que veio pro mundo
importante dizer
isso não é um poema

Até porque escrever tem sido uma tarefa muito difícil. Quanta imaginação está me faltando aqui na frente do computador porque minha cabeça está no mundo. Essa intensidade é algo magnético que atraí muita gente interessante e eu estou cercado pela obsessão. O único objetivo é respirar na mesma velocidade que o vento e conversar no volume do vento e ouvir atenciosamente a história de outras pessoas, ver aquela linda garota dançar desengonçada e o pandeiro cadenciando o vento das minhas idéias parece me fazer estar naquele lugar. Memória boa. Ficou.
O oposto também ocorre comigo. Estou esperando algo dessa linda mulher mas não faço nada para que a atenção saia do lugar. Ao invés disso, eu empunho uma guitarra e canto um pouquinho para me concentrar, afinal mulheres podem me fazer pensar muita bosta ultimamente, e não é no bom sentido essa bosta. É um medo terrível de encontrar alguém um dia que me tire do eixo como já me aconteceu. Está sempre acontecendo desde Julho de 2008.
Tanta intensidade na observação da vida também tem a ver com a paternidade e com o grau de responsabilidade que é acompanhar de perto o crescimento do meu filhote e no modelo de homem que eu sou para ele. Gostaria muito de que ele estive lá no Goma ontem me vendo tocar com o tio dele. É o tipo de homem que eu sou mesmo. Sem máscaras, sem medo, sem preocupação com o tempo e com a cabeça mais vazia do que o vazio. Na verdade eu aprendi a ser assim de novo pois viver com criança despertou em mim a criança que eu sou. Uma criança grande, tudo bem, mas que suja a bunda no chão pra brincar e que toma água na cara para que o filho da puta dirigindo um carro não molhe minha cria enquanto andamos na rua para ele ver o mundo. O céu de Brasília é muito bonito então cada dia tem um quadro novo para olhar. Se essa menina linda me visse com meu filho acho que ela não entenderia nada. E eu nem olharia ou prestaria atenção nela porque com criança tem que ter muito cuidado. Criança só olha pra frente. O pai é quem olha pro chão, pros lados, pra cima, etc. Tem que olhar muito, tanto que os olhos ficam aguçados, precisos e fortes. E cansados também no final do dia.
Só quando eu fecho meus olhos é que eu percebo como a imagem daquela linda mulher ficou intensamente grudada no meu pensamento. E pensamentos são fáceis de lidar. O iogue diria que é só você você querer o pensamento fora da cabeça. É doido, mas funciona. Quando você pensa fora de si você enxerga o mundo de outro jeito.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Sinfonia

Quando meus olhos ardem
ardem de horror e ódio neste Janeiro
e a noite fica tão estranhamente silenciosa
os animais não fazem barulho
os cães não latem
e o vento nem soa
não é um deserto de emoções
é este negócio na cabeça
que não para de imaginar e de formar uma certa opinião sobre o mundo
e sobre os fatos e sobre o conteúdo e a qualidade da informação
que não cansa de se espantar com a juventude de hoje
eu que não sou mero espectador
mas sou muito menos, muito menos do que o sonhador almejou
sinto meus olhos arderem por terem derramado demasiadas lágrimas
ácidas lagoas de meu eterno procurar e nada achar
o horizonte tem sua beleza
e as moças tem seu charme
e meu filho joga tudo para o ar quando dá na telha
Sem poder extravazar de maneira tão veemente meu ódio
deixei ele de lado, troquei ele por um estado de confusão
que não é doença ou mesmo uma coisa ruim
é apenas uma direção
eu dirijo mas não vou a muitos lugares
eu me apresento mas não vou além do oi, tudo bem
sou mais artístico em casa do que na rua
cozinho muitas coisas boas mas meu filho só quer comer massa
preciso mudar urgente meus hábitos matinais
fazer exercícios
largar os vícios
aplicar os ritos
exercitar ideias
educar meu filho
e deixar de lado esse ódio de uma vez
e deixar ir embora essa confusão de vez
pretendo dormir para, então, meus olhos umidecerem

Nunca me perguntaram nada sobre a questão israel/palestina.
hoje eu li no observatório da imprensa que morreram muito mais pessoas no sudão e que existe uma revolução acontecendo no sri lanka e que estas questões parecem não ter a mesma atenção da mídia. A explicação do texto compara a OLP e a questão palestina com ideais nazistas. é doido, é surreal. O texto faz muito sentido de tão louco porque o mundo está muito louco e, como se a verdade já não mais fosse o bastante, cai o telhado de uma igreja nomeada renascer sobre seus fiéis. Doido demais. Confúcio diria que eu sou um tolo. Pois a minha tolice é bem pequena. Distingua os tipos de fiéis que foram soterrados pelo telhado. Uns acreditam que isso é obra de deus, um teste. outros não acreditam nesse tipo de coincidência mas não irão mais naquela igreja especificamente. E outros mudarão de igreja, irão cultuar em outra vertente da mesma fé e pronto. Distingua as vítimas de guerra. Mártires que não passam de escudos humanos. Crianças, mulheres, idosos, adultos, todo mundo vivendo em um lugar porque já está envolvido na guerra até os ossos dos parentes que já se foram desta para outra por causa de bomba ou de bala e julgam ali estar no lugar que lhes pertence. É doido. Não restam muitas opções de sobrevivência. Ou você se apega à sua origem ou se apega ao nada. E se apegar ao nada é o mesmo que abandonar em plena consciência conceitos e idéias muito fortes e bem definidas atualmente como a idéia de Estado, de Religião, de Dinheiro, de Saúde, de Educação. O nada é um lugar muito distante disso tudo. É interior demais para que a superfície da origem ali se manifeste de alguma forma. Ou somos rasos demais ou profundos demais e reside no equilíbrio disso algo que podemos considerar ideal?
Existem estímulos desnecessários demais.
Existem ruídos demais.