quinta-feira, novembro 17, 2005

Emoticons e Kibon - A americanização do Brasil - Extemporânea #2

Sempre fui defensor da internet como um excelente meio de propagar ídéias anárquicas ou absolutamente independentes, como veículo de pesquisa e divulgação alternativa. Até o msn foi um advento e o skype outra loucura para os internautas pessoas realmente necessitadas das vantagens do cybermundo.
Pois bem, mas o que são esses emoticons? A primeira vez que eu vi fiquei um pouco impressionado. As pontuações diferentes, os movimentos hipnóticos e a dança das cores pareciam dar um algo mais para a comunicação digital. Me impressonava o alto índice de gírias e cagüetes, abreviações errôneas e barbarismos da língua portuguesa na maioria das mensagens que eu recebia todos os dias. É impressionante como ficou difícil para os internautas digitar português corretamente. Ninguém se entende sem uma gíria ou vício virtual de escrita? Pois bem, criou-se o pior: o emoticon.
Agora não existem tantos textos errados e mal escritos. Existem mensagens cifradas, códigos de mau gosto e atalhos pros olhos, uma poluição visual grande e um efeito, em mim, quase tão desagradável quanto o episódio fatídico onde o pikachu brilha tanto que fez crianças enjoarem, terem ataques epilépticos e mal-estar no Japão. Me flagrei imaginando "quem poderia ter criado uma coisa tão anti-educacional?
A televisão fica muito tempo ligada na maioria das casas brasileiras. E ficam sintonizadas, em sua maioria, na rede Grobo. Uma propaganda da Kibon me chocou. Colocava um jovem derretendo-se por um sorvete do amor com uma trilha sonora em inglês, mas nitidamente cantada por brasileiros, e aquela festa do beijo rolando ao som do enlatado comercial ianque. Me deu nojo. Uma hora antes estávamos, o Maskavo, fazendo uma entrevista para a MixTv, em São Paulo, jogando consoles importados, jogos americanizados, incluindo o jogo de futebol. Sabe aquele futebol norte-americano que não tem lateral, não tem linha de fundo e é jogado em grama sintética. Esta é a nova sensação da Fifa Games. Eu joguei com a apresentadora do programa, perdi de 5X0 mas não entendi bulhufas do jogo, nem das jogadas e nem os comandos. Fiquei bobo. Mas lá o Prata comentou que fazer música em inglês no Brasil era meio estranho porque a própria população não aceita um grande nome brasileiro que cante apenas em inglês, a excessão do Sepultura que alcançou status mundial indo na contramão da MPB e do rock brasileiro. Mas uma rara excessão no Brasil. E eu assisto, quase como que por imposição, um comercial já suavizando nossos ouvidos pro futuro da língua portuguesa: o tupenglish.
Na medida em que o império norte-americano parece mais fragilizado, quando passa no canal do national geographic documentáro sobre o 11 de setembro contando apenas os mortos norte-americanos na tragédia, um número bem menor de mortos do que o real, quando os tufões, ciclones, furacões e enchentes expõem a miséria USA não tem um filme brasileiro passando na televisão. Nem na T.V. Cultura. Nas rádios é possível ouvir os hits e os dólares por trás deles em praticamente todas elas, rádios segmentadas do país. Onde a música brasileira se viu obrigada a aderir aos rótulos importados dos discos ianques, onde ficou difícil escrever com a certeza de que a poesia brasileira necessita de mais palavras, mais rimas, mais tempo para dizer "eu te amo" ou "estou com medo".
O jeans, a grife adidas ou wilson, os piratas ray ban estão em todas as bancas de camelôs do país. O que são os camelôs senão a massificação do sonho americano de possuir, possuir, possuir sem a necessidade real de ter?
O crediário é uma idéia que suga também a energia do brasileiro. Não sei sua origem, poderia ser até um excelente tópico de pesquisa antropológico visto que os antropólogos não tem mais o que estudar destruindo o frágil modo de vida anti-americano. Uma lástima. Estudem a origem do que mais nos tem tirado o sono: a urbanização de nossos sentidos, o medo de morrer e a necessidade capitalista de destruir sonhos. Obrigado.