Representante da OEA (Organização dos Estados Americanos) no Haiti há dois anos, o brasileiro Ricardo Seitenfus deverá ser oficialmente destituído do cargo em breve --decisão que ele mesmo interpreta como resposta a sua "postura crítica" em relação ao papel da comunidade internacional na recuperação do país caribenho.
O estopim teria sido uma entrevista ao jornal suíço Le Temps, na qual o brasileiro questiona não apenas o papel das tropas da ONU no Haiti, como também dos principais países doadores.
"A Minustah (Missão de Paz da ONU) não pode ser tratada como se fosse uma verdade divina, como se não pudesse ser objeto de reservas", disse Seitenfus em entrevista à BBC Brasil.
Devastado por um terremoto em janeiro, que deixou mais de 200 mil mortos, o Haiti enfrenta agora uma crise eleitoral: ainda não se sabe como e quando se dará o segundo turno da eleição presidencial, inicialmente marcada para meados de janeiro.
Para o brasileiro, a comunidade internacional está "decidindo" pelo governo do Haiti no processo de reconstrução e as acusações de corrupção no governo local fazem parte de um "discurso ideológico".
"Se a gente imagina que pode fazer isso (reconstruir o país) por meio da Minustah e por meio das ONGs, nós estaremos enganando os haitianos e enganando a opinião pública mundial", diz.
BBC Brasil - O senhor já foi comunicado oficialmente sobre sua destituição do cargo?
Ricardo Seitenfus - Não, ainda não. Eu tinha decidido não tirar férias agora em dezembro, para estar no Haiti nessa fase delicada da eleição. Mas o secretário-geral (José Miguel Insulza) pediu para que eu tirasse as férias. Concluo que nos dois meses, de fevereiro e de março, previstos para que eu ficasse no Haiti, não ficarei mais.
Mas esse não é o problema. O mais grave é o que está acontecendo agora: o representante da OEA não está no Haiti durante uma crise eleitoral. E eu tenho uma capacidade de diálogo com o governo haitiano que ninguém na OEA tem e que poucas pessoas da comunidade internacional têm.
O senhor está no Haiti há dois anos. Houve algum fato mais recente que o tenha levado a adotar essa postura mais crítica?
Logo após o terremoto, foi feito um trabalho excepcional. Na medida do possível, os haitianos receberam ajuda, socorros... Foi feito um mutirão internacional que foi positivo. No entanto, terminada a urgência, as coisas começaram a não funcionar como deveriam. Em março, houve uma reunião com os doadores, em Nova York, na qual foram recolhidos US$ 11 bilhões para o Haiti. Acontece que esses recursos não chegaram ao país.
Criou-se uma comissão internacional para a recuperação do Haiti que até hoje está procurando suas verdadeiras funções. Enfim, as promessas da comunidade internacional não foram cumpridas. E enquanto isso, a situação dos desabrigados continua a mesma.
Isso tudo mudou sua visão dos fatos?
Eu diria que houve uma tomada de consciência progressiva quanto às nossas limitações e, por que não dizer, de nossos fracassos no Haiti... digo, nós da comunidade internacional.
Além disso, no dia 28 de novembro, dia da eleição, foi discutido na reunião do Core Group (países doadores, OEA e Nações Unidas), algo que me pareceu simplesmente assustador. Alguns representantes sugeriram que o presidente René Preval deveria sair do país e que deveríamos pensar em um avião para isso. Eu ouvi isso e fiquei estarrecido.
O primeiro-ministro do Haiti, Jean-Max Bellerive, chegou e logo disse que não contassem com ele para qualquer solução à margem da Constituição e perguntou se o mandato do presidente Preval estava sendo negociado. E foi um silêncio na sala.
Ao meu lado estava o Albert Randim, secretário-adjunto da OEA, ou seja, eu não poderia falar, já que a OEA estava sendo representada por ele. Mas frente ao silêncio dele e dos demais, eu pedi a palavra e lembrei da existência da carta democrática interamericana e que qualquer discussão sobre o mandato do presidente Preval, para mim, seria um golpe. Me surpreendi muito com o fato de o secretário-adjunto da OEA ficar em silêncio diante da possibilidade de encurtamento do mandato de um presidente legitimamente eleito.
Mas muitos defendem um governo provisório como solução ao impasse eleitoral no país...
Eu sempre fui contrário. Um governo provisório não teria legitimidade das urnas e seria o reconhecimento do nosso fracasso. Se depois de quase sete anos (da Missão de Paz no Haiti) nós não conseguimos organizar uma transferência de poder de forma democrática, eu me pergunto como podemos fazer uma avaliação positiva da presença da comunidade internacional, que veio trazer a democracia ao país.
Então suas críticas também se estendem à missão de paz?
Depois do terremoto, a natureza dos desafios haitianos mudou completamente. Estamos diante de um dos maiores desafios... É uma aventura humana reconstruir um país com 10 milhões de habitantes e destruído por uma catástrofe natural. Temos 1,5 milhão de pessoas nas ruas, com 80% de desemprego, a epidemia de cólera.
Não podemos nos restringir aos desafios imaginados em 2004 (início da missão), mesmo erradamente, como uma questão de segurança. A situação é muito mais complicada e exige mais do que uma operação de paz.
Mas o governo brasileiro, por exemplo, tem sido contrário a mudanças no mandato da missão... A que se deve essa posição, na sua opinião?
O sistema internacional não tem instrumentos para enfrentar uma situação como a do Haiti. Temos que trocar de Conselho. Temos que tirar o assunto do Conselho de Segurança e mudá-lo para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
E sobretudo, temos que pensar que o desenvolvimento do Haiti tem que ser feito pelos haitianos. Se a gente imagina que pode fazer isso por meio da Minustah e por meio das ONGs, nós estaremos enganando os haitianos e enganando a opinião pública mundial.
Não está se dando o espaço devido ao governo haitiano nesse processo?
Nem ao governo, nem à sociedade haitiana. O fato de ser solidário não é ser substituto de alguém, é acompanhar alguém. E nós estamos decidindo por eles. Agora estamos nos metendo no processo eleitoral. Deixem as instituições haitianas resolverem seus próprios problemas.
Mas existem acusações de corrupção envolvendo a transferência de recursos para o governo haitiano, em episódios anteriores, não? O país não tem certas limitações institucionais?
Eles têm limitações por nossa culpa. Transferimos todos os recursos via ONGs e não por meio das instituições haitianas. Sem dúvida o Estado haitiano é muito debilitado e ficou pior ainda depois do terremoto, perdendo 30% de seus quadros.
O que temos de fazer? Ter políticas de acompanhamento do Haiti que permitam que esses quadros permaneçam no país. A acusação de corrupção faz parte de um discurso ideológico. Não existe corrupção, existe percepção de corrupção. O Haiti não tem como ser corrupto porque o Estado não possui recursos.
O que se pode questionar é como se administram os recursos que as ONGs recolhem sem prestar contas a ninguém. Esta sim é a grande questão. Faço uma distinção do trabalho que foi feito na emergência, mas essa não pode ser uma política permanente de substituição do Estado pelas ONGs. O Haiti é o Haiti, não é Haitong. Nenhum país aceitaria o que os haitianos são obrigados a aceitar.
E qual o papel do Brasil nesse processo?
O Brasil tem uma responsabilidade muito grande, porque é a primeira vez que temos uma missão de paz tão longa e tão cara para nós, onde pretendemos mostrar uma forma diferenciada de atuar.
O Brasil deveria aproveitar que haverá um novo governo no Haiti e um novo governo no Brasil e fazer um balanço de seis anos e meio de Minustah. Não estou apregoando que o Brasil deva amanhã recolher suas tropas. Isso se faz depois de uma longa discussão, inclusive com o governo haitiano e com as Nações Unidas.
A não discussão é que é o grande erro. Como se a Minustah fosse uma verdade divina, uma iluminação do céu, como se não pudesse ser objeto de reservas. Tenho uma percepção de que a qualidade de uma operação de paz é inversamente proporcional ao tempo de sua duração. Quanto mais uma missão de paz se estende no tempo, menor qualidade ela tem. As boas missões de paz são as curtas missões de paz.
quarta-feira, dezembro 29, 2010
terça-feira, dezembro 28, 2010
Aumento do mínimo na era Lula levou contas ao 'limite', dizem economistas
Uma das principais bandeiras do governo Lula, o aumento contínuo do salário mínimo acima da inflação, ajudou a dinamizar a economia do país em um primeiro momento, mas também fez as contas públicas chegarem "a um limite", segundo economistas ouvidos pela BBC Brasil.
O principal argumento é de que o salário mínimo "já deixou" de ser um instrumento eficaz de redução da pobreza no país e que os aumentos reais estão apenas "ampliando o rombo" nas contas da Previdência Social.
"A política de aumento do salário mínimo está sendo vítima de seu próprio êxito. Ele funcionou até certo ponto, mas já não está mais ajudando os mais pobres, ou seja, não está mais ajudando os que ficaram para trás", diz o economista Fábio Giambiagi, especialista em contas públicas.
Durante a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o valor do salário mínimo cresceu perto de 50% acima da inflação, chegando em 2010 a R$ 510.
Por trás de sucessivos reajustes está a ideia de que um salário mínimo mais forte funciona como um "indutor" do consumo e do aumento da renda no país, contribuindo assim para a redução da pobreza.
Mas segundo Giambiabi, essa política "já se esgotou". "De cada R$ 100 reais de aumento no salário mínimo, apenas R$ 3 chegam às mãos dos mais pobres", diz.
POBREZA
Ainda de acordo com o economista, os reajustes passaram a melhorar as condições de quem "já está protegido", mas não estão mais tirando pessoas da pobreza.
"Precisamos olhar para os que ficaram para trás. O Brasil tem 10% da população vivendo como miseráveis e o salário mínimo não chega a esse contingente", diz Giambiagi.
Além do "esgotamento" do salário mínimo como política de redução da pobreza, os economistas têm apontado um efeito "perverso" dessa política: o peso do reajuste nas contas públicas.
O valor do salário mínimo serve como base para o pagamento de aposentadorias no país, item que mais cresceu nas despesas do governo federal nos últimos anos.
A previsão é de que Lula entregue as contas do INSS para sua sucessora com um gasto equivalente a 7,4% do PIB. Há oito anos, esse valor era de 6,3%.
"O Brasil é um país de despesa alta. Mas ao contrário do que se pensa, o problema não está nos gastos com passagem de avião, com fotocópia ou outras despesas do dia-a-dia. A conta maior e a que mais cresce é a da Previdência Social", diz Mansueto Almeida, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
"CHANCE PERDIDA"
Na avaliação de Giambiagi, o presidente Lula poderia ter usado sua "popularidade" e seu "cacife político" para cortar gastos e, assim, ampliar o nível de investimentos no país.
"Perdemos uma chance histórica de realizar ajustes fiscais. Um presidente tão próximo do povo poderia ter explicado à sociedade a importância do corte de gastos", diz o economista.
Segundo ele, o governo Lula não foi exatamente "gastão", quando comparado com governos anteriores. "É mais correto falar em uma trajetória de gastos que começa muito antes, em 1991, e que foi mantida", diz.
As despesas do governo federal, excluindo o desembolso das estatais e o pagamento de juros, representavam 18,6% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003, devendo fechar este ano em 23% do PIB.
O ritmo de expansão é praticamente o mesmo do registrado nos oito anos anteriores (1995-2002), quando a proporção dos gastos sobre o PIB saiu de 16,7% para 19,51%.
No entanto, na avaliação de Giambiagi, Lula foi o presidente que "de longe teve as melhores condições" de desviar o país do caminho das despesas elevadas.
"Não apenas havia ambiente político, como também a situação econômica se apresentou favorável em vários momentos. Eu diria que a falha desse governo, na questão fiscal, está no que ele deixou de fazer", acrescenta o economista.
INVESTIMENTOS
Gastos elevados em despesas correntes, que incluem pagamento de pessoal, aposentadorias e outros gastos administrativos, costumam resultar em menos investimentos.
Nos últimos oito anos, houve uma ligeira ampliação do peso dos investimentos públicos sobre o PIB, que passou de 0,3% em 2003 para 1% em 2009. Mas apesar do acréscimo, o valor ainda é considerado "muito baixo" por economistas.
Mansueto lembra que o cenário deverá se tornar mais delicado para a futura presidente, Dilma Rousseff, em função das necessidades de investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.
"Além de o gasto ser muito alto no país, temos pouca margem de manobra para cortes no curto prazo. Os planos de redução das despesas são possíveis apenas se pensados para prazos mais longos, como em três ou quatro anos", diz Almeida.
Isso porque, segundo ele, diversos itens das despesas dependem não de uma "decisão imediata" do presidente, mas sim de um esforço político que envolve também o Legislativo --caso de uma possível reforma previdenciária.
"Como muitas das despesas são engessadas, há sempre o perigo de o governo acabar cortando os investimenAumento do mínimo na era Lula levou contas ao 'limite', dizem economistas tos, o que é péssimo para o desenvolvimento do país", diz o economista do Ipea.
O principal argumento é de que o salário mínimo "já deixou" de ser um instrumento eficaz de redução da pobreza no país e que os aumentos reais estão apenas "ampliando o rombo" nas contas da Previdência Social.
"A política de aumento do salário mínimo está sendo vítima de seu próprio êxito. Ele funcionou até certo ponto, mas já não está mais ajudando os mais pobres, ou seja, não está mais ajudando os que ficaram para trás", diz o economista Fábio Giambiagi, especialista em contas públicas.
Durante a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o valor do salário mínimo cresceu perto de 50% acima da inflação, chegando em 2010 a R$ 510.
Por trás de sucessivos reajustes está a ideia de que um salário mínimo mais forte funciona como um "indutor" do consumo e do aumento da renda no país, contribuindo assim para a redução da pobreza.
Mas segundo Giambiabi, essa política "já se esgotou". "De cada R$ 100 reais de aumento no salário mínimo, apenas R$ 3 chegam às mãos dos mais pobres", diz.
POBREZA
Ainda de acordo com o economista, os reajustes passaram a melhorar as condições de quem "já está protegido", mas não estão mais tirando pessoas da pobreza.
"Precisamos olhar para os que ficaram para trás. O Brasil tem 10% da população vivendo como miseráveis e o salário mínimo não chega a esse contingente", diz Giambiagi.
Além do "esgotamento" do salário mínimo como política de redução da pobreza, os economistas têm apontado um efeito "perverso" dessa política: o peso do reajuste nas contas públicas.
O valor do salário mínimo serve como base para o pagamento de aposentadorias no país, item que mais cresceu nas despesas do governo federal nos últimos anos.
A previsão é de que Lula entregue as contas do INSS para sua sucessora com um gasto equivalente a 7,4% do PIB. Há oito anos, esse valor era de 6,3%.
"O Brasil é um país de despesa alta. Mas ao contrário do que se pensa, o problema não está nos gastos com passagem de avião, com fotocópia ou outras despesas do dia-a-dia. A conta maior e a que mais cresce é a da Previdência Social", diz Mansueto Almeida, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
"CHANCE PERDIDA"
Na avaliação de Giambiagi, o presidente Lula poderia ter usado sua "popularidade" e seu "cacife político" para cortar gastos e, assim, ampliar o nível de investimentos no país.
"Perdemos uma chance histórica de realizar ajustes fiscais. Um presidente tão próximo do povo poderia ter explicado à sociedade a importância do corte de gastos", diz o economista.
Segundo ele, o governo Lula não foi exatamente "gastão", quando comparado com governos anteriores. "É mais correto falar em uma trajetória de gastos que começa muito antes, em 1991, e que foi mantida", diz.
As despesas do governo federal, excluindo o desembolso das estatais e o pagamento de juros, representavam 18,6% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003, devendo fechar este ano em 23% do PIB.
O ritmo de expansão é praticamente o mesmo do registrado nos oito anos anteriores (1995-2002), quando a proporção dos gastos sobre o PIB saiu de 16,7% para 19,51%.
No entanto, na avaliação de Giambiagi, Lula foi o presidente que "de longe teve as melhores condições" de desviar o país do caminho das despesas elevadas.
"Não apenas havia ambiente político, como também a situação econômica se apresentou favorável em vários momentos. Eu diria que a falha desse governo, na questão fiscal, está no que ele deixou de fazer", acrescenta o economista.
INVESTIMENTOS
Gastos elevados em despesas correntes, que incluem pagamento de pessoal, aposentadorias e outros gastos administrativos, costumam resultar em menos investimentos.
Nos últimos oito anos, houve uma ligeira ampliação do peso dos investimentos públicos sobre o PIB, que passou de 0,3% em 2003 para 1% em 2009. Mas apesar do acréscimo, o valor ainda é considerado "muito baixo" por economistas.
Mansueto lembra que o cenário deverá se tornar mais delicado para a futura presidente, Dilma Rousseff, em função das necessidades de investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.
"Além de o gasto ser muito alto no país, temos pouca margem de manobra para cortes no curto prazo. Os planos de redução das despesas são possíveis apenas se pensados para prazos mais longos, como em três ou quatro anos", diz Almeida.
Isso porque, segundo ele, diversos itens das despesas dependem não de uma "decisão imediata" do presidente, mas sim de um esforço político que envolve também o Legislativo --caso de uma possível reforma previdenciária.
"Como muitas das despesas são engessadas, há sempre o perigo de o governo acabar cortando os investimenAumento do mínimo na era Lula levou contas ao 'limite', dizem economistas tos, o que é péssimo para o desenvolvimento do país", diz o economista do Ipea.
quinta-feira, dezembro 23, 2010
"O tempo é um ponto de vista dos relógios", diz Mario Quintana; leia versos
Em "Para olhar por outro ângulo", os mini-poemas revelam que o passar do tempo é atravancado pela submissão da mediocridade das coisas que nos cercam. O poeta gaúcho explode seus pensamentos em pequenas sentenças, um prato cheio para os tuiteiros assíduos.
Da matemática sem dor, da mentira como verdade que esqueceu de acontecer, da esperança como urubu, entre outros elementos travestidos, Quintana dissolve as ocorrências como causa e não como consequência.
Leia abaixo alguns versos da antologia do poeta Mario Quintana.
PARA OLHAR POR OUTRO ÂNGULO
A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer.
O tempo é um ponto de vista dos relógios.
A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.
Se a casa é para morar, por que a porta da casa se chama porta da rua?
A esperança é um urubu pintado de verde.
O vento assovia de frio.
Um discurso em homenagem nossa é uma verdadeira surra às avessas: fica-se naquele estado horrível e sem palavras com que revidar! A vida nutre-se da morte, e não a morte da vida, como julgam alguns pessimistas. A morte é o aperitivo da vida.
...a morte não faz esquecer, mas faz tudo lembrar.
A curva é o caminho mais agradável entre dois pontos.
O que tem de bom numa galinha assada é que ela não cacareja.
Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi nada à minha altura.
Se eu acredito em Deus? Mas que valor poderia ter minha resposta, afirmativa ou não? O que importa é saber se Deus acredita em mim.
Rezar é uma falta de fé: Nosso Senhor bem sabe o que está fazendo...
O despertador é um acidente de tráfego do sono.
Desconfio desses turistas que consideram exóticos os países visitados. Ficam de fora, vendo o pitoresco em tudo: nas casas, nas roupas, nos costumes, nas crenças... E nem desconfiam que a única nota exótica desses indefesos países são precisamente eles!
O problema da solidão não consiste em saber como solucioná-la, mas saber como conservá-la.
O bacteriologista é um astrônomo às avessas: espia pelo outro lado do canudo...
A pantera é uma curva em movimento.
Nem todos podem estar na flor da idade, é claro! Mas cada um está na flor da sua idade.
Nós não perdemos os mortos, os mortos é que nos perdem.
A morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos.
Não sabias? As nossas mortes são noticiadas como nascimentos pela imprensa do Outro Mundo.
Os lugares-comuns são cômodos como sapatos velhos. Facilitam a vida, estreitam relações, evitam desconfianças e desentendimentos.
Nunca me senti bem nas salas de estar. Salas de estar... Mas de estar o quê?
Não, o provérbio não está bem certo.
O raio é que enquanto há esperança, há vida. Jamais foi encontrado no bolso de um suicida um bilhete de loteria que estivesse para correr no dia seguinte.
A rua é um rio de passos e vozes.
Tenho uma enorme pena dos homens famosos, que por isso mesmo perderam a sua vida íntima e são como esses animais do Zoológico, que fazem tudo à vista do público.
A Matemática é o pensamento sem dor.
Da matemática sem dor, da mentira como verdade que esqueceu de acontecer, da esperança como urubu, entre outros elementos travestidos, Quintana dissolve as ocorrências como causa e não como consequência.
Leia abaixo alguns versos da antologia do poeta Mario Quintana.
PARA OLHAR POR OUTRO ÂNGULO
A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer.
O tempo é um ponto de vista dos relógios.
A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.
Se a casa é para morar, por que a porta da casa se chama porta da rua?
A esperança é um urubu pintado de verde.
O vento assovia de frio.
Um discurso em homenagem nossa é uma verdadeira surra às avessas: fica-se naquele estado horrível e sem palavras com que revidar! A vida nutre-se da morte, e não a morte da vida, como julgam alguns pessimistas. A morte é o aperitivo da vida.
...a morte não faz esquecer, mas faz tudo lembrar.
A curva é o caminho mais agradável entre dois pontos.
O que tem de bom numa galinha assada é que ela não cacareja.
Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi nada à minha altura.
Se eu acredito em Deus? Mas que valor poderia ter minha resposta, afirmativa ou não? O que importa é saber se Deus acredita em mim.
Rezar é uma falta de fé: Nosso Senhor bem sabe o que está fazendo...
O despertador é um acidente de tráfego do sono.
Desconfio desses turistas que consideram exóticos os países visitados. Ficam de fora, vendo o pitoresco em tudo: nas casas, nas roupas, nos costumes, nas crenças... E nem desconfiam que a única nota exótica desses indefesos países são precisamente eles!
O problema da solidão não consiste em saber como solucioná-la, mas saber como conservá-la.
O bacteriologista é um astrônomo às avessas: espia pelo outro lado do canudo...
A pantera é uma curva em movimento.
Nem todos podem estar na flor da idade, é claro! Mas cada um está na flor da sua idade.
Nós não perdemos os mortos, os mortos é que nos perdem.
A morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos.
Não sabias? As nossas mortes são noticiadas como nascimentos pela imprensa do Outro Mundo.
Os lugares-comuns são cômodos como sapatos velhos. Facilitam a vida, estreitam relações, evitam desconfianças e desentendimentos.
Nunca me senti bem nas salas de estar. Salas de estar... Mas de estar o quê?
Não, o provérbio não está bem certo.
O raio é que enquanto há esperança, há vida. Jamais foi encontrado no bolso de um suicida um bilhete de loteria que estivesse para correr no dia seguinte.
A rua é um rio de passos e vozes.
Tenho uma enorme pena dos homens famosos, que por isso mesmo perderam a sua vida íntima e são como esses animais do Zoológico, que fazem tudo à vista do público.
A Matemática é o pensamento sem dor.
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Abaixo-assinado contra o aumento nos salários do presidente da República, ministros e parlamentares. Dezembro/2010
A Câmara aprovou na tarde desta quarta-feira (15/12/2010) o projeto de decreto legislativo, de autoria da Mesa Diretora da Casa, que equipara os salários de presidente da República, vice-presidente, ministros de Estado, senadores e deputados aos vencimentos recebidos atualmente pelos ministros do Supremo Tribunal Federal: R$ 26.723,13. A matéria foi aprovada simbolicamente. O texto será imediatamente remetido ao Senado, para tentar votá-lo ainda hoje. Por se tratar de decreto legislativo, o projeto precisa apenas ser aprovado nas duas Casas do Congresso, e não há necessidade da sanção do presidente da República.
Os novos salários entram em vigor a partir de 1º de fevereiro. O impacto financeiro nos dois poderes - Legislativo e Executivo - ainda estão sendo calculados. Mas só na Câmara estima-se que o aumento nos subsídios dos deputados (na ativa e aposentados) será de cerca de R$ 130 milhões.
Atualmente, deputados e senadores têm subsídios de R$ 16,7 mil. Presidente e vice recebem salário mensal de R$ 11,4 mil e ministros de Estado, R$ 10,7 mil. Os reajustes variam de 62% a 140%.
Há ainda o efeito cascata da medida nas assembleias legislativas nos estados, já que a Constituição estabelece que os deputados estaduais devem ter subsídios equivalentes a 95% dos recebidos por deputados federais. Para aumentar os seus salários, os deputados estaduais também terão que aprovar projetos nas respectivas assembleias.
Esse projeto amplia o abismo entre o Parlamento e a sociedade. É advocacia em causa própria. O percentual de 62% para os parlamentares e mais de 130% para presidente e ministros, diante da realidade brasileira, é evidentemente demasia.
Vamos mostrar a indignação do povo brasileiro quanto ao autoritarismo evidente na manipulação do orçamento e dos recursos provenientes de arrecadação de impostos e cofres públicos.
Os signatários
Assine aqui o Abaixo-assinado
Os novos salários entram em vigor a partir de 1º de fevereiro. O impacto financeiro nos dois poderes - Legislativo e Executivo - ainda estão sendo calculados. Mas só na Câmara estima-se que o aumento nos subsídios dos deputados (na ativa e aposentados) será de cerca de R$ 130 milhões.
Atualmente, deputados e senadores têm subsídios de R$ 16,7 mil. Presidente e vice recebem salário mensal de R$ 11,4 mil e ministros de Estado, R$ 10,7 mil. Os reajustes variam de 62% a 140%.
Há ainda o efeito cascata da medida nas assembleias legislativas nos estados, já que a Constituição estabelece que os deputados estaduais devem ter subsídios equivalentes a 95% dos recebidos por deputados federais. Para aumentar os seus salários, os deputados estaduais também terão que aprovar projetos nas respectivas assembleias.
Esse projeto amplia o abismo entre o Parlamento e a sociedade. É advocacia em causa própria. O percentual de 62% para os parlamentares e mais de 130% para presidente e ministros, diante da realidade brasileira, é evidentemente demasia.
Vamos mostrar a indignação do povo brasileiro quanto ao autoritarismo evidente na manipulação do orçamento e dos recursos provenientes de arrecadação de impostos e cofres públicos.
Os signatários
terça-feira, dezembro 21, 2010
segunda-feira, dezembro 20, 2010
Cineasta Jafar Panahi é condenado a seis anos de prisão
Uma corte iraniana sentenciou o cineasta Jafar Panahi, 50, a seis anos de prisão. Ele também foi proibido de fazer filmes ou viajar para o exterior nos próximos 20 anos. A informação foi divulgada pelos seus advogados nesta segunda-feira.
Panahi, venceu vários prêmios e apoiou o oposicionista Mirhossein Mousavi na eleição presidencial do ano passado. Panahi foi preso em março.
Ele ficou detido por 88 dias e chegou a fazer greve de fome. A condenação foi por "ação e propaganda contra o sistema".
Panahi venceu os prêmios Camera d'Or, em Cannes em 1995 pelo filme "O Balão Branco", e Leão de Ouro pelo filme "O Círculo", em 2000.
Steven Spielberg e Juliette Binoche defenderam o cineasta iraniano.
Panahi, venceu vários prêmios e apoiou o oposicionista Mirhossein Mousavi na eleição presidencial do ano passado. Panahi foi preso em março.
Ele ficou detido por 88 dias e chegou a fazer greve de fome. A condenação foi por "ação e propaganda contra o sistema".
Panahi venceu os prêmios Camera d'Or, em Cannes em 1995 pelo filme "O Balão Branco", e Leão de Ouro pelo filme "O Círculo", em 2000.
Steven Spielberg e Juliette Binoche defenderam o cineasta iraniano.
UFPR diploma primeira aluna de origem indígena
A UFPR (Universidade Federal do Paraná) diplomou na terça-feira (14) como cirurgiã dentista a primeira aluna indígena da instituição: Tenile Mendes. Na língua kaigang, a estudante se chama Kring Mág, que significa "estrela grande ou estrela da manhã", "porque era muito branquinha quando nasceu". Ela será a primeira dentista em sua aldeia.
Após fazer o juramento do dentista e receber o diploma, a nova profissional se apresentou: "Eu agora sou Tenile Mendes, kaigang, cirurgiã dentista, de Chapecó, Santa Catarina, da aldeia Pinhalzinho, e agradeço a acolhida na Universidade Federal do Paraná". Agora, a cirurgiã dentista vai voltar para a aldeia, onde pretende trabalhar para ajudar sua comunidade.
Tenile ingressou na universidade por meio do programa de políticas afirmativas, aprovado em 2004 e implementado no ano seguinte. São dez vagas destinadas aos povos indígenas de qualquer região do país.
No discurso do paraninfo, o professor Jairo Bordini Junior, que também foi tutor de Tenile, ressaltou a validade e a importância da inclusão social. "A inclusão é um caminho que deve ser seguido e incentivado. As dificuldades quanto ao aprendizado são as mesmas para todos os alunos, mas não podia deixar que a pressão social interferisse no avanço dentro do curso. E com esforço e dedicação, a Tenile conseguiu".
Tenile tem 22 anos e sempre viveu na aldeia Pinhalzinho. Saiu de Chapecó e deixou a família para estudar na UFPR. É filha de uma mistura bem brasileira: a mãe, Janete, é descendente de italianos e largou tudo para viver na aldeia quando se casou com o índio kaigang Reny. Agora, é o irmão Tales quem quer seguir os passos da irmã dentista e estudar na universidade. Assim como Tales, outros jovens índios da aldeia querem seguir o exemplo de Tenile.
"A formatura de Tenile vai passar para a história da UFPR", disse o reitor Zaki Akel Sobrinho ao parabenizar a estudante. "Tenile vai fazer a diferença, é um paradigma para todos os povos, não só os indígenas, mas para todo o povo brasileiro".
Após fazer o juramento do dentista e receber o diploma, a nova profissional se apresentou: "Eu agora sou Tenile Mendes, kaigang, cirurgiã dentista, de Chapecó, Santa Catarina, da aldeia Pinhalzinho, e agradeço a acolhida na Universidade Federal do Paraná". Agora, a cirurgiã dentista vai voltar para a aldeia, onde pretende trabalhar para ajudar sua comunidade.
Tenile ingressou na universidade por meio do programa de políticas afirmativas, aprovado em 2004 e implementado no ano seguinte. São dez vagas destinadas aos povos indígenas de qualquer região do país.
No discurso do paraninfo, o professor Jairo Bordini Junior, que também foi tutor de Tenile, ressaltou a validade e a importância da inclusão social. "A inclusão é um caminho que deve ser seguido e incentivado. As dificuldades quanto ao aprendizado são as mesmas para todos os alunos, mas não podia deixar que a pressão social interferisse no avanço dentro do curso. E com esforço e dedicação, a Tenile conseguiu".
Tenile tem 22 anos e sempre viveu na aldeia Pinhalzinho. Saiu de Chapecó e deixou a família para estudar na UFPR. É filha de uma mistura bem brasileira: a mãe, Janete, é descendente de italianos e largou tudo para viver na aldeia quando se casou com o índio kaigang Reny. Agora, é o irmão Tales quem quer seguir os passos da irmã dentista e estudar na universidade. Assim como Tales, outros jovens índios da aldeia querem seguir o exemplo de Tenile.
"A formatura de Tenile vai passar para a história da UFPR", disse o reitor Zaki Akel Sobrinho ao parabenizar a estudante. "Tenile vai fazer a diferença, é um paradigma para todos os povos, não só os indígenas, mas para todo o povo brasileiro".
Prédio histórico no centro de SP recebe obras de artistas jovens
Além da mostra principal, as visitas gratuitas podem também ser feitas aos estúdios dos artistas e à galeria transitória, localizada no décimo andar e que serve como "incubadora" de projetos em desenvolvimento. Nela, os artistas e a curadora Luisa Duarte podem testar e avaliar cada trabalho.
O novo grupo sucede o que ocupou o prédio nos meses de setembro e outubro, ação que resultou na mostra “Notas de Um Processo - Tentativa e Aposta”, que ficou em cartaz de 24 de outubro a 30 de novembro último.
Projeto imersivo
O projeto é uma residência artística que teve sua primeira edição mundial no Brasil em São Paulo, no mês de novembro de 2009. Na ocasião, 10 artistas --entre brasileiros e estrangeiros-- ocuparam durante um mês o edifício do Hotel Central, na avenida São João. Em 2010, o "House of Art" realiza duas edições em novo endereço, o Edifício Sampaio Moreira, e conta com a participação de 12 artistas, sendo todos eles moradores da cidade de São Paulo. Além do Brasil, estão previstas para os próximos meses residências em países como Portugal, Austrália, Estados Unidos e França.
Umberto Eco adverte sobre "risco de contágio" do populismo de Berlusconi
Um dos pensadores de maior prestígio internacional na atualidade, o escritor italiano Umberto Eco admite "notável tristeza" ao ver que a oposição de intelectuais ao primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, enfrenta "um núcleo duro do eleitorado que é insensível a certos problemas".
O catedrático adverte sobre o risco de contágio do populismo de Berlusconi num momento em que os países ocidentais "estão se aproximando de uma grave crise da democracia representativa".
O catedrático adverte sobre o risco de contágio do populismo de Berlusconi num momento em que os países ocidentais "estão se aproximando de uma grave crise da democracia representativa".
Jornalista que jogou sapatos em Bush critica situação do Iraque em livro - KATHY SELEME
O jornalista iraquiano Muntazer Al Zaidi, que ganhou fama internacional há dois anos ao lançar sapatos no então presidente americano, George W. Bush, publicou um livro no Líbano "para mostrar o sofrimento do povo iraquiano".
Em "A Última Saudação ao Presidente George Bush", o jornalista de 28 anos denuncia a destruição de seu país desde o embargo imposto contra o regime do ditador Saddam Hussein, em 1991, em represália à invasão do Kuait por parte do Iraque.
"Os americanos fomentaram os massacres e os saques" no Iraque após a invasão de 2003, afirma Al Zaidi, enquanto fuma um narguilé, sentado em um restaurante no sul de Beirute.
"A Casa Branca empreendeu uma guerra contra o povo [iraquiano], e não contra o regime", ressalta o jornalista. Ele diz que, desde os 11 anos de idade, foi testemunha do contínuo bombardeio das construções em seu país e de como os iraquianos morriam de fome por culpa do bloqueio econômico imposto.
Usando novos sapatos de verniz negro, Al Zaidi diz que os lucros arrecadados com a venda do livro, lançado na semana passada e que ainda é difícil de encontrar nas livrarias libanesas, serão destinados integralmente à fundação que criou e que se dedica "ao atendimento das vítimas da ocupação americana".
Ao comentar o lançamento de seus sapatos no ex-presidente americano, ele reconhece que o fato abriu muitas portas, embora tenha lhe custado nove meses de prisão. Ele diz que os sapatos foram destruídos por ordem da Casa Branca, para que não se transformassem em um símbolo contra a ocupação do Iraque.
Consequências psicológicas? "O narguilé", responde aos risos, antes de acrescentar que ainda tem problemas nas pernas e cicatrizes nas costas, em consequência dos maus-tratos que recebeu durante o tempo que ficou preso, quando teve também o nariz quebrado.
Uma vez cumprida a sentença e após um périplo por vários países, Al Zaidi se estabeleceu em Beirute. "É uma cidade aberta, onde há liberdade, onde se pode trabalhar sem que seja rotulado". Para ele, são características que "facilitam transmitir ao mundo o que os iraquianos sofrem".
No Líbano, ele trabalha como assessor de imprensa no canal de televisão New TV --um emprego que concilia com as palestras que profere em diversos países para denunciar a situação no Iraque.
Tranquilo, sereno e convencido de que tem uma causa importante, Al Zaidi declara que continuará "lutando" pelo Iraque, apesar das ameaças das quais é alvo habitualmente. "Continuarei minha luta pelo meu país. Minha segurança é a última das minhas preocupações", resume.
No entanto, Al Zaidi, que processou na Justiça o primeiro-ministro do Iraque, Nuri Al Maliki, e o subdiretor dos serviços de Inteligência do país, Samir Haddad, insiste que voltará em breve a seu país natal.
Ele diz que, quando voltar, vai fazer um abaixo-assinado para levar Bush à Justiça pela suposta responsabilidade na morte de centenas de milhares de iraquianos.
Mas, além de Bush, Al Zaidi culpa também o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e todos aqueles que legitimaram a invasão do Iraque, além dos políticos nacionais aos quais acusa de corruptos.
"Sinto que meu povo precisa de mim e devo estar com ele. Minha vida está ali. É meu país, não posso abandoná-lo e não o deixarei por todos os castelos do mundo", confessa este jornalista, que difundiu a prática de lançar sapatos contra líderes políticos como novo gesto de protesto.
Em "A Última Saudação ao Presidente George Bush", o jornalista de 28 anos denuncia a destruição de seu país desde o embargo imposto contra o regime do ditador Saddam Hussein, em 1991, em represália à invasão do Kuait por parte do Iraque.
"Os americanos fomentaram os massacres e os saques" no Iraque após a invasão de 2003, afirma Al Zaidi, enquanto fuma um narguilé, sentado em um restaurante no sul de Beirute.
"A Casa Branca empreendeu uma guerra contra o povo [iraquiano], e não contra o regime", ressalta o jornalista. Ele diz que, desde os 11 anos de idade, foi testemunha do contínuo bombardeio das construções em seu país e de como os iraquianos morriam de fome por culpa do bloqueio econômico imposto.
Usando novos sapatos de verniz negro, Al Zaidi diz que os lucros arrecadados com a venda do livro, lançado na semana passada e que ainda é difícil de encontrar nas livrarias libanesas, serão destinados integralmente à fundação que criou e que se dedica "ao atendimento das vítimas da ocupação americana".
Ao comentar o lançamento de seus sapatos no ex-presidente americano, ele reconhece que o fato abriu muitas portas, embora tenha lhe custado nove meses de prisão. Ele diz que os sapatos foram destruídos por ordem da Casa Branca, para que não se transformassem em um símbolo contra a ocupação do Iraque.
Consequências psicológicas? "O narguilé", responde aos risos, antes de acrescentar que ainda tem problemas nas pernas e cicatrizes nas costas, em consequência dos maus-tratos que recebeu durante o tempo que ficou preso, quando teve também o nariz quebrado.
Uma vez cumprida a sentença e após um périplo por vários países, Al Zaidi se estabeleceu em Beirute. "É uma cidade aberta, onde há liberdade, onde se pode trabalhar sem que seja rotulado". Para ele, são características que "facilitam transmitir ao mundo o que os iraquianos sofrem".
No Líbano, ele trabalha como assessor de imprensa no canal de televisão New TV --um emprego que concilia com as palestras que profere em diversos países para denunciar a situação no Iraque.
Tranquilo, sereno e convencido de que tem uma causa importante, Al Zaidi declara que continuará "lutando" pelo Iraque, apesar das ameaças das quais é alvo habitualmente. "Continuarei minha luta pelo meu país. Minha segurança é a última das minhas preocupações", resume.
No entanto, Al Zaidi, que processou na Justiça o primeiro-ministro do Iraque, Nuri Al Maliki, e o subdiretor dos serviços de Inteligência do país, Samir Haddad, insiste que voltará em breve a seu país natal.
Ele diz que, quando voltar, vai fazer um abaixo-assinado para levar Bush à Justiça pela suposta responsabilidade na morte de centenas de milhares de iraquianos.
Mas, além de Bush, Al Zaidi culpa também o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e todos aqueles que legitimaram a invasão do Iraque, além dos políticos nacionais aos quais acusa de corruptos.
"Sinto que meu povo precisa de mim e devo estar com ele. Minha vida está ali. É meu país, não posso abandoná-lo e não o deixarei por todos os castelos do mundo", confessa este jornalista, que difundiu a prática de lançar sapatos contra líderes políticos como novo gesto de protesto.
domingo, dezembro 19, 2010
Cerco a Assange deixa jornalismo vulnerável, afirma especialista - JANAINA LAGE
O escritor e advogado constitucionalista norte-americano Glenn Greenwald afirma que, caso os EUA consigam processar o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, jornalistas ficarão mais vulneráveis a ações judiciais.
Colunista da revista digital "Salon.com", Greenwald tem sido uma das vozes de defesa do WikiLeaks na imprensa americana. Para ele, não há base legal para processar o site porque é uma organização dissociada de qualquer Estado e só existe na internet.
Jornais norte-americanos já citaram como possíveis bases legais para um processo contra Assange a lei de espionagem, de 1917, e a lei de fraude e abuso de computadores, de 1986.
O escritor concedeu entrevista à Folha após palestra no Iesp-UERJ (Instituto de Estudos Sociais e Políticos).
Greenwald vive no Rio de Janeiro há quase seis anos. A seguir, trechos da entrevista.
Folha -- O que os documentos vazados pelo WikiLeaks revelam sobre a diplomacia americana?
Glenn Greenwald -- Não existe uma diplomacia americana à parte dos demais objetivos do governo. Os diplomatas são usados para espionar outros países e para levantar dados de inteligência da mesma forma que a CIA seria usada.
O papel da diplomacia é evitar guerras, mas muitos documentos mostram tudo menos isso. Há diplomatas tentando convencer outros países a deixar que os EUA participem de ações militares em seus territórios.
Folha -- Na semana passada, a Força Aérea dos EUA bloqueou o acesso às páginas de veículos que publicam vazamentos. A polêmica em torno do WikiLeaks pode trazer de volta a discussão sobre censura na internet?
Glenn Greenwald -- Isso vai justificar na cabeça de muita gente que seja criado algum tipo de repressão ou censura na internet, o que é um retrocesso. As pesquisas com o público americano mostram que a maioria acredita que o WikiLeaks causou mais danos do que benefícios e que Assange deve ser encarcerado.
Os governos sempre querem controlar a internet. A razão pela qual não podem fazer isso é a oposição pública. O compromisso do WikiLeaks com a transparência pode aumentar o apoio público ao controle da internet.
Folha -- Como o sr. compara os governos de Barack Obama e George W. Bush em relação à liberdade de imprensa?
Glenn Greenwald -- Quando Obama concorreu à Presidência, criticava Bush por sua guerra contra a transparência. A realidade é que não só ele continuou a maioria destas políticas como, em alguns casos, elas até pioraram.
O governo Bush ameaçou mover ações contra jornalistas que publicaram informações secretas e processar pessoas do governo responsáveis pelos vazamentos, mas quase nunca fez isso. O governo Obama já trouxe cinco diferentes ações contra pessoas do governo que vazaram informações.
Folha -- O sr. citou um artigo do professor Jay Rosen, da New York University, que afirma que parte da repercussão do WikiLeaks é resultado da morte do jornalismo americano...
Glenn Greenwald -- Depois do 11 de Setembro, a grande imprensa se tornou completamente identificada com o governo.
Eles cobriram a Guerra do Iraque embarcados com o Exército e começaram a ver o mundo pela perspectiva do governo.
A maior desgraça é que nosso governo levou o país a uma das mais terríveis guerras dos últimos cem anos baseado integralmente em mentiras, e a classe jornalística não se deu ao trabalho de submeter as informações a qualquer escrutínio.
Folha -- Quais as consequências de um eventual processo dos EUA contra Assange?
Glenn Greenwald -- Isso vai tornar os processos contra jornalistas muito mais prováveis. Se você criar uma teoria legal que permita um processo contra o WikiLeaks, isso dará poder ao governo de processar jornalistas por revelar seus segredos.
Revelar segredos de governo representa o corpo e também a alma do jornalismo investigativo.
Folha -- Por que o sr. afirma que o WikiLeaks não está sujeito às leis americanas?
Glenn Greenwald -- O WikiLeaks não é brasileiro ou americano. É uma organização sem Estado, não pertence a nenhum país e não existe fisicamente em lugar algum, apenas na internet. Não há mecanismo para definir qual lei se aplica a ele. Não se pode levá-lo à Justiça e obrigá-lo a revelar suas fontes. A maioria das pessoas não consegue pensar dissociada do Estado.
Parte do caráter único do WikiLeaks vem do fato de Assange ter sido criado de forma transnacional.
Ele se mudou centenas de vezes e foi criado de forma a não confiar ou seguir nenhuma autoridade.
Folha -- Por que a "Time" elegeu Mark Zuckerberg personalidade do ano quando os leitores escolheram Assange?
Glenn Greenwald -- Muitas pessoas usam o Facebook e Mark Zuckerberg ganha muito dinheiro com isso, mas se ele não existisse, nada iria mudar. A "Time" já elegeu Adolf Hitler e Joseph Stalin como personalidades.
Quando as pessoas perguntam zangadas: "Mas como vocês fizeram isso"? Eles sempre dizem que não é a opção de que gostamos, mas a que teve maior impacto.
Em 2001 a pessoa de maior impacto foi Osama bin Laden, mas eles tiveram muito medo e escolheram Rudolph Giuliani [ex-prefeito de Nova York]. Agora, é claro que Assange tem mais impacto do que Zuckerberg.
Colunista da revista digital "Salon.com", Greenwald tem sido uma das vozes de defesa do WikiLeaks na imprensa americana. Para ele, não há base legal para processar o site porque é uma organização dissociada de qualquer Estado e só existe na internet.
Jornais norte-americanos já citaram como possíveis bases legais para um processo contra Assange a lei de espionagem, de 1917, e a lei de fraude e abuso de computadores, de 1986.
O escritor concedeu entrevista à Folha após palestra no Iesp-UERJ (Instituto de Estudos Sociais e Políticos).
Greenwald vive no Rio de Janeiro há quase seis anos. A seguir, trechos da entrevista.
Folha -- O que os documentos vazados pelo WikiLeaks revelam sobre a diplomacia americana?
Glenn Greenwald -- Não existe uma diplomacia americana à parte dos demais objetivos do governo. Os diplomatas são usados para espionar outros países e para levantar dados de inteligência da mesma forma que a CIA seria usada.
O papel da diplomacia é evitar guerras, mas muitos documentos mostram tudo menos isso. Há diplomatas tentando convencer outros países a deixar que os EUA participem de ações militares em seus territórios.
Folha -- Na semana passada, a Força Aérea dos EUA bloqueou o acesso às páginas de veículos que publicam vazamentos. A polêmica em torno do WikiLeaks pode trazer de volta a discussão sobre censura na internet?
Glenn Greenwald -- Isso vai justificar na cabeça de muita gente que seja criado algum tipo de repressão ou censura na internet, o que é um retrocesso. As pesquisas com o público americano mostram que a maioria acredita que o WikiLeaks causou mais danos do que benefícios e que Assange deve ser encarcerado.
Os governos sempre querem controlar a internet. A razão pela qual não podem fazer isso é a oposição pública. O compromisso do WikiLeaks com a transparência pode aumentar o apoio público ao controle da internet.
Folha -- Como o sr. compara os governos de Barack Obama e George W. Bush em relação à liberdade de imprensa?
Glenn Greenwald -- Quando Obama concorreu à Presidência, criticava Bush por sua guerra contra a transparência. A realidade é que não só ele continuou a maioria destas políticas como, em alguns casos, elas até pioraram.
O governo Bush ameaçou mover ações contra jornalistas que publicaram informações secretas e processar pessoas do governo responsáveis pelos vazamentos, mas quase nunca fez isso. O governo Obama já trouxe cinco diferentes ações contra pessoas do governo que vazaram informações.
Folha -- O sr. citou um artigo do professor Jay Rosen, da New York University, que afirma que parte da repercussão do WikiLeaks é resultado da morte do jornalismo americano...
Glenn Greenwald -- Depois do 11 de Setembro, a grande imprensa se tornou completamente identificada com o governo.
Eles cobriram a Guerra do Iraque embarcados com o Exército e começaram a ver o mundo pela perspectiva do governo.
A maior desgraça é que nosso governo levou o país a uma das mais terríveis guerras dos últimos cem anos baseado integralmente em mentiras, e a classe jornalística não se deu ao trabalho de submeter as informações a qualquer escrutínio.
Folha -- Quais as consequências de um eventual processo dos EUA contra Assange?
Glenn Greenwald -- Isso vai tornar os processos contra jornalistas muito mais prováveis. Se você criar uma teoria legal que permita um processo contra o WikiLeaks, isso dará poder ao governo de processar jornalistas por revelar seus segredos.
Revelar segredos de governo representa o corpo e também a alma do jornalismo investigativo.
Folha -- Por que o sr. afirma que o WikiLeaks não está sujeito às leis americanas?
Glenn Greenwald -- O WikiLeaks não é brasileiro ou americano. É uma organização sem Estado, não pertence a nenhum país e não existe fisicamente em lugar algum, apenas na internet. Não há mecanismo para definir qual lei se aplica a ele. Não se pode levá-lo à Justiça e obrigá-lo a revelar suas fontes. A maioria das pessoas não consegue pensar dissociada do Estado.
Parte do caráter único do WikiLeaks vem do fato de Assange ter sido criado de forma transnacional.
Ele se mudou centenas de vezes e foi criado de forma a não confiar ou seguir nenhuma autoridade.
Folha -- Por que a "Time" elegeu Mark Zuckerberg personalidade do ano quando os leitores escolheram Assange?
Glenn Greenwald -- Muitas pessoas usam o Facebook e Mark Zuckerberg ganha muito dinheiro com isso, mas se ele não existisse, nada iria mudar. A "Time" já elegeu Adolf Hitler e Joseph Stalin como personalidades.
Quando as pessoas perguntam zangadas: "Mas como vocês fizeram isso"? Eles sempre dizem que não é a opção de que gostamos, mas a que teve maior impacto.
Em 2001 a pessoa de maior impacto foi Osama bin Laden, mas eles tiveram muito medo e escolheram Rudolph Giuliani [ex-prefeito de Nova York]. Agora, é claro que Assange tem mais impacto do que Zuckerberg.
sábado, dezembro 18, 2010
Impotência sexual é queixa de 44% dos homens - JULIANA VINES
Quase a metade dos homens que procuram atendimento em saúde tem queixas de impotência sexual, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia.
A entidade acaba de divulgar dados de uma caravana que fez por 22 cidades, em 13 Estados. Foram atendidos 9.982 homens, sendo que mais de 80% tinham mais de 46 anos. Do total, 44% disseram já ter tido o problema.
Os atendimentos aconteceram entre março e setembro deste ano. A unidade tinha médicos e psicólogos que faziam uma consulta clínica tradicional e, se necessário, testes urológicos.
De acordo com Modesto Jacobino, presidente da sociedade, a incidência de impotência surpreendeu.
"É um dado preocupante. O problema ainda é visto como algo secundário, de origem psicológica. Mas há outras doenças relacionadas."
Para acontecer a ereção, além do fator psicológico, são necessárias atividades neurológica, hormonal e vascular. A dificuldade de ereção pode ser consequência de problemas vasculares e metabólicos.
Do total de atendidos, 56% tinham hipertensão e 19%, diabetes. Dos que se queixaram de impotência, metade tinha mais de 60 anos.
"O envelhecimento é a principal causa. Há perda progressiva das funções fisiológicas do organismo e, além disso, o aparecimento conjunto dessas doenças", diz João Schiavini, urologista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Muitas consequências de hipertensão e diabetes são irreversíveis e progressivas. Quando a dificuldade de ereção surge, pode ser que a aterosclerose (entupimento de artérias) já esteja avançada.
Para Jacobino, a impotência pode ser um jeito de atrair os homens para o médico. "Muitas vezes, ao tratar pressão alta e diabetes, já melhoramos a função sexual", diz.
VIAGRA SEM PRESCRIÇÃO
No levantamento, 22% dos homens já tomaram remédios contra impotência, mais da metade sem prescrição.
Apesar serem vendidos sem receita, esses remédios têm efeitos colaterais e não são eficazes em todos os casos. Podem causar dores de cabeça, vermelhidão na face e visão dupla.
"Pessoas com doenças cardíacas graves não podem tomar o remédio. Para diabéticos, a eficácia é de 30% a 40%", afirma Carlos Márcio Nóbrega de Jesus que é urologista e também professor da Universidade Estadual Paulista.
A entidade acaba de divulgar dados de uma caravana que fez por 22 cidades, em 13 Estados. Foram atendidos 9.982 homens, sendo que mais de 80% tinham mais de 46 anos. Do total, 44% disseram já ter tido o problema.
Os atendimentos aconteceram entre março e setembro deste ano. A unidade tinha médicos e psicólogos que faziam uma consulta clínica tradicional e, se necessário, testes urológicos.
De acordo com Modesto Jacobino, presidente da sociedade, a incidência de impotência surpreendeu.
"É um dado preocupante. O problema ainda é visto como algo secundário, de origem psicológica. Mas há outras doenças relacionadas."
Para acontecer a ereção, além do fator psicológico, são necessárias atividades neurológica, hormonal e vascular. A dificuldade de ereção pode ser consequência de problemas vasculares e metabólicos.
Do total de atendidos, 56% tinham hipertensão e 19%, diabetes. Dos que se queixaram de impotência, metade tinha mais de 60 anos.
"O envelhecimento é a principal causa. Há perda progressiva das funções fisiológicas do organismo e, além disso, o aparecimento conjunto dessas doenças", diz João Schiavini, urologista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Muitas consequências de hipertensão e diabetes são irreversíveis e progressivas. Quando a dificuldade de ereção surge, pode ser que a aterosclerose (entupimento de artérias) já esteja avançada.
Para Jacobino, a impotência pode ser um jeito de atrair os homens para o médico. "Muitas vezes, ao tratar pressão alta e diabetes, já melhoramos a função sexual", diz.
VIAGRA SEM PRESCRIÇÃO
No levantamento, 22% dos homens já tomaram remédios contra impotência, mais da metade sem prescrição.
Apesar serem vendidos sem receita, esses remédios têm efeitos colaterais e não são eficazes em todos os casos. Podem causar dores de cabeça, vermelhidão na face e visão dupla.
"Pessoas com doenças cardíacas graves não podem tomar o remédio. Para diabéticos, a eficácia é de 30% a 40%", afirma Carlos Márcio Nóbrega de Jesus que é urologista e também professor da Universidade Estadual Paulista.
Após condenação na OEA, juiz vê caminho para novas ações contra Anistia
A condenação do Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos, por 62 desaparecimentos na Guerrilha do Araguaia, abre caminho para novos processos contra militares acusados de matar e torturar na ditadura.
Segundo o juiz "ad hoc" da corte, Roberto Caldas, a sentença não se aplica apenas à guerrilha. "A decisão se aplica a todos os casos de tortura, desaparecimento forçado e execução sumária ocorridos na ditadura", disse Caldas.
"É uma sentença histórica, que estabelece que nenhum crime contra os direitos humanos pode ficar impune com base na Lei da Anistia."
A corte da OEA (Ordem dos Estados Americanos) decidiu que a Lei da Anistia não pode ser usada para proteger ex-agentes da ditadura.
O entendimento contraria decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que recusou a revisão da lei em abril.
O Ministério Público Federal deve ingressar com novas ações, com base na decisão da corte internacional.
Como signatário da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o Brasil tem de acatar decisões da corte.
A sentença também determinou o pagamento de indenizações a 113 parentes de vítimas. Pais e filhos terão direito a US$ 45 mil, e irmãos, a US$ 15 mil. A corte não informou quantas pessoas estão classificadas em cada caso.
O presidente do STF, Cezar Peluso, afirmou que a decisão da corte internacional "não revoga, não anula, não cassa" a do Supremo.
Para Peluso, a determinação para que o Estado identifique e puna os responsáveis pelas mortes vale apenas no "campo da convencionalidade", isto é, das convenções internacionais.
Segundo ele, o Brasil até poderá sofrer sanções internacionais, mas internamente a lei continuará valendo.
Marco Aurélio Mello concorda. "É uma decisão tomada no âmbito internacional e não no interno. O que nós decidimos no STF foi a a partir do direito nacional. Na prática, o efeito será nenhum."
Em nota, o Itamaraty afirmou que o Brasil já adotou muitas das medidas determinadas na sentença da corte.
FAMILIARES
A decisão da corte internacional foi comemorada por familiares de vítimas do Araguaia, que cobraram seu cumprimento integral pelo governo brasileiro.
"Vencemos a arrogância dos militares e do Judiciário", disse Criméia Almeida, mulher de André Grabois, desaparecido na guerrilha.
Eles também cobraram a abertura dos arquivos da ditadura. "Lula elogiou a abertura do WikiLeaks. Por que ele não abre o nosso Wikileaks?", questionou Criméia.
Helenalda Nazareth, irmã de Helenira Nazareth, também desaparecida, afirmou que os familiares querem reparação não apenas por mortes e desaparecimentos, mas também por casos de tortura.
por:
BERNARDO MELLO FRANCO
FERNANDO GALLO
DE SÃO PAULO
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
Segundo o juiz "ad hoc" da corte, Roberto Caldas, a sentença não se aplica apenas à guerrilha. "A decisão se aplica a todos os casos de tortura, desaparecimento forçado e execução sumária ocorridos na ditadura", disse Caldas.
"É uma sentença histórica, que estabelece que nenhum crime contra os direitos humanos pode ficar impune com base na Lei da Anistia."
A corte da OEA (Ordem dos Estados Americanos) decidiu que a Lei da Anistia não pode ser usada para proteger ex-agentes da ditadura.
O entendimento contraria decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que recusou a revisão da lei em abril.
O Ministério Público Federal deve ingressar com novas ações, com base na decisão da corte internacional.
Como signatário da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o Brasil tem de acatar decisões da corte.
A sentença também determinou o pagamento de indenizações a 113 parentes de vítimas. Pais e filhos terão direito a US$ 45 mil, e irmãos, a US$ 15 mil. A corte não informou quantas pessoas estão classificadas em cada caso.
O presidente do STF, Cezar Peluso, afirmou que a decisão da corte internacional "não revoga, não anula, não cassa" a do Supremo.
Para Peluso, a determinação para que o Estado identifique e puna os responsáveis pelas mortes vale apenas no "campo da convencionalidade", isto é, das convenções internacionais.
Segundo ele, o Brasil até poderá sofrer sanções internacionais, mas internamente a lei continuará valendo.
Marco Aurélio Mello concorda. "É uma decisão tomada no âmbito internacional e não no interno. O que nós decidimos no STF foi a a partir do direito nacional. Na prática, o efeito será nenhum."
Em nota, o Itamaraty afirmou que o Brasil já adotou muitas das medidas determinadas na sentença da corte.
FAMILIARES
A decisão da corte internacional foi comemorada por familiares de vítimas do Araguaia, que cobraram seu cumprimento integral pelo governo brasileiro.
"Vencemos a arrogância dos militares e do Judiciário", disse Criméia Almeida, mulher de André Grabois, desaparecido na guerrilha.
Eles também cobraram a abertura dos arquivos da ditadura. "Lula elogiou a abertura do WikiLeaks. Por que ele não abre o nosso Wikileaks?", questionou Criméia.
Helenalda Nazareth, irmã de Helenira Nazareth, também desaparecida, afirmou que os familiares querem reparação não apenas por mortes e desaparecimentos, mas também por casos de tortura.
por:
BERNARDO MELLO FRANCO
FERNANDO GALLO
DE SÃO PAULO
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
Brasil é 47º em ranking mundial de democracia - CLÓVIS ROSSI
O Brasil pode até avançar para o quinto lugar no campeonato da economia mundial no governo Dilma Rousseff, como prevê Luiz Inácio Lula da Silva, mas não chegará a uma posição similar ou próxima a ela no ranking planetário da democracia.
O país está em uma posição muito inferior, e, pior, retrocedendo, ao menos no Índice da Democracia 2010, que acaba de ser divulgado pela Economist Intelligence Unit, o braço de pesquisas da respeitada revista britânica "The Economist".
O Brasil recuou do 41º lugar em 2008 para o 47º agora (o levantamento é feito a cada dois anos). Caiu de 7,38 pontos para 7,12, em 10 possíveis. Nem aparece como "democracia plena", o belo rótulo reservado para apenas 26 dos 167 países ranqueados.
O Brasil é rotulado como "democracia imperfeita" ao lado de 52 outros países, entre eles França e Itália, o que mostra o rigor da avaliação.
O item que derruba o Brasil, entre os cinco que o índice leva em conta, é "cultura política". A nota do país nesse quesito é 4,38.
Um segundo critério ajuda a empurrar o país para baixo: chama-se "participação política", em que o Brasil leva 5.
Essas duas notas representam brutal contraste com os 9,58 recebidos em "processo eleitoral e pluralismo" e com os 9,12 de "liberdades civis", os dois quesitos que mais usualmente aparecem na discussão sobre democracia.
Significa, portanto, que o Brasil seria facilmente catalogado como "democracia plena" se o ranking considerasse apenas os aspectos mais convencionais.
Tanto é assim que a primeira do ranking, a Noruega, tem nota geral 9,8, não muito acima do que o Brasil obtém nos quesitos convencionais.
Mas, quando o ranking se sofistica um pouco, verifica-se que a nota norueguesa em "cultura política" é 9,38, quase o dobro da brasileira.
O Brasil perde pontos também em "funcionamento do governo". Tira 7,5, abaixo dos 8,21 da África do Sul, mas mais que os 7,14 da França e quase empatado com os 7,86 dos Estados Unidos --que, aliás, fica apenas na 16ª posição no ranking geral.
A América Latina só tem dois países entre as "democracias plenas" (Uruguai, 21º, com 8,10, e Costa Rica, 24ª, com 8,04). Dois países latino-americanos estão à frente do Brasil na lista de "democracias imperfeitas": Chile (34º) e Panamá (46º).
O relatório lamenta que "as liberdades políticas sofreram erosão em muitos países desde a publicação do índice anterior", em 2008, e culpa, principalmente a crise financeira global, "[por ter] minado a confiança pública no governo e tentado políticos a incomodar a oposição".
O país está em uma posição muito inferior, e, pior, retrocedendo, ao menos no Índice da Democracia 2010, que acaba de ser divulgado pela Economist Intelligence Unit, o braço de pesquisas da respeitada revista britânica "The Economist".
O Brasil recuou do 41º lugar em 2008 para o 47º agora (o levantamento é feito a cada dois anos). Caiu de 7,38 pontos para 7,12, em 10 possíveis. Nem aparece como "democracia plena", o belo rótulo reservado para apenas 26 dos 167 países ranqueados.
O Brasil é rotulado como "democracia imperfeita" ao lado de 52 outros países, entre eles França e Itália, o que mostra o rigor da avaliação.
O item que derruba o Brasil, entre os cinco que o índice leva em conta, é "cultura política". A nota do país nesse quesito é 4,38.
Um segundo critério ajuda a empurrar o país para baixo: chama-se "participação política", em que o Brasil leva 5.
Essas duas notas representam brutal contraste com os 9,58 recebidos em "processo eleitoral e pluralismo" e com os 9,12 de "liberdades civis", os dois quesitos que mais usualmente aparecem na discussão sobre democracia.
Significa, portanto, que o Brasil seria facilmente catalogado como "democracia plena" se o ranking considerasse apenas os aspectos mais convencionais.
Tanto é assim que a primeira do ranking, a Noruega, tem nota geral 9,8, não muito acima do que o Brasil obtém nos quesitos convencionais.
Mas, quando o ranking se sofistica um pouco, verifica-se que a nota norueguesa em "cultura política" é 9,38, quase o dobro da brasileira.
O Brasil perde pontos também em "funcionamento do governo". Tira 7,5, abaixo dos 8,21 da África do Sul, mas mais que os 7,14 da França e quase empatado com os 7,86 dos Estados Unidos --que, aliás, fica apenas na 16ª posição no ranking geral.
A América Latina só tem dois países entre as "democracias plenas" (Uruguai, 21º, com 8,10, e Costa Rica, 24ª, com 8,04). Dois países latino-americanos estão à frente do Brasil na lista de "democracias imperfeitas": Chile (34º) e Panamá (46º).
O relatório lamenta que "as liberdades políticas sofreram erosão em muitos países desde a publicação do índice anterior", em 2008, e culpa, principalmente a crise financeira global, "[por ter] minado a confiança pública no governo e tentado políticos a incomodar a oposição".
quinta-feira, dezembro 16, 2010
Dados da Educação desmentem balanço do governo Lula
O balanço oficial do governo Lula afirma, no item "educação", que houve "considerável aumento da matrícula" e "melhoria de qualidade no ensino médio". Dados oficiais do próprio Ministério da Educação, porém, divergem dessas conclusões.
Segundo o Censo Escolar, o número de alunos no ensino médio vem caindo: 9,1 milhões em 2003; 8,9 milhões em 2006; e 7,9 milhões em 2009 (último disponível).
Além disso, a qualidade nessa etapa está praticamente estagnada. O Ideb, indicador federal que vai de 0 a 10, mostra que o ensino médio do país foi de 3,4 em 2005 para 3,6 em 2009.
O balanço também cita a aplicação do Pisa, exame que avalia o nível de aprendizagem de jovens de vários países. Entre os piores do mundo, os resultados do Brasil não são apontados no texto.
O balanço, subdividido em seis volumes e que trata da macroeconomia ao combate à corrupção, ignora o maior escândalo de corrupção no governo: o mensalão.
No capítulo, são informadas várias ações investigativas do governo, entre elas as operações Sanguessuga e Vampiros, que foram feitas em ministérios. Mas as ações de investigação nos contratos de publicidade e nos Correios, que originaram a crise, foram ignoradas.
No capítulo econômico, o balanço destaca a expansão da renda, do emprego e do crédito, mas reconhece que a inflação e o deficit nas transações de bens e serviços com o exterior se elevaram no final da administração.
Na área energética, o governo ressaltou que foi feito um novo modelo de comercialização para o setor e houve a retomada do planejamento energético, o que assegurou a oferta de energia ao longo do mandato.
Sempre desprezada ou tratada por Lula como "entrave" ao progresso, a área ambiental acabou se tornando um dos setores em que seu governo teve mais a mostrar.
A maior conquista mencionada no balanço de governo é a redução de 53% na taxa de desmatamento.
As derrotas, porém, foram esquecidas. O governo federal não menciona o decreto do ano passado que permite a destruição da maior parte das cavernas do Brasil ou o adiamento da obrigação de fornecimento de diesel mais limpo.
Sobre a Política Externa, há referência ao acordo nuclear do Irã, selado com Brasil e Turquia. Porém o desfecho é omitido: o acordo não foi aprovado pela ONU.
Segundo o Censo Escolar, o número de alunos no ensino médio vem caindo: 9,1 milhões em 2003; 8,9 milhões em 2006; e 7,9 milhões em 2009 (último disponível).
Além disso, a qualidade nessa etapa está praticamente estagnada. O Ideb, indicador federal que vai de 0 a 10, mostra que o ensino médio do país foi de 3,4 em 2005 para 3,6 em 2009.
O balanço também cita a aplicação do Pisa, exame que avalia o nível de aprendizagem de jovens de vários países. Entre os piores do mundo, os resultados do Brasil não são apontados no texto.
O balanço, subdividido em seis volumes e que trata da macroeconomia ao combate à corrupção, ignora o maior escândalo de corrupção no governo: o mensalão.
No capítulo, são informadas várias ações investigativas do governo, entre elas as operações Sanguessuga e Vampiros, que foram feitas em ministérios. Mas as ações de investigação nos contratos de publicidade e nos Correios, que originaram a crise, foram ignoradas.
No capítulo econômico, o balanço destaca a expansão da renda, do emprego e do crédito, mas reconhece que a inflação e o deficit nas transações de bens e serviços com o exterior se elevaram no final da administração.
Na área energética, o governo ressaltou que foi feito um novo modelo de comercialização para o setor e houve a retomada do planejamento energético, o que assegurou a oferta de energia ao longo do mandato.
Sempre desprezada ou tratada por Lula como "entrave" ao progresso, a área ambiental acabou se tornando um dos setores em que seu governo teve mais a mostrar.
A maior conquista mencionada no balanço de governo é a redução de 53% na taxa de desmatamento.
As derrotas, porém, foram esquecidas. O governo federal não menciona o decreto do ano passado que permite a destruição da maior parte das cavernas do Brasil ou o adiamento da obrigação de fornecimento de diesel mais limpo.
Sobre a Política Externa, há referência ao acordo nuclear do Irã, selado com Brasil e Turquia. Porém o desfecho é omitido: o acordo não foi aprovado pela ONU.
ONGs terão que devolver R$ 6 mi ao Ministério do Turismo
Seis ONGs com ligações com políticos ou partidos estão sendo cobradas a devolver aos cofres públicos R$ 6 milhões por causa de irregularidades nas prestações de contas de convênios com o Ministério do Turismo para a realização de festas.
Conforme a Folha mostrou em reportagem de abril, das 50 organizações que mais haviam recebido recursos entre 2007 e 2009 do Turismo para esse tipo de evento, em 26 os responsáveis tinham vínculos com parlamentares ou partidos.
O total de cobranças do ministério alcança R$ 68 milhões. A maioria é porque a ONG ou a prefeitura nem sequer apresentou documentos para comprovar os gastos. Há ainda cobranças por irregularidades constatadas.
É o caso do convênio com a Comissão 21 de Desenvolvimento Sócio-Cultural, que recebeu R$ 2,4 milhões para realizar o evento Brasília Capital Cultural. Segundo o ministério, houve irregularidade na execução do projeto.
A ONG recebeu emendas do deputado Bispo Rodovalho (PP-DF). A empresa que foi subcontratada para a realização do evento prestou assessoria para o deputado. A assessoria do congressista afirmou que ele não é responsável pela prestação de contas da organização.
A Igreja Tabernáculo Evangélico de Jesus, ligada ao então deputado distrital Júnior Brunelli não apresentou documentação pedida pelo ministério e terá que devolver R$ 680 mil.
A Cria Brasil (SP), a Brasol (MG), o Iatec (PE), e a Associação Cena Aberta (GO) eram controladas por ex-candidatos ou integrantes de partidos quando assinaram convênios e também são cobradas a devolver verbas.
O ministério também analisa 3.000 prestações de contas, a maioria de festas. Entre elas está a da Premium Avança Brasil e a do Instituto Educar e Crescer.
Ontem, a CGU (Controladoria-Geral da União) confirmou que os responsáveis por essas instituições possuem vínculo entre si, conforme a Folha mostrou em abril.
A CGU apontou que elas eram controladas por laranja e fraudavam convênios e disse que encaminhará informações para a Polícia Federal e o Ministério Público. Elas estão proibidas de receber recursos federais.
Conforme a Folha mostrou em reportagem de abril, das 50 organizações que mais haviam recebido recursos entre 2007 e 2009 do Turismo para esse tipo de evento, em 26 os responsáveis tinham vínculos com parlamentares ou partidos.
O total de cobranças do ministério alcança R$ 68 milhões. A maioria é porque a ONG ou a prefeitura nem sequer apresentou documentos para comprovar os gastos. Há ainda cobranças por irregularidades constatadas.
É o caso do convênio com a Comissão 21 de Desenvolvimento Sócio-Cultural, que recebeu R$ 2,4 milhões para realizar o evento Brasília Capital Cultural. Segundo o ministério, houve irregularidade na execução do projeto.
A ONG recebeu emendas do deputado Bispo Rodovalho (PP-DF). A empresa que foi subcontratada para a realização do evento prestou assessoria para o deputado. A assessoria do congressista afirmou que ele não é responsável pela prestação de contas da organização.
A Igreja Tabernáculo Evangélico de Jesus, ligada ao então deputado distrital Júnior Brunelli não apresentou documentação pedida pelo ministério e terá que devolver R$ 680 mil.
A Cria Brasil (SP), a Brasol (MG), o Iatec (PE), e a Associação Cena Aberta (GO) eram controladas por ex-candidatos ou integrantes de partidos quando assinaram convênios e também são cobradas a devolver verbas.
O ministério também analisa 3.000 prestações de contas, a maioria de festas. Entre elas está a da Premium Avança Brasil e a do Instituto Educar e Crescer.
Ontem, a CGU (Controladoria-Geral da União) confirmou que os responsáveis por essas instituições possuem vínculo entre si, conforme a Folha mostrou em abril.
A CGU apontou que elas eram controladas por laranja e fraudavam convênios e disse que encaminhará informações para a Polícia Federal e o Ministério Público. Elas estão proibidas de receber recursos federais.
quinta-feira, dezembro 09, 2010
Holanda prende jovem de 16 anos suspeito de ciberataques pró-WikiLeaks - DA ASSOCIATED PRESS, EM AMSTERDÃ
Promotores da Holanda disseram nesta quinta-feira que um jovem de 16 anos foi preso por suspeita de envolvimento com os ataques de hackers a sites financeiros que cancelaram seus serviços ao site de vazamentos WikiLeaks.
Em comunicado, eles afirmam que o jovem participou dos ataques contra os sites da operadora de cartões de crédito MasterCard e o popular site de pagamento online Paypal, entre outros. Ele foi preso em Haia e seu nome não foi revelado.
Não se sabe exatamente qual a extensão da participação do jovem nos ataques, reivindicados por um grupo de cerca de 1.500 hackers autointitulado Anônimo --e que ganhou notoriedade com ataques à Igreja da Cientologia e ao músico Gene Simmons.
O grupo anunciou nos últimos dias a Operation PayBack (Operação Vingança, em tradução livre), uma série de ataques contra sites de empresas que cancelaram os serviços prestados ao WikiLeaks desde o início do vazamento de 250 mil documentos diplomáticos americanos.
Entre as vítimas, estão os sites da Mastercard, da Visa, que suspenderam contas de doações ao site, além do banco suíço PostFinance, que fechou a conta do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e o governo sueco.
As ações dos ativistas envolvem um "ataque distribuído de negação de serviço" --um método praticado por hackers para reduzir a velocidade de um site ou mesmo tirá-lo do ar. Conhecido como DDoS (um acrônimo em inglês para Distributed Denial of Service), o ataque é uma tentativa de tornar os recursos de um sistema indisponíveis através de sobrecarga.
Um computador mestre tem sob seu comando até milhares de outras máquinas, preparadas para acessar um site em uma mesma hora de uma mesma data. Como servidores web possuem um número limitado de usuários que pode atender simultaneamente, o grande e repentino número de requisições de acesso esgota o atendimento.
MAIS ATAQUES
O grupo prometeu ainda mais ataques cibernéticos contra os "inimigos" do WikiLeaks, incluindo o site de pagamentos online PayPal e o serviço de servidor Amazon --para a qual admitem precisar de mais forças.
"Não podemos atacar a Amazon, atualmente. [...] Nós não temos forças suficientes", escreveu o grupo em uma mensagem no Twitter.
Em uma carta online, o Anônimo disse que seus militantes não eram nem justiceiros, nem terroristas. "O objetivo é simples: conquistar o direito de manter a internet livre de qualquer controle de qualquer entidade, empresa ou governo".
Algumas das motivações para a campanha cibernética parecem resultar da raiva com a prisão de Assange, suspeito de crimes sexuais alegadamente cometidos na Suécia. Ele está preso em Londres, à espera de uma audiência de extradição.
PROCESSO
A empresa processadora de pagamentos do WikiLeaks, a Datacell, da Islândia, prepara-se para mover uma ação contra Visa e Mastercard, que se recusaram a intermediar as doações feitas ao site que é alvo de críticas dos EUA por ter divulgado mais de 250 mil documentos diplomáticos do país.
O presidente da empresa, Andreas Fink, disse que procuraria uma indenização das companhias americanas por terem bloqueado os fundos do WikiLeaks.
"É difícil acreditar que empresas tão grandes como a Visa podem tomar uma decisão política", disse Fink. Em uma declaração anterior, a DataCell defendeu o WikiLeaks concluindo que "é simplesmente ridículo concluir que o site tenha feito algo criminoso".
O WikiLeaks tem estado sob intensa pressão desde que começou a publicar uma série de telegramas do Departamento de Estado americano, com ataques ao seu website e ao seu fundador, que está preso no Reino Unido e luta contra extradição para Suécia sob acusações de crimes sexuais.
Serviços de hospedagem de empresas americanas de internet e finanças suspenderam suas ligações com o WikiLeaks, a maioria alegando violação dos termos de uso. No começo desta semana, Visa e Mastercard disseram que parariam de processar pagamentos para o WikiLeaks.
O presidente da DataCell disse que o foi oficialmente notificado das duas suspensões pela empresa de serviços financeiros Teller, que gerencia parte da infraestrutura de pagamentos da companhia e deve agora se dirigir à Islândia para conduzir procedimentos de auditoria.
Enquanto isso, segundo Fink, as doações de cartões de crédito ao WikiLeaks estavam congeladas até pelo menos a próxima semana, algo que ele disse deverá custar dinheiro para sua empresa.
"Não aceitar nenhuma autorização de cartão de crédito é praticamente matar o negócio", disse ele, que não especificou que tipo de indenização ele estaria buscando.
As declarações de Fink surgiram quando a empresa de pagamento pela internet PayPal comunicou que vai devolver o dinheiro da conta do WikiLeaks para a fundação que estava recolhendo os fundos. Em uma mensagem de blog, a PayPal defendeu sua decisão e negou ter sido um resultado do lobby americano.
Procurada pela Associated Press, a MasterCard se recusa a comentar o caso. Já um porta-voz da Visa Europe, Simon Kleine, disse que organizações podem receber fundos por meio da Visa desde que sejam legais e não quebrem as regras de operação da companhia.
Em comunicado, eles afirmam que o jovem participou dos ataques contra os sites da operadora de cartões de crédito MasterCard e o popular site de pagamento online Paypal, entre outros. Ele foi preso em Haia e seu nome não foi revelado.
Não se sabe exatamente qual a extensão da participação do jovem nos ataques, reivindicados por um grupo de cerca de 1.500 hackers autointitulado Anônimo --e que ganhou notoriedade com ataques à Igreja da Cientologia e ao músico Gene Simmons.
O grupo anunciou nos últimos dias a Operation PayBack (Operação Vingança, em tradução livre), uma série de ataques contra sites de empresas que cancelaram os serviços prestados ao WikiLeaks desde o início do vazamento de 250 mil documentos diplomáticos americanos.
Entre as vítimas, estão os sites da Mastercard, da Visa, que suspenderam contas de doações ao site, além do banco suíço PostFinance, que fechou a conta do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e o governo sueco.
As ações dos ativistas envolvem um "ataque distribuído de negação de serviço" --um método praticado por hackers para reduzir a velocidade de um site ou mesmo tirá-lo do ar. Conhecido como DDoS (um acrônimo em inglês para Distributed Denial of Service), o ataque é uma tentativa de tornar os recursos de um sistema indisponíveis através de sobrecarga.
Um computador mestre tem sob seu comando até milhares de outras máquinas, preparadas para acessar um site em uma mesma hora de uma mesma data. Como servidores web possuem um número limitado de usuários que pode atender simultaneamente, o grande e repentino número de requisições de acesso esgota o atendimento.
MAIS ATAQUES
O grupo prometeu ainda mais ataques cibernéticos contra os "inimigos" do WikiLeaks, incluindo o site de pagamentos online PayPal e o serviço de servidor Amazon --para a qual admitem precisar de mais forças.
"Não podemos atacar a Amazon, atualmente. [...] Nós não temos forças suficientes", escreveu o grupo em uma mensagem no Twitter.
Em uma carta online, o Anônimo disse que seus militantes não eram nem justiceiros, nem terroristas. "O objetivo é simples: conquistar o direito de manter a internet livre de qualquer controle de qualquer entidade, empresa ou governo".
Algumas das motivações para a campanha cibernética parecem resultar da raiva com a prisão de Assange, suspeito de crimes sexuais alegadamente cometidos na Suécia. Ele está preso em Londres, à espera de uma audiência de extradição.
PROCESSO
A empresa processadora de pagamentos do WikiLeaks, a Datacell, da Islândia, prepara-se para mover uma ação contra Visa e Mastercard, que se recusaram a intermediar as doações feitas ao site que é alvo de críticas dos EUA por ter divulgado mais de 250 mil documentos diplomáticos do país.
O presidente da empresa, Andreas Fink, disse que procuraria uma indenização das companhias americanas por terem bloqueado os fundos do WikiLeaks.
"É difícil acreditar que empresas tão grandes como a Visa podem tomar uma decisão política", disse Fink. Em uma declaração anterior, a DataCell defendeu o WikiLeaks concluindo que "é simplesmente ridículo concluir que o site tenha feito algo criminoso".
O WikiLeaks tem estado sob intensa pressão desde que começou a publicar uma série de telegramas do Departamento de Estado americano, com ataques ao seu website e ao seu fundador, que está preso no Reino Unido e luta contra extradição para Suécia sob acusações de crimes sexuais.
Serviços de hospedagem de empresas americanas de internet e finanças suspenderam suas ligações com o WikiLeaks, a maioria alegando violação dos termos de uso. No começo desta semana, Visa e Mastercard disseram que parariam de processar pagamentos para o WikiLeaks.
O presidente da DataCell disse que o foi oficialmente notificado das duas suspensões pela empresa de serviços financeiros Teller, que gerencia parte da infraestrutura de pagamentos da companhia e deve agora se dirigir à Islândia para conduzir procedimentos de auditoria.
Enquanto isso, segundo Fink, as doações de cartões de crédito ao WikiLeaks estavam congeladas até pelo menos a próxima semana, algo que ele disse deverá custar dinheiro para sua empresa.
"Não aceitar nenhuma autorização de cartão de crédito é praticamente matar o negócio", disse ele, que não especificou que tipo de indenização ele estaria buscando.
As declarações de Fink surgiram quando a empresa de pagamento pela internet PayPal comunicou que vai devolver o dinheiro da conta do WikiLeaks para a fundação que estava recolhendo os fundos. Em uma mensagem de blog, a PayPal defendeu sua decisão e negou ter sido um resultado do lobby americano.
Procurada pela Associated Press, a MasterCard se recusa a comentar o caso. Já um porta-voz da Visa Europe, Simon Kleine, disse que organizações podem receber fundos por meio da Visa desde que sejam legais e não quebrem as regras de operação da companhia.
Presidente Lula critica prisão de fundador do site WikiLeaks - Nathalia Passarinho e Robson Bonin
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quinta-feira (9), durante balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a prisão do fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, e pediu protestos contra restrições à liberdade de imprensa. O australiano Assange, de 39 anos, foi preso sob a acusação de estupro e agressão sexual. Ele se encontra detido na prisão londrina de Wandsworth e teve o pedido de liberdade sob fiança negado pela Justiça na última terça-feira (7).
“O rapaz que estava desembaraçando a diplomacia norte-americana, o rapaz do WikiLeaks foi preso e não estou vendo nenhum protesto pela liberdade de expressão. É engraçado. Não tem nada, nada pela liberdade de expressão e contra a prisão de um rapaz que estava colocando a nu um trabalho menor que muitos embaixadores fizeram”, afirmou.
Em referência a cartas sobre o Brasil enviadas pelo ex-embaixador norte-americano no país Clifford Sobel, Lula afirmou que é melhor ficar quieto do que “escrever bobagens”. “A Dilma tem que falar para os seus ministros que se não tiver o que escrever, não escreva nada. Não escreva bobagem. Daí aparece o tal do Wikileaks e desnuda essa diplomacia”, afirmou.
O site WikiLeaks divulgou nesta semana um telegrama da embaixada dos Estados Unidos de janeiro de 2008 em que é relatado um encontro entre o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e Clifford Sobel, que na época era embaixador dos EUA no Brasil. Durante a conversa sobre um acordo de cooperação, segundo o documento, Jobim diz a Sobel que o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Guimarães, "odeia os Estados Unidos" e estava tentando criar problemas na relação entre os dois países.
Segundo o presidente, o “culpado não é quem divulgou [o conteúdo de documentos secretos], é quem escreveu”. "Portanto, ao invés de culpar quem divulgou, culpe quem escreveu a bobagem. Fica registrado o meu protesto pela liberdade de imprensa”, complementou o presidente ao encerrar o discurso.
“O rapaz que estava desembaraçando a diplomacia norte-americana, o rapaz do WikiLeaks foi preso e não estou vendo nenhum protesto pela liberdade de expressão. É engraçado. Não tem nada, nada pela liberdade de expressão e contra a prisão de um rapaz que estava colocando a nu um trabalho menor que muitos embaixadores fizeram”, afirmou.
Em referência a cartas sobre o Brasil enviadas pelo ex-embaixador norte-americano no país Clifford Sobel, Lula afirmou que é melhor ficar quieto do que “escrever bobagens”. “A Dilma tem que falar para os seus ministros que se não tiver o que escrever, não escreva nada. Não escreva bobagem. Daí aparece o tal do Wikileaks e desnuda essa diplomacia”, afirmou.
O site WikiLeaks divulgou nesta semana um telegrama da embaixada dos Estados Unidos de janeiro de 2008 em que é relatado um encontro entre o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e Clifford Sobel, que na época era embaixador dos EUA no Brasil. Durante a conversa sobre um acordo de cooperação, segundo o documento, Jobim diz a Sobel que o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Guimarães, "odeia os Estados Unidos" e estava tentando criar problemas na relação entre os dois países.
Segundo o presidente, o “culpado não é quem divulgou [o conteúdo de documentos secretos], é quem escreveu”. "Portanto, ao invés de culpar quem divulgou, culpe quem escreveu a bobagem. Fica registrado o meu protesto pela liberdade de imprensa”, complementou o presidente ao encerrar o discurso.
Wikileaks: a nova guerra de Brancaleone - Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa
O novo episódio da guerra entre a mais poderosa nação do mundo e um site da internet, descrito nos jornais de quinta-feira (9/12), pode ser visto como o ensaio de futuros conflitos que nos aguardam com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, num momento em que os poderes nacionais precisam se abrir cada vez mais para compromissos de alcance global.
A feroz perseguição do governo americano ao australiano Julian Assange, criador do Wikileaks, provocou uma reação em cadeia de hackers profissionais e amadores ao redor do mundo. Como resultado, os sites de empresas e outras organizações que colaboraram no cerco a Assange tiveram que sair do ar.
A tentativa de sufocar financeiramente o negócio de Assange provocou retaliações contra a Amazon, o sistema de pagamentos eletrônicos PayPal, a Mastercard e outras empresas. O cerco judicial pode causar problemas a instituições da Suécia, onde Julian Assange está sendo processado por supostos crimes sexuais.
O novo inimigo, uma horda sem líderes que se move por sua própria conta e vontade, pode crescer exponencialmente e causar prejuízos muito mais graves do que os constrangimentos provocados até agora pelo vazamento de intrigas diplomáticas através do Wikileaks.
Lições de Canetti
Por enquanto, trata-se de um movimento anárquico, porém efetivo. Amanhã, essa armada sem comando pode ganhar adesões poderosas e se transformar em oponente de respeito. A mesma cadeia de interesses que faz com que outros governos se aliem, ainda que discretamente e de forma extraoficial, à ofensiva dos Estados Unidos contra Julian Assange, tentando aniquilar seu empreendimento e tirá-lo de circulação, pode se virar contra o sistema.
Na medida em que novos vazamentos revelarem, por exemplo, os bastidores das negociações sobre as mudanças climáticas e os acertos por baixo do pano em torno das bilionárias operações de socorro a bancos e fundos de investimento a partir da crise de 2008, o exército de Brancaleone que começa a se mobilizar em defesa do Wikileaks pode agregar elementos mais poderosos e eficientes, e uma reação inicialmente difusa acabar se transformando em um conflito de grandes proporções.
Seria como alguns cenários descritos no clássico Massa e Poder, do pensador Elias Canetti.
Como ficaria a imprensa tradicional numa circunstância como essa?
Problema para a imprensa
Elias Canetti, cuja obra é considerada um dos mais reveladores ensaios sobre a humanidade do século 20, pode ser convocado também para ilustrar muitos desafios deste século que já avança para sua segunda década.
O conflito entre a nação mais poderosa do mundo e um negócio despretensioso – cujo único produto é a informação que se pretende ocultar – pode ajudar a desnudar o sistema sobre o qual muito se fala e que de fato pouco se conhece.
No momento em que o futuro do poder americano é colocado em xeque por causa de crises financeiras sucessivas e sua fragilidade exposta na ação do terrorismo, o uso excessivo de força contra o criador do Wikileaks pode ser visto como sinal de fraqueza.
À margem da profusão de vazamentos que todos os dias circulam pela internet, e que tem uma pequena parcela publicada diariamente em jornais de todo o mundo, consolidam-se velhas teorias conspiratórias, e o mundo se dá conta de que a imprensa tradicional nunca foi capaz de informar a humanidade sobre como as coisas realmente funcionam.
Dor de cabeça
Um comentário da jurista Maristela Basso, publicado na Folha de S.Paulo, revela que Julian Assange não está desamparado. Pelo contrário, ele ainda pode reverter a situação e obter uma indenização milionária do governo dos Estados Unidos. Se isso vier a acontecer, e iniciativas como o Wikileaks se tornarem dominantes na preferência dos leitores, qual será o futuro da imprensa tradicional?
Por enquanto, os jornais se deliciam com intrigas e selecionam criteriosamente o material exposto pelo Wikileaks, conforme suas próprias conveniências. Mas quanto tempo ainda vai demorar para que seus leitores percebam que, na verdade, a imprensa tradicional sempre esteve do lado do sistema, omitindo do público certas razões de Estado que na verdade escondem interesses muito particulares?
Aquilo que no princípio parecia muito divertido para algumas redações pode acabar virando uma grande dor de cabeça no futuro.
A feroz perseguição do governo americano ao australiano Julian Assange, criador do Wikileaks, provocou uma reação em cadeia de hackers profissionais e amadores ao redor do mundo. Como resultado, os sites de empresas e outras organizações que colaboraram no cerco a Assange tiveram que sair do ar.
A tentativa de sufocar financeiramente o negócio de Assange provocou retaliações contra a Amazon, o sistema de pagamentos eletrônicos PayPal, a Mastercard e outras empresas. O cerco judicial pode causar problemas a instituições da Suécia, onde Julian Assange está sendo processado por supostos crimes sexuais.
O novo inimigo, uma horda sem líderes que se move por sua própria conta e vontade, pode crescer exponencialmente e causar prejuízos muito mais graves do que os constrangimentos provocados até agora pelo vazamento de intrigas diplomáticas através do Wikileaks.
Lições de Canetti
Por enquanto, trata-se de um movimento anárquico, porém efetivo. Amanhã, essa armada sem comando pode ganhar adesões poderosas e se transformar em oponente de respeito. A mesma cadeia de interesses que faz com que outros governos se aliem, ainda que discretamente e de forma extraoficial, à ofensiva dos Estados Unidos contra Julian Assange, tentando aniquilar seu empreendimento e tirá-lo de circulação, pode se virar contra o sistema.
Na medida em que novos vazamentos revelarem, por exemplo, os bastidores das negociações sobre as mudanças climáticas e os acertos por baixo do pano em torno das bilionárias operações de socorro a bancos e fundos de investimento a partir da crise de 2008, o exército de Brancaleone que começa a se mobilizar em defesa do Wikileaks pode agregar elementos mais poderosos e eficientes, e uma reação inicialmente difusa acabar se transformando em um conflito de grandes proporções.
Seria como alguns cenários descritos no clássico Massa e Poder, do pensador Elias Canetti.
Como ficaria a imprensa tradicional numa circunstância como essa?
Problema para a imprensa
Elias Canetti, cuja obra é considerada um dos mais reveladores ensaios sobre a humanidade do século 20, pode ser convocado também para ilustrar muitos desafios deste século que já avança para sua segunda década.
O conflito entre a nação mais poderosa do mundo e um negócio despretensioso – cujo único produto é a informação que se pretende ocultar – pode ajudar a desnudar o sistema sobre o qual muito se fala e que de fato pouco se conhece.
No momento em que o futuro do poder americano é colocado em xeque por causa de crises financeiras sucessivas e sua fragilidade exposta na ação do terrorismo, o uso excessivo de força contra o criador do Wikileaks pode ser visto como sinal de fraqueza.
À margem da profusão de vazamentos que todos os dias circulam pela internet, e que tem uma pequena parcela publicada diariamente em jornais de todo o mundo, consolidam-se velhas teorias conspiratórias, e o mundo se dá conta de que a imprensa tradicional nunca foi capaz de informar a humanidade sobre como as coisas realmente funcionam.
Dor de cabeça
Um comentário da jurista Maristela Basso, publicado na Folha de S.Paulo, revela que Julian Assange não está desamparado. Pelo contrário, ele ainda pode reverter a situação e obter uma indenização milionária do governo dos Estados Unidos. Se isso vier a acontecer, e iniciativas como o Wikileaks se tornarem dominantes na preferência dos leitores, qual será o futuro da imprensa tradicional?
Por enquanto, os jornais se deliciam com intrigas e selecionam criteriosamente o material exposto pelo Wikileaks, conforme suas próprias conveniências. Mas quanto tempo ainda vai demorar para que seus leitores percebam que, na verdade, a imprensa tradicional sempre esteve do lado do sistema, omitindo do público certas razões de Estado que na verdade escondem interesses muito particulares?
Aquilo que no princípio parecia muito divertido para algumas redações pode acabar virando uma grande dor de cabeça no futuro.
quarta-feira, dezembro 08, 2010
Pisa 2009: Meninas brasileiras superam meninos em leitura, mas perdem em matemática e ciências - Rafael Targino
As meninas brasileiras superaram os meninos nas provas de leitura do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) 2009, segundo relatório divulgado na terça-feira (7) pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). As notas médias delas foram 29 pontos maiores que as deles.
Os garotos, no entanto, viram o jogo em matemática e ciências. A média em matemática foi 16 pontos melhor e, em ciências, 3 pontos superior.
Esses índices acompanham os resultados apurados nos países membros da OCDE, em que a diferença de scores ficou em 39 pontos (a favor das meninas) em leitura. Em matemática e ciências, os homens também levaram vantagem: 15 e 4 pontos a mais, respectivamente.
Em todas as provas, a província de Xangai, na China, obteve as maiores notas de meninos e meninas entre os países onde os testes foram aplicados. O Quirguistão teve os piores índices em todos.
Entre 2000 e 2009, a diferença entre eles e elas subiu em leitura. No final do século passado, as meninas do bloco da OCDE conseguiram uma média 32 pontos maior (contra 39 agora); as brasileiras, 17 (contra 29 em 2009).
Notas médias gerais
Se considerado histórico das médias das notas brasileiras no Pisa, o Brasil teve o terceiro melhor crescimento na década. Houve crescimento de 33 pontos da nota geral, o que dá ao país o terceiro lugar no ranking -- Luxemburgo, o 1º, cresceu 38 pontos; e o Chile, que está em 2º, cresceu 37.
O maior avanço do país foi em matemática, com 52 pontos - foi de 334 (em 2000) para 386 (em 2009). Em leitura, o patamar de 2009 ficou em 412 - em 2000 era 396, um aumento de 16 pontos. Na área de ciências, que passou a ser avaliada em 2006, o país saiu de 390 para 405. Para se ter uma ideia, os países top da lista ficaram com 539 em leitura (Coreia do Sul), 546 em matemática (Coreia do Sul) e 554 em ciências (Finlândia).
Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, é preciso ponderar que estamos competindo com países mais ricos e desenvolvidos quando elaboramos essas listas. "Temos um século de atraso [para recuperar]", afirma. O MEC qualifica a evolução brasileira, um dos destaques do relatório de 2009, como "considerável". Em linhas gerais, a OCDE credita as melhorias ao aumento de investimento e à criação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação).
"[A criação do Ideb] mexeu na educação do Brasil", afirmou Haddad. Segundo ele quando o Inep divulgou os resultados por escola em 2006, mudou o foco do trabalho. "Colocamos um elemento que estava faltando, o aprendizado", disse.
"Bem abaixo" da média
As notas brasileiras ainda se encontram "bem abaixo" da média dos países desenvolvidos. No entanto, Haddad comenta que o crescimento dos integrantes da OCDE na última década foi pequeno, enquanto o Brasil aumentou em 33 pontos sua média geral. "Estamos em ritmo", afirmou. "Aquela história de que estaremos distantes do restante do mundo não está se confirmando." O PDE (Programa de Desenvolvimento das Escolas) estabelece metas de 417 em 2012, 438 (2015), 455 (2018) e 473 (2021). O objetivo de 2021 é atingir a média dos países da OCDE. A "história" a que se refere o ministro é uma crítica às metas de que em 2021 atingiríamos a média do mundo desenvolvido com atraso de 20 anos.
O que é o Pisa
O Pisa busca medir o conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com 15 anos de idade tanto de países membro da OCDE quanto de países parceiros. Essa é a quarta edição do exame, que é corrigido pela TRI (Teoria de Resposta ao Item). O método é utilizado também na correção do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio): quanto mais distante o resultado ficar da média estipulada, melhor (ou pior) será a nota.
A avaliação já foi aplicada nos anos de 2000, 2003 e 2006. Os dados divulgados hoje foram baseados em avaliações feitas em 2009, com 470 mil estudantes de 65 países. A cada ano é dada uma ênfase para uma disciplina: neste ano, foi a vez de leitura.
Fazem parte da OCDE, como membros, Alemanha, Grécia, Chile, Coreia do Sul, México, Holanda e Polônia, entre outros. Dentre os países parceiros, estão Argentina, Brasil, China, Peru, Qatar e Sérvia, entre outros.
Os garotos, no entanto, viram o jogo em matemática e ciências. A média em matemática foi 16 pontos melhor e, em ciências, 3 pontos superior.
Esses índices acompanham os resultados apurados nos países membros da OCDE, em que a diferença de scores ficou em 39 pontos (a favor das meninas) em leitura. Em matemática e ciências, os homens também levaram vantagem: 15 e 4 pontos a mais, respectivamente.
Em todas as provas, a província de Xangai, na China, obteve as maiores notas de meninos e meninas entre os países onde os testes foram aplicados. O Quirguistão teve os piores índices em todos.
Entre 2000 e 2009, a diferença entre eles e elas subiu em leitura. No final do século passado, as meninas do bloco da OCDE conseguiram uma média 32 pontos maior (contra 39 agora); as brasileiras, 17 (contra 29 em 2009).
Notas médias gerais
Se considerado histórico das médias das notas brasileiras no Pisa, o Brasil teve o terceiro melhor crescimento na década. Houve crescimento de 33 pontos da nota geral, o que dá ao país o terceiro lugar no ranking -- Luxemburgo, o 1º, cresceu 38 pontos; e o Chile, que está em 2º, cresceu 37.
O maior avanço do país foi em matemática, com 52 pontos - foi de 334 (em 2000) para 386 (em 2009). Em leitura, o patamar de 2009 ficou em 412 - em 2000 era 396, um aumento de 16 pontos. Na área de ciências, que passou a ser avaliada em 2006, o país saiu de 390 para 405. Para se ter uma ideia, os países top da lista ficaram com 539 em leitura (Coreia do Sul), 546 em matemática (Coreia do Sul) e 554 em ciências (Finlândia).
Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, é preciso ponderar que estamos competindo com países mais ricos e desenvolvidos quando elaboramos essas listas. "Temos um século de atraso [para recuperar]", afirma. O MEC qualifica a evolução brasileira, um dos destaques do relatório de 2009, como "considerável". Em linhas gerais, a OCDE credita as melhorias ao aumento de investimento e à criação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação).
"[A criação do Ideb] mexeu na educação do Brasil", afirmou Haddad. Segundo ele quando o Inep divulgou os resultados por escola em 2006, mudou o foco do trabalho. "Colocamos um elemento que estava faltando, o aprendizado", disse.
"Bem abaixo" da média
As notas brasileiras ainda se encontram "bem abaixo" da média dos países desenvolvidos. No entanto, Haddad comenta que o crescimento dos integrantes da OCDE na última década foi pequeno, enquanto o Brasil aumentou em 33 pontos sua média geral. "Estamos em ritmo", afirmou. "Aquela história de que estaremos distantes do restante do mundo não está se confirmando." O PDE (Programa de Desenvolvimento das Escolas) estabelece metas de 417 em 2012, 438 (2015), 455 (2018) e 473 (2021). O objetivo de 2021 é atingir a média dos países da OCDE. A "história" a que se refere o ministro é uma crítica às metas de que em 2021 atingiríamos a média do mundo desenvolvido com atraso de 20 anos.
O que é o Pisa
O Pisa busca medir o conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com 15 anos de idade tanto de países membro da OCDE quanto de países parceiros. Essa é a quarta edição do exame, que é corrigido pela TRI (Teoria de Resposta ao Item). O método é utilizado também na correção do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio): quanto mais distante o resultado ficar da média estipulada, melhor (ou pior) será a nota.
A avaliação já foi aplicada nos anos de 2000, 2003 e 2006. Os dados divulgados hoje foram baseados em avaliações feitas em 2009, com 470 mil estudantes de 65 países. A cada ano é dada uma ênfase para uma disciplina: neste ano, foi a vez de leitura.
Fazem parte da OCDE, como membros, Alemanha, Grécia, Chile, Coreia do Sul, México, Holanda e Polônia, entre outros. Dentre os países parceiros, estão Argentina, Brasil, China, Peru, Qatar e Sérvia, entre outros.
Investigação francesa aponta que tropas da ONU levaram cólera ao Haiti
A epidemia de cólera no Haiti que deixou mais de 2.000 mortos começou no acampamento dos soldados nepaleses da a Minustah (a missão da ONU no Haiti), aponta um relatório de especialistas pedido pelo governo francês.
Em novembro, rumores de que os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas foram os responsáveis pela epidemia de cólera no Haiti levou a uma onda de protestos que deixou ao menos dois haitianos mortos e seis soldados feridos. A missão é comandada pelo batalhão brasileiro da missão, que mantém 2.200 homens no país.
O renomado epidemiologista francês Renaud Piarroux coordenou no mês passado uma investigação no Haiti e concluiu que a epidemia foi gerada por uma cepa importada e se propagou a partir do pequeno povoado de Mirebalais, no centro do país --onde soldados nepaleses mantêm seu acampamento.
O relatório, entregue ao Ministério de Relações Exteriores francês, aponta ainda que os casos vieram logo após a chegada das tropas no local. O estudo explica também a forma de propagação da enfermidade --os resíduos sanitários eram drenados do acampamento para o rio Artibonite, que abastece os habitantes do povoado. Pela análise, a corrente fluvial facilitou o contágio.
O cólera é causado por bactérias que proliferam em água ou comida contaminada, frequentemente por fezes. Se não for tratada, a doença pode matar de desidratação em um dia. As pessoas mais vulneráveis são os mais jovens e os idosos.
Uma fonte ligada à investigação afirmou à France Presse, em condição de anonimato, que o ponto de partida foi localizado de forma muito precisa na base da ONU em Mirebalais.
"Não há outra explicação possível, em vista de que não havia cólera no país, e levando em conta a intensidade e a velocidade de disseminação e a concentração da bactéria no delta do Artibonite", enfatizou. "A explicação mais lógica é a introdução maciça de matéria fecal no rio Artibonite em uma única ocasião".
O porta-voz do ministério, Bernard Valero, não se pronunciou sobre as conclusões do relatório, mas afirmou que uma cópia será enviada a investigadores da ONU.
A ONU ainda não se pronunciou sobre a nova investigação, mas disse no passado que não há evidências de que o Vibrio cholerae que circula no país tenha sido trazido por militares da missão. Segundo a organização, a bactéria causadora da epidemia no Haiti é encontrada em várias partes da região sul da Ásia, não apenas no Nepal.
No mês passado, Edmond Mulet, chefe civil da missão das Nações Unidas no Haiti, havia dito que nenhum soldado da ONU, policial ou funcionário civil havia tido exame positivo para cólera, defendendo os nepaleses, que foram alvo de protestos. Segundo Mulet, todas as amostras retiradas de latrinas, cozinhas e suprimentos de água no campo nepalês suspeito tiveram resultado negativo.
A epidemia de cólera tornou ainda mais difícil a situação neste miserável país caribenho, que já tinha sido devastado por um forte terremoto, em janeiro deste ano, que matou 250 mil pessoas e deixou 1,3 milhão de desabrigados vivendo em tendas de campanha.
Segundo balanço divulgado nesta segunda-feira pelas autoridades haitianas, mais de 2.070 morreram por cólera no Haiti. O número de pessoas atendidas com cólera chegou a 91.700, das quais 43.200 foram hospitalizadas. A mortalidade é de 2,3% dos casos, segundo o Ministério da Saúde do Haiti.
No país vizinho, a República Dominicana, foram declarados 16 casos da doença, mas ainda não há mortes.
Em novembro, rumores de que os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas foram os responsáveis pela epidemia de cólera no Haiti levou a uma onda de protestos que deixou ao menos dois haitianos mortos e seis soldados feridos. A missão é comandada pelo batalhão brasileiro da missão, que mantém 2.200 homens no país.
O renomado epidemiologista francês Renaud Piarroux coordenou no mês passado uma investigação no Haiti e concluiu que a epidemia foi gerada por uma cepa importada e se propagou a partir do pequeno povoado de Mirebalais, no centro do país --onde soldados nepaleses mantêm seu acampamento.
O relatório, entregue ao Ministério de Relações Exteriores francês, aponta ainda que os casos vieram logo após a chegada das tropas no local. O estudo explica também a forma de propagação da enfermidade --os resíduos sanitários eram drenados do acampamento para o rio Artibonite, que abastece os habitantes do povoado. Pela análise, a corrente fluvial facilitou o contágio.
O cólera é causado por bactérias que proliferam em água ou comida contaminada, frequentemente por fezes. Se não for tratada, a doença pode matar de desidratação em um dia. As pessoas mais vulneráveis são os mais jovens e os idosos.
Uma fonte ligada à investigação afirmou à France Presse, em condição de anonimato, que o ponto de partida foi localizado de forma muito precisa na base da ONU em Mirebalais.
"Não há outra explicação possível, em vista de que não havia cólera no país, e levando em conta a intensidade e a velocidade de disseminação e a concentração da bactéria no delta do Artibonite", enfatizou. "A explicação mais lógica é a introdução maciça de matéria fecal no rio Artibonite em uma única ocasião".
O porta-voz do ministério, Bernard Valero, não se pronunciou sobre as conclusões do relatório, mas afirmou que uma cópia será enviada a investigadores da ONU.
A ONU ainda não se pronunciou sobre a nova investigação, mas disse no passado que não há evidências de que o Vibrio cholerae que circula no país tenha sido trazido por militares da missão. Segundo a organização, a bactéria causadora da epidemia no Haiti é encontrada em várias partes da região sul da Ásia, não apenas no Nepal.
No mês passado, Edmond Mulet, chefe civil da missão das Nações Unidas no Haiti, havia dito que nenhum soldado da ONU, policial ou funcionário civil havia tido exame positivo para cólera, defendendo os nepaleses, que foram alvo de protestos. Segundo Mulet, todas as amostras retiradas de latrinas, cozinhas e suprimentos de água no campo nepalês suspeito tiveram resultado negativo.
A epidemia de cólera tornou ainda mais difícil a situação neste miserável país caribenho, que já tinha sido devastado por um forte terremoto, em janeiro deste ano, que matou 250 mil pessoas e deixou 1,3 milhão de desabrigados vivendo em tendas de campanha.
Segundo balanço divulgado nesta segunda-feira pelas autoridades haitianas, mais de 2.070 morreram por cólera no Haiti. O número de pessoas atendidas com cólera chegou a 91.700, das quais 43.200 foram hospitalizadas. A mortalidade é de 2,3% dos casos, segundo o Ministério da Saúde do Haiti.
No país vizinho, a República Dominicana, foram declarados 16 casos da doença, mas ainda não há mortes.
Com impasse dos caças, FAB teme apagão - IGOR GIELOW
O adiamento na decisão sobre a compra dos novos caças da FAB (Força Aérea Brasileira), agora nas mãos da presidente eleita, Dilma Rousseff, trouxe de volta aos militares o temor de um apagão no sistema de defesa aérea do país.
Entre os concorrentes da disputa, houve surpresa com o resultado da reunião entre a presidente eleita e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ocorrida anteontem.
Já entre brigadeiros, além da decepção de ver o enredo que se arrasta desde 2001 sem desfecho, a Folha apurou que há a preocupação com a aposentadoria dos 12 Mirage-2000 que compõem a primeira linha de defesa do núcleo do poder do país.
Baseados em Anápolis (GO), os caças já haviam sido comprados como solução-tampão em 2005, quando a primeira concorrência para adquirir novos aviões foi cancelada pelo governo Lula.
Eles deverão parar de voar a partir de 2014 e, mesmo que o novo modelo esteja escolhido em 2011, dificilmente voará antes de 2015.
Aí surgem as mesmas opções anteriores para evitar o apagão: a compra emergencial de aviões para tapar buraco e a intensificação do uso das versões modernizadas do F-5, aviões da década de 1970 que ganharam recheio eletrônico novo e são elogiados.
No exercício militar Cruzex, em novembro, os F-5 derrubaram na simulação o visitante francês Dassault Rafale --ironicamente, o modelo apontado por Jobim para equipar a FAB.
Os brigadeiros preferiram em sua avaliação o sueco Saab Gripen contra o Rafale e o americano Boeing F-18. Porém, o comandante Juniti Saito enviou, no início do ano passado, ofício asseverando que os três aviões cumpririam o papel previsto.
Dilma agora deverá analisar o parecer de Jobim e, especula-se, o da FAB. Não há prazo, uma decisão é esperada para o início de 2011. A compra não custará menos de R$ 10 bilhões para 36 aviões, armas e logística.
"Estamos prontos para qualquer consulta", disse Bengt Janér, da Saab. Dassault e Boeing não falaram.
A decisão pró-Rafale era dada como certa, embora a permanência de Jobim na Defesa mantenha o concorrente francês como favorito.
Entre os concorrentes da disputa, houve surpresa com o resultado da reunião entre a presidente eleita e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ocorrida anteontem.
Já entre brigadeiros, além da decepção de ver o enredo que se arrasta desde 2001 sem desfecho, a Folha apurou que há a preocupação com a aposentadoria dos 12 Mirage-2000 que compõem a primeira linha de defesa do núcleo do poder do país.
Baseados em Anápolis (GO), os caças já haviam sido comprados como solução-tampão em 2005, quando a primeira concorrência para adquirir novos aviões foi cancelada pelo governo Lula.
Eles deverão parar de voar a partir de 2014 e, mesmo que o novo modelo esteja escolhido em 2011, dificilmente voará antes de 2015.
Aí surgem as mesmas opções anteriores para evitar o apagão: a compra emergencial de aviões para tapar buraco e a intensificação do uso das versões modernizadas do F-5, aviões da década de 1970 que ganharam recheio eletrônico novo e são elogiados.
No exercício militar Cruzex, em novembro, os F-5 derrubaram na simulação o visitante francês Dassault Rafale --ironicamente, o modelo apontado por Jobim para equipar a FAB.
Os brigadeiros preferiram em sua avaliação o sueco Saab Gripen contra o Rafale e o americano Boeing F-18. Porém, o comandante Juniti Saito enviou, no início do ano passado, ofício asseverando que os três aviões cumpririam o papel previsto.
Dilma agora deverá analisar o parecer de Jobim e, especula-se, o da FAB. Não há prazo, uma decisão é esperada para o início de 2011. A compra não custará menos de R$ 10 bilhões para 36 aviões, armas e logística.
"Estamos prontos para qualquer consulta", disse Bengt Janér, da Saab. Dassault e Boeing não falaram.
A decisão pró-Rafale era dada como certa, embora a permanência de Jobim na Defesa mantenha o concorrente francês como favorito.
Governo estuda regular conteúdo de rádio e televisão - ANDREZA MATAIS
A primeira versão do projeto do governo para o setor de telecomunicação e radiodifusão prevê a criação de um novo órgão, a ANC (Agência Nacional de Comunicação), para regular o conteúdo de rádio e TV.
A Folha teve acesso à minuta da proposta, batizada de Lei Geral da Comunicação Social. O texto tem cerca de 40 páginas e vem sendo mantido em sigilo.
É resultado do grupo de trabalho criado há seis meses e coordenado pelo ministro Franklin Martins para discutir um novo marco regulatório para o setor.
A nova agência para regular conteúdo substituiria a Ancine (Agência Nacional do Cinema) e teria poderes para multar empresas que veicularem programação considerada ofensiva, preconceituosa ou inadequada ao horário.
O presidente da Ancine, Manoel Rangel, disse à Folha que não tem "opinião formada" sobre a mudança.
O texto prevê ainda a proibição que políticos com mandato sejam donos ou controlem rádio e TV. A atual legislação proíbe apenas que eles ocupem cargos de direção nas empresas.
Não está claro no anteprojeto se a vedação atingiria quem já tem concessões.
Levantamento da ONG Transparência Brasil aponta que 160 parlamentares têm concessões de rádio e TV.
O ministro já afirmou que o governo Lula não vai encaminhar o projeto ao Congresso, e sim entregá-lo a Dilma Rousseff como sugestão.
Caso Dilma decida enviar a proposta ao Congresso, o texto pode sofrer alterações e passar por consulta pública. Se a lei for aprovada, o funcionamento da agência será detalhado em decreto.
Na semana passada, Lula disse, em entrevista, que Dilma fará a regulação.
O processo de outorga de novos canais ou renovação também passará pela nova agência, além do circuito Ministério das Comunicações-Congresso, e se tornaria mais transparente, com o passo a passo publicado na internet.
A Folha apurou ainda que a proposta incorpora vários pontos do PL 116, que cria novas regras para o mercado de TV por assinatura e de conteúdo audiovisual, mas não trata de regras para cumprimento do limite de participação de capital estrangeiro nos meios de comunicação.
Será mantida a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que cuida de questões mais técnicas, como a elaboração de planos e distribuição de canais.
Para o governo, a agência não significa censura, porque o conteúdo será analisado depois de veiculado.
Representantes do setor, porém, avaliam que a proposta abre brechas para cercear jornalismo e dramaturgia. Além disso, dizem, a Constituição já prevê punição para os abusos.
A criação da agência para regular conteúdo tem apoio de entidades que defendem o "controle social da mídia".
A Folha teve acesso à minuta da proposta, batizada de Lei Geral da Comunicação Social. O texto tem cerca de 40 páginas e vem sendo mantido em sigilo.
É resultado do grupo de trabalho criado há seis meses e coordenado pelo ministro Franklin Martins para discutir um novo marco regulatório para o setor.
A nova agência para regular conteúdo substituiria a Ancine (Agência Nacional do Cinema) e teria poderes para multar empresas que veicularem programação considerada ofensiva, preconceituosa ou inadequada ao horário.
O presidente da Ancine, Manoel Rangel, disse à Folha que não tem "opinião formada" sobre a mudança.
O texto prevê ainda a proibição que políticos com mandato sejam donos ou controlem rádio e TV. A atual legislação proíbe apenas que eles ocupem cargos de direção nas empresas.
Não está claro no anteprojeto se a vedação atingiria quem já tem concessões.
Levantamento da ONG Transparência Brasil aponta que 160 parlamentares têm concessões de rádio e TV.
O ministro já afirmou que o governo Lula não vai encaminhar o projeto ao Congresso, e sim entregá-lo a Dilma Rousseff como sugestão.
Caso Dilma decida enviar a proposta ao Congresso, o texto pode sofrer alterações e passar por consulta pública. Se a lei for aprovada, o funcionamento da agência será detalhado em decreto.
Na semana passada, Lula disse, em entrevista, que Dilma fará a regulação.
O processo de outorga de novos canais ou renovação também passará pela nova agência, além do circuito Ministério das Comunicações-Congresso, e se tornaria mais transparente, com o passo a passo publicado na internet.
A Folha apurou ainda que a proposta incorpora vários pontos do PL 116, que cria novas regras para o mercado de TV por assinatura e de conteúdo audiovisual, mas não trata de regras para cumprimento do limite de participação de capital estrangeiro nos meios de comunicação.
Será mantida a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que cuida de questões mais técnicas, como a elaboração de planos e distribuição de canais.
Para o governo, a agência não significa censura, porque o conteúdo será analisado depois de veiculado.
Representantes do setor, porém, avaliam que a proposta abre brechas para cercear jornalismo e dramaturgia. Além disso, dizem, a Constituição já prevê punição para os abusos.
A criação da agência para regular conteúdo tem apoio de entidades que defendem o "controle social da mídia".
terça-feira, dezembro 07, 2010
Em entrevista, Assange nega acusações e diz que 'é fascinante ver os tentáculos da elite americana corrupta' - Natália Viana
O fundador do site Wikileaks, Julian Assange, falou com exclusividade ao Opera Mundi nesta segunda-feira (06/12). Assange não escondeu a irritação com o congelamento de sua conta bancária na Suíça, por estar registrada em um endereço local, apesar de ele não morar mais no país europeu e com outras ações tomadas contra a organização desde o lançamento de documentos sigilosos de embaixadas dos Estados Unidos.
Ele se preparava para se apresentar à polícia britânica, o que aconteceu na manhã de hoje (07/12) em Londres. Assange é acusado de crimes sexuais na Suécia. A acusação não é clara, mas inclui a prática de sexo desprotegido com duas mulheres, na mesma época em dava uma palestra em Estocolmo. Desde o dia 18 de novembro, a justiça sueca expediu mandado de prisão com o objetivo de interrogá-lo por "suspeitas razoáveis de estupro, agressão sexual e coerção". O fundador do Wikileaks deve ser ouvido ainda hoje num tribunal de Westminster, na região central de Londres, onde será decidido se ele será extraditado à Suécia.
Nesse momento, quais acusações pesam sobre você?
São muitas as acusações. A mais séria é que eu e o nosso pessoal praticamos espionagem contra os EUA. Isso é falso. Também a famosa alegação de "estupro" na Suécia. Ela é falsa e vai acabar se extinguindo quando os fatos reais vierem à tona, mas até lá está sendo usada para atacar nossa reputação.
Sobre essa acusação de espionagem, há algum processo judicial correndo?
Não. É uma investigação formal envolvendo os diretores do FBI, da CIA e o advogado-geral norte-americano. A Austrália, meu país, também está conduzindo uma investigação do mesmo tipo - em que se junta todo o governo - e ao mesmo tempo estão asssessorando os EUA. Uma da fontes alegadas para essa investigação, Bradley Manning [militar acusado de ser a fonte do Wikileaks], está preso em confinamento solitário em uma cela na prisão no estado da Virginia, nos EUA. Ele pode pegar até 52 anos de prisão se for condenado por todas as acusações, que incluem espionagem.
Qual a diferença entre o que faz o Wikileaks e espionagem?
O Wikileaks recebe material de "whistle-blowers" (pessoas que denunciam algo errado nas organizações onde trabalham) e jornalistas e os entrega ao público. Nos acusar de espionagem quer dizer que nós teriamos que trabalhar ativamente para adquirir o material e o repassar a um estrangeiro.
No caso da Suécia, o que as mulheres alegam?
Elas dizem que houve sexo consensual. O caso chegou a ser arquivado por 12 horas quando a procuradora-geral em Estocolmo, Eva Finne, leu os depoimentos. Depois foi reaberto, após uma articulação política. Todo esse caso é bastante perturbador. Agora, eles acabaram de congelar minha conta em um banco na Suíça, nosso fundo para pagar minha defesa.
Com base em quê?
Eles estão alegando que eu os coloco em risco. Mas não têm nada que sugira isso, e de qualquer forma isso é falso.
E qual é a sua opinião sobre o congelamento de transferêcias de dinheiro pela empresa PayPal, e o fato de que a Amazon retirou o site do ar? Como você vê essas ações?
É fascinante ver os tentáculos da elite norte-americana corrupta. De certo modo, observar essa reação é tão importante quanto ver o material que publicamos. A Paypal e a Amazon congelaram nossas contas por razões políticas. Com o Paypal, 70 mil euros foram congelados. Com o nosso fundo de defesa, cerca de 31 mil euros.
O que eles alegam?
Eles dizem que estamos fazendo "atividades ilegais", o que é, claro, uma inverdade. Mas estão ecoando as acusações de Hillary Clinton [secretária de Estado norte-americana] sobre como publicamos documentos que podem causar transtornos aos EUA. Mesmo assim, o líder do comitê de segurança nacional no Senado disse com muito orgulho que ele havia ligado para a Amazon e exigido o fechamento no site.
O que o Wikileaks está fazendo para se defender do congelamento das doações?
Nós perdemos 100 mil euros somente nesta semana como resultado do congelamento dos pagamentos. Temos outras contas em bancos - na Islândia e Suécia, por exemplo, que o público pode usar. Estão em um site. Também aceitamos cartões de crédito.
O que mais o Wikileaks está fazendo para se defender?
Nós estamos contando com a diversidade e o apoio de boas pessoas. Temos mais de 350 sites pelo mundo que reproduzem nosso conteúdo. Precisamos disso mais do que nunca.
Ele se preparava para se apresentar à polícia britânica, o que aconteceu na manhã de hoje (07/12) em Londres. Assange é acusado de crimes sexuais na Suécia. A acusação não é clara, mas inclui a prática de sexo desprotegido com duas mulheres, na mesma época em dava uma palestra em Estocolmo. Desde o dia 18 de novembro, a justiça sueca expediu mandado de prisão com o objetivo de interrogá-lo por "suspeitas razoáveis de estupro, agressão sexual e coerção". O fundador do Wikileaks deve ser ouvido ainda hoje num tribunal de Westminster, na região central de Londres, onde será decidido se ele será extraditado à Suécia.
Nesse momento, quais acusações pesam sobre você?
São muitas as acusações. A mais séria é que eu e o nosso pessoal praticamos espionagem contra os EUA. Isso é falso. Também a famosa alegação de "estupro" na Suécia. Ela é falsa e vai acabar se extinguindo quando os fatos reais vierem à tona, mas até lá está sendo usada para atacar nossa reputação.
Sobre essa acusação de espionagem, há algum processo judicial correndo?
Não. É uma investigação formal envolvendo os diretores do FBI, da CIA e o advogado-geral norte-americano. A Austrália, meu país, também está conduzindo uma investigação do mesmo tipo - em que se junta todo o governo - e ao mesmo tempo estão asssessorando os EUA. Uma da fontes alegadas para essa investigação, Bradley Manning [militar acusado de ser a fonte do Wikileaks], está preso em confinamento solitário em uma cela na prisão no estado da Virginia, nos EUA. Ele pode pegar até 52 anos de prisão se for condenado por todas as acusações, que incluem espionagem.
Qual a diferença entre o que faz o Wikileaks e espionagem?
O Wikileaks recebe material de "whistle-blowers" (pessoas que denunciam algo errado nas organizações onde trabalham) e jornalistas e os entrega ao público. Nos acusar de espionagem quer dizer que nós teriamos que trabalhar ativamente para adquirir o material e o repassar a um estrangeiro.
No caso da Suécia, o que as mulheres alegam?
Elas dizem que houve sexo consensual. O caso chegou a ser arquivado por 12 horas quando a procuradora-geral em Estocolmo, Eva Finne, leu os depoimentos. Depois foi reaberto, após uma articulação política. Todo esse caso é bastante perturbador. Agora, eles acabaram de congelar minha conta em um banco na Suíça, nosso fundo para pagar minha defesa.
Com base em quê?
Eles estão alegando que eu os coloco em risco. Mas não têm nada que sugira isso, e de qualquer forma isso é falso.
E qual é a sua opinião sobre o congelamento de transferêcias de dinheiro pela empresa PayPal, e o fato de que a Amazon retirou o site do ar? Como você vê essas ações?
É fascinante ver os tentáculos da elite norte-americana corrupta. De certo modo, observar essa reação é tão importante quanto ver o material que publicamos. A Paypal e a Amazon congelaram nossas contas por razões políticas. Com o Paypal, 70 mil euros foram congelados. Com o nosso fundo de defesa, cerca de 31 mil euros.
O que eles alegam?
Eles dizem que estamos fazendo "atividades ilegais", o que é, claro, uma inverdade. Mas estão ecoando as acusações de Hillary Clinton [secretária de Estado norte-americana] sobre como publicamos documentos que podem causar transtornos aos EUA. Mesmo assim, o líder do comitê de segurança nacional no Senado disse com muito orgulho que ele havia ligado para a Amazon e exigido o fechamento no site.
O que o Wikileaks está fazendo para se defender do congelamento das doações?
Nós perdemos 100 mil euros somente nesta semana como resultado do congelamento dos pagamentos. Temos outras contas em bancos - na Islândia e Suécia, por exemplo, que o público pode usar. Estão em um site. Também aceitamos cartões de crédito.
O que mais o Wikileaks está fazendo para se defender?
Nós estamos contando com a diversidade e o apoio de boas pessoas. Temos mais de 350 sites pelo mundo que reproduzem nosso conteúdo. Precisamos disso mais do que nunca.
quinta-feira, dezembro 02, 2010
Avião projetado na UFMG bate quatro recordes mundiais
Um avião construído por alunos e professores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) quebrou quatro recordes mundiais, ontem e hoje, na categoria C1A0, que engloba modelos com motor a pistão, hélice e peso total de decolagem de até 300 quilos. "Nunca na história da aviação brasileira houve sequer a tentativa de quebrar recordes mundiais com aeronave motorizada", disse, orgulhoso, o professor de Engenharia Aeronáutica da UFMG e coordenador do projeto, Paulo Iscold.
A aeronave CEA 308 bateu ontem o recorde russo de tempo de subida até três mil metros de altitude - baixou de 13 minutos e 40 segundos para 8 minutos e 15 segundos. Também deixou para trás ontem duas marcas que pertenciam a norte-americanos: velocidade em linha reta em 15 quilômetros - atingiu 329 km/h contra 292 km/h - e velocidade de ida e volta em cem quilômetros, chegou a 326 km/h ante 297 km/h. Hoje foi a vez de superar os austríacos na velocidade em linha reta em três quilômetros - 360 km/h contra 351 km/h.
Questionado sobre o que representa a quebra desses recordes para a aviação, Iscold comparou o projeto com carros de corrida. "Você não vai ver um carro de corrida ser vendido numa loja, mas detalhes dele podem ser usados na construção de carros de passeio. Funciona da mesma forma com o avião", explicou. Ele também disse que fica muito satisfeito em poder contribuir com a formação de alunos da UFMG no curso de Engenharia da Aeronáutica. "Vale ainda para mostrar que o Brasil é capaz de desenvolver tecnologia de ponta, sem precisar recorrer a outros países."
As quebras de recorde contaram com a aferição da CAB (Comissão de Aerodesporto Brasileira), órgão vinculado à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e da National Aeronautic Association, entidade equivalente à CAB nos Estados Unidos, ambas representando a FAI (Federação Aeronáutica Internacional).
História
O projeto da aeronave mineira foi desenvolvido por Iscold em 1999 como trabalho de conclusão do curso de Engenharia Aeronáutica na UFMG. O primeiro voo ocorreu em 2001. "Naquela época as dificuldades eram muitas, a maior delas financeira", disse. Em 2007 os voos passaram a ser regulares. O piloto que desde 2005 participa dos teste é Gunar Armin, ex-comandante da Varig.
Feito de materiais compostos, como fibra de vidro e espuma rígida, também chamada de espuma de PVC, o avião hoje possui 80 cavalos de potência, pouco mais que a potência de um carro de mil cilindradas, e atinge 360 km/h, velocidade superior a de carros de Fórmula 1. O peso da aeronave sem piloto, paraquedas e combustível é de 206 quilos. "Nessa categoria há limitação do peso em até 300 quilos, o que traz uma limitação de potência, porque é difícil conseguir no mercado motor leve e potente", afirmou Iscold.
A aeronave CEA 308 bateu ontem o recorde russo de tempo de subida até três mil metros de altitude - baixou de 13 minutos e 40 segundos para 8 minutos e 15 segundos. Também deixou para trás ontem duas marcas que pertenciam a norte-americanos: velocidade em linha reta em 15 quilômetros - atingiu 329 km/h contra 292 km/h - e velocidade de ida e volta em cem quilômetros, chegou a 326 km/h ante 297 km/h. Hoje foi a vez de superar os austríacos na velocidade em linha reta em três quilômetros - 360 km/h contra 351 km/h.
Questionado sobre o que representa a quebra desses recordes para a aviação, Iscold comparou o projeto com carros de corrida. "Você não vai ver um carro de corrida ser vendido numa loja, mas detalhes dele podem ser usados na construção de carros de passeio. Funciona da mesma forma com o avião", explicou. Ele também disse que fica muito satisfeito em poder contribuir com a formação de alunos da UFMG no curso de Engenharia da Aeronáutica. "Vale ainda para mostrar que o Brasil é capaz de desenvolver tecnologia de ponta, sem precisar recorrer a outros países."
As quebras de recorde contaram com a aferição da CAB (Comissão de Aerodesporto Brasileira), órgão vinculado à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e da National Aeronautic Association, entidade equivalente à CAB nos Estados Unidos, ambas representando a FAI (Federação Aeronáutica Internacional).
História
O projeto da aeronave mineira foi desenvolvido por Iscold em 1999 como trabalho de conclusão do curso de Engenharia Aeronáutica na UFMG. O primeiro voo ocorreu em 2001. "Naquela época as dificuldades eram muitas, a maior delas financeira", disse. Em 2007 os voos passaram a ser regulares. O piloto que desde 2005 participa dos teste é Gunar Armin, ex-comandante da Varig.
Feito de materiais compostos, como fibra de vidro e espuma rígida, também chamada de espuma de PVC, o avião hoje possui 80 cavalos de potência, pouco mais que a potência de um carro de mil cilindradas, e atinge 360 km/h, velocidade superior a de carros de Fórmula 1. O peso da aeronave sem piloto, paraquedas e combustível é de 206 quilos. "Nessa categoria há limitação do peso em até 300 quilos, o que traz uma limitação de potência, porque é difícil conseguir no mercado motor leve e potente", afirmou Iscold.
CONFIDENCIAL - Classificado por: Vice-Embaixadora Cherie Jackson
Em 10 de novembro às 22h13 o Brasil sofreu um apagão que mergulhou 18 de seus 27 Estados na escuridão por períodos que variaram entre 20 minutos e seis horas. O blecaute representou uma perda de 28 mil megawatts de eletricidade --ou seja, 45% do consumo brasileiro total naquele instante-- e deixou estimados 87 milhões de pessoas sem energia elétrica. O escrutínio vem sendo intenso e as especulações sobre o incidente vêm correndo soltas, em grande medida devido ao anúncio recente de que o Rio vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
O QUE O GOVERNO DETERMINOU ATÉ AGORA? 3. (C) Em 18 de novembro, o adido econômico se reuniu com Plinio de Oliveira, presidente do ONS, o órgão governamental responsável pela rede elétrica interligada do país, juntamente com Wilkens Geraldes Filho, diretor de Análise Estatística do ONS, e Elione Vierira de Araújo, uma engenheira de alto nível. Eles haviam passado boa parte da semana passada investigando o incidente e apresentando explicações sobre o que aconteceu. Geraldes e Oliveira se juntaram à conversa com atraso, após uma reunião de improviso com o diretor-geral do ONS para discutir o incidente. A equipe fez para o adido econômico a mesma apresentação que fez ao ministro da Energia, Edison Lobão, após o incidente. Em 20 de novembro o adido econômico se reuniu em separado com José Coimbra, chefe-de-gabinete do Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. Coimbra foi o funcionário do Ministério convocado para trabalhar no problema na noite de 10 de novembro e era quem carregava a responsabilidade geral pelo planejamento do setor elétrico.
Com base nessas discussões detalhadas, segue o governo agora afirma que aconteceu. A queda de eletricidade se originou em uma subestação próxima de São Paulo chamada Itaburi, na linha de transmissão Tijuco Preto, que abastece São Paulo e depois Rio de Janeiro com eletricidade da barragem de Itaipu (uma barragem hidrelétrica binacional na fronteira com o Paraguai, responsável por 12.600 MW de energia, ou seja, 20% do abastecimento de energia do Brasil. A matriz energética brasileira é fortemente dependente da hidroeletricidade 80%, sendo o restante uma combinação de termo, nuclear e alguma bioeletricidade.). Naquele ponto no sistema há três linhas de transmissão separadas que conectam Itaipu a São Paulo, carregando 765 kilovolts de 60HZ AC. Há uma linha de transmissão separada de Itaipu a São Paulo ao norte da linha de transmissão de Tijuco Preto, que carrega 50 HZ de energia DC. A região São Paulo/Rio também é ligada ao sul do país por linhas separadas, e também com o norte e nordeste, que também estão interligados. O consumo global diário do sistema é 60 GW, bem abaixo da capacidade total do sistema, 105 GW.
Às 22h13 ocorreu um curto-circuito em uma das três linhas de Itaburi, no que chamam de ciclo "B". 13,5 milésimos de segundo mais tarde, o ciclo "A" sofreu um curto-circuito na segunda linha. 3,2 milésimos de segundo depois, a subestação de Itaber deixou de funcionar, derrubando a terceira e última linha e interrompendo completamente o fluxo da linha de transmissão sul de Itaipu a São Paulo. Quando isso aconteceu, controles automatizados entraram em ação para preservar o sistema. Os geradores de Itaipu se desligaram quando detectaram a interrupção na transmissão, com isso também desligando a linha de abastecimento norte para São Paulo. Os sistemas interligados nas regiões nordeste e norte do país, ao detectar oscilação no fornecimento vindo de São Paulo, desligaram as linhas de transmissão para proteger essas regiões. Na região sul do país, que também fornecia eletricidade a São Paulo, as oscilações repentinas de frequência desencadearam o ERAC (um sistema de emergência no qual cada subestação monitora o equilíbrio entre o fornecimento e a carga), isolando a seção sul do restante da rede. Essas modificações preservaram o restante do sistema, permitindo um retorno rápido ao fornecimento de energia elétrica para a maior parte do país, mas deixaram os principais centros populacionais sem energia por até seis horas.
QUAIS FORAM OS FATORES QUE EXACERBARAM O EVENTO?
Geraldes descreveu os fatos de 10 de novembro como sendo incomuns, não em termos da interrupção do sistema mas da confluência de eventos que levou à escala catastrófica do apagão. Ele disse que um problema semelhante que deixou desligada a mesma linha tinha acontecido no passado, mas que o sistema estava operando de tal maneira que o fluxo foi redistribuído com poucas consequências negativas. No caso de 10 de novembro, os reservatórios estavam cheios devido às chuvas abundantes recentes, e as usinas termais, às quais se recorre com frequência para aumentar o fluxo, não estavam operando. O sistema interligado que permite que eletricidade de qualquer parte do país seja distribuída para qualquer outra parte estava exportando energia das hidrelétricas principais no sul do país para a região de São Paulo/Rio. De acordo com Geraldes, em casos anteriores a situação foi revertida, com fluxo exportado de São Paulo para o sul durante períodos com menos chuva, e os problemas tiveram efeito muito pequeno sobre o fornecimento elétrico geral.
Grudtner disse que os padrões internacionais geralmente pedem que um sistema tenha capacidade que permita operação desimpedida com uma linha de transmissão estando inoperante. No momento do incidente, o sistema brasileiro estava operando na capacidade de operações desimpedidas com duas linhas desligadas, mas o incidente derrubou as três linhas que alimentam São Paulo. Além disso, observou Coimbra, cada uma das linhas que foi derrubada leva dez segundos para se recuperar, mas os curto-circuitos ocorreram com diferença de tempo de milésimos de segundos, desabilitando o sistema de transmissão com desligamentos automáticos, antes das linhas terem tempo de se recuperar. Geraldes disse que foi a pior configuração possível de fatos que levou ao efeito em cascata.
Uma comissão governamental composta do ONS e da ANEEL, a agência brasileira reguladora da energia elétrica, está investigando exatamente o que aconteceu em 10 de novembro. A comissão tem prazo de 30 dias a partir de sua formação, em 13 de novembro, para redigir um relatório de suas constatações, incluindo possíveis recomendações. O governo irá então apresentar o relatório a um grupo independente de acadêmicos e especialistas não ligados ao governo, para ser revisto por eles. O governo finalizará o relatório após essa revisão. Na ausência de um relatório final, nem o ONS nem o MME (Ministério de Minas e Energia) ofereceram uma explicação definitiva das causas dos blecautes. Mas ambos afirmaram que os curtos-circuitos são condizentes ou com um raio (embora o ONS tenha feito questão de mostrar fotos de satélite mostrando que não havia tempestades na área naquele momento específico) ou com uma combinação de pressão barométrica baixa com ventos fortes e alto índice de umidade. O ONS também mostrou fotos de torres de transmissão apresentando descoloração visível, o que, segundo afirmou, representa evidência adicional em favor dessas duas teorias e exclui a possibilidade de danos causados por árvores, sabotagem física ou hackers. (Nota: O adido econômico não teve meios de verificar a localização das torres vistas nas fotos, o momento em que ocorreu a descoloração, nem a causa. Fim da nota.)
Oliveira e Geraldes ainda excluíram a possibilidade de ação de hackers porque, após algumas interferências reconhecidas como tais ocorridas nos últimos anos, o GOB restringiu o acesso ao sistema a um grupo pequeno de operadores autorizados, separou o sistema de controle da transmissão dos outros sistemas e instalou filtros. Coimbra confirmou que o sistema do ONS é uma rede CLAN que emprega seus próprios fios, estendidos acima dos fios elétricos. Oliveira observou que, mesmo que alguém tivesse conseguido ter acesso ao sistema, é preciso um comando de voz para interromper a transmissão. Coimbra disse que, embora os blecautes pudessem ter sido provocados por sabotagem, esse tipo de problema teria sido mortal, e investigadores teriam encontrado evidências físicas, incluindo o corpo do perpetrador. Ele também observou que quaisquer tentativas internas de interromper o sistema cometidas por funcionários do sistema teriam sido facilmente rastreáveis, fato que seria do conhecimento de qualquer pessoa com acesso ao sistema.
Para evitar grandes apagões futuros, disse Pires ao adido econômico do Rio, o governo brasileiro precisa diversificar suas fontes para que não se limitem a Itaipu, aumentando a geração de energia termoelétrica e não focando unicamente os custos de operação. Relatos da imprensa sugeriram que, para enfrentar as necessidades da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o GOB precisa modernizar suas linhas de transmissão e construir usinas elétricas em escala menor, independentes da rede nacional, mis próximas dos grandes centros de consumo, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Na reunião com o adido econômico de Brasília, funcionários do ONS foram unânimes em rejeitar as alegações de que a rede elétrica seria antiquada, observando que a rede atual foi modernizada após os blecautes de 2001 e hoje satisfaz ou supera os critérios de desempenho internacionais, abastecendo de energia cerca de 98% do país. Coimbra riu da sugestão de que a solução estaria na construção de mais usinas térmicas, não apenas porque há usinas térmicas já existentes que não estão sendo utilizadas devido aos altos custos da geração elétrica mas também porque, mesmo que elas tivessem estado em uso, as usinas térmicas teriam precisado ser carregadas por 12-13 horas após um apagão. Itaipu voltou a funcionar com sua capacidade plena menos de 30 minutos após a interrupção.
Dois dias após o incidente, de acordo com uma fonte digna de crédito, autoridades de segurança no Brasil estavam atribuindo a queda de energia a "erro humano" por parte de um brasileiro que era operador do sistema. De acordo com a fonte, o operador estava sendo investigado. A fonte está indisponível para fazer mais comentários sobre a possibilidade de novas avaliações terem modificado essa hipótese, e o status atual dessa investigação em particular é desconhecido. Também houve especulações reservadas em pelo menos uma conversa entre alguns funcionários governamentais, aparentemente baseadas em parte em um programa "60 Minutes" exibido por coincidência alguns dias antes e que sugeria que houvesse vulnerabilidades no sistema brasileiro, que interesses do setor privado dos EUA pudessem ter arquitetado os blecautes visando conseguir melhor acesso comercial à rede elétrica.
MEDIDAS INTERINAS PARA PREVENIR INCIDENTES DE SEGURANÇA E BLECAUTES
Geraldes reconheceu que os holofotes voltados para os Jogos Olímpicos submetem o sistema a um escrutínio maior. O ONS possui um protocolo para proteger contra quedas de fornecimento elétrico e que já foi utilizado durante eventos especiais como os Jogos Panamericanos em 2007 e será usado em eventos futuros, incluindo a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. O protocolo inclui a operação de todas as usinas térmicas, muitas das quais se localizam perto de grandes cidades, incluindo o Rio, durante o evento, para minimizar a possibilidade de quedas de eletricidade e para garantir que os padrões regulares de transmissão sejam mantidos, assegurando a consistência de um fluxo normal. Geraldes reconheceu que a segurança física real é uma prioridade baixa sob esse protocolo e disse que não são feitos planos especiais, mesmo durante eventos. Como ele disse, "esta tem sido uma preocupação menor para nós que para vocês". Contudo, ele concordou que pode haver um foco maior sobre a segurança física no período que antecede as Olimpíadas, particularmente depois de este incidente ter chamado a atenção para possíveis pontos fracos do sistema.
A visão do MME foi um tanto quanto diferente. Coimbra observou que "não estamos imunes aos tipos de ameaças que vocês têm visto nos últimos anos". Existe no gabinete do presidente Lula um grupo conhecido como Gabinete de Segurança da Infraestrutura (GSI) que está analisando a segurança da infraestrutura. Coimbra recordou que eles foram os primeiros a procurá-lo após o incidente. Grudtner foi encarregado de liderar o esforço de segurança física do próprio Ministério e disse que o grupo de trabalho do MME está no processo de definir quais instalações são mais cruciais para o sistema e constituem motivo maior de preocupação, logo, mais precisam de proteção física.
Representantes do ONS disseram ao adido econômico que também há um processo intensivo em andamento na Empresa de Pesquisa Energética, EPE, para desenvolver recomendações sobre como evitar problemas de apagões no futuro. Uma medida imediata tomada pelo Brasil para prevenir uma repetição do fato durante o período da investigação é reduzir o volume de fluxo em qualquer direção dada para reduzir a pressão sobre o sistema _mas um subproduto da medida é o aumento da dependência das usinas térmicas, mais caras, fato que eleva o preço da eletricidade. Outra opção de prazo mais longo que está sob consideração seria a construção de equipamentos de transmissão mais novos, maiores e, portanto, mais fortes; seria uma opção cara, e os contatos do ONS deram a entender que a hipótese altamente improvável de se repetir o blecaute de 10 de novembro não justificaria esse custo. O ONS mostrou o plano quinquenal de energia do país, que prevê aumentos importantes na demanda energética, a serem atendidos em grande medida, no curto prazo, com novas hidrelétricas e aumentos nas usinas elétricas movidas a óleo. Embora as projeções indiquem que haverá energia suficiente para atender à demanda, Geraldes avisou que a situação pode mudar se ocorrerem atrasos imprevistos na conclusão da hidrelétrica de Belo Monte, prevista para entrar em operação em abril de 2014, alguns meses antes da Copa do Mundo.
Embora Coimbra, do MME, não tenha oferecido sugestões de possíveis recomendações tecnológicas após esse evento, ele disse que uma área que o GOB poderia focar em um exercício do tipo "lições aprendidas" seria a melhora das comunicações com o público durante ocorrências como essa, e também antes de manutenções programadas que possam causar apagões temporários. Ele ficou interessado em saber mais sobre o sistema de Transmissões (de rádio e televisão) de Emergência americano como uma maneira possível de enfrentar esse desafio. O adido econômico se comprometeu a pesquisar o programa americano e enviar informações para ver se uma cooperação nessa área seria viável.
Tanto o MME quanto o ONS estavam ansiosos para contextualizar o apagão de 10 de novembro. O ONS ofereceu um slide mostrando outros apagões internacionais comparáveis ocorridos nos últimos 30 anos, incluindo o blecaute de quatro dias que atingiu a Costa Leste dos EUA em 2003, detalhando a extensão e duração dos blecautes; o blecaute brasileiro saiu favorecido na comparação. Coimbra disse ao adido econômico que uma associação americana de engenharia enviou uma carta oficial parabenizando o Centro de Pesquisas Elétricas, CEPAL, pela recuperação rápida do sistema e convidando a entidade a participar de uma conferência nos EUA no início do próximo ano para compartilhar suas experiências. Tanto o ONS quanto o MME destacam a rapidez com que a maior parte do sistema voltou a funcionar (a maioria das áreas afetadas sofreu apagões de 20 minutos; o apagão mais longo foi de seis horas, em São Paulo). Como disse Grudtner, o setor elétrico ficou satisfeito porque o sistema funcionou como deveria e voltou com relativa rapidez, mas os políticos não estão satisfeitos. Enquanto isso, ele observou em tom irônico, a imprensa fica satisfeita por ter material para suas matérias. O Congresso pediu sessões de discussão sobre o incidente, que tiveram que ser adiadas porque especialistas estavam viajando à área numa missão investigatória para concluir o relatório da investigação.
COMENTÁRIO: NOTÁVEL ABERTURA A DIÁLOGO COM O USG
As autoridades brasileiras se mostraram notavelmente abertas a discutir o incidente com funcionários da Embaixada, não adotaram postura defensiva ao responder a perguntas e foram francas em suas informações e avaliações. A disposição do presidente do ONS e do chefe-de-gabinete do MME em reunir-se conosco para discutir uma questão tão técnica e em fornecer informações detalhadas à Embaixada demonstra a importância que eles atribuem a assegurar que o USG entenda o blecaute e a capacidade do Brasil de fazer frente a eventos importantes no futuro. Os apagões não são incomuns no Brasil (na realidade o Rio sofreu outro apagão em 23 de novembro que foi atribuído a interrupções na transmissão, possivelmente devidas ao roubo de cabos). Contudo, a escala do apagão de 10 de novembro, que atraiu atenção internacional indesejada, pode levar o Brasil a buscar soluções duradouras a pontos de debilidade em seu abastecimento elétrico e ameaças a ele. Com o início de um importante ano eleitoral, o GOB provavelmente vai querer mostrar que está tomando medidas para reconstruir a confiança pública. À luz da abertura manifestada por funcionários do GOB para discutir esse fato, somada ao desejo de demonstrar avanços em fazer frente ao problema, o USG tem uma oportunidade de trabalhar com o GOB enquanto este busca aperfeiçoamentos possíveis que rendam resultados reais para a segurança física e confiabilidade de sua rede.
OPORTUNIDADES DE ENGAJAMENTO DO USG - APROVEITAR O MOMENTO
Tendo dedicado muito tempo e muitos recursos para corrigir problemas no fornecimento elétrico nacional que eram endêmicos em 2001, o GOB se orgulha de seu sistema de transmissão nacional interligada e tende a enxergar os apagões que ocorrem como incidentes isolados ou como problemas com sistemas de distribuição locais. Em visitas recentes aos Estados Unidos, o vice-ministro da Energia Zimmermann sugeriu que a transmissão e a distribuição de longo alcance possam ser um tema no qual o Brasil possui know-how que poderia compartilhar com os EUA em um acordo de cooperação energética. Embora o GOB seja altamente resistente à ideia de que outros países sejam mais avançados que o Brasil na transmissão e distribuição, representantes do GOB reconhecem que há espaço para aprimoramentos em seu sistema. Saberemos mais sobre a causa imediata do grande apagão brasileiro dentro de algumas semanas, mas, enquanto isso, há oportunidades para o USG tirar proveito da abertura do GOB, destacando o apagão como razão para mais engajamento e também preparativos com vista à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016.
OPORTUNIDADES DE COOPERAÇÃO EM SEGURANÇA DE INFRAESTRUTURA CRÍTICA
Esta seria uma excelente ocasião para incentivar o Memorando de Acordo sobre Comunicações e Segurança de Informações (CISMOA) entre forças armadas, notando que, embora este incidente não pareça ter sido fruto de um ataque ao sistema, tal evento é possível, e firmar esse acordo permitiria cooperação no caso de ocorrer um ataque. Também consideraríamos um grupo de trabalho em ciber-segurança. O Brasil poderia estar aberto a buscar cooperação sobre a proteção da infraestrutura crítica, e o MME já nos disse que estaria interessado em saber mais sobre nosso sistema de transmissões (por ex. de televisão) de emergência. Está claro que a segurança física até agora não foi um alvo importante da atenção dos planejadores, mas autoridades reconhecem a possibilidade de um ataque e estão trabalhando para desenvolver proteções, outra área possível de cooperação frutífera após a visita de DHS no final de 2008.
Com relação ao desenvolvimento infraestrutural, a USTDA (Agência de Comércio e Desenvolvimento dos EUA) estuda a possibilidade de patrocinar uma visita de orientação ou um estudo de campo sobre energia elétrica. Até agora a USTDA não buscou cooperações na área elétrica. A maioria dos projetos infraestruturais neste sistema elétrico centralizado é ao nível federal, o que geralmente se traduz em mais burocracia e tempos de implementação mais longos do que com projetos empreendidos ao nível estadual ou local. Existem, contudo, questões de distribuição elétrica que precisam ser tratadas aos níveis estaduais e locais que poderiam beneficiar-se do envolvimento da USTDA, possivelmente representando outro meio de engajamento para ajudar o Brasil a resolver seus desafios elétricos. Antes deste evento, o Ministério da Energia tinha destacado a tecnologia Smartgrid como sendo uma área na qual ele teria interesse em cooperação; é possível que o interesse seja maior agora. 23. (C) A Missão incentiva as agências do USG, incluindo o Departamento de Defesa, o Departamento de Segurança Interna, a Comissão Federal de Comunicações, a Agência de Comércio e Desenvolvimento e outras a explorar estas oportunidades no curto prazo. FIM DOS COMENTÁRIOS. 24. (U) Este telegrama foi coordenado com os Consulados Gerais no Rio de Janeiro e São Paulo.
O QUE O GOVERNO DETERMINOU ATÉ AGORA? 3. (C) Em 18 de novembro, o adido econômico se reuniu com Plinio de Oliveira, presidente do ONS, o órgão governamental responsável pela rede elétrica interligada do país, juntamente com Wilkens Geraldes Filho, diretor de Análise Estatística do ONS, e Elione Vierira de Araújo, uma engenheira de alto nível. Eles haviam passado boa parte da semana passada investigando o incidente e apresentando explicações sobre o que aconteceu. Geraldes e Oliveira se juntaram à conversa com atraso, após uma reunião de improviso com o diretor-geral do ONS para discutir o incidente. A equipe fez para o adido econômico a mesma apresentação que fez ao ministro da Energia, Edison Lobão, após o incidente. Em 20 de novembro o adido econômico se reuniu em separado com José Coimbra, chefe-de-gabinete do Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. Coimbra foi o funcionário do Ministério convocado para trabalhar no problema na noite de 10 de novembro e era quem carregava a responsabilidade geral pelo planejamento do setor elétrico.
Com base nessas discussões detalhadas, segue o governo agora afirma que aconteceu. A queda de eletricidade se originou em uma subestação próxima de São Paulo chamada Itaburi, na linha de transmissão Tijuco Preto, que abastece São Paulo e depois Rio de Janeiro com eletricidade da barragem de Itaipu (uma barragem hidrelétrica binacional na fronteira com o Paraguai, responsável por 12.600 MW de energia, ou seja, 20% do abastecimento de energia do Brasil. A matriz energética brasileira é fortemente dependente da hidroeletricidade 80%, sendo o restante uma combinação de termo, nuclear e alguma bioeletricidade.). Naquele ponto no sistema há três linhas de transmissão separadas que conectam Itaipu a São Paulo, carregando 765 kilovolts de 60HZ AC. Há uma linha de transmissão separada de Itaipu a São Paulo ao norte da linha de transmissão de Tijuco Preto, que carrega 50 HZ de energia DC. A região São Paulo/Rio também é ligada ao sul do país por linhas separadas, e também com o norte e nordeste, que também estão interligados. O consumo global diário do sistema é 60 GW, bem abaixo da capacidade total do sistema, 105 GW.
Às 22h13 ocorreu um curto-circuito em uma das três linhas de Itaburi, no que chamam de ciclo "B". 13,5 milésimos de segundo mais tarde, o ciclo "A" sofreu um curto-circuito na segunda linha. 3,2 milésimos de segundo depois, a subestação de Itaber deixou de funcionar, derrubando a terceira e última linha e interrompendo completamente o fluxo da linha de transmissão sul de Itaipu a São Paulo. Quando isso aconteceu, controles automatizados entraram em ação para preservar o sistema. Os geradores de Itaipu se desligaram quando detectaram a interrupção na transmissão, com isso também desligando a linha de abastecimento norte para São Paulo. Os sistemas interligados nas regiões nordeste e norte do país, ao detectar oscilação no fornecimento vindo de São Paulo, desligaram as linhas de transmissão para proteger essas regiões. Na região sul do país, que também fornecia eletricidade a São Paulo, as oscilações repentinas de frequência desencadearam o ERAC (um sistema de emergência no qual cada subestação monitora o equilíbrio entre o fornecimento e a carga), isolando a seção sul do restante da rede. Essas modificações preservaram o restante do sistema, permitindo um retorno rápido ao fornecimento de energia elétrica para a maior parte do país, mas deixaram os principais centros populacionais sem energia por até seis horas.
QUAIS FORAM OS FATORES QUE EXACERBARAM O EVENTO?
Geraldes descreveu os fatos de 10 de novembro como sendo incomuns, não em termos da interrupção do sistema mas da confluência de eventos que levou à escala catastrófica do apagão. Ele disse que um problema semelhante que deixou desligada a mesma linha tinha acontecido no passado, mas que o sistema estava operando de tal maneira que o fluxo foi redistribuído com poucas consequências negativas. No caso de 10 de novembro, os reservatórios estavam cheios devido às chuvas abundantes recentes, e as usinas termais, às quais se recorre com frequência para aumentar o fluxo, não estavam operando. O sistema interligado que permite que eletricidade de qualquer parte do país seja distribuída para qualquer outra parte estava exportando energia das hidrelétricas principais no sul do país para a região de São Paulo/Rio. De acordo com Geraldes, em casos anteriores a situação foi revertida, com fluxo exportado de São Paulo para o sul durante períodos com menos chuva, e os problemas tiveram efeito muito pequeno sobre o fornecimento elétrico geral.
Grudtner disse que os padrões internacionais geralmente pedem que um sistema tenha capacidade que permita operação desimpedida com uma linha de transmissão estando inoperante. No momento do incidente, o sistema brasileiro estava operando na capacidade de operações desimpedidas com duas linhas desligadas, mas o incidente derrubou as três linhas que alimentam São Paulo. Além disso, observou Coimbra, cada uma das linhas que foi derrubada leva dez segundos para se recuperar, mas os curto-circuitos ocorreram com diferença de tempo de milésimos de segundos, desabilitando o sistema de transmissão com desligamentos automáticos, antes das linhas terem tempo de se recuperar. Geraldes disse que foi a pior configuração possível de fatos que levou ao efeito em cascata.
Uma comissão governamental composta do ONS e da ANEEL, a agência brasileira reguladora da energia elétrica, está investigando exatamente o que aconteceu em 10 de novembro. A comissão tem prazo de 30 dias a partir de sua formação, em 13 de novembro, para redigir um relatório de suas constatações, incluindo possíveis recomendações. O governo irá então apresentar o relatório a um grupo independente de acadêmicos e especialistas não ligados ao governo, para ser revisto por eles. O governo finalizará o relatório após essa revisão. Na ausência de um relatório final, nem o ONS nem o MME (Ministério de Minas e Energia) ofereceram uma explicação definitiva das causas dos blecautes. Mas ambos afirmaram que os curtos-circuitos são condizentes ou com um raio (embora o ONS tenha feito questão de mostrar fotos de satélite mostrando que não havia tempestades na área naquele momento específico) ou com uma combinação de pressão barométrica baixa com ventos fortes e alto índice de umidade. O ONS também mostrou fotos de torres de transmissão apresentando descoloração visível, o que, segundo afirmou, representa evidência adicional em favor dessas duas teorias e exclui a possibilidade de danos causados por árvores, sabotagem física ou hackers. (Nota: O adido econômico não teve meios de verificar a localização das torres vistas nas fotos, o momento em que ocorreu a descoloração, nem a causa. Fim da nota.)
Oliveira e Geraldes ainda excluíram a possibilidade de ação de hackers porque, após algumas interferências reconhecidas como tais ocorridas nos últimos anos, o GOB restringiu o acesso ao sistema a um grupo pequeno de operadores autorizados, separou o sistema de controle da transmissão dos outros sistemas e instalou filtros. Coimbra confirmou que o sistema do ONS é uma rede CLAN que emprega seus próprios fios, estendidos acima dos fios elétricos. Oliveira observou que, mesmo que alguém tivesse conseguido ter acesso ao sistema, é preciso um comando de voz para interromper a transmissão. Coimbra disse que, embora os blecautes pudessem ter sido provocados por sabotagem, esse tipo de problema teria sido mortal, e investigadores teriam encontrado evidências físicas, incluindo o corpo do perpetrador. Ele também observou que quaisquer tentativas internas de interromper o sistema cometidas por funcionários do sistema teriam sido facilmente rastreáveis, fato que seria do conhecimento de qualquer pessoa com acesso ao sistema.
Para evitar grandes apagões futuros, disse Pires ao adido econômico do Rio, o governo brasileiro precisa diversificar suas fontes para que não se limitem a Itaipu, aumentando a geração de energia termoelétrica e não focando unicamente os custos de operação. Relatos da imprensa sugeriram que, para enfrentar as necessidades da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o GOB precisa modernizar suas linhas de transmissão e construir usinas elétricas em escala menor, independentes da rede nacional, mis próximas dos grandes centros de consumo, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Na reunião com o adido econômico de Brasília, funcionários do ONS foram unânimes em rejeitar as alegações de que a rede elétrica seria antiquada, observando que a rede atual foi modernizada após os blecautes de 2001 e hoje satisfaz ou supera os critérios de desempenho internacionais, abastecendo de energia cerca de 98% do país. Coimbra riu da sugestão de que a solução estaria na construção de mais usinas térmicas, não apenas porque há usinas térmicas já existentes que não estão sendo utilizadas devido aos altos custos da geração elétrica mas também porque, mesmo que elas tivessem estado em uso, as usinas térmicas teriam precisado ser carregadas por 12-13 horas após um apagão. Itaipu voltou a funcionar com sua capacidade plena menos de 30 minutos após a interrupção.
Dois dias após o incidente, de acordo com uma fonte digna de crédito, autoridades de segurança no Brasil estavam atribuindo a queda de energia a "erro humano" por parte de um brasileiro que era operador do sistema. De acordo com a fonte, o operador estava sendo investigado. A fonte está indisponível para fazer mais comentários sobre a possibilidade de novas avaliações terem modificado essa hipótese, e o status atual dessa investigação em particular é desconhecido. Também houve especulações reservadas em pelo menos uma conversa entre alguns funcionários governamentais, aparentemente baseadas em parte em um programa "60 Minutes" exibido por coincidência alguns dias antes e que sugeria que houvesse vulnerabilidades no sistema brasileiro, que interesses do setor privado dos EUA pudessem ter arquitetado os blecautes visando conseguir melhor acesso comercial à rede elétrica.
MEDIDAS INTERINAS PARA PREVENIR INCIDENTES DE SEGURANÇA E BLECAUTES
Geraldes reconheceu que os holofotes voltados para os Jogos Olímpicos submetem o sistema a um escrutínio maior. O ONS possui um protocolo para proteger contra quedas de fornecimento elétrico e que já foi utilizado durante eventos especiais como os Jogos Panamericanos em 2007 e será usado em eventos futuros, incluindo a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. O protocolo inclui a operação de todas as usinas térmicas, muitas das quais se localizam perto de grandes cidades, incluindo o Rio, durante o evento, para minimizar a possibilidade de quedas de eletricidade e para garantir que os padrões regulares de transmissão sejam mantidos, assegurando a consistência de um fluxo normal. Geraldes reconheceu que a segurança física real é uma prioridade baixa sob esse protocolo e disse que não são feitos planos especiais, mesmo durante eventos. Como ele disse, "esta tem sido uma preocupação menor para nós que para vocês". Contudo, ele concordou que pode haver um foco maior sobre a segurança física no período que antecede as Olimpíadas, particularmente depois de este incidente ter chamado a atenção para possíveis pontos fracos do sistema.
A visão do MME foi um tanto quanto diferente. Coimbra observou que "não estamos imunes aos tipos de ameaças que vocês têm visto nos últimos anos". Existe no gabinete do presidente Lula um grupo conhecido como Gabinete de Segurança da Infraestrutura (GSI) que está analisando a segurança da infraestrutura. Coimbra recordou que eles foram os primeiros a procurá-lo após o incidente. Grudtner foi encarregado de liderar o esforço de segurança física do próprio Ministério e disse que o grupo de trabalho do MME está no processo de definir quais instalações são mais cruciais para o sistema e constituem motivo maior de preocupação, logo, mais precisam de proteção física.
Representantes do ONS disseram ao adido econômico que também há um processo intensivo em andamento na Empresa de Pesquisa Energética, EPE, para desenvolver recomendações sobre como evitar problemas de apagões no futuro. Uma medida imediata tomada pelo Brasil para prevenir uma repetição do fato durante o período da investigação é reduzir o volume de fluxo em qualquer direção dada para reduzir a pressão sobre o sistema _mas um subproduto da medida é o aumento da dependência das usinas térmicas, mais caras, fato que eleva o preço da eletricidade. Outra opção de prazo mais longo que está sob consideração seria a construção de equipamentos de transmissão mais novos, maiores e, portanto, mais fortes; seria uma opção cara, e os contatos do ONS deram a entender que a hipótese altamente improvável de se repetir o blecaute de 10 de novembro não justificaria esse custo. O ONS mostrou o plano quinquenal de energia do país, que prevê aumentos importantes na demanda energética, a serem atendidos em grande medida, no curto prazo, com novas hidrelétricas e aumentos nas usinas elétricas movidas a óleo. Embora as projeções indiquem que haverá energia suficiente para atender à demanda, Geraldes avisou que a situação pode mudar se ocorrerem atrasos imprevistos na conclusão da hidrelétrica de Belo Monte, prevista para entrar em operação em abril de 2014, alguns meses antes da Copa do Mundo.
Embora Coimbra, do MME, não tenha oferecido sugestões de possíveis recomendações tecnológicas após esse evento, ele disse que uma área que o GOB poderia focar em um exercício do tipo "lições aprendidas" seria a melhora das comunicações com o público durante ocorrências como essa, e também antes de manutenções programadas que possam causar apagões temporários. Ele ficou interessado em saber mais sobre o sistema de Transmissões (de rádio e televisão) de Emergência americano como uma maneira possível de enfrentar esse desafio. O adido econômico se comprometeu a pesquisar o programa americano e enviar informações para ver se uma cooperação nessa área seria viável.
Tanto o MME quanto o ONS estavam ansiosos para contextualizar o apagão de 10 de novembro. O ONS ofereceu um slide mostrando outros apagões internacionais comparáveis ocorridos nos últimos 30 anos, incluindo o blecaute de quatro dias que atingiu a Costa Leste dos EUA em 2003, detalhando a extensão e duração dos blecautes; o blecaute brasileiro saiu favorecido na comparação. Coimbra disse ao adido econômico que uma associação americana de engenharia enviou uma carta oficial parabenizando o Centro de Pesquisas Elétricas, CEPAL, pela recuperação rápida do sistema e convidando a entidade a participar de uma conferência nos EUA no início do próximo ano para compartilhar suas experiências. Tanto o ONS quanto o MME destacam a rapidez com que a maior parte do sistema voltou a funcionar (a maioria das áreas afetadas sofreu apagões de 20 minutos; o apagão mais longo foi de seis horas, em São Paulo). Como disse Grudtner, o setor elétrico ficou satisfeito porque o sistema funcionou como deveria e voltou com relativa rapidez, mas os políticos não estão satisfeitos. Enquanto isso, ele observou em tom irônico, a imprensa fica satisfeita por ter material para suas matérias. O Congresso pediu sessões de discussão sobre o incidente, que tiveram que ser adiadas porque especialistas estavam viajando à área numa missão investigatória para concluir o relatório da investigação.
COMENTÁRIO: NOTÁVEL ABERTURA A DIÁLOGO COM O USG
As autoridades brasileiras se mostraram notavelmente abertas a discutir o incidente com funcionários da Embaixada, não adotaram postura defensiva ao responder a perguntas e foram francas em suas informações e avaliações. A disposição do presidente do ONS e do chefe-de-gabinete do MME em reunir-se conosco para discutir uma questão tão técnica e em fornecer informações detalhadas à Embaixada demonstra a importância que eles atribuem a assegurar que o USG entenda o blecaute e a capacidade do Brasil de fazer frente a eventos importantes no futuro. Os apagões não são incomuns no Brasil (na realidade o Rio sofreu outro apagão em 23 de novembro que foi atribuído a interrupções na transmissão, possivelmente devidas ao roubo de cabos). Contudo, a escala do apagão de 10 de novembro, que atraiu atenção internacional indesejada, pode levar o Brasil a buscar soluções duradouras a pontos de debilidade em seu abastecimento elétrico e ameaças a ele. Com o início de um importante ano eleitoral, o GOB provavelmente vai querer mostrar que está tomando medidas para reconstruir a confiança pública. À luz da abertura manifestada por funcionários do GOB para discutir esse fato, somada ao desejo de demonstrar avanços em fazer frente ao problema, o USG tem uma oportunidade de trabalhar com o GOB enquanto este busca aperfeiçoamentos possíveis que rendam resultados reais para a segurança física e confiabilidade de sua rede.
OPORTUNIDADES DE ENGAJAMENTO DO USG - APROVEITAR O MOMENTO
Tendo dedicado muito tempo e muitos recursos para corrigir problemas no fornecimento elétrico nacional que eram endêmicos em 2001, o GOB se orgulha de seu sistema de transmissão nacional interligada e tende a enxergar os apagões que ocorrem como incidentes isolados ou como problemas com sistemas de distribuição locais. Em visitas recentes aos Estados Unidos, o vice-ministro da Energia Zimmermann sugeriu que a transmissão e a distribuição de longo alcance possam ser um tema no qual o Brasil possui know-how que poderia compartilhar com os EUA em um acordo de cooperação energética. Embora o GOB seja altamente resistente à ideia de que outros países sejam mais avançados que o Brasil na transmissão e distribuição, representantes do GOB reconhecem que há espaço para aprimoramentos em seu sistema. Saberemos mais sobre a causa imediata do grande apagão brasileiro dentro de algumas semanas, mas, enquanto isso, há oportunidades para o USG tirar proveito da abertura do GOB, destacando o apagão como razão para mais engajamento e também preparativos com vista à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016.
OPORTUNIDADES DE COOPERAÇÃO EM SEGURANÇA DE INFRAESTRUTURA CRÍTICA
Esta seria uma excelente ocasião para incentivar o Memorando de Acordo sobre Comunicações e Segurança de Informações (CISMOA) entre forças armadas, notando que, embora este incidente não pareça ter sido fruto de um ataque ao sistema, tal evento é possível, e firmar esse acordo permitiria cooperação no caso de ocorrer um ataque. Também consideraríamos um grupo de trabalho em ciber-segurança. O Brasil poderia estar aberto a buscar cooperação sobre a proteção da infraestrutura crítica, e o MME já nos disse que estaria interessado em saber mais sobre nosso sistema de transmissões (por ex. de televisão) de emergência. Está claro que a segurança física até agora não foi um alvo importante da atenção dos planejadores, mas autoridades reconhecem a possibilidade de um ataque e estão trabalhando para desenvolver proteções, outra área possível de cooperação frutífera após a visita de DHS no final de 2008.
Com relação ao desenvolvimento infraestrutural, a USTDA (Agência de Comércio e Desenvolvimento dos EUA) estuda a possibilidade de patrocinar uma visita de orientação ou um estudo de campo sobre energia elétrica. Até agora a USTDA não buscou cooperações na área elétrica. A maioria dos projetos infraestruturais neste sistema elétrico centralizado é ao nível federal, o que geralmente se traduz em mais burocracia e tempos de implementação mais longos do que com projetos empreendidos ao nível estadual ou local. Existem, contudo, questões de distribuição elétrica que precisam ser tratadas aos níveis estaduais e locais que poderiam beneficiar-se do envolvimento da USTDA, possivelmente representando outro meio de engajamento para ajudar o Brasil a resolver seus desafios elétricos. Antes deste evento, o Ministério da Energia tinha destacado a tecnologia Smartgrid como sendo uma área na qual ele teria interesse em cooperação; é possível que o interesse seja maior agora. 23. (C) A Missão incentiva as agências do USG, incluindo o Departamento de Defesa, o Departamento de Segurança Interna, a Comissão Federal de Comunicações, a Agência de Comércio e Desenvolvimento e outras a explorar estas oportunidades no curto prazo. FIM DOS COMENTÁRIOS. 24. (U) Este telegrama foi coordenado com os Consulados Gerais no Rio de Janeiro e São Paulo.
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