quarta-feira, abril 30, 2008

Releitura

É melhor acordar e fazer durante meia hora o que mais se gosta na vida do que passar o dia inteiro esperando fazer aquilo que mais se gosta na vida.

Dormir é esquecer do tempo

segunda-feira, abril 28, 2008

De manhã

É quase certo que irá acontecer
começa doendo o rim esquerdo
e depois o rim direito
e a solução é acordar
beber um belo copo d`água
depois ir ao banheiro
e despejar a uréia do dia anterior
inteira
É quase que um recomeço
assim como deveria ser o casamento
e depois tudo seria novo
e a solução é ser feliz
beijar a mulher amada
depois ir ao banheiro
e tirar a inhaca do dia anterior
É quase perfeito
começa na ignorância da fase adulta
e depois retrocede para a insensatez juvenil
e a infância é a pureza dos sentidos
aproveitar tudo pela primeira vez
depois esquecer de racionalizar o que passou
e aproveitar outra coisa de outra maneira
É tempo de agir
porque ninguém alimenta o cadáver
ninguém dá moleza pro cidadão
e o sistema gira em torno de dinheiro
mesmo que isso não compre felicidade
não pague a conta da ingenuidade ou dos anos passados em vão
abrir os olhos e não desistir dentro da alma
dentro de si, uma missão ao amanhecer sempre imaginar

quarta-feira, abril 23, 2008

De madrugada

Acordo de um sono pesado
para cavalgar um pensamento
que me veio na forma de sonho
não sei onde me agarrar neste cavalo
ou seria uma serpente gigante?
então eu simplesmente me prendo ao bicho
com uma facada no lombo
e com minhas pernas firmes cavalgo
rumo à cidade que treme
Pessoas em choque com o tremor de terra
pessoas desacostumadas com este perigo
o que causa esse fenômeno?
Por que isso está ocorrendo no Brasil. meu deus!?
nada é demais para a natureza
isso é apenas um soluço do centro da Terra
saem de lá os cavaleiros do inferno
buscando no medo a essência para continuar
passando por cima dos fiéis menos crédulos
Enquanto cavalgo rumo ao precipício
sinto apenas receio de nunca mais te ver, meu filho
minha montaria é divina
a paisagem me parece muito bela
e onde a terra tremeu é minha segunda casa
tremeu onde passam carros e onde vivem pessoas
que nunca imaginaram que o paraíso
um dia seria atingido por terremotos e tornados
o paraíso que é tudo isso aqui.
A impermanência da natureza é a síntese da vida
em ciclos infinitos e de imperfeitas curvas segue
sorrindo e chorando ao sabor do vento e do tempo
essência existencial
invisível
um choque entre os dedos
um dente quebrado
um grito de prazer
a dor que não passa nunca é cavalgar este pensamento

domingo, abril 20, 2008

Periferia

"Quem é da periferia aí levanta a mão? Samambaia, Taguatinga Sul, Ceilândia, Recanto das Emas, São Sebastião. Quero ver todo mundo levantando a mão, O,O,O,O,O,O,O"
No centro comunitário da Universidade de Brasília estavam reunidas mais de mil pessoas para uma festa de hip hip a lá Brasil, porque não tocou Snoop Dog ou Jay-Z ou hits da Jovem Pan em nenhum momento, uma festa no centro de Brasília com o melhor da periferia. Todos dançam sem parar os ritmos quebrados do hip hop; ritmos tão variados e mesclados para todos os gostos e humores; dois pra lá dois pra cá, break dance e street dance são para poucos e quem tem essa habilidade não exita em mostrá-la aos seus camaradas e todo mundo oha e aplaude com orgulho o talento do cara; o clima de azaração é muito diferente que se possa imaginar. É tanta gente bonita e bem vestida e orgulhosa disso, dessa beleza interior da semente do mestiço, que é preciso personalidade, certeza e sensibilidade para que um homem chegue em uma mulher. É uma guerra de sedução de um passado não tão distante. É uma farra dos sóbrios e dos maconhistas, é uma festa semi-alcoólica pode-se dizer sem dúvida porque o único exagero que acontece lá dentro é excesso de passos de dança.
Os Deejays são pessoas muito interessantes. São o inverso do que se parecem os deejays de música eletrônica. Não esbanjam nos adereços, não tem medo de se comunicar ao microfone com as pessoas ali presentes e fala que é uma benção aquela festa com aquelas pessoas e que isso é bom e que o bom é estar na paz e dançar. Todo mundo agita, se pronuncia com assovios e ovações. Ninguém fica parado quando o MC ou o Deejay pedem algo deles, um pensamento positivo! simplesmente; existe um universo de canções e batidas mais populares entre eles e, na emoçao de uma discotecagem, a periferia se unifica prontamente.
"Eu vim aqui pra fazer farra!" - Disse Deejay Celsão
Afrika Bambatta. Não é preciso explicar a natureza autêntica desse cara. Ele é a crista da onda do começo do que é hoje o hip hop. Ele mixa, faz scratch, produz, cria com o povo e possuí linguagem dançante e repertório musical extenso e rico. Ele não tem medo de tocar Kiss, do Prince. Enfrentou durante meia hora um problema técnico com a SoundSystem que sonorizava o local com cara feia, mas sem deixar de soltar bases boas o suficiente para manter a galera na expectativa. Quando o subgrave funcionou daí foi difícil alguém ficar sem mexer nem que fosse um dedo.
Quem mora na periferia tem que esperar até as 5 da manhã pelos ônibus e seis da manhã pelo metrô então muita gente não tem pressa em ir embora. Em São Paulo era comum um grupo de amigos, 5 ou até mesmo 6 pessoas, juntarem dinheiro para dividirem um carro e farrearem pela cidade. Cada dia um dirigia e pronto. Não pode-se duvidar de que isso esteja acontecendo aqui em Brasília.
Apesar do alto volume, não há resquícios de violência sonora nos ouvidos e isso se deve ao fato da música ser mais grave e influenciar no que se sente ao ouvir aquela batida do que nos agudos que poluem os fones de ouvido dos ipods do mundo. E isso é o lado melhor de uma festa de hip hop desse nível. Qualidade nas pessoas, no som e na farra em si. Gol!

sexta-feira, abril 18, 2008

Dançar

É muito bom dançar
dois pra lá e dois pra cá
mesmo em um local apertado
mesmo em um local cheio
mesmo que um mané não curta que você esbarre nele enquanto nos braços de uma morena lindíssima dos cabelos encaracolados e macios você está
mesmo que você não pegue ninguém
mesmo que você beije a sua parceira
as suas parceiras
mesmo que você não beba
ou beba
uma cerveja com boazinha
dois pra lá e dois pra cá
é muito bom dançar

domingo, abril 13, 2008

Rumo ao enforcamento

Não basta acordar
não basta respirar
não basta abrir os olhos
não basta sair da cama

é sempre a mesma ligação
com os mesmos nós que irão um dia me enforcar

não basta dizer a verdade
não basta esconder os pequenos problemas
nada basta
nada basta nos momentos de desilusão

é sempre a mesma ligação
com os mesmos dizeres que irão me puxar pra baixo

não basta separar
não basta sequer ir embora
não basta dizer que é preciso calma
nada basta nesse momento incerto

é sempre a mesma pessoa
com as mesmas cobranças que irão me chatear

não basta o silêncio
não basta a distância
não basta um novo amor
não basta uma vagina

é sempre a mesma vontade de sumir
sem dizer adeus ou au revoir

não basta me dizer que preciso cuidar das últimas pendências
não basta me cobrar sem fazer a sua parte
não basta a injustiça da intimidade que acaba
não bastam os anos jogados fora

é sempre a mesma pergunta
como se a gente não soubesse a resposta

não basta jogar limpo e ter bom senso
não basta a educação e o respeito
não basta a corda no pescoço me apertando
não basta finalizar a mudança

é sempre a mesma pessoa que me dirá
como, quando, onde e quanto eu devo nisso tudo

rumo ao enforcamento,
eu vou matar o que em mim está pedindo para morrer e ser morto
e deixar pra lá os restos da mobília, das roupas, dos copos
porque não basta construir

tem que destruir pra ver se o casulo é à prova de bala e de fogo

quinta-feira, abril 10, 2008

Desarmar

É muito fácil perceber como são livres os beija-flores que descansam no jardim de minha casa porque neles não se nota a insegurança que o modo de vida urbano implica no indivíduo e no seu modo de vida. Há uma razão especial para isso e ela não é uma falha humana e, sim, um instinto de proteção às avessas.
Cada pessoa é um ser indivisível, ou seja, é um elemento Uno formado por bilhões de elementos únicos. É, cada qual, uma máquinha complexa de muitas partes que funcionam ininterruptamente dia após dia e que desempenha a função exclusiva de manter-se viva e funcionando em equilíbrio.
A alma é um componente muito difícil de discutir porque envolve crença com certas experiências de vida que são únicos e só dizem respeito à cada indivíduo que o experimenta e que aceita a impermanência do estar.
Cada pessoa é levada à crer que a melhor maneira de viver é competindo com as inconstâncias de cada etapa do ciclo da vida, aprender a andar quando bebê mais rápido, aprender a ler mais rápido, aprender a se safar dos problemas mais rápido, escolher a profissão mais rápido, ganhar bem mais rápido, etc, e cada pessoa é condicionada protamente a se levar a sério. Essa situação mental tem como efeito um tipo de depressão interior muito profundo que é a fonte da insegurança que percebe-se na sociedade em geral. Um senso de estar marcado pela pressão do psicológico do eu contra o eu-próprio, uma marcação baseada em desempenhos que tratam de glorificar a existência do indivíduo e que estimulam nele estima e confiança em si.
O inverso disso é o indivíduo esforçado ou desestimulado ou colecionador de fracassos quaisquer que sejam os motivos que não encontra segurança em si e nas suas escolhas ou é forçado a ser aquilo que ele precisa ser e, por isso, vê com insegurança todas os outros indivíduos e processos sociais nos quais ele esteja inserido. O senso de competir está marcado nesse indivíduo também porque os processos sociabilizantes de hoje são os mesmos no mundo todo: família, escola, amizades, local de trabalho, etc, e por isso dá à todos os mesmos estímulos de consumo e sonhos em massa e sonhos de carreira.
Há também a insegurança na indiferença pelo indivíduo que percebe e desiste de se enquadrar nesse sistema do medo e da desconfiança humana. Ninguém anda armado como os desbravadores de Minas Gerais ou Cortez, mas não desarma sua condição de competir a cada momento por alguma oportunidade melhor para si do que para o outro, simplesmente o princípio oposto do que Jesus, o profeta mais discutido no ocidente e influente?, pregava em suas paródias. Esse desarmamento mental seria um passo rumo ao abismo do contrário do que é o sistema vigente, ou seja, seria como observar os inseguros sem se deixar dominar pela insegurança dos outros, manter-se calmo e passivo aos ataques e ativo ao ser um indivíduo que vive no inseguro das almas de hoje.

quinta-feira, abril 03, 2008

Desumanizar

O efeito devastador do ser humano sobre si e sobre sua prole é uma faceta considerada humana que precisa ser revista. A humanidade tem sido uma bela desculpa esfarrapada para que o indivíduo reaja ao seu meio e cometa atos que considera além da natureza, como se o homem fosse algo maior, melhor, fora da natureza em si. Essa faceta humana de se distanciar dos animais é fruto de um tipo de pensamento que margeia à razão dos poetas e dos filósofos; é o monstro que o indivíduo imerso nesse mundo de competição, guerra e escravidão enfrenta de olhos fechados, mas que não estão vendados, por isso me espanta a capacidade do homem de fugir da verdade hoje em dia. É como se o ser corresse sem objetivo de viver algo que está ao seu alcance e ficasse imaginando absurdos, acreditando em verdades que não são tão verdadeiras porque não são para todos; corresse da natureza que engloba a humanidade e que se apropria do homem sem ele querer.
Pais e mães estão planejando e criando seus filhos para matá-los ou abandoná-los à própria sorte, como se a sorte fosse um item facilmente conseguido em uma prateleira de supermercado. Jogam dos céus as crianças como se elas pudessem realizar o desejo mais do que interior de voar como fazem os pássaros e as borboletas. Largam crianças em sacos de lixo às margens de rios. Essa é a humanidade, a mesma, que mantém a chama da guerra social, da distorção da sociedade e da divisão na democracia do que está em cima e do que está embaixo. Esse relativismo nocivo tem sido uma face da verdade desde que os alemães invadiram a Polônia? Desde que os norte-americanos interviram em praticamente todos as culturas e sociedades? Desde que os portugueses chegaram no Brasil e trouxeram malária, febre, gripe?
A humanidade está realmente coberta da sujeira que cria, mas com certeza não foi a natureza que definiu esse lado desumanizador do homem. Isso é fruto de uma racionalização burra que define o homem pelo que ele tem e não pelo que ele é; as representações que todo indivíduo desenvolve desde seu nascimento são plurais. Cada pessoa tem diversos papéis que se somam e que se unem e que se calam e se bastam. Ninguém pode ser melhor do que ninguém enquanto todos respiram, comem, bebem água e acessam as mesmas notícias e tendências.
É triste, mas eu não leio jornal ou vejo noticiários. As mesmas reportagens sobre sofrimento, miséria, fome, guerra, sabotagem infantil e morte cansam. Cadê os aspectos que interessam de verdade a todos nós? Cada indivíduo é filho e desenvolve-se até se tornar mais do que isso? Não! Continua filho de alguém, amigo de alguém, inimigo de alguém, desconhecido para alguém, etc. São tantos humanos desejando algo mais do que ser humano, mas até que o problema mental sobre a razão de se viver em um tipo de sistema que nos corrompe como seres for debatido com vontade de vitória será impossível impedir o infanticídio real e moral que vem abatendo a sociedade mundial. Desumanos são aqueles que assistem à tudo que ocorre de estranho ao seu redor e não reagem com indignação e senso de despertar dessa ignorância mental que assola cada ser.