Para questões de sociologia e política eu tenho estudado um pouco. Tenho me aprofundado nos conceitos que hoje ampliam as margens da sabedoria humana, como a filosofia é a água que flui intermitente pelo leito, pelas margens até o mar, discutindo o bê-a-bá da ciência política e da história com muitas pessoas, com a minha mulher estudiosa.
Eu moro no interior de São Paulo e já morei em muitas partes do país. Já residi em Brasília e em São Paulo. Já veraneei no litoral sul de Santa Catarina, morei meses em Porto Alegre e 35 dias no Rio de Janeiro. Já voei mais de duzentas vezes de avião, já rodei mais de cem mil quilômetros pelo país em um ônibus trabalhando, observando tudo com olhos de águia.
O referendo do dia 23 de Outubro é muito importante para os brasileiros, mas nem tanto. O problema do uso, do porte e da comercialização de armas é um véu que nos ilude dos verdadedeiros problemas que estão tendo que ser resolvidos neste país. Problemas que solucionados salvariam mais pessoas por dia de morte morrida, da fome e da hipocrisia que é ter de acordar para votar dia 23 de Outubro.
Do Marechal Deodoro da Fonseca até Fernando Henrique Cardoso, no governo Lula, ninguém foi capaz de juntar um conselho ou parlamentares para votar algo tão delicado e íntimo para o cidadão? Hoje serão os brasileiros que devem legitimar a sem-vergonhice parlamentar que não nos protege nunca, pois a violência urbana, familiar, mundial tem suas raízes na desinformação, na alienação do indivíduo no capitalismo material, na fome e nas disputas de territórios mau divididos nos períodos de invasões? O POVO DEVERIA ANULAR SEU VOTO DIA 23 para não ser forçado a decidir algo delicado e nobre para a vida humana. Somos capazes de quase tudo, até mesmo de decidir questões de ordem superior, vida e morte. Mas o povo já perde escolhendo o SIM e o NÃO. Eu preferia votar na CPI dos correios e do mensalão, cassar os políticos corruptos e tirar seus benefícios públicos do que decidir sobre o comércio de armas no país. Preferia usar o orçamento do referendo para aumentar o número de leitos e médicos no SUS, dar aumento salarial para os mesmos ou criar um fundo com os benefícios de parlamentares cassados para fins de pesquisa universitária. Qualquer coisa seria melhor do que votar sobre o comércio de armas.
Na minha opinião a incompetência legislativa e executiva não tem como prioridade solucionar o problema de armas no país com o referendo e sim enganar os olhos dos brasileiros com mais uma questão tradicionalista e atrasada. O que os olhos não vêm o coração sente. Eu não me engano com isso que está acontecendo. Eu fico feliz pela mobilização dos votos, mas haverá venda de armas pro exterior igualmente, as armas de lá virão pra cá, de um jeito ou de outro, e o que gera a verdadeira violência no país gerará outro tipo de violência no futuro. O homem, para fugir da agressão e da violência, precisa afastar-se de outros sentimentos primeiro. Precisa cumprir seu papel de criador diariamente e estabelecer prioridades para o corpo, a mente e espírito com equilíbrio. A violência cessará nele imediatamente. A pior arma é a vontade, depois é o tiro ou a facada, depois é a morte. Se ligue. Obrigado.
sexta-feira, outubro 21, 2005
domingo, outubro 09, 2005
A esfera, o globo ocular - o ouvido, a personalidade
Tem uns meses já que eu me propus a escrever tudo aquilo que me vem à cabeça. E se engana quem pensa que eu só escrevo para a internet. Já tenho o hábito de guardar algumas memórias ou escrever ensaios e críticas pela internet desde o colegial. Eu, meus irmãos e o Jorge, um amigo de Brasília, criamos em 1993 junto com um grupo de alunos do Leonardo da Vinci, escola de renome na capital, o movimento Babaísta para fins literários, musicais, esculturais e de análise do cotidiano. Muitos anos depois, já na faculdade de história, foi que eu vi que a "história do cotidiano" estava abrindo suas janelas para a vida acadêmica depois de tantos anos de fatos, fatos e datas, datas.
O movimento babaísta tinha muitas cabeças pois partia do princípio moderno de que alguns temas eram especiais, vinham de nossa própria experiência e do surrealismo do imaginário que existia em cada pessoa que curtia rock inteligente, música clássica, quadrinhos europeus, Rush, fotografia, tatuagens, o sol, os eclipses lunares e a própria juventude. Um dos caras mais atuantes se chamava Alexandre, mais conhecido como Tampinha.
O Tampinha tinha a qualidade rara de juntar as pessoas certas no seu corcel II e distribuia rebeldia verbal e solavancos sexuais junto com suas camisetas cortadas e seu conhecimento da alma humana. O Tampinha sabia dizer coisas antes delas serem pensadas por professores. As vezes ultrapassava o limite do silêncio entre o som do giz da professora com seu grito seminal. O grito seminal convocava a todos para mais uma reunião babaísta nos intervalos ou no final da aula.
As reuniões babaístas era bastante rápidas. A meta era que cada integrante escrevesse o máximo de absurdos estéticos possíveis em forma de prosa ou poesia. Podia ser um desenho também. Os trabalhos seriam reunidos e colocados nos murais da escola para que todos tivessem acesso aos trabalhos. Geralmente o tema era criticar algo extremamente comum ou rotineiro e fazer do tema uma espécie de fuga do normal para os detalhes extravagantes das curvas. Da escatologia aos sapos, do amor perdido aos discursos veementes sobre a inexistência da girafa, matando uma aula ou outra por causa de um fenômeno natural, tudo girava em torno da compreenssão do que éramos como jovens alunos e filhos e do que poderíamos dividir entre os colegas, nossa alma.
Kanéforas, o homem que veio dos canos, filósofo babaísta que inspirava nossas ambições deve ter sido um dos primeiros a ter seus relatos publicados na internet. Eu mesmo fiz a primeira e única página babaísta na internet em 1996 com poesias minhas, do Breno e do Jorge contendo citações filosóficas sobre cinema, filosofia e música babaístas. Os babaístas, depois do colegial, se tornaram "as veias de seus próprios canos" e cada um foi estudar ou trabalhar em alguma parte do Brasil. Até que se perdeu o babaísmo em mim e eu me esqueci de como eu era...
...o exercício das palavras é pior do que a musculação. Pesos materiais, à medida em que você vai adaptando as técnicas de suporte de peso e massa muscular às suas, são medidas exatas amparadas pela gravidade. Nas palavras o peso é subliminar, depende exatamente do conhecimento da palavra, do seu sentido figurado e real, do seu estado de espírito com relação ao tempo presente e de repertório. As vezes meia palavra pode servir. As vezes nem meia palavra basta. Os pesos sempre terão utilidade enquanto existir papel.
De tanto escrever nesses meses acabei colecionando algumas palavras distantes que me fascinam até o osso, busquei detalhar os sentimentos que estão no ar implorando para serem revelados. Uma palavra desperta e agradece quando utilizada. O homem já não tem este talento. O homem curte o lance do ego. Ego é uma palavra. Apenas uma palavra a mais em nosso dicionário.
O movimento babaísta tinha muitas cabeças pois partia do princípio moderno de que alguns temas eram especiais, vinham de nossa própria experiência e do surrealismo do imaginário que existia em cada pessoa que curtia rock inteligente, música clássica, quadrinhos europeus, Rush, fotografia, tatuagens, o sol, os eclipses lunares e a própria juventude. Um dos caras mais atuantes se chamava Alexandre, mais conhecido como Tampinha.
O Tampinha tinha a qualidade rara de juntar as pessoas certas no seu corcel II e distribuia rebeldia verbal e solavancos sexuais junto com suas camisetas cortadas e seu conhecimento da alma humana. O Tampinha sabia dizer coisas antes delas serem pensadas por professores. As vezes ultrapassava o limite do silêncio entre o som do giz da professora com seu grito seminal. O grito seminal convocava a todos para mais uma reunião babaísta nos intervalos ou no final da aula.
As reuniões babaístas era bastante rápidas. A meta era que cada integrante escrevesse o máximo de absurdos estéticos possíveis em forma de prosa ou poesia. Podia ser um desenho também. Os trabalhos seriam reunidos e colocados nos murais da escola para que todos tivessem acesso aos trabalhos. Geralmente o tema era criticar algo extremamente comum ou rotineiro e fazer do tema uma espécie de fuga do normal para os detalhes extravagantes das curvas. Da escatologia aos sapos, do amor perdido aos discursos veementes sobre a inexistência da girafa, matando uma aula ou outra por causa de um fenômeno natural, tudo girava em torno da compreenssão do que éramos como jovens alunos e filhos e do que poderíamos dividir entre os colegas, nossa alma.
Kanéforas, o homem que veio dos canos, filósofo babaísta que inspirava nossas ambições deve ter sido um dos primeiros a ter seus relatos publicados na internet. Eu mesmo fiz a primeira e única página babaísta na internet em 1996 com poesias minhas, do Breno e do Jorge contendo citações filosóficas sobre cinema, filosofia e música babaístas. Os babaístas, depois do colegial, se tornaram "as veias de seus próprios canos" e cada um foi estudar ou trabalhar em alguma parte do Brasil. Até que se perdeu o babaísmo em mim e eu me esqueci de como eu era...
...o exercício das palavras é pior do que a musculação. Pesos materiais, à medida em que você vai adaptando as técnicas de suporte de peso e massa muscular às suas, são medidas exatas amparadas pela gravidade. Nas palavras o peso é subliminar, depende exatamente do conhecimento da palavra, do seu sentido figurado e real, do seu estado de espírito com relação ao tempo presente e de repertório. As vezes meia palavra pode servir. As vezes nem meia palavra basta. Os pesos sempre terão utilidade enquanto existir papel.
De tanto escrever nesses meses acabei colecionando algumas palavras distantes que me fascinam até o osso, busquei detalhar os sentimentos que estão no ar implorando para serem revelados. Uma palavra desperta e agradece quando utilizada. O homem já não tem este talento. O homem curte o lance do ego. Ego é uma palavra. Apenas uma palavra a mais em nosso dicionário.
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