quarta-feira, julho 19, 2006

Um ciclo completo - um círculo de fogo!

Este texto eu dedico a todas as pessoas que tem banda, querem viver de música ou trabalham com arte. É um texto dedicado à visão!

Em 2004, eu estava vivendo um turbilhão de emoções. O Tsunami na Indonésia ainda não tinha devastado os noticiários, o governo Lula dava seus primeiros passos rumo à crise política e o mercado fonográfico no país estava indo pro fundo do poço. Os juros altos, a elevação do preço do dólar, a supervalorização do Rock pela mídia em geral quase acabaram com a maioria dos bons contratantes de shows deste país, pelo menos na região Sul e Sudeste. O que valia 2 passou a valer 4, o que era uma revelação passou a ter status de estrela, o que era bom ficou horrível. No meio disso tudo estava eu.
O Maskavo enfrentava seus próprios demônios. Depois de quase 5 anos na estrada compondo e viajando, construindo famílias, namoros, desamores, fazendo discos e negócios e tentando a sobrevida nos destroços que nós mesmos construímos foi que veio a idéia de enfrentar a realidade. A realidade do Maskavo era um palco de cortinas praticamente fechadas. Tínhamos sérios problemas com nosso empresário na época e o descontentamento era algo evidente em nossas vidas. A convivência entre nós exibia desgastes, requintes de solidão extremos, muita desinformação e desconfiança. De todos os lados vinham as reclamações. Da minha parte, o rompimento do contrato com a Deckdisc era a chave do segredo. A troca de empresário era a motivação inicial. E o que faltava? Um disco de músicas inéditas diferente, que não se parecesse em nada com os 3 primeiros discos que fizemos juntos. Nem as músicas, nem o nome, nem a capa. Apenas nossa idéia do que seria, um dia, um disco de reggae que tivesse começo, meio e fim. Um ciclo completo.
O Maskavo sempre foi uma banda avessa a prêmios. Quer dizer, nunca fizemos nada buscando reconhecimento ou notas. A filosofia da banda sempre foi uma dicotomia: show/fã e o pilar de nosso trabalho precisava de um novo tipo de cimento.
Como somos macacos velhos resolvemos usar as experiências de todos para saber qual rumo tomar. Um disco independente? Qual repertório? Quem iria distribuir? Quem tocaria no rádio? Onde arrecadaríamos verba para gravar o disco? Quem seria o produtor? Onde seriam os ensaios? Foram tantas discussões, argumentações, momentos de crise. Nem um site decente tínhamos, na época. Onde buscaríamos a força interior para realizar tal façanha?
Lembro com muito carinho dos meses que antecederam as gravações do SOM QUE VEM DA LUZ DO SOL. Os ensaios foram onde hoje é a casa do Prata, mas na época era a minha casa também. Eu já estava namorando a minha esposa e escrevia praticamente todos os dias explicando as dificuldades em se fazer um disco no escuro pra ela. Também me empenhei em fazer algo que eu nunca tinha feito: escrever músicas sozinho. Poucas delas deram certo, mas as idéias que surgiram de músicas inacabadas acabaram compondo grande parte do que são as linhas de baixo e algumas frases que temperam o álbum hoje em dia. Eu fiquei radiante com a possibilidade de fazer um disco sem compromissos reais com a indústria fonográfica. Claro que a luz estava no final do túnel. A própria editora da Deck ainda queria publicar nossas músicas e isso pra mim era um sinal de portas abertas. Outra coisa importante foi o Cacá e o YB, estúdio onde gravamos. Foi a primeira experiência em estúdio prazerosa que eu tive. À começar pelo tamanho do estúdio e pela qualidade das pessoas e do equipamento presente e disponível. E depois pelo acesso à tecnologia de gravação e captação, que sempre me interessaram, e guardados em segredo nos tempos de Deckdisc. Eu nunca tinha colocado meus dedos nos faderes, periféricos valvulados e amplificadores na vida. Aproveitei a chance para aprender a gravar, mixar e depois coloquei tudo à prova na fita demo que produzi da banda do meu irmão, o Virgem Again.
Meu irmão foi muito importante em todo o projeto. Breno acabou indo passar quase quatro meses comigo em São Paulo. Eu liguei suplicando sua ajuda, afinal, a banda estava em frangalhos e falar deles seria muito difícil porque eram problemas dos outros e não meus, mas acabavam interferindo nas minhas escolhas. Aquele período de cada um de nós foi um saco. Um desânimo do caralho....
Com a presença familiar, onde dividimos minha cama, cerveja, longas horas de conversas e composições, horas nos ônibus e quartos de hotéis pelo Sul do país, eu e o Breno começamos a fazer um site do nada, sem nem mesmo saber como programar uma página na internet. O site ficou tosco, mas a idéia de envolvimento em todo o processo artístico era como deixar meus olhos soltos no microscópio da banda, nos nossos pontos fracos. E faltava dinheiro pra tudo, até para comer as vezes.
Quando foi Agosto, dia 3, especificamente, de 2004, entramos em estúdio com 9 músicas prontas e 4 músicas inacabadas. O Beto Machado foi contratado para ser nosso engenheiro/produtor pela intimidade e experiência que tinha com o Maskavo nos anos de gravadora. O nome do álbum veio em uma conversa embaixo da minha janela, eu, Prata e Breno tomávamos sol e pensávamos que o disco merecia um nome psicodélico, imaginário e instigante, sonoro e que não fosse monossilábico. Daí, entre um e outro copo de cerveja o Prata soltou a pérola, dilapidamos a idéia e ficou O SOM QUE VEM DA LUZ DO SOL. Com a capa do disco o buraco foi mais embaixo. Sempre curtimos a idéia de colocar arte na capa mas entendíamos que é preciso associar o nome da banda à imagem da mesma, uma coisa problemática para qualquer artista. Foi uma guerra entre eu e o Prata, principalmente. Eu não gosto de coisas muito dadas, fáceis e que não necessitem de reflexão. Sou avesso a idéia de que o povo é burro e não almeja profundidade nas coisas. Sou contra tudo o que é legivelmente volátil. A idéia que prevaleceu, no final, foi a foto dos integrantes na disposição do show, nossos rostos, com um fundo de quadro que o Prata comprou de um artista brasiliense com a programação do Petersen, nem sei quem é esse cara, mas o que ele fez valeu o investimento. A foto do pôr do sol na contra-capa é do Breno tirada em um dia bonito em São Paulo à caminho do estúdio. Hoje analiso tudo dando risada, mas na época levávamos todas as discussões a sério e até a capa do disco foi motivo de briga. No final, cedi porque confio no que dizem o Prata, o Quim e o Marceleza. Afinal, somos todos fundamentais. Mas o layout quem idealizou foi meu irmão e o Prata e isso me dá certo orgulho. Nossa melhor capa até hoje.
Um fato legal de se lembrar foi a gravação da música SINGELA CANÇÃO. Composição de 2001 do Quim, essa música tinha sido preterida pela gravadora por ser muito melosa, não ser um hit de rádio, qualquer coisa era uma boa desculpa para não gravá-la. E nós, muito por orgulho, fizemos questão de inserí-la no álbum como demonstração de força de vontade, gosto pessoal e sob forma de desabafo, mostrar que quem mandava na banda a partir de então éramos nós. Mas na hora de gravá-la a coisa enroscou. Nenhum de nós depois de quase 3 semanas no estúdio tinha a menor idéia em como arranjá-la porque, enfim, descobrimos porque a gravadora não gostava dela. Em si, a música não tinha nada demais, era meio infantil e só nós 4 gostávamos dela de verdade. Era questão de amor pela canção. Mais uma vez, depois de discussões, quase abandonamos a música e fomos buscar outra em nosso repertório. Um dos integrantes quase chorou quando eu disse que a música escolhida para substituir a Singela Canção não era boa pra gravar. Eu também já estava de saco cheio de tudo, das pessoas e da rotina. Queria que as coisas fossem do meu jeito e isso não funciona em uma banda. Eu poderia até chorar, mas esse não é meu estilo. O Breno, o agente neutro, acabou nos dando o maior esporro e nos fez ver que desistir daquela música seria um erro. Voltamos pro estúdio, o Quim se armou das baquetas, o Prata foi pro baixo e eu fui pra guitarra, o Celeza soltou o gogó e fizemos ali um arranjo dance-Roberto Carlos improvisado que nos pareceu legal. Trocamos eu e o Prata de instrumentos, cada qual dilapidou as idéias e saiu em um ÚNICO TAKE a faixa final do álbum. Ali, eu fiz minha sincera homenagem ao Quim. Que música complicada... QUE DELÍCIA!
Ontem fomos contemplados com o prêmio Dynamite pelo melhor álbum de reggae independente de 2005. O SOM QUE VEM DA LUZ DO SOL nasceu sem esse intuito. Nasceu como um grito de liberdade, de dor, de necessidade, de vida. Nasceu para fortalecer o Maskavo, nosso sistema show/fã, nasceu fruto de amor e vontade musical. Nasceu REGGAE no sentido mais puro da palavra. Quando, em 2005, fui culpado de ter traçado a linha anti-pop do disco porque ele não foi muito executado nas rádios eu me calei, segurei a língua, abri meu peito e segui. Fizemos um DvD baseado 70% no repertório do álbum presente e minha convicção se fundiu a esse prêmio. Duas semanas atrás confessei ao Quim que, na minha opinião, esse era nosso melhor trabalho e que eu tinha muito orgulho dele. Hoje estou sorrindo e espero que as desconfianças se conformem com o pó dos meus pés. Ninguém disse que a luta seria fácil. O ciclo se fechou com chave de ouro. Silêncio.

quarta-feira, julho 12, 2006

Porque a Copa não é nossa?

O sucesso da Copa do Mundo, para mim, foi a certeza de que o fracasso da seleção brasileira estava nos pés de Cafu, Roberto Carlos e no comando de Parreira. Todo mundo sabe que eu gosto de futebol. Não sou um Nelson Rodrigues ou o Armando Nogueira, mas eu sou eu e minha opinião se parece com a deles, com as do Kfouri e do Tostão, todos profundos entendedores de futebol e apaixonados pelo jogo. Pois bem, eu me lembro de estar no ônibus da banda viajando para Casca, interior do Rio Grande do Sul, quando disse que o sucesso da seleção dependia de três alterações fundamentais pois o esquema tático do Parreira com dois laterais velhos, no caso Cafu e RC, e com o Ronaldinho Gaúcho no meio campo era arcaico, ultrapassado, europeu demais para nosso padrão de futebol. Minha desconfiança com RC e Cafu se confirmou na primeira partida, contra a Croácia, pois o peito de aço do Cafu, de 1994, não conseguiu ganhar nenhuma corrida e dividida contra Srna, o lateral esquerdo croata. RC, pela baixa estatura, tomou duas bolas nas costas que poderiam ter resultado em gol não fosse a cobertura de Juan e também não ganhou nenhuma dividida no jogo dando apenas chutões e caindo no gramado feito uma besta. Eu estava certo em minha consciência.
Por outro lado, com a entrada de Cicinho e Gilberto, o time ficaria mais ofensivo e isso tiraria a vaga do retranqueiro Emerson, pilar do esquema tático de Parreira e, na minha opinião, uma mula. Ele daria lugar a Juninho Pernambucano, jogador de destaque no Lyon, criativo, veloz, que faria a ligação rápida entre o meio campo e o ataque e deixaria o Zé Roberto mais recuado, caso o contra-ataque acontecesse. Juninho, na verdade, iria cumprir a função do Ronaldinho Gaúcho em todos os sentidos e liberaria o craque para ser o terceiro atacante sem função definida no meio campo, sua especialidade no Barcelona e que consagrou seu futebol na Europa duas vezes com a conquista da bola de melhor jogador do mundo. Na frente, por luxo e capricho, Fenômeno e Robinho, outra estrela em ascensão. Adriano seria o reserva do fenômeno e nós, Hexacampeões mundiais!!! Mas eu não sou o Parreira e vimos no que deu a campanha da seleção do Brasil em 2006. No ônibus eu cheguei a discutir sobre minhas opções. Fui obrigado a ouvir que Cafu e RC eram os caras. Pena que eu estava certo. Mas o triste mesmo foi a certeza ter se confirmado em realidade. O que salvou a Copa foi Zidane expulso na final, ou seja, outro fiasco para esta velha guarda que pede pela aposentadoria dos campos. Zidane não poderia ter mais este triunfo sobre o povo brasileiro. Sobre Ronaldinho Gaúcho, inclusive.