segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Noronha sofre com lixo fora de controle - GIULIANA MIRANDA

A caminho da paradisíaca praia da Cacimba do Padre, uma das preferidas dos surfistas em Fernando de Noronha, o cheiro de lixo chega às narinas dos visitantes.

O motivo pode ser visto de cima, já na chegada ao arquipélago: os dejetos se acumulam em um terreno próximo, entre a praia e o aeroporto.

Conhecido simplesmente como "lixão" entre os moradores, o local é, oficialmente, uma usina de compostagem- processo que transforma resíduos orgânicos, como restos de comida, em adubo.

Na prática, porém, as imediações da usina funcionam como um grande depósito de lixo a céu aberto.

Isso acontece porque a quantidade de dejetos produzida no arquipélago é muito maior do que a capacidade de lidar com ele.

Por dia, na baixa temporada, são pelo menos 8,8 toneladas de resíduos. No período com mais turistas, o número chega a 10 toneladas.

A maior parte desse lixo (63%) -especialmente plástico, papelão, alumínio e alguns resíduos orgânicos- deveria ser mandada de volta para o continente, o que acaba não acontecendo.

No melhor dos cenários, o navio que faz o transporte consegue levar 95 toneladas a cada 20 dias. Ou seja: sobram pelo menos 15 toneladas de lixo por viagem.

Sem ter como sair da ilha, o excedente, que chega a 31 toneladas na alta temporada, acaba acumulado na área externa ao lado da usina.

Embora os resíduos estejam separados por tipo e acondicionados em grandes sacos especiais, ainda se configura um lixão, na opinião de Eglê Teixeira, do Departamento de Saneamento e Ambiente da Unicamp.

LIXÃO MODERNO

"A diferença é que é um lixão mais moderno, com tudo empacotado. Mas ele ainda oferece riscos, como a proliferação de ratos, sem contar uma possível contaminação do solo", afirma ela.

A administração do arquipélago, que é feita pelo governo de Pernambuco, informou que prepara um plano de gerenciamento de resíduos sólidos, com consultas à comunidade.

Ele deve ficar pronto até junho deste ano e, com base nele, serão instituídas "outras práticas sustentáveis" para lidar com o problema.

O lixo orgânico também atrai muitas garças. "Como o local é muito próximo do aeroporto, há risco de acidentes aéreos", diz Teixeira.

Embora menos grave, há outro problema com o processo de compostagem ali: o risco de contaminação.

Como o adubo costuma ser usado em hortas e plantações para consumo humano, é preciso haver um controle rígido sobre a qualidade dos resíduos que vão formá-lo.

Não existe coleta seletiva em Fernando de Noronha. O lixo chega todo misturado e é separado por funcionários da usina. Com isso, aumentam as chances de que restos de comida, muito usados na compostagem, possam ter entrado em contato com substâncias tóxicas, como as de pilhas e baterias.

"Qualquer contaminação desse tipo no adubo usado para o consumo humano oferece graves riscos à saúde", afirma a pesquisadora.

A administração da ilha diz que há seleção criteriosa do material usado na compostagem e que a coleta seletiva deve ser implantada na ilha até julho deste ano.

SURFE

As águas de Fernando de Noronha são ideais para a prática de vários esportes. No entanto, por causa das dificuldades estruturais e, principalmente, ambientais, há um controle rígido sobre o que é autorizado na ilha.

Atualmente, há dois eventos de grande porte: a Regata Internacional de Pernambuco e o campeonato de surfe Hang Loose Pro Contest.

Noronha recebeu mais de uma centena de surfistas entre os dias 15 e 20 deste mês para a chamada etapa WQS, divisão de acesso à elite mundial do surfe.

O campeonato acontece bem no período em que as tartarugas marinhas, ameaçadas de extinção, sobem as areias para botar seus ovos.

Como os bichos preferem fazer isso à noite, as provas precisavam acabar até as 18h

Além disso, a estrutura que ficava na areia, como palanques e caixas de som, precisou ser bem mais alta do que o habitual para permitir que as tartarugas transitassem livremente.

domingo, fevereiro 27, 2011

Jesus


Thierry Guetta recebe prêmio por filme de Banksy - FERNANDA EZABELLA

"Exit Through the Gift Shop" ganhou o prêmio de melhor documentário no Spirit Awards, evento que aconteceu no sábado em Santa Mônica e é considerado o Oscar do cinema independente.

O filme conta a trajetória do francês Thierry Guetta em Los Angeles, enquanto ele tenta fazer um filme sobre grafiteiros pelo mundo e depois acaba virando artista ele mesmo.

O próprio Guetta surpreendeu a plateia do evento e se levantou para receber o troféu. "Tinha um discurso pronto, mas esqueci no hotel", disse Guetta, que ficou conhecido como Mr. Brainwash.

"Eu só quero agradecer a Banksy."



Ao ser questionado pela imprensa se o artista misterioso estava na cerimônia, ele disse: "Ele pode estar em qualquer lugar, ao seu lado", disse, rindo. "Como eu o descreveria? É um camaleão."
"Exit Through the Gift Shop" também concorre a um Oscar, que acontece amanhã, em Hollywood. Banksy tem grafitado as ruas de Los Angeles nas duas últimas semanas.
A assessora de Banksy também está no Spirit Awards e, ao ser questionada se Guetta também receberia a estatueta no caso de uma vitória amanhã, ela apenas respondeu: "quem sabe?!".

Ana de Hollanda é "meio autista", diz Emir Sader

Prestes a ser nomeado para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, o sociólogo Emir Sader afirmou em entrevista à Folha que a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, é "meio autista".

Ao comentar a situação orçamentária do ministério, Sader disse: "Tem o corte, o orçamento é menor, e tem dívidas. Desde março não se repassou nada aos Pontos de Cultura. Teve uma manifestação em Brasília. Está estourando na mão da [ministra] Ana [de Hollanda] porque ela fica quieta, é meio autista".

Antes de mesmo de ter oficializada sua nomeação, Sader causou polêmica no meio intelectual ao expor seus planos para a "Casa Rui", como é conhecida a instituição, vinculada ao ministério da Cultura e tradicionalmente voltada para a preservação e o acervo de intelectuais brasileiros, de Rui Barbosa a Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Vinicius de Moraes.

Atualmente são 123 os acervos guardados na casa, que também realiza estudos nas áreas de história da cultura, direito e políticas culturais.

Sua intenção é levar para a casa as discussões sobre o que chama de "o Brasil Para Todos", citando o slogan do governo Lula. Segundo disse à Folha, as pesquisas da casa "não é potencializado, não tem temas de muita transcendência".

Suas ideias foram prontamente rebatidas por intelectuais, que viram nas propostas sinais de aparelhamento petista, desconhecimento das atividades da casa e desvirtuamento da vocação da instituição, com a adoção de uma linha de pensamento que o crítico literário chama de "marxismo parnasiano".

A Ilustríssima deste domingo traz reportagem de Marcelo Bortoloti e Paulo Werneck, com novas declarações de Emir Sader, as reações no meio intelectual e um retrospecto das atividades da Casa Rui.



Ouça trecho onde Emir Sader chama Ana de Hollanda de autista

sábado, fevereiro 26, 2011

Deputados querem devolução de R$ 7 bi a consumidor - Fábio Góis

Projeto apresentado esta semana obriga empresas de energia elétrica a devolverem contribuição cobrada indevidamente durante sete anos

Um grupo de deputados quer que as concessionárias de energia elétrica devolvam ao consumidor o que receberam indevidamente durante sete anos. Estimativa feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que um equívoco de cálculo fez com as empresas recebessem R$ 1 bilhão a mais por ano no período de 2002 a 2009. A devolução dos recursos, estimados inicialmente em R$ 7 bilhões, está prevista no Projeto de Decreto Legislativo 10/2011, apresentado na última quarta-feira (23) na Câmara.

Segundo a proposição, as distribuidoras cobraram na conta de luz, durante sete anos, uma contribuição com o pretexto de custear o fornecimento de energia em localidades e sistemas isolados do país. A cobrança foi considerada irregular pelo TCU. No último dia 25 de janeiro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) confirmou a decisão tomada em dezembro de 2009 de desobrigar as concessionárias de restituir os valores aplicados irregularmente.

A proposta apresentada na Câmara susta “os efeitos normativos” da agência reguladora. Na justificativa do projeto de decreto legislativo, os deputados que assinam a proposta acusam a Aneel de “negar o direito dos consumidores brasileiros de serem ressarcidos do erro da metodologia de cálculo que elevou ilegalmente as tarifas de energia elétrica” entre 2002 e 2009.

“Mas esse cálculo não levou em conta o crescimento do número de consumidores e as distribuidoras arrecadaram mais do que foi efetivamente gasto na manutenção desses sistemas. Essa arrecadação excedente é proibida pelas regras da Agência Nacional de Energia Elétrica”, aponta a assessoria do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), um dos responsáveis pela apresentação do projeto. O parlamentar pernambucano disse ao Congresso em Foco que a iniciativa já reúne 180 assinaturas de parlamentares na condição de “co-autores” da matéria.

“No plenário, não tenho a menor dúvida de que vamos conseguir a aprovação, até porque é um direito dos consumidores brasileiros. Temos um apoiamento quase unânime”, avalia Eduardo, para quem o valor cobrado indevidamente dos consumidores pode dobrar, feitas as correções inflacionárias. “Não menos que R$ 7 bilhões – o Tribunal de Contas da União [TCU] disse que a dívida estava calculada em R$ 1 bilhão por ano [entre 2002 e 2009]. Mas esse valor pode chegar a R$ 15 bilhões. Só vamos ter essa certeza quando esse levantamento for finalizado pela Aneel.”

Segundo a justificativa do projeto de decreto legislativo, o pagamento indevido de tarifas fere dispositivos da Constituição, do Código de Defesa do Consumidor e da própria Aneel, na definição de direitos e deveres do consumidor, “em especial do direito ao ressarcimento pelos valores cobrados indevidamente (artigos 76 a 78 da Resolução Aneel n.º 456, de 2000; e o artigo 113 da Resolução Aneel nº 414, de 2010)”. Eduardo da Fonte diz que, em vez de funcionar como agência reguladora, a Aneel demonstra estar a serviço das distribuidoras de energia elétrica.

Confira a íntegra do Projeto de Decreto Legislativo 10/2011
“Não foi erro. Foi roubo”

O caso teve início em 2007, no âmbito da Comissão de Defesa do Consumidor (CDC) da Câmara. Na ocasião, o deputado Elismar Prado (PT-MG) e alguns membros do colegiado pediram uma auditoria nas contas administradas pelas concessionárias de energia elétrica.

Os indícios de irregularidade resultaram na instalação da CPI das Tarifas de Energia Elétrica, que, entre outras resoluções, levaram ao indiciamento do diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, junto ao Ministério Público Federal. Segundo Eduardo da Fonte, ele “obstruiu o trabalho da CPI por não ter fornecido os dados referentes às cobranças indevidas” do período 2002-2009. Também foi determinado que cerca de 20 agentes da agência fossem investigados, mas por outras questões.

No entanto, depois de reunião dos membros do colegiado, decidiu-se que as investigações deveriam ser estendidas a todos os citados no relatório final da CPI – inclusive Hubner, mas sem que o pedido de indiciamento dele fosse levado adiante. Na ocasião, o diretor-geral disse que não poderia ter apresentado os dados sem que a defesa das distribuidoras de energia tivesse sido encaminhada à Aneel.

Em novembro de 2010, o relatório final da chamada CPI da Conta de Luz determinou que a Aneel exigisse das empresas concessionárias a devolução dos valores recebidos indevidamente dos consumidores. Em desobediência ao colegiado, a agência se limitou a executar a revisão dos contratos com 63 distribuidoras, e definiu um novo sistema de reajuste de tarifas que impediria cobranças indevidas. A restituição dos valores não foi determinada pela Aneel, sob o argumento de que, por falta de fundamentação jurídica, as regras do novo contrato não poderiam retroagir.

“Ao se negar a devolver esses valores, eles patrocinaram um calote ao povo brasileiro”, fustigou Eduardo da Fonte, lembrando que, em audiência pública na Câmara, os próprios representantes da Aneel reconheceram o erro e se dispuseram a corrigi-lo, mas sem que os valores fossem repostos. “Na minha avaliação, não foi um erro, foi um roubo. Eles [responsáveis pelas distribuidoras] agiram de má fé”, completou Weliton Prado (PT-MG), que também subscreve o projeto protocolado na Mesa Diretora. Weliton é irmão de Elismar Prado, o ex-membro da CDC.

Weliton disse à reportagem que trabalha no projeto desde antes da posse para a atual legislatura. E garantiu que, mesmo na semana pré-carnavalesca, continuará a conscientizar “o máximo de deputados” em relação à importância da matéria. Ele acredita que, longe de uma ação isolada, o conjunto de deputados em defesa do tema “dará força ao projeto”. “Costumo dizer que o Parlamento é igual a feijão: só funciona na pressão”, diz o petista, ressalvando o papel da imprensa em manter o assunto em evidência.

O Congresso em Foco quis saber a posição da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) sobre o assunto. A assessoria informou que seguidas e longas reuniões, “a portas fechadas”, impediriam que a direção da Abradee, sociedade civil de direito privado, falasse com a reportagem nesta sexta-feira (25). Ainda segundo a assessoria, a entidade está em fase de estruturação em Brasília, uma vez que está em pleno processo de mudança da matriz do Rio de Janeiro para Brasília.
“Tarifa amarela”

Agora, diz Eduardo da Fonte, o objetivo é conseguir a aprovação de “urgência urgentíssima” para a votação do projeto. Para tanto, são necessárias 171 assinaturas (um terço dos 513 deputados), o que levaria a matéria à condição de item prioritário de votações no plenário da Câmara. Mas, além de a pauta estar trancada por diversas medidas provisórias, o provável baixo quorum na semana que antecede o Carnaval deve atrasar as deliberações.

Para passar a valer, o projeto de decreto legislativo deve ser aprovado tanto pela Câmara quanto pelo Senado. Alcançado esse objetivo, não há necessidade de que a matéria seja submetida a sanção presidencial – o texto entra em vigor tão logo as duas Casas legislativas o aprovem em maioria simples (metade mais um dos parlamentares presentes em plenário). No dia em que o documento foi formalizado, apenas o deputado Guilherme Campos (DEM-SP) pediu a exclusão de sua assinatura de adesão à matéria.

O projeto de decreto legislativo é a primeira cruzada dos deputados contra o que consideram abuso das distribuidoras. Weliton Prado diz que apresentará um projeto contestando as chamadas “tarifas amarelas” que, a depender dessas empresas, seriam cobradas com valores diferenciados, referentes ao consumo em horários de pico.

“Isso é uma forma disfarçada de aumentar a conta de luz”, diz o petista, para quem o consumo em horários não concentrados deve ser estimulado por meio de benefícios, e não de penalizações. Em março, adianta o deputado, será realizada uma audiência pública para debater o assunto. Weliton disse ainda que, desde 2007, parlamentares têm impedido que as distribuidoras apliquem as tais tarifas “diferenciadas”.

O Telescópio Râbou


Scanner de cérebro identifica tendência violenta em criança - BBC Brasil

Traços de falta de empatia em crianças podem ser um sinal de futuros comportamentos antissociais e violentos, apontam dados apresentados nesta semana na conferência anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em Washington.

Segundo pesquisadores, o escaneamento do cérebro e avaliações precoces podem ajudar a identificar e tratar esses traços, prevenindo problemas de conduta.

"Crianças com altos níveis de traços de falta de empatia e problemas de conduta entre 7 e 12 anos tendem a desenvolver hiperatividade e a viver em um ambiente caótico", diz a professora assistente de justiça criminal da Universidade de Indiana (EUA), Nathalie Fontaine. Ela acrescenta que é um risco potencial para desenvolver a psicopatia em adultos.

Fontaine declarou na conferência que se a identificação dessas crianças ocorrer cedo, tanto elas quanto suas famílias poderão ser ajudadas na prevenção de comportamentos severamente antissociais.

O jornal "The Daily Telegraph" cita estudos do professor e criminologista britânico Adrian Raine, que apontam que criminosos e psicopatas têm áreas do cérebro --como a amídala e o córtex pré-frontal-- reduzidas. Essas áreas controlam nossos impulsos, nossa cooperação social e nossas noções de moral.

Raine disse na conferência em Washington, segundo o Telegraph, que a ausência do medo da punição, que pode ser medida em bebês, também seria um indicativo de futuros comportamentos antissociais, e defende a importância de medições que identifiquem isso.

RISCOS E ÉTICA

A professora da Universidade de Indiana enfatiza que suas descobertas não significam que algumas crianças com falta de empatia necessariamente se tornarão delinquentes, mas que a identificação precoce desses traços pode ajudá-las a lidar com o risco de comportamento antissocial.

Para ela, punições não são eficazes para lidar com o problema. Uma possível solução é reforçar o comportamento positivo dessas crianças, em vez de castigar o negativo.

A pesquisadora examinou dados de mais de 9.000 gêmeos nascidos no Reino Unido entre 1994 e 1996, e cerca de um quarto deles apresentou níveis altos ou oscilantes de empatia.

De acordo com a apresentação de Fontaine, níveis ascendentes de falta de empatia estão associados a mais problemas comportamentais ao longo do crescimento.

Os dados analisados por ela indicam que os traços de falta de empatia derivam, na maioria das vezes, de influências genéticas, principalmente em meninos. Mas, no caso das meninas, fatores ambientais parecem exercer influência significativa.

Por isso, ela faz a ressalva de que suas conclusões se beneficiariam de avaliações desses fatores ambientais ou de risco, como negligência ou abuso infantil.

Segundo o Telegraph, a conferência abordou também as implicações éticas de se tratar crianças antes que elas tenham de fato cometido algo errado, mas, para Raine, as causas biológicas do comportamento não podem ser ignoradas.

"Temos que buscar as causas do crime tanto nos níveis biológicos e genéticos como nos sociais", disse o especialista.

Protesto antigoverno no Iêmen


Sting é contra boicote cultural a países que ferem direitos humanos

"Acredito no poder da música". 


quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Redes sociais - fé e inutilidade - Bruno Prieto

O mundo parece bem maior nos dias de hoje e a internet e suas renovadas formas de divulgar informações estão diretamente relacionadas a esta nova visão das fronteiras que separam as pessoas e os seus limites. A internet já foi o berço do anominato e das idéias anárquicas nos anos 90 do século XX. Já foi e ainda é o espaço dos emails e da transmissão de idéias e de manifestações embrionárias que se tornaram eventos públicos. É pela internet que a fé na propagação de ideais revolucionários e emancipadoras se realiza. A arte da fotografia está cada dia mais presente do que nunca. Os blogs são os novos fanzines e revistas. As redes sociais são os bares e as vernisságes da atualidade.
As redes sociais, no entanto, merecem um debate profundo. Apesar do anonimato estar perdendo força nos facebooks e orkuts, etc, e hoje muitas pessoas parecem ser aquilo que elas postam e divulgam, links e vídeos ganham destaque e unem as pessoas, há nas redes sociais uma diluição excessiva, assim como suco com água, da essência virtual. Pode ser que o login nos une a todos, mas é justamente o contrário. Ele restringe o conteúdo aberto pelo qual se lutou o tempo todo na internet. Há um incômodo: acomodados buscam apenas o que outras pessoas mais interessadas pesquisam e divulgam pelas redes. Assim é a vida real. Uns escrevem livros ou criam teses ou lutam pelos direitos humanos; outros fazem cinema, cuidam dos afazeres domésticos, vivem de renda. Mas é nas redes sociais onde isso não importa. Todo mundo pode fazer alguma coisa tendo uma lista de contatos extensa. É condição primordial adicionar o máximo de pessoas para ramificar a inteligência e a sagacidade dos posts. É importante estar conectado o máximo de tempo possível e ler o que os outros linkam pela rede. O que menos se faz, assim como na vida real, é criar algo que faça a diferença. Nas redes sociais, diferente do que aconteceu entre bósnios, egípcios e tunisianos, uma contracultura da repressão da informação, é que a informação no ocidente continua alienada. Divulga-se aquilo que já foi divulgado; propagam-se as idéias que estão disponíveis nos youtubes e jornais virtuais e fica deixado de lado a formação de debates entre pessoas.
O mundo virtual é real. É instantâneo. É iminente. Está pra todo tipo de gente ver e continua anárquico. Se bem que o item mais vinculado nas redes sociais e emails ainda é a pornografia, cada vez mais e mais frequente nos lares de todos os ips conectados de toda a rede mundial. Então a internet, apesar de essencial, pode estar se tornando um item tão inútil quanto é a máquina de escrever. Veja bem, funciona como ferramenta acessível e que as pessoas almejam. Está sendo acessada agora mesmo em celulares mais para ler as fofocas do cotidiano, tão importantes quanto saber sobre paparazzis ou celebridades instantâneas, ou sobre os pardais de trânsito na sua cidade, do que para aprender sobre o peixinho do aquário que você não sabe a espécie e que seu filho tanto quer saber o nome. Aprender sobre como limpar a injeção eletrônica do seu carro é possível, mas ninguém quer saber sobre este conhecimento. Poesia em baixa nos livros e na internet também. Ao invés disso, reprises do Pânico e do CQC estão entre os downloads mais concorridos. Os filmes inéditos do cinema mais próximo da sua casa que você nunca debaterá com seus amigos estão lá também. É! As redes sociais são, como diria minha mãe, uma bagunça organizada.
Literalmente, ao invés de estarmos legando para o futuro uma ferramenta genial com aparelhos cada dia mais intuitivos, estamos criando a cultura do conhecimento fracionado e da superficialidade da nossa existência. Então saber é esconder para si o conteúdo de horas e horas dedicadas ao acesso irrestrito da classe média à uma internet que está sendo inutilizada em tempo real. E não há floresta que resistirá ou ar que não será poluído ou água que ficará escassa que possa competir com isso porque estarão muitas pessoas apenas logadas em franca latência sem fazer nada demais apenas esperando que algum gênio, anônimo ou reconhecido, os salve por alguns momentos da responsabilidade que é estar vivo no século XXI.

Bloomberg Game Changers - Steve Jobs

Patricia Kuhl: The linguistic genius of babies

Hollowed-out bug-sculptures



A Micromachina de Scott Bain usa besouros verdadeiros esculpidos e outros insetos com pequenos bonecos e esculturas de móveis para fazer um alerta sobre a relação humana com a natureza.

MICROMACHINA examines what makes the insect world tick, and considers our attempts to control nature and the consequences. Humanity's blatant disregard for nature, where profit comes before life, will ultimately be our undoing. Pesticides, herbicides, genetic modification and massive urban expansion push the fine balance of life toward disaster. There has to be a point, when mother nature will say 'too far', and rid the earth of its biggest pest... us.

Olho cego, ouvidos moucos - Ulisses Capozoli

A quase obsessiva preocupação com o noticiário político/econômico que caracteriza a imprensa brasileira certamente é a melhor explicação para o desencontro de informações em áreas estratégicas e com efeitos direto (muitas vezes perversos) na economia e na política. É o caso do jornalismo científico como um todo e do ambiental, em particular. Prova disso é o estudo recentemente concluído pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) prevendo um desmatamento de até 42% da Amazônia por volta de 2020.

Um estudo dessa importância não sensibilizou a imprensa, a não ser a Folha de S.Paulo, que entrou antes no assunto. As outras publicações praticamente esnobaram, seguindo o velho costume de ignorar o furo do concorrente. O governo também sapateou, condenou os dados e mais uma vez sugeriu que a participação de pesquisadores estrangeiros no estudo – que foi publicado pela revista Science – é parte de uma trama internacional para embaçar a imagem do Brasil.

São posturas ultrapassadas. Tanto a da imprensa quanto a do governo.

Posição responsável, produtiva e ética teve o professor Warwick Kerr, diretor do Inpa, ao defender a integridade do estudo. O pequeno auditório do Inpa, em Manaus, estava lotado no dia 24 de janeiro, segundo a repórter Kátia Brasil, quando o professor reafirmou a previsão, abrindo discussões em torno das limitações metodológicas. O professor Kerr tomou a atitude por apreço às normas científicas. Nada é infalível, nem mesmo a previsão de que o Sol vai nascer amanhã. Uma dia ele não fará isso, mas não sabemos quando isso acontecerá.

O estudo do Inpa fala em desmatamento de até 42%. O governo admite no máximo 8%. Como é possível um desencontro estatístico tão grande?

É um problema de pressupostos, um jogo de situações que encantou o velho Aristóteles.

O Inpa reafirma seus dados e diz que leva em conta tanto a taxa histórica de desmatamento como os efeitos do programa "Avança Brasil", arma de sedução do governo FHC. O governo prefere estatísticas confinadas a certos períodos e contabiliza para baixo os efeitos ambientais de pavimentações de estradas na Amazônia, uma das metas do "Avança Brasil".

Um mínimo de reflexão mostra que a metodologia do Inpa faz sentido. Até porque é uma obrigação profissional que os trabalhos ali produzidos tenham conteúdo científico, busquem refletir uma realidade observável, como sempre recomendou o velho Bacon, e não sirvam tão-somente para gerar fatos políticos.

Olhos eletrônicos

Não é a primeira vez que taxas de desmatamento na Amazônia geram atritos entre pesquisadores científicos e o governo. No final dos anos 80, houve um acalorado bate-boca entre o pessoal do Insituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e as equipes que cuidam da imagem do governo.

Lamentamos todos, mas o governo não tem condições, ao menos técnica, de fazer valer sua lógica. Especialmente porque ela está carregada de conteúdo político.

Para se demonstrar a posição do governo pode-se recorrer a pelo menos dois exemplos e à mão. O primeiro deles é a duplicação da Fernão Dias (BR-381). O outro, a privatização dos parques nacionais.

Numa edição de final de ano, a Folha de S.Paulo mostrou o que todos sabem. A BR-381 tem sua duplicação atrasada em mais que o dobro do tempo previsto e, claro, os custos iniciais já foram multiplicados. Sobre o que a Folha não falou – e parece não incomodar muito a imprensa – é o prejuízo ambiental de um atraso desse tipo. Deslizamentos e erosões provocados pelas chuvas, além de ameaçar a segurança de motoristas, causam o assoreamento de rios e pequenos cursos d’água com impacto que ninguém está investigando. Serras desnudas, para retirada de rochas ou cascalho, ficam com seus ferimentos expostos e certamente indignariam o velho mineiro que John Houston mostrou em Tesouro de Sierra Madre.

A Fernão Dias corta o centro do poder político nacional, ligando São Paulo a Belo Horizonte, com conexões para o Rio de Janeiro e Brasília. Se o governo federal não controla nem avalia os danos ambientais de sua duplicação, como se pode esperar que vá fazer isso nas profundezas da Amazônia?

Além disso, o governo anunciou (O Estado de S.Paulo, 18/1/01, pág. A10) a privatização de 16 dos 44 parques nacionais. O que significa isso, além da confissão de incompetência e desinteresse em cuidar dessas reservas estratégicas de biodiversidade?

Bom exemplo é o Parque Nacional da Serra da Canastra, não incluído no que deve ser o primeiro lote de privatizações. Ali nasce o rio São Francisco, "o rio da unidade nacional" não só por correr boa extensão do território, mas por assegurar a sobrevivência de milhões de pessoas às suas margens.

O parque, com uma placa metálica de um metro quadrado imortalizando a inauguração de modestas instalações, em 1995, está abandonado. O nome do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e uma longa lista de autoridades pretensamente responsáveis pela pequena construção (banheiros com chuveiros que não funcionam todos, bancos de alvenaria precisando de reparos e áreas de churrasquear que não acendem suas lâmpadas) ainda não foi ofuscado pela pátina. Mas é parte do passado.

No início deste mês de fevereiro, a empresa privada que faz a limpeza das instalações teve seu contrato vencido e ainda não prorrogado. Os funcionários das portarias se alternam para improvisar numa tarefa que não cabe a eles. Mas só assim os banheiros estão razoavelmente limpos.

O parque tem duas áreas. A baixa, onde corre o São Francisco, depois de precipitar-se por 200 metros, na Casca Danta; e a alta, onde está a nascente do rio. Para se chegar à parte alta, saindo da cidade de São Roque de Minas, é preciso pegar uma estrada de terra esburacada e sem proteção lateral que bordeja precipícios de dezenas de metros. Um acidente dramático pode ocorrer ali a qualquer momento e, se vier a acontecer, certamente não serão encontrados os responsáveis.

Demonstração adicional de negligência inequívoca no parque é a ausência de qualquer proteção para os pedestres que caminham até a base da Casca Danta. A trilha, de terra batida, não oferece qualquer proteção a uma queda que pode ser fatal. Se a burocracia oficial não tem como cuidar da manutenção de um parque entre o norte de São Paulo e o sul de Minas Gerais, novamente próxima aos centros de poder político, por que esperar que seja capaz de vigiar com o cuidado os desmatamentos que historicamente crescem às margens de estradas na Amazônia, formando longas espinhas de peixes aos olhos eletrônicos dos satélites?

Cobertura superada

Diógenes, o cínico, um homem que andava com uma lamparina acesa durante o dia, procurando a verdade, perguntaria por que não se contrata um gerente para administrar o Brasil. Isso facilitaria as coisas, diminuiria as despesas, aumentaria a eficiência e levaria ao máximo a política de privatizações. Privatizações são um dos tabus da imprensa.

Na Amazônia, tudo é mais difícil. Repórteres que eventualmente escrevem sobre a região, mas nunca estiveram lá, muitas vezes não sabem o que falam. Esse é um reflexo da desestruturação interna dos jornais que, 20 anos atrás, tinham editorias bem consolidadas – como a de Urbanismo, tema que já foi caro à mídia.

O Estado de S.Paulo (11/2/01, pág. A15) anuncia que "contrabando ameaça peixes da Amazônia". Mais uma evidência de falta de controle oficial na região. Mas, nada de novo. No triângulo fronteiriço entre Colômbia e Peru, o contrabando de madeira e peixes, além do trânsito da cocaína, não surpreende ninguém. Nem o Exército nem a Polícia Federal têm eficiência numa estrutura corroída por necessidades imediatas, além de políticos corruptos. Quando a pesca é farta no Brasil, há oscilação no câmbio de moedas em Letícia, na Colômbia, separada por um sonolento posto policial de Tabatinga, no Brasil. É o mercado ditando a velha lei da oferta e da procura.

Talvez a metáfora para a previsão dos dados do Inpa esteja em de Curuçá, na Bahia. Uma placa, na entrada da cidade, anuncia a "Cidade da ararinha-azul". Mas o bichinho delicado não existe mais na Natureza, segundo a edição mais recente de Veja (14/2/01, pág. 81). A ararinha-azul foi extinta, apesar dos esforços de uns poucos interessados na sua sobrevivência.

Durante os governos militares costumava-se apontar os críticos da ocupação dos cerrados como inimigos do país. Ao que tudo indica, esse sentimento autoritário ainda não desapareceu. Nas última décadas, a soja trouxe divisas para o Brasil mas nem por isso diminuiu a dívida externa do país. Mas, em consequência da soja no Brasil Central, inúmeros rios do Pantanal acabaram. Barcos e canoas já não cortam suas águas como antes e a vida farta e diversa também abandonou seus leitos. Quanto custa tudo isso? Esse cálculo, a cobertura imediatista e superada de economia / política não sabe. E nem quer saber.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Banksy outdoors





Brasil necessita de US$ 400 bilhões para cortar emissões de CO2 - SABINE RIGHETTI

O Brasil vai precisar de dinheiro --muito dinheiro-- para reduzir significativamente as emissões de CO2 até 2030. Pelas contas do Banco Mundial, divulgadas na segunda-feira, serão necessários US$ 400 bilhões (cerca de R$ 665,5 bilhões) até 2030.

O dado faz parte de um estudo que teve início em 2007, financiado pelo banco e feito por especialistas de instituições como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e universidades públicas brasileiras. Foram realizadas modelagens em quatro grandes áreas responsáveis pela poluição da atmosfera: solo (agropecuária), resíduos, energia e transporte.

Os especialistas calcularam quanto custaria investir em tecnologias limpas nesses setores, substituir práticas consideradas poluidoras e aumentar áreas florestais.

Por exemplo, no setor de transporte, a redução da emissão de gás carbônico poderia ser feita pelo aumento da malha ferroviária (de carga e urbana). No setor energético, o empenho para desenvolver energias limpas, como a dos ventos, é considerado importante.

O dinheiro para tudo isso, de acordo com Christophe de Gouvello, do Banco Mundial, poderia sair do governo e de negociações internacionais --como o fundo verde criado na última conferência da ONU sobre o clima, que deve gastar US$ 100 bilhões anuais em tecnologias limpas a partir de 2020.

O setor agrícola é um dos desafios do país. O Brasil é recordista mundial de emissão de metano, um dos mais poderosos gases do efeito estufa, pela atividade pecuarista.

Para Luís Gustavo Barioni, agrônomo da Embrapa que participou do estudo, investir em tecnologias limpas no setor é urgente porque o consumo de carne está crescendo com o enriquecimento de países emergentes.

Silvio Santos, Ronaldo, temporais. Tudo numa boa - Alberto Dines

Acabou o horário de verão, permanece intacto o espírito do verão – desânimo, modorra, inapetência. Nossa mídia não conseguiu recuperar-se do tremendo esforço de janeiro – a catastrófica tromba d’água na região serrana do Rio – e passadas seis semanas continua derrubada, mortiça, exangue, olhos quase fechados.

O trambique aplicado por Sílvio Santos no Banco Panamericano se mostrou muito maior do que o inicialmente anunciado. Os relatórios recentemente liberados sugerem manipulação de resultados, operações maquiadas, má-fé, irresponsabilidade, dolo.

A Folha de S.Paulo tentou levar o assunto para a primeira página implicando nominalmente o maior acionista do banco, Silvio Santos. Não colou. O governo finge que não é com ele porque qualquer punição ou providência mais rigorosa envolverá fatalmente o governo anterior – visivelmente complacente com o mais popular apresentador de TV e dono da instituição.

A Febraban, teoricamente a maior interessada em sanear o mercado financeiro, faz de conta que nada aconteceu, foi apenas um acidente de percurso, sem prejuízo para os depositantes. Mas o prejudicado foi o contribuinte. Não importa: bancos precisam ser confiáveis, mesmo que banqueiros mereçam o xilindró.

A mídia é a grande responsável pelo encobrimento do vultoso desfalque. Silvio Santos não é apenas um apresentador de TV, é um empresário de comunicação, faz parte do exclusivíssimo CDV – Clube dos Donos da Verdade. A desmoralização de um, avacalharia o resto. Eles se detestam, mas precisam conviver e sobreviver. Se o conglomerado de Silvio Santos quebra e o seu principal acionista vai prestar contas na Justiça, cria-se um precedente perigoso.

Graças à disponibilização do acervo da Folha, este observador encontrou numa das primeiras edições do "Jornal dos Jornais" (2/9/1975) alguns dados interessantes sobre a concessão dos canais ao SBT pelo governo Ernesto Geisel e como foram transferidos bens e equipamentos da falida TV Continental para as emissoras de Silvio Santos. Esta incrível história de favorecimentos começou num governo de direita e continua, quase 40 anos depois, num de esquerda. Silvio Santos é um craque.

Apologia a várias mãos

Ronaldo Luiz Nazário de Lima é mais do que craque, é um Fenômeno. Com algumas lágrimas choradas na hora certa e diante da audiência apropriada reverteu um inexorável processo de decadência e encerrou a carreira gloriosamente. A mídia brasileira adora lágrimas, inclusive a mídia esportiva, teoricamente durona, viril.

Sem investigar, todos engoliram aquela história da disfunção da tiróide que impedia o tratamento contra a obesidade. Sem conferir com o que já haviam escrito anteriormente, as melhores penas do jornalismo esportivo puseram-se a saudar o "profissional disciplinado" que não faltava aos treinos, nem furava as concentrações. As convulsões no dia da final contra a França em 1998 mal foram lembradas. A lastimável forma física exibida na derradeira partida (contra o Tolima) não foi mostrada na reportagem sobre a sua despedida. Estragaria o espetáculo e o espetáculo é o que movimenta hoje a cobertura esportiva.

Irrepreensível a trajetória de Ronaldo Fenômeno: gols inesquecíveis, desempenhos gloriosos, articulação ímpar. Seu passado não está em discussão, seu presente, sim. Sua queda não foi trágica como acontece com tantos em tantas modalidades. Caiu bilionário. Por isso é que esta success-story precisou ser maquiada: o talentoso jogador escreveu o sinopse e o grosso da mídia a enfeitou.

Que preguiça...

No final da tarde da sexta-feira (18/2), a região metropolitana de São Paulo sofreu duas horas debaixo de uma tormenta com muito granizo e fortes ventos. Parte da cidade ficou sem luz, sem telefone, sem internet. Ruas encheram, o trânsito deu um nó. A confusão prejudicou o fechamento dos jornais de sábado e de domingo, também a impressão das revistas semanais. Em alguns bairros os serviços só foram restabelecidos na manhã seguinte. Mas nesta manhã seguinte – sábado (19) – os jornalões metropolitanos saíram sem referências ao acontecido na véspera.

Complô? Verão = cansaço, indolência, moleza.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Uruguai cria brigada anti-incêndios formada por presidiários - MARCIA CARMO

Um grupo de presos no Uruguai começou a trabalhar nas brigadas de prevenção contra incêndios na cidade de La Paloma, no departamento (Estado) de Rocha, na fronteira com o Brasil.
O projeto utilizando presidiários será levado ainda para outras regiões do país, com os Estados de Maldonado e Canelones.
A medida faz parte do pacote de reformas na área de segurança pública que vêm sendo debatidas no país desde que o presidente José "Pepe" Mujica assumiu a Presidência, em março de 2010.

No total, segundo o jornal "El Pais", de Montevidéu, o governo espera usar mais de dois mil presos, com penas leves e boa conduta, em diferentes programas que tenham como objetivo prepará-los para algum tipo de trabalho quando forem libertados.
"O trabalho reabilita" é o lema do governo, informaram à BBC Brasil assessores do Ministério do Interior. O coordenador geral do Sistema de Emergências, Gustavo Leal, disse que a tarefa dos presos que vão trabalhar na prevenção contra incêndio será "a poda de árvores e melhorias nas áreas com alto risco de incêndio florestal".
Os presos que quiserem e atenderem às exigências do governo vão trabalhar três meses, seis horas por dia, e receberão um pagamento mensal, de 3,7 mil pesos (cerca de R$ 310), que será depositado em uma poupança.
Cada um dos primeiros três grupos de presos, disse Leal, é formado por 20 detentos, entre homens e mulheres. Eles trabalharão acompanhados por agentes penitenciários.
Por cada dia trabalhado, segundo a imprensa local, o preso terá um dia a menos na cadeia. Em um censo recente, de janeiro deste ano, autoridades uruguaias constataram que o país de três milhões de habitantes tem 9.100 presos.
PROFISSIONALIZAÇÃO
Em janeiro do ano passado o país tinha uma população carcerária de 8.700. Mais de 60% dos presos são reincidentes, o que contribuiu para a discussão sobre a profissionalização dos detentos.
"O governo Mujica entende que eles precisam sair preparados e com uma opção de trabalho. O dinheiro também ajuda o novo início de quem sai da cadeia", disse o assessor de imprensa do Ministério do Interior, Fernando Gil.
O diretor do Instituto Nacional de Reabilitação (INR), Eduardo Pereira Cuadra, disse ao jornal uruguaio que já existe a lista com os 2.160 presos que "poderão ser liberados" a partir de um projeto de lei que também será enviado ao Congresso, prevendo medidas para o "descongestionamento" do setor penitenciário.
A ideia de incluir os presos nas brigadas de prevenção contra incêndio é só uma das medidas na área de segurança pública.

Empresa cria avião-espião com aparência de beija-flor - BBC Brasil

Uma empresa americana que desenvolve produtos aeronáuticos para o Pentágono apresentou nesta semana um avião-espião que cabe no bolso e que tem a aparência e o voo semelhantes aos de um beija-flor.
O protótipo, que custou cerca de US$ 4 milhões (aproximadamente R$ 6,6 milhões) e foi desenvolvido ao longo de cinco anos, pode voar por até 11 horas e carrega uma câmera capaz de espionar posições inimigas durante conflitos militares.
O dispositivo, batizado de Nano Hummingbird (Nano Colibri) voa batendo as asas como um pássaro de carne e osso e, com suas asas abertas, mede meros 16 centímetros.
O beija-flor mecânico é capaz de voar a uma velocidade de até 17 quilômetros por hora e pesa apenas 19 gramas.
PROPULSÃO
A aeronave foi produzida para a Agência de Pesquisa de Projetos Avançados do Departamento de Estado americano.
O Nano Colibri, que foi apresentado oficialmente para a imprensa nesta quinta-feira, usa apenas as suas asas como meio de propulsão. Os modelos atuais de aviões-espião dependem de propulsores para voar.
O avião-pássaro é movido a bateria, conta com motores e é guiado por meio de controle remoto.
Durante a demonstração de oito minutos desta quinta-feira, o colibri mecânico voou para dentro de um edifício e retornou ao seu ponto de origem.

Brasil prepara lançamento inédito de foguete já em 2012 - BBC Brasil

O Brasil prepara, para 2012, um feito inédito em seu programa espacial. Pela primeira vez, vai colocar no espaço, a partir do seu próprio solo, um foguete com um satélite a bordo.

Trata-se do Cyclone-4, foguete de fabricação ucraniana que deve ser lançado no ano que vem da base de Alcântara (MA), em uma parceria que começou a ser orquestrada em 2003. Pelo acordo, o Brasil entra com a base, e a Ucrânia, com a tecnologia do foguete.

Um lançamento bem-sucedido pode elevar o status dos dois países no cenário espacial global. No entanto, um dos dilemas do programa é quanto ao uso que o Brasil poderá dar ao Cyclone-4. Alguns especialistas ouvidos pela BBC Brasil consideram "altamente questionável" sua viabilidade comercial.

Uma questão-chave é a capacidade limitada de carga do Cyclone-4: para a chamada órbita geoestacionária, em que o satélite fica a 36 mil quilômetros de altitude e parado em relação a um ponto na superfície da Terra, o foguete só consegue levar carga de 1.600 quilos, o que é considerado insuficiente para muitos satélites de comunicação.

"O programa foi inicialmente proposto como uma empreitada de cunho comercial, e que deveria se sustentar com a venda dos serviços de lançamentos de satélites. Mas sua evolução não corrobora essa hipótese", diz José Nivaldo Hinckel, coordenador do departamento de mecânica espacial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).


MERCADO

Fontes ligadas à ACS, empresa binacional criada pela parceria Brasil-Ucrânia, admitem que será necessário encontrar um "nicho de mercado" para o Cyclone-4, já que muitos satélites públicos e privados não cabem no foguete. Mas a empresa diz que já está participando de concorrências internacionais e que negocia qual satélite participará do lançamento inicial do foguete.

Para Carlos Ganem, presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), o programa com a Ucrânia "inaugura um tempo novo" para o Brasil e permitirá que o país usufrua de sua vantagem geográfica.

Como Alcântara fica próxima à linha do Equador, lançamentos feitos ali permitem o uso eficiente do movimento de rotação da Terra, gastando 30% a menos de combustível no envio de foguetes ao espaço.

Além de serem considerados importantes pelo uso em telecomunicações, os satélites são muito usados para coletar informações sobre clima, navegação, ocupação de solo e monitoramento da região amazônica.

"São essenciais para que o Brasil exerça sua autonomia", opinou Ganem, dizendo que o país ambiciona ter satélites feitos em parceria com Argentina e África do Sul que possam ser lançados em Alcântara.

Para Hinckel, do Inpe, porém, "é difícil justificar um programa espacial autônomo (como o do Cyclone) sem que o segmento de comunicações geoestacionárias seja contemplado".

Fernando Catalano, professor de engenharia aeronáutica da USP de São Carlos, disse achar importante o desenvolvimento proporcionado à base de Alcântara, mas considera improvável que o lançador traga lucros de curto prazo para o Brasil ou que elimine a dependência do país para lançamentos de satélites.

PREPARATIVOS

Do lado brasileiro, a ACS diz que está preparando a parte estrutural de Alcântara para o lançamento do Cyclone-4.

Já do lado da Ucrânia, 16 empresas estão contribuindo para a construção do foguete, na cidade de Dnipropetrovsk (centro-leste do país). Segundo os projetistas, essa versão do Cyclone terá alta precisão e um aumento de 30% na capacidade de carregar combustível. O artefato terá vida útil estimada de entre 15 e 20 anos. Para Ganem, trata-se de "um lançador confiável, da escola soviética".

Para Catalano, é um foguete não muito grande nem muito caro, e a família Cyclone, existente desde 1969, tem um histórico bem-sucedido (em 226 testes de lançamento, houve apenas seis falhas).

Segundo a ACS, outro ponto importante é que não haverá contato humano com o foguete na base. Isso impediria a repetição do ocorrido em 2003, quando uma explosão no VLS (Veículo Lançador de Satélites) resultou na morte de 21 técnicos em Alcântara.

No entanto, Hinckel cita preocupações com o combustível propelente "altamente tóxico" que será usado no lançamento. A ACS alega que não haverá manuseio do combustível -viria da China, via navio--, apenas de seu recipiente.

Em aparente mostra da preocupação com a viabilidade comercial do projeto, telegramas diplomáticos divulgados pelo site WikiLeaks apontaram recentemente que a Ucrânia sugeriu aos Estados Unidos que lançassem seus satélites a partir de Alcântara.

Os documentos indicam que os americanos condicionaram seu interesse pela base à não transferência de tecnologia ucraniana de foguetes ao Brasil.

O embaixador ucraniano em Brasília, Ihor Hrushko, disse à BBC Brasil (em entrevista prévia ao vazamento do WikiLeaks) que formalmente não há acordo para a transferência de tecnologia no Cyclone-4, mas sim expectativa de que a parceria bilateral continue "para que trabalhemos em conjunto em outros processos".

"É um processo duradouro, de anos", disse o embaixador a respeito de transferência de tecnologia.

Ele afirma, porém, que o Brasil é o "sócio mais importante" da Ucrânia no continente --tanto que, em 10 de janeiro, o presidente do país, Viktor Yanukovich, telefonou
à presidente Dilma Rousseff para falar sobre a expectativa de criar uma "parceria estratégica" com o Brasil a partir do foguete --os dois presidentes esperam estar presentes no lançamento do artefato.

A ACS, por sua vez, afirmou que a expectativa de transferência de tecnologia existe, mas ressaltou que não é esse o objetivo do tratado binacional.

Ainda que o intercâmbio tecnológico seja considerado importante para os especialistas consultados pela BBC Brasil, alguns destacam que a não transferência acabou estimulando o desenvolvimento de tecnologias brasileiras.

É o caso do satélite CBERS-3, que será lançado na China em outubro, com o objetivo de monitoramento ambiental e controle da Amazônia: suas câmeras foram produzidas em São Carlos (SP), com tecnologia nacional da empresa Opto.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

As bengaladas do pacifista - Lucas Mendes

Ditadores bravos e mansos, cuidado com a bengala de Gene Sharp. Ele foi o inspirador e guia dos protestos que derrubaram Milosevic na Sérvia, os regimes da Ucrânia e Geórgia, os ditadores do Egito, da Tunísia, sacodem o Irã, Bahrein, Líbia, Iraque, Argélia. Quem mais? Incomodam Chávez, Putin e dezenas de democracias suspeitas.

Seu Politics of Nonviolent Action (Políticas de ação não-violenta) é um canhão de 902 páginas, publicado em 1973, mas sua arma mais usada é o breve e portátil From Dictatorship to Democracy (Da Ditadura à Democracia), de 90 páginas, traduzido para mais de 30 línguas. O download é fácil.

Quando foi publicado em russo, as duas livrarias que vendiam o livro pegaram fogo, uma delas por um coquetel molotov dos convencionais.

Os protestos na Tunísia e no Egito não foram espontâneos, sem líderes e sem planejamento. Embora ninguém esperasse um final tão rápido, foram muito bem coordenados, e sem Facebook e Twitter teriam fracassado.

Numa longa e minuciosa matéria, o "New York Times" revela as conexões dos jovens nas ruas e praças árabes com ativistas sérvios ligados ao Otpor, o movimento de resistência pacífica decisivo na queda de Milosevic que se orientou pelo manual de Gene Sharp e colaborou com tunisianos e egípcios.

Quando Ahmadinejad e Hugo Chávez se queixam que os protestos são inspirados e ensinados por agitadores internacionais, eles estão certos. Chávez já se referiu a ele em público e Ahmadinejad mandou fazer um filme de propaganda antiamericana rodado na TV estatal onde o personagem malvadop é inspirado em Gene Sharp, um suposto agente da CIA.

Este agitador tem 83 anos, está frágil, caminha com uma bengala e mora numa casa modesta perto do aeroporto de Boston com estantes de livros cheias até no banheiro. No teto há uma estufa onde cultiva orquídeas, um antigo relaxante. No perfil de onde vieram algumas destas informações, Philip Shiskin conta que Sharp, nascido em Ohio, é extremamente tímido, nunca se casou nem teve filhos e, desde a infância, teve poucos amigos, porque o pai, um pastor, não parava em lugar algum.

Sharp foi bem educado, com doutorado em Oxford. Durante uma longa temporada em Harvard, criou a Albert Einstein Institution, dedicada à pesquisa e promoção de resistência pacífica a ditaduras. O nome é uma homenagem ao genial cientista pacifista, mas seu modelo de estudo e inspiração é Gandhi, não o Mahatma, o sonhador, e sim o Mohandas, que, além de guru maior da resistência pacifica que expulsou os ingleses da Índia, era "um político calculista".

Afiado e conciso, Sharp explica: "As ditaduras existem porque o povo consente". No livro ele dá uma receita com 198 táticas de resistência pacífica. "O importante é parar a máquina do governo. Se os soldados não dispararem, se houver um curto circuito nas comunicações e o sistema de transporte parar, os ditadores poderão dar ordens, mas não acontecerá nada".

Numa entrevista em 2002, Sharp disse que os estudantes na Praça Celestial da Paz em Pequim quase derrubaram o governo chinês, mas faltou estratégia. "Os funcionários públicos jogavam dinheiro em cima dos estudantes, mas não entraram em greve e ninguém planejou parar o sistema de transportes."

Sharp perdeu a verba que financiava seu Instituto Einstein e raramente sai de seu refúgio em Boston. O nome dele é destaque nos jornais, mas não tem dado entrevistas. Alimenta a subversão pacífica pelos livros e pela internet, mas em 1992, conta Shishkin, Sharp saiu de barco da Tailândia e entrou às escondidas em Mianmar para convencer os guerrilheiros a trocar a luta armada pela sua cartilha sem violência.

Para entender a explosão de protestos no mundo árabe não é preciso ler os livros de Sharp. Eles enriquecem a informação, mas o essencial já está nos jornais, como os movimentos egípcio, tunisiano e outros estão conectados há muito tempo pelo Facebook. Sharp, o inspirador dos protestos, não sabe se esta explosão vai desaguar em regimes livres e simpáticos ao Ocidente.

Vamos descobrir com ele se o gene da democracia está no DNA do mundo árabe.

Fidel Castro pede que intelectuais cubanos e estrangeiros "salvem" o mundo - EFE

Em um encontro com intelectuais cubanos e estrangeiros, o ex-ditador de Cuba Fidel Castro fez o apelo para que o grupo "salve" a espécie humana e assuma um papel "ativo" diante de problemas ameaçadores, como uma eventual guerra nuclear e as crises de alimentos provocadas pela mudança climática.

Fidel reuniu-se com o grupo durante a Feira Internacional do Livro de Havana, em seu primeiro ato público deste ano e que foi transmitido pela emissora de TV estatal.

Durante o encontro, o ex-líder abordou assuntos como a alta dos preços dos alimentos, a mudança climática e as revoltas populares ocorridas no Egito e na Tunísia.

Assim como na última de suas "Reflexões", dedicada à revolução no Egito, Fidel Castro definiu o ex-ditador Hosni Mubarak como "um grande estrategista" para esconder dinheiro enquanto 80% dos egípcios vivem na pobreza.

Em linhas gerais, insistiu durante o ato na necessidade em salvar a humanidade, ameaçada pelas "colossais energias que os cientistas foram capazes de pôr nas mãos do homem" e pela própria capacidade autodestrutiva do ser humano.

Apesar disso, se declarou "otimista" e disse em sua conversa com os escritores, historiadores, filósofos e pesquisadores que acredita na preservação da vida humana.

"Se alcançamos que os intelectuais compreendam o risco que estamos vivendo neste momento, em que a resposta não pode ser adiada, talvez consigam persuadir as criaturas mais auto-suficientes e incapazes que já existiram: nós, os políticos", avaliou.

"Não se trata de salvar a humanidade em termos de séculos ou de milênios: é preciso começar já a salvar a humanidade", afirmou o ex-ditador cubano.

A televisão cubana transmitirá na quarta-feira a segunda parte deste encontro de Fidel Castro com intelectuais.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Projeto obriga os eleitos a matricularem seus filhos em escolas públicas.

Uma ideia muito boa do Senador Cristovam Buarque.
Ele apresentou um projeto de lei propondo que todo político eleito (vereador, prefeito, Deputado, etc.) seja obrigado a colocar os filhos na escola pública.

As conseqüências seriam as melhores possíveis.
Quando os políticos se virem obrigados a colocar seus filhos na escola pública, a qualidade do ensino no país irá melhorar. E todos sabem das implicações decorrentes do ensino público que temos no Brasil.

SE VOCÊ CONCORDA COM A IDEIA DO SENADOR, DIVULGUE ESSA MENSAGEM.

Ela pode, realmente, mudar a realidade do nosso país.
O projeto PASSARÁ, SE HOUVER A PRESSÃO DA OPINIÃO PÚBLICA.

http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82166

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 480, DE 2007
Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.

PARABÉNS PARA O SENADOR CRISTOVAM BUARQUE.
BOA SORTE JUNTO A SEUS PARES.

IDÉIA SENSACIONAL!

Eles já gostaram mais do futebol - HUMBERTO PERON

O pior que pode acontecer para um profissional é ele trabalhar apenas por obrigação. É aquele momento que ele vai para sua atividade com a missão de fazer o mínimo possível, para não ser mandado embora e voltar no dia seguinte. Não dá um sorriso, não faz nada além do programado, não gosta de falar do que faz e nem demonstra o mínimo carinho com que fazem.

Alguns, com talento, conseguem disfarçar melhor, fazem suas tarefas no automático, com a intenção de ficar livre o mais rápido da tarefa e, quando a terminam, vão embora o mais rápido possível.

O que eu descrevi acima acontece em qualquer ramo profissional, mas como aqui falamos de futebol, afirmo que os jogadores de futebol profissional atualmente gostam bem menos de sua profissão que aqueles que estavam na ativa não faz muito tempo.

Aqui não falo daquelas baboseiras como amor à camisa, profissionalismo, nível intelectual dos jogadores. Falo do amor a profissão e ao jogo.

Quando você fala com algum jogador aposentado, independente condição financeira dele no momento, ele diz com alegria dos tempos de jogador. Gosta de contar histórias do que acontecia nos bastidores e vestiários, mostra respeito da carreira ao recordar o tempo que precisava dividir o lanche com o companheiro para ir treinar nas categorias de base, lembra perfeitamente de jogos, fala com respeito de companheiros e das malandragens que o futebol cada vez mais profissional - será mesmo? - não permite mais.

Para não ficar apenas em histórias é sempre bom dizer que no campo os jogadores também mostravam mais prazer. Qualquer treino era muito mais alegre do que é hoje. O jogador mostrava satisfação em treinar com bola, ele queria ter contato com a pelota o maior tempo possível.

Quando atividades acabavam, diferente de hoje quando os jogadores correm o mais rápido possível para os vestiários, eram formadas várias rodinhas de atletas e membros da comissão técnica que conversavam sobre futebol - e nesses grupos se juntavam jornalistas. Várias jogadas que decidiram jogos foram criadas nesses bate-papos informais, sem dizer os problemas que eram resolvidos.

Talvez o jogador não ame tanto o futebol porque existem várias atividades que o afastem do esporte. Muitos deles precisam estar em vários eventos longe dos campos, como lançamentos de produtos, desfiles de modas, lançamentos de boneco. E essas atividades em paralelas tiram do jogador a atenção do que eles deveriam ter com sua profissão.

Também é preciso dizer que atualmente o jogador se cansa muito mais rápido da profissão. Não faz muito tempo -- eu sei que tenho voltado muito ao passado neste texto, mas é preciso fazer a comparação - o menino se divertia com o futebol, antes de tentar a chance em um clube. Hoje isso não acontece. Perto dos 10 anos, alguns garotos já têm a vida de um jogador profissional. Portanto é natural, que perto dos 25 anos eles já não aguentem mais o futebol, já que para eles o esporte nunca foi um prazer e sempre foi uma obrigação.

É bom pensarmos nisso. O nível técnico futebol caiu muito porque estamos criando jogadores que não amam e não sentem prazer em jogar futebol.

Até a próxima.

Mais pitacos em: www.twitter.com/humbertoperon

DESTAQUE
A melhor definição para um jogador parar foi dada pelo mestre Zizinho - para quem não sabe o jogador foi o maior ídolo de Pelé. Ele dizia: "Decidi parar quando eu percebi que eu dava um drible no zagueiro e, logo depois, ele já estava na minha frente. Dava mais uma finta e não me livrava dele, então tinha que driblá-lo de novo". Isso já estava acontecendo com Ronaldo. O craque que sempre conseguia fazer o impossível - é só ver seus vários renascimentos após as suas graves contusões -- e aparecer como o salvador sentiu que não tinha mais condições de fazer isso. No final do ano passado, quando o corpo cansado e baleado não conseguiu ajudar o Corinthians na reta final do Brasileiro e agora, contra o Tolima, quando ele pouco pode fazer. Ronaldo merece todas as homenagens, pois foi um atacante excepcional, tem uma coleção de títulos considerável e termina a carreira como o jogador que fez mais gols em Copas do Mundo.

ERA PARA SER DESTAQUE
O São Paulo e os são-paulinos sempre se orgulharam de dizer que tinham dirigentes que fugiam da mediocridade das pessoas que dirigem o nosso futebol. Mas, ao aceitar receber e ficar com a famosa "Taça das Bolinhas", o clube mostrou que é comandado por dirigentes tão ruins quanto os outros clubes. Ao ficar com a taça, o clube renegou todo o seu passado de tentar mudar o rumo do nosso futebol. Ao receber o troféu, quem dirige o time atualmente esqueceu que o clube teve papel fundamental na criação do Grupo dos Treze e na organização da Copa União - cujo campeão foi o Flamengo. O São Paulo não vai ser maior em ter o troféu no seu memorial, mas perdeu muito da sua credibilidade em aceitar ficar com o a taça. Mais uma situação patética do nosso futebol, assim como foi recente unificação dos títulos brasileiros.

Sonzera! apresenta Suíte Super Luxo e Watson - 19/02



Jeito Feroz - Maskavo [ Carlos Barbosa/RS ]

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Bolsas de NY e de Frankfurt anunciam fusão e criam megabolsa

As Bolsas de Valores Nyse, de Nova York, e a Deutsche, de Frankfurt, anunciaram nesta terça-feira a fusão que deve dar corpo à maior Bolsa mundial em volume de negócios. O comando da nova empresa será dividido em 60% da Deutsche, enquanto a Nyse ficará com os 40% restantes.

Baseado nos dados de 2010, a estimativa é de que 37% da receita da empresa venha do mercado de derivativos, títulos financeiros derivados de outros ativos, como por exemplo ações.

Segundo o comunicado conjunto, divulgado a partir das cidades-sede das Bolsas, a fusão das companhias deve "criar o primeiro grupo mundial de intercâmbio global, que será líder mundial em derivativos e administração de risco -- o maior e mais conhecido instrumento para captação de capital e comércio de ativos", declararam os diretores de ambas as empresas via comunicado.

A criação da megabolsa mundial vinha sendo cogitade desde o segundo semestre de 2010. Com a sinergia, o grupo formado estima "economia de US$ 400 milhões de dólares e oportunidades de incremento de receita".

As companhias baseadas em Frankfurt e Nova York estão no centro de um palco de fusões montado na semana passada e esquentado na segunda-feira depois que a BMF&Bovespa afirmou que está atenta a oportunidades e que tem particular interesse no continente asiático. A Bolsa brasileira é a quarta maior do mundo em capitalização de mercado e já mantém aliança com o norte-americano CME Group.

Ressaltando como preocupações políticas pesaram no negócio de hoje a onda de consolidação do setor, com a recente alteração da proposta da Singapore Exchange de US$ 7,9 bilhões pela rival ASX para permitir mais diretores australianos em um conselho de administração combinado entre as Bolsas. A Bolsa de Cingapura tenta ganhar apoio de parlamentares australianos, preocupados em ceder o controle da Bolsa de Valores do país.

O nacionalismo é um dos principais obstáculos para fusões na indústria uma vez que Bolsas de Valores ao redor do mundo são consideradas como símbolos de orgulho nacional e importantes para a atração de negócios e capitais. As transações, incluindo oferta da London Stock Exchange pelo TMX Group, controlador da Bolsa de Valores de Toronto, enfrentam intensa análise por reguladores e políticos ao redor do mundo.

Sonzera! apresenta Suíte Super Luxo


segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Filme lança olhar incomum sobre o desastre de Chernobyl - MIKE COLLETT-WHITE

Nem filme de catástrofe nem tragédia familiar, um novo filme sobre a explosão de 1986 na usina nuclear de Chernobyl analisa, em vez disso, a razão pela qual algumas pessoas decidiram permanecer na região, mesmo cientes de que corriam perigo mortal.

"Innocent Saturday", que faz parte da competição oficial do festival de cinema de Berlim, acompanha o jovem funcionário do Partido Comunista Valery Kabysh quando seus chefes, que num primeiro momento tentaram encobrir o que tinha acontecido, o informam da extensão real da catástrofe.

Ele corre para a cidade vizinha de Pripyat e tenta embarcar em um trem com sua namorada, mas quando a rota de fuga é fechada ele é rapidamente sugado de volta para a vida cotidiana, feita de casamentos, compras, música e bebida.

Seus antigos colegas de banda precisam de um baterista e já têm vários shows marcados, então Valery se junta a eles e eles decidem viver a vida plenamente, por mais curta ela possa ser.

Apenas de vez em quando, quando um noivo recorda que sua noiva aguarda um filho, é que a ameaça invisível da radiação se intromete em dia aparentemente idílico.

"O que me fascinou foi o porquê de pessoas que sabiam da catástrofe não fugirem da cidade", disse o diretor russo Alexander Mindadze. "Talvez porque o perigo era invisível?"

Ele disse que, apesar de ter acontecido há 25 anos, o desastre de Chernobyl ainda está presente na mente dos habitantes da antiga União Soviética.

O ator Anton Shagin, que fez o papel de Valery, tinha apenas 2 anos na época do desastre mas se recorda de que alguns de seus colegas, que tinham estado perto do epicentro da catástrofe, tinham que aguardar suas refeições em uma fila separada, porque tinham necessidades alimentares diferentes.

Svetlana Smirnova-Marcinkevich, no papel da namorada, Vera, ainda não tinha nascido em 1986 mas conhece muitas pessoas afetadas pelo pior acidente nuclear da história.

Apesar de mostrar o fato de as autoridades não terem avisado a população sobre o perigo da radiação --o produtor Alexander Rodniansky disse que isso foi "o drama do silêncio, o drama da grande mentira"--, Mindadze disse que seu filme não é político.

E, embora a presença do perigo tenha intensificado a consciência que todos tinham da vida, ele acrescentou que seu filme diz respeito a algo peculiar dos habitantes do bloco soviético: o fatalismo.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Para socióloga, megaoperação é "divisor de águas" na história das polícias do Rio - Janaina Garcia

Uma operação “bastante simbólica, divisora de águas” na história das polícias do Estado do Rio de Janeiro e que servirá de “contribuição importante para uma virada de página” daqui em diante. É essa a análise da socióloga Julita Lengruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio, sobre a megaoperação desencadeada nesta sexta-feira (11) por agentes da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público do Estado. Desde o início da manhã, 35 pessoas já foram presas na chamada Operação Guilhotina --27 delas são policiais civis (oito) e militares (19). Ouvidora das polícias do Estado do Rio de 1999 a 2000, a socióloga, no entanto, fez um alerta: ainda que a ação coordenada de hoje tenha apresentado resultados concretos, o combate à corrupção policial tem ainda uma tarefa extensa e contínua pela frente.

“Foi uma operação que representa um divisor de águas no combate a esse tipo de corrupção, pois até então o que tínhamos eram muitos casos isolados de corrupção”, disse. “Mas a gente espera que a iniciativa não se esgote em si mesma, e sim, que abra caminho para uma grande limpeza na corporação."

Na operação, a força-tarefa coordenada pela MP apurou que policiais vendiam informações a grupos criminosos do Rio, tais como traficantes de comunidades recentemente ocupadas, além de se apropriarem de apreensões realizadas em operações para venda posterior ao tráfico.

Para a estudiosa, pensar em acabar com a corrupção é praticamente uma utopia. O que é possível, defende, é reduzir os mecanismos pelos quais ela ainda se manifesta.

“A corrupção está presente em variados graus da sociedade, em todos os níveis de governo. Ela precisa é ser controlada, absolutamente combatida, pois o ser humano é muito hábil quando quer cometer desvios”, comentou. “É preciso uma grande reforma na polícia, envolvendo não apenas vontade política, como também modernização da corporação e mecanismos de controle interno e externo que, bem azeitados, mostrem que a corrupção não é um bom, mas um péssimo negócio."
Ouvidorias deficientes

Os mecanismos aos quais a especialista em segurança se refere passam necessariamente, defende ela, por corregedoria e controladoria internas atuantes e, sobretudo, por sistemas de ouvidoria eficientes --qualidade que elas deixaram de possuir, pontuou, desde o final da década de 1990.

“Tivemos nos anos 2000 um esmorecimento desse controle externo; elas se tornaram uma pálida imagem. E isso a gente precisa recuperar. No início do governo Lula (2003/2006 e 2007/2010), tínhamos 14 ouvidorias de polícia em 14 Estados; oito anos depois, ainda que nos direitos humanos se tenha avançado, esse número permanece igual --o que é indesculpável."
Nova York e Bogotá

Se modernização e mecanismos de controle podem ser eficientes, Lengruber citou que a “vontade política” de mudar um cenário de corrupção policial já deu resultados, também no fim dos anos 1990, em cidades como Nova York, nos EUA, e Bogotá, capital colombiana, em uma época em que a ação de gangues e os altos índices de criminalidade eram realidades comuns nas duas metrópoles.

“Essas cidades se decidiram pelo processo de limpeza das polícias e as modernizaram, fatores importantes, inclusive, para a redução da criminalidade como um todo”, defendeu. “Não adianta você querer derrubar índices negativos se percebe que inúmeros de seus parceiros são, na verdade, parceiros de atividades criminosas, aí não tem mesmo como avançar. Por isso que se espera que essa determinação de limpar, na polícia do Rio, seja permanente”, concluiu.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

A deselegância em ser violento - Bruno Prieto

No discurso em que dissolveu a ordem teosófica na Índia, Krishnamurti expõe que o mundo, em seus cinco mil anos de civilização, já teve mais de quinze mil guerras. A média de três guerras por ano já foi ultrapassada desde 1960. O mundo hoje é assolado por tanta violência, de todos os tipos, que é anormal ter fé em processos pacíficos. A violência extrapolou dos campos de batalha para as cidades e para os lares de povos de todas as partes. Há de se ver que o Egito não é o motivo destas linhas. Foi a Costa do Marfim com seus quase trezentos mortos. E o Congo com seus estupros em massa. O senhor do Maranhão com seus oito filhos tido com sua filha. Josef Fritz. A mãe que jogou seu recém nascido por um muro de mais de dois metros de altura. A namorada que avança no namorado com uma garrafa na mão. A mãe que rouba a pensão do filho e chama ele de gay e drogado. Se o limite dos campos de batalha são os lares então estamos em um período de trevas. Há deselegância e violência em atos mais simples. Vi com meus olhos uma pessoa dizer para outra: olha, acho que o que você faz é uma bosta. E pensar que em dias mais auspiciosos era mais prudente ficar calado do que abrir a boca para fazer esse tipo de coisa. A tristeza é enorme. A violência da televisão é apenas ilustrativa, é notícia para boi ver. Quem consegue dormir tranquilo desse jeito? Tem no futebol a falta de respeito para com o profissional adversário. Me parece que, dentro das quatro linhas, existem mais inimigos do que competidores. É uma correria selvagem deslavada com muitas canelas, torções de joelho, estiramentos, do que a inteligência do toque de bola do time catalão. Muitos monges meditam. Muitas pessoas rezam. O stress da vida ocidental sai pelo suor em academias. Nada justifica tanta falta de respeito e é visível que a violência chegou até as pessoas omissas e desprotegidas. Atinge a todos nós subliminarmente porque, em nosso mundo dentro da nossa cabeça, existe espaço para os dias em que tudo deu errado e descontamos nossa raiva no lombo do cachorro ou na pessoa amada. No livro Sidarta, de Herman Hesse, tem um parágrafo que ilustra as três virtudes que toda pessoa deveria exercitar: pensar, esperar, jejuar. Para o caso da violência, de dentro de nossa alma para fora, para não ferir alguém ao nosso redor, pensamos nos atos positivos e negativos para justificar qualquer violência. Esperamos pra ver se passa esse torpor. E deixamos os excessos de lado pra fazer algo que seja construtivo. Se houver três guerras por ano de novo, elas serão coisas de gente gananciosa porque a vida já é perigosa em si.

Ombudsman, o exercício da solidão - Lilia Diniz

Canal de comunicação entre o leitor e o jornal, o ombudsman não se restringe a elaborar erratas ou fazer a crítica interna de uma publicação. É a voz por meio da qual a população pode reclamar e opinar sobre a conduta do veículo. No segundo episódio da série de programas gravados na Espanha, o Observatório da Imprensa, da TV Brasil, exibiu na terça-feira (8/2) uma entrevista de Alberto Dines com a ombudsman do jornal El País, a jornalista Milagros Pérez Oliva. The New York Times, The Washington Post, Le Monde e The Guardian são exemplos de impressos que também adotam o
ombudsman em suas redações. Dos maiores diários brasileiros, apenas a Folha de S.Paulo – pioneira na América Latina – e O Povo (Fortaleza, CE) contam com um ouvidor em seus quadros.

Na Espanha, a função é batizada de "Defensor del lector". Desde que o cargo foi instituído, em 1985, dez jornalistas já ocuparam a função no El País. Durante o mandato, os profissionais têm a prerrogativa de realizar investigações internas para esclarecer dúvidas dos leitores. Este mês, Milagros completa dois anos no cargo. Há mais de 25 anos em El País, Milagros foi redatora-chefe por mais de uma década e encarregada de idealizar e coordenar o caderno mensal de saúde da publicação. Professora da Escuela de Periodismo UAM-ELPAÍS, Milagros se destacou por sua atividade na área de deontologia.

A função de ouvidor, na avaliação de Dines, é uma das mais importantes em um jornal moderno. "É a que confere legitimidade à imprensa porque é o freio ao contrapoder exercido pela imprensa", avaliou. Na abertura da entrevista, Dines perguntou como Milagros se sente realizando esta tarefa na qual se pode acumular inimigos. "Não é fácil, mas é muito interessante", disse a jornalista. Milagros destacou que o cargo é cercado por muitas responsabilidades, mas também é uma oportunidade de observar "a outra face": "Me permite ver como os leitores julgam nosso trabalho e é um ensinamento extraordinário", sublinhou.

Aprender com os erros

Dines questionou se as críticas dos leitores chegam a promover mudanças concretas no trabalho dos jornalistas. "É muito doloroso para uma pessoa que cometeu um erro aparecer publicamente, ter seu nome e seu erro mostrados com luzes de neon num artigo dominical, que é o dia de maior circulação, numa das páginas mais nobres do jornal", explicou Milagros. A ouvidora do El País contou que procura ser respeitosa no cumprimento da função porque o capital mais importante de um jornalista é a sua credibilidade. "É injusto que às vezes, por um erro, se possa manchar uma longa trajetória profissional", ressaltou. Nesse aspecto, Milagros tenta refletir sobre as causas do erro e quais falhas nos mecanismos de controle de qualidade permitiram que ocorresse. O objetivo principal não é punir o jornalista, mas aprender com erro e, assim, promover um avanço na qualidade da publicação.

Para a ouvidora do El País, poucos jornais instituem ombudsman porque o ouvidor é visto como uma figura incômoda. Além disso, a imprensa se considera um "poder intocável". Quando a sociedade civil critica a atuação ou o partidarismo da imprensa, esta acusa os que a criticam de querer dominá-la e atentar contra a liberdade de expressão. "Eu acho que a imprensa necessita da crítica social porque sua função é muito importante na sociedade moderna e na democracia. É um pilar da democracia. Eu acho que essa postura da própria imprensa, como um poder inquestionável, nos prejudica muito. E muitos meios ainda estão situados nessa ‘poltrona’ de que ‘nós somos intocáveis’ e se protegem na liberdade de expressão e na liberdade de informação para não admitir que há coisas que poderiam fazer melhor", afirmou.

Na opinião de Milagros, a figura do ombudsman não pode ser apenas "decorativa", um artifício para o jornal alegar que cumpre com as regras de transparência. A jornalista garantiu que El País obedece escrupulosamente às normas do Estatuto do Ombudsman. A direção não pressiona o ouvidor, sequer comenta informalmente as colunas nos corredores da empresa. "Ao contrário, sempre tive a máxima receptividade quando dirigi a eles pedindo-lhes explicações sobre um assunto. E acho que isto é fundamental, porque se não é assim, não é possível exercer [o cargo]", disse. Milagros considera a falta de feedback da direção da publicação como uma virtude.

Absoluto inatingível

"A dificuldade principal deste cargo, no meu ponto de vista, é que combina duas coisas que são ‘mortais’ no jornalismo. Uma, é que é absolutamente solitário. O ombudsman não pode pedir conselho, não pode pedir nada. Está sozinho com sua decisão de quais casos publica, como os publica e como os resolve. Ele está absolutamente sozinho. E a segunda característica é que, ao contrário, tem uma visibilidade extraordinária. Ou seja, máxima solidão e máxima visibilidade. Isso é terrível", contou Milagros.

Milagros disse que nunca sofreu nenhum tipo de revanche ou vingança e defendeu a independência do ouvidor: "Isto faz parte do contrato implícito do que significa ter esta figura. Se você quer ter esta figura e quer tê-la de verdade, não pode ter uma pessoa escrava das ameaças, não pode ter uma pessoa que pense que logo vai sofrer represálias". A linha editorial do El País sobre a política José Luis Rodríguez Zapatero, presidente do governo da Espanha (cargo equivalente ao de primeiro-ministro) foi um dos temas delicados que Milagros tratou em suas colunas. "Chegaram a mim muitas cartas de leitores perguntando se El País havia mudado sua linha editorial em represália ao governo porque este havia tomado decisões que supostamente prejudicavam o grupo PRISA. Um ombudsman que recebe essas cartas sobre um tema tão central e tão nuclear não pode fazer sua coluna dominical sobre erros de ortografia", exemplificou.

Dines comentou que por ser um jornal global, El País tem o desafio de tentar atender a exigências de leitores de diversos países. Milagros contou que após a morte do ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner, o jornal recebeu uma avalanche de críticas. Para muitos leitores argentinos, El País não deveria ter publicado artigos expondo as "sombras da figura de Kirchner" logo após a morte de seu "herói". "Há uma questão que é difícil de administrar: vivemos na cultura do imediatismo. E cada vez mais. Então, qualquer pessoa acha que aquilo que está lendo naquele momento é o absoluto. Não nos referimos ao que dissemos ontem ou ao que vamos dizer amanhã. Aquilo é absoluto. Se aquela informação me desagradou, faço um juízo absoluto de todo o jornal: ‘Já não compro mais El País’, ‘El País me desapontou’", disse. Milagros afirmou que a objetividade absoluta não existe, mas que os jornalistas devem sempre buscá-la.

Críticas na peneira

Outra dificuldade que Milagros enfrenta é selecionar as reclamações que o jornal irá aceitar. "Por um lado, tenho críticas de leitores que se queixam de que El País não tem sido suficientemente imparcial num determinado assunto, que seja a política de [Hugo] Chávez na Venezuela ou a política do [ex-presidente] Lula. Ao mesmo tempo, tenho uma série de leitores que me pedem que El País se pronuncie mais abertamente a favor ou contra uma coisa." E entre os leitores que pedem "o máximo compromisso" do jornal com uma causa, há ainda diferentes correntes ideológicas impossíveis de conciliar.

Dines colocou em questão a relação entre jornalistas e as fontes e a proliferação de assessorias de imprensa. Ao longo de sua experiência de 25 anos de jornalismo, a ombudsman observou que exercia cada vez menos controle sobre o que publicava e gradativamente se afastava das fontes. "Uma grande parte da informação que nos chega agora não é mais uma informação próxima. É uma informação que pode ter partido do Banco Mundial, da Universidade de Wisconsin, em muitos lugares, remotamente, e às quais quase não se tem acesso exceto por estes canais controlados pela própria fonte informativa. Você quer falar com o Banco Mundial sobre uma coisa e logo lhe encaminham ao setor de imprensa", relatou. Nesse cenário, a experiência dos jornalistas seniores é indispensável, na avaliação de Milagros. É quem pode perceber os interesses ocultos por trás das informações.

A redução da oferta de publicidade nos jornais, agravada pela crise financeira internacional, afeta diretamente as redações. Dines questionou como El País faz para cortar custos e, ao mesmo tempo, garantir a qualidade do produto mantendo em seus quadros jornalistas experientes. Com a crise financeira, outros problemas estruturais da imprensa foram agravados, na avaliação de Milagros: "A crise de modelo industrial, de modelo de empresa jornalística, e uma crise de credibilidade do jornalismo, que são anteriores à crise econômica e que a crise econômica precipitou", disse.

Informação cara

É preciso observar, na opinião de Milagros, que há milhões de leitores de jornal, mas nem todos querem pagar pelo conteúdo oferecido. Quem está "ganhando dinheiro em quantidades astronômicas" com as informações produzidas pelos grandes jornais são as "transportadoras": as empresas que oferecem os serviços de conexão, as telefônicas. "Os leitores têm que se perguntar se este modelo pode chegar muito longe porque se alguém não está disposto a pagar pela boa informação, terá informação, certamente – porque a internet garante que todo mundo tenha toneladas de informação, muito mais informação do que possa digerir –, mas essa é uma informação que vem com o interesse da fonte", disse a jornalista.

O leitor tem que estar consciente de que a informação gratuita tem distorções e "pedágios", ao contrário da informação independente produzida por jornalistas e que "custa muito dinheiro". Para Milagros, está claro que o futuro será a internet, ainda que o jornal impresso continue por muito tempo "para os leitores que, como eu, ainda amamos o papel". Milagros contou que a grande pergunta feita em todas as redações e por todos os diretores do jornal é: sobreviveremos tempo suficiente na edição impressa, teremos leitores suficientes ainda em nossa edição impressa para fazer essa transição?

Milagros chamou a atenção para o fato de que, nesta fase de transição e de crise da mídia, é preciso identificar no novo jornalismo digital quais são os riscos que podem afetar a qualidade da informação. Um deles, por exemplo, é o tempo. Na edição digital, o tempo desaparece. "Não podemos renunciar a continuar dando os furos, mas o grande risco é que, na tensão entre rapidez e segurança, nos inclinemos excessivamente em favor de dar a notícia exclusiva, pela rapidez, e perder em segurança", alertou Milagros. A ombudsman do El País disse que os jornais "sérios" correm o risco de utilizar a internet de uma maneira equivocada. Para ter maior audiência, podem perder credibilidade e se transformarem em meios de entretenimento.

Rápido e curto

Outro "inimigo" do jornalismo da atualidade identificado por Milagros é "uma cultura geral que tende ao fast e ao short". Cada vez mais há a crença de que qualquer estímulo visual ou auditivo profundo ou extenso é "chato". Os leitores querem "as coisas mastigadas" e em pequenas porções. "Se nós caímos nesta tentação, se pensamos que, com isso, facilitamos que nossos leitores venham até nós, na realidade o que estamos fomentando é um tipo de cultura na qual o leitor nunca acaba tendo uma visão completa dos problemas. E isso é muito grave, porque a sociedade na qual vivemos não é mais simples", disse a jornalista. Milagros ponderou que não é possível entender um mundo complexo e que muda cada vez mais depressa apenas com pílulas de informação.