sexta-feira, dezembro 22, 2006

Extemporânea do Brasil n°1

Vou ser bem direto. Esse papo de aumento salarial para deputados e senadores é para boi dormir. Eles chutaram alto e ganharam uma pequena elevação de quatro mil reais por mês. Também quero ser deputado...

Vale à pena ser desempregado desde que você tenha mais de dois filhos. Explico: somando os benefícios assistenciais do governo Lula, Bolsa-Escola - R$ 175,00 para cada filho que freqüente as aulas - R$ 350,00 (em dinheiro) Cartão-cidadão (que o intuito é restituir a cidadania) - R$ 350,00 (em dinheiro) Vale-Gás - (um por mês) - R$ 70,00 - Transporte (calculamos 4 passagens diárias, que é uma boa média) - R$ 8,00/dia x 20 dias = R$ 160,00 - Vale-Refeição - (uma por dia) R$ 3,50/dia x 30 dias x 4 pessoas - ele, a esposa e os dois filhos) - R$ 420,00. Em dinheiro - R$ 700,00; em serviços - R$ 650,00, totalizando hum mil trezentos e conqüenta reais. Vale à pena...

No que diz respeito à seriedade, estamos milhares de anos-luz de distãncia de algo que se possa chamar ideal. Eu digo que o Brasil está vivendo em colapso total. Não é culpa do atual governo. Isso é o que podemos chamar de fator histórico. O Brasil é um grande colapso.

Marxistamente falando, se me permite o termo, o Brasil de hoje tem ótimos números e pode até enganar o mais bobo cidadão com promessas e acesso ao crediário, à vadiagem política ou mesmo à vadiagem assistencialista, mas não engana ninguém de verdade. O grande colapso que aqui se instaurou é mental e intelectual. De que adianta a ambição de crescimento econômico se, para manter e ampliar o crescimento, é necessária capacidade intelectual e especializada manutenção de projetos, o chamado continuismo das coisas? De que adianta plantar cana-de-açúcar para os automóveis e soja para os chineses se o preço ambiental a se pagar no futuro serão os tornados e furacões na terra conhecida por paraíso, Hi-Brasil?
Andando de carro, saí de Marília até São José do Rio Preto, 186Km da minha porta de casa. Fui apreensivo embarcar minha mulher e filho para Brasília em um vôo da TAM que estava marcado e previsto para as 18:20hs. Dirigi em uma estrada estadual da mais péssima qualidade, mais de 70 Km de buracos e remendos e pistas de mão única, algumas partes não tinham nem acostamento ou divisões na pista, um perigo; Quem diabos iria investir algum dinheiro em Lins ou Getulina? Não tem nem como chegar lá sem tomar um pequeno prejuízo! Não tem nem polícia rodoviária depois de Lins porque, se passar dos buracos, a maconha merece ser distribuída no centro-oeste brasileiro. Me pareceu isso de verdade. Um descaso enorme.
Esperamos das 16:30hs até as 20:32hs para que descolassem minha felicidade e família. Eu ainda tinha que voltar os 186Km, de noite, chovendo e, por causa da buraqueira, deu pane no painél do meu carro, um Tipo 1.6 1994, deu pane no limpador de parabrisa do lado esquerdo, nas luzes do painél, no cd player e no vidro elétrico. Tudo por causa de trepidação e olha que eu não estava rápido. Eu estava com medo de morrer e perder tudo de uma vez só.
Demorou mais de três horas e meia para que eu chegasse me casa. Não me sinto muito bem. Estou todo dolorido...
O colapso aéreo é o final da reta. ACORDEMOS PARA À VIDA. Tudo já está em declínio nesta civilização brasileira faz séculos. As estradas estaduais e federais são péssimas, tirando algumas rodovias paulistas, pedagiadas inclusive. Solução: acabemos com o IPVA e pedagiemos o país todo. Quem quer comprar de verdade estes pedaços de chão? Cargas pesadas e veículos longos destróem o asfalto. O peso é excessivo e o asfalto é de péssima qualidade. Solução: investir em ferrovias para transporte de produtos que andam em veículos longos. Esses veículos são muito perigosos na estrada, principalmente quando carregados e em uma descida. Eles são impossíveis de brecar! As estradas terão maior durabilidade com uma decisão dessas. Os carros não irão desmontar à cada viagem de 200Km. Inclusive eu ajudei dois senhores que tinham acabado de quebrar seu carro em um buraco de quase um metro de largura e profundo, até a canela de profundidade, desviando de um caminhão que vinha na direção oposta desviando dos buracos mas passando por cima daqueles o qual seus pneus aguentam. Inclusive é isso que deteriora o deteriorado, o asfalto e o buraco. O sistema de saúde todo é um caos. Não tem mais solução da forma como está. Quer dizer: DINHEIRO. Saúde é investimento pesado em tecnologia e profilaxia, estudantes de medicina e de universidades para desenvolver pesquisas nas mais diversas áreas da medicina, da cura e da solução dos problemas orgânicos. Medicina é instrumental.

Vê-se que os problemas aqui apresentados desviam nossa sua atenção o tempo todo do que é importante: SER BRASILEIRO DE VERDADE. Os políticos não se importam, os gringos também não, mesmo os chilenos ou venezuelanos não tem porque se preocupar conosco. Se a atenção fica sempre voltada para o colapso é evidente que uma medida salvadora e reparadora criará uma falsa impressão de cura do sistema. A isso deu-se o nome de nazismo, facismo, mao tse tungismo, fidelismo (e olha que do Fidel histórico, eu gosto); É provável que confisquem nossa poupança assim como em 1990, presidente Fernando Collor de Melo, em breve. É provável que a CPMF vire CMF. Ah, lembrando que o último colapso aqui vindouro foi a destruição em 1968 da classe artística brasileira. Os heróis envelhecidos de ontem são apenas sobreviventes da máquina de fazer dinheiro que virou o meio cultural. É uma máquina de restituição de imposto de renda, isso sim. Não tem cinema, nem teatro, nem música e nada de vanguarda. É quase tudo enlatado Made in Brazil e com sotaque do Rio de Janeiro ou São Paulo. É quase sempre de péssima qualidade.
Não existe uma elite pensante no país. Existe, sim, economistas, jornalistas, cientistas políticos e sociólogos, proletários, mas elite mesmo, intelectual, não. Morreu na ditadura militar também esta galera e com isso veio o Brasil de Lula, um homem do povo engajado em porra nenhuma. Infelizmente, ele se afasta do povo a cada dia que passa no poder. Por isso os filósofos palestravam ao ar livre e andando: Para provar aos seus alunos a eficiência do movimento, cada ato em si, cada coisa da natureza por si mesma tem efeito prático e educativo. Os políticos temiam os filósofos e muitos deles foram obrigados a se matar.

O propósito da terra Brasil é a beleza. Mas aqui o negócio está muito feio.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Pena

Sinto muita pena dos jovens artistas e das bandas novas que estão aparecendo por aí. Sinto que não tenho como ajudá-las porque, se posso, poderia soar doideira ou que eu sou um cara metido, sabichão ou simplesmente seria mal interpretado. Conselho e opinião, particularidades são difíceis de serem digeridas naturalmente. Acho que, se os jovens artistas e as novas bandas não se tocarem, elas irão para o buraco mais rápido do que elas mesmas podem imaginar.
Engana-se a pessoa que está desinformada. Apesar da falta de gosto e aptidão, eu tenho o costume de sempre estar buscando nas novidades algo que me interesse, segundos de reflexão. As músicas de hoje em dia não são boas. São carentes de verdade, são previsíveis e tolas. As bandas jovens, que me perdoem sempre se possível, não são bandas, são apenas clubes de reuniões semanais onde existe a tentativa de se fazer algo próximo do que se chama um álbum, ou uma canção. Elas não tem como ser culpadas do caminho que trilham e nem de como se realizam os negócios musicais de hoje em dia. Uma grande ilusão mascarada de glória, da realização de gravar um disco em estúdio ou de tocar para grandes multidões, uma grande ilusão é tudo o que permeia a vida do artista. E os jovens artistas, claro que existem excessões bem vindas, são despreparados pela própria família e por uma sociedade que vive dos resultados obtidos, das estatísticas da Crowley, das aparições articuladas em programas de T.V populares, das grandes vendagens que nada representam para o artista do que, senão, mais responsabilidade e mais trabalho.
Tomo como exemplo a banda NX Zero. Já tinha ouvido falar nesta banda, assim como já tinha ouvido Fresno, Edu Ribeiro, Leela, Canto do Malditos na terra do nunca, Móveis Coloniais de Acajú, Ludov, etc. Essas bandas são muito similares entre si porque conseguiram, algumas, ser contratadas por um selo ou Major e outras por terem destaque nos canais jovens de rádio e televisão. O NX Zero tem execução garantida na Jovem Pan, é a banda do momento. Minha vizinha ouve a música deles todos os dias e da janela eu já sei a letra e as partes da música de cór, mas é só isso. Quando eu lembro da minha própria banda, no ano 2000, fazendo uma turnê de 3 semanas sem roadie ou técnicos de som e de luz, sem empresário ou mesmo sem um contrato, percebi que estava me preparando para o que é realmente importante: saber conectar com o fã, fazer um show que produza fãs, que seja uma verdadeira aula de vontade musical e, claro, com músicas boas. Nós tínhamos Um anjo do Céu, Quero Ver, Lua... já estávamos compondo Folhas Secas e Quando o Sol Nascer, Asas estava sendo preparada para o repertório... Ela, só ela era uma realidade; o Maskavo nem dormia de tanto perseguir o contato fiel com seu público e deixar de depender das ondas do momento... sim, viramos uma banda ousada, cabra-homem mesmo, e aprendemos assim como se faz para continuar no mercado musical.
Daí, me flagro temendo pelo NX Zero, vejo meus amigos do Alma D'jem na mesma rota de colisão com o submundo da fama, quê? É, o mercado de shows se pergunta: por que uma banda iniciante chega aqui com tanta estrutura, cobrando por essa estrutura, quem disse que ela tem público? O contratante só quer ver um show bom e lotado. Não interessa seu coração, o importante é o resultado. E as bandas iniciantes tem tudo, menos o tal show. Aposto bolinhas que o NX Zero tem um cachê de R$5000,00, R$ 6000,00, mas ela deveria pensar que, além destes cinco mil, é preciso fazer valer os cinco mil reais. No fundo, NX Zero ficou com menos da metade do bolo. Foi tudo gasto para manter a tal teoria do Status, que uma banda iniciante tem que ter postura de banda grande, séria e profissional. E, na verdade, o que eu sugiro é que as bandas tenham a coragem de ser elas mesmas. Essa banda tem que ser eximida de culpa.
Eu só comecei a ganhar algum dinheiro com banda depois de mais de 3 anos investindo tudo, tempo e dinheiro, em mim, em instrumentos musicais, em discos, livros e viagens. Três anos sem dormir, sem sossego, sem alguém para afagar os cabelos. Era tudo um só sentimento: preciso fazer o máximo necessário, o perfeito, para ser um artista duradouro, com uma carreira além das gravadoras, das rádios. O Maskavo todo é esse sentimento. Como? Como?
Lembro do Renato Russo, ele tinha 18 anos quando escreveu Faroeste Caboclo, uns 22 anos quando escreveu Índios, canções profundas que não condiziam com sua idade tamanho realismo e maturidade contidas nas linhas e nas melodias dessas canções. E hoje em dia um menino de 18 já sofreu tudo no amor, já sofreu decepções profundas, desilusões... mas elas são comuns, superficiais, todo mundo sente que foi abandonado ou que uma paixão se perdeu... mas é tudo tão raso e mal escrito, fácil, entregue, que não me passa a epiderme, as canções dos jovens não me afetam em nada. As vezes eu me pergunto se minhas canções tem alguma profundidade. Posso dizer que sim, mas menos da metade da metade delas são honestas. As que foram gravadas, as canções, são mais formatos simplificados de idéias do que peças de alta qualidade auditivas. Um artista sofre muito com isso, o verdadeiro artista sofre por muitas coisas.
Eu espero dos jovens talentos coragem e seriedade, mas também rebeldia e jovialidade. Os jovens me parecem fantoches caretas, reflexos do Green Day ou do Simple Plan, caretas no aspecto mais simples possível: não estão aí para ousar! E sem ousadia, elas não terão nada de brilhante para contar. Eu acho que o Maskavo é uma banda ousada. Fomos pra São Paulo devendo dinheiro pra Deus e o mundo, mas certos de que esta era a única saída, a fagulha atômica que desencadearia a nossa trajetória bem sucedida para a vida de artista como músicos, compositores, intérpretes, personalidades. Nunca nos apoiamos na idéia de que uma só canção tocando na rádio ou que um vídeoclipe ou ida de 30 segundos ao programa do Faustão iria nos alavancar como banda. Isso nunca ocorreu. O Maskavo sempre se apoiou no seu trabalho e veja como deu certo tudo o que nos propusemos.
Riscos. Uma banda não é nada se não sabe assumir os riscos! Ainda estou com pena dos jovens artistas depois de tudo isso.