terça-feira, setembro 04, 2007

Falsa imagem no espelho

Eu não sou de acreditar em nada sem me questionar secretamente, analisar fatos e atitudes espontâneas, sem duvidar da mais positiva e da mais negativa possibilidade de algo ser verdade ou inverdade. Não acredito no termo "mentira" porque ele não é, definitivamente, o oposto da verdade. Por não ter fé ou crença no que leio, ouço ou assisto sem antes racionalizar e comparar as minhas sensações com as interpretações do que aprendi de exato e inexato, qualquer informação a mim destinada sem um argumento ou provas silábicas que me convençam é apenas um recurso alienativo histórico da desinformação.
O que isso quer dizer? Que vive-se hoje em sociedades que prezam a desinformação como arma de dominação de massa, uma arma poderosa que mina o senso crítico e a consciência boa de qualquer pessoa e a transforma em um simples otimista inseguro e deprimido no meio de tanta bobagem escrita, dita ou lida ou televisionada ou enviada por email. Com a capacidade de imaginar danificada pelos excessos totais dos estimulantes visuais caseiros e da fome por algo material que não satisfaz a alma que, latente, aguarde apenas tendências e liquidações para se inserir no contexto atual de civilidade.
Não, eu não boto fé alguma no que está sendo publicado ultimamente em muitos veículos de comunicação. Eu não boto fé que as pessoas estão tão interessadas na vida alheia sem notar que a sua própria vida independe disso. Eu acho o cúmulo do desagradável participar de debates que não ultrapassam a superfície da casca de amendoim pela preguiça mental. E isso tudo é fomentado, alimentado e abastecido por um interesse oculto que sabe muito bem lidar com a insatisfação humana. É o pão e o circo, é o palhaço Bozo do mundo bizarro, é o Maradona.
Quando eu me olho no espelho, as vezes eu tenho dificuldade de encarar o reflexo do meu olhar. Não seria eu, seria o meu eu refletido ao contrário, minhas marcas faciais todas invertidas e refletidas pela luz do meu corpo e das fontes externas chamadas lâmpadas. Mas eu me olho todos os dias, com dificuldade ou não, e procuro uma razão para continuar. E essa razão existe, aparece e nunca é algo relacionado à eu me sentir enganado ou não por alguma força maior. É não aceitar as coisas como elas são e sim fazer parte das decisões reais que determinam o grau de percepção do que é bom ou não pra mim. Silêncio.

segunda-feira, setembro 03, 2007

o fim das boates foi decretado no dia 02/08/07

O Glamour delas já não ofusca mais nada desde metade dos anos 90, século XX; as "raves" não agregaram ao redor delas o charme e a vontade de viver uma fantasia falsa, mas bacana; o conceito material musical vigente tem mostrado que até as coisas com defeito podem ter efeito, mesmo que efêmero e sem o devido contrapeso para continuar. Os djs carregam, como um desafio, o fardo de animarem casas e espaços cada vez mais arruinados pela minoria burguesa que, com a presença do dinheiro, minaram a graça dos reinos das boates, o reino das loucuras maneiras.
Não há esperança. E nem deveria de haver. Desmarginalizada, perdeu a força. Perdeu a independência das tendências e perdeu o público de mente aberta que a frequentava. Perdeu tudo.
A naturalidade das boates era em gênero, número e grau, dependente de seus gerentes, normalmente loucos frequentadores de outras boates que tinham em mente a vontade de criar uma fuga do mundo real através da aproximação cultural da música sexual e selvagem. Isso quer dizer que as boates eram pontos de encontros e de lá surgiam infinitas relações de afinidade de muitos tipos. Foi nas boates, por exemplo, que as diversas formas de homossexualidade começaram a ter espaço livre de preconceitos, afinal, era lá que havia a atmosfera da penumbra, do incerto e do fantasioso belo.