BANDA MASKAVO MANTÉM A TRADIÇÃO DO REGGAE BRASILEIRO
O reggae é um gênero musical que tem suas origens na Jamaica, e devido ao seu balanço envolvente e melodias atraentes, tornou-se um ritmo universal. Quem nunca ouviu falar de Bob Marley??? Podemos encontrar bandas regueiras na Itália, Alemanha, Japão, Austrália, Canadá, Estados Unidos, enfim, no mundo todo. Quanto ao Brasil, podemos nos orgulhar dos nossos representantes do gênero. Na década de 70, músicos como Gilberto Gil e Jorge Ben Jor já demonstravam fortes influências do gênero. Nos anos 80, bandas como a Blitz e os Paralamas do Sucesso promoveram a fusão do rock com o reggae. Já na década de 90 o movimento começou a crescer e ganhar amplitude; bandas como Cidade Negra, Alma D'Jem, Tribo de Jah e Natiruts transformaram o ritmo jamaicano em um dos gêneros de maior sucesso no país.
Para dar continuidade a essa historia, destacamos o ressurgimento, no ano 2000 de uma das bandas mais representativas do reggae nacional, a Maskavo. Ressurgimento porque o grupo apareceu no cenário musical de Brasilia em 1993 com o nome de “Maskavo Roots”, lançando seu primeiro CD em 1995 pelo selo Banguela, da WEA. Mas foi somente no ano de 2000, com Marceleza na voz, Prata na guitarra, Bruno Pietro no baixo e Quim na bateria, que a banda encontrou o caminho das flores. Autores de grandes sucessos como “um anjo do céu” e “asas”, eles alcançaram a graça do publico brasileiro, que tem lotado os shows por onde passam. No mês passado (junho) foi lançado o primeiro DVD do grupo intitulado Transe Acústico, gravado no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. O registro conta com 13 musicas de sucesso da banda e mais duas inéditas, todas com a roupagem acústica.
Confira a seguir a entrevista exclusiva que a banda concedeu via e-mail para a revista eletrônica Cidade Ligada:
Cidade Ligada - A banda Maskavo possui uma discografia muito expressiva, com 7 álbuns e muitos quilômetros rodados pelo Brasil. Eu gostaria que você comentasse sobre a trajetória da banda.
Maskavo - A história do Maskavo tem suas peculiaridades. Ela começa com o final de uma banda chamada Maskavo Roots, onde o Prata e o Quim, por serem pessoas dedicadas e persistentes, resolveram chamar o Marceleza para cantar e gravar o primeiro álbum do Maskavo, Já, de 2000. Naquele mesmo ano eu, Bruno Prieto, fui convidado a tocar na turnê do disco depois que o compadre/baixista da banda resolveu seguir nova jornada, outra carreira. Nós quatro saímos de Brasília de van e, por 3 semanas, viajamos para São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e depois voltamos pra São Paulo e retornamos enfim para a capital federal. Fizemos uns 12 shows de todos os tipos e logo percebemos que ali estava uma banda boa no que se propunha: fazer shows sem medo do perigo. Daí nos mudamos pra São Paulo e a música Um Anjo do Céu virou nosso talismã, nosso abre-alas para o Brasil. Outra peculiaridade foi termos ganho o prêmio Dynamite de melhor álbum de reggae independente de 2005. Você veja que sem almejar algo desse naipe e tendo o Maskavo recém saído de sua gravadora, seu trabalho mais obscuro se tornou outro amuleto da sorte e abriu as portas para a primeira turnê do Nordeste da banda.
CL - Sabemos que do inicio dos anos 90 para cá muita coisa mudou no mercado fonográfico. O advento da Internet abalou as estruturas das grandes gravadoras e potencializou as possibilidades do mercado independente. Como a Maskavo sente essa nova perspectiva?
M - Acho que todas as bandas deveriam se sentir muito à vontade neste momento de mudança porque, se por um lado se vende menos discos, por outro lado você pode muito bem disponibilizar sua música de forma criativa e gratuita, de forma que o maior prejudicado é quem quer lucrar com música. Não existe um regulamento no Brasil que legitima o músico e o intérprete e o autor de verdade, ou seja, está tudo errado desde a distribuição dos direitos autorais, direitos de execução em rádios, em boates, até a forma como se comercializa o produto final, o disco, a obra. O buraco é bem mais embaixo em se tratando de negócios.
CL - As musicas “Asas” e “Um Anjo do Céu” são os grandes sucessos da banda. Vocês as consideram um divisor de águas? Por que elas agradam tanto os ouvidos das pessoas?
M - Elas são divisores de águas para nós. Ficamos todos muito satisfeitos em saber que essas canções acabam permanecendo com as pessoas e no imaginário popular e não temos a menor idéia de como isso aconteceu ou como isso acontece. Sabemos que uma música, para ser boa, tem que ter alma boa, nascer boa. O resto é trabalho e bom gosto.
CL– O reggae seria um remédio para os males da modernidade?
M - Eu vivo me perguntando isso. Será que "música" ainda salva vidas? Será que há na modernidade espaço para um santo remédio? Minha resposta é não, o reggae não é um remédio que cura os males. O reggae serve para que encontremos em nós mesmos a cura para os males internos e externos a nós mesmos. Se isso fizer sentido, ok. Pra mim, a cura vem do curandeiro.
CL - Por que vocês escolheram Porto Alegre para a gravação do DVD?
M - Foram 3 circunstâncias essenciais que fizeram a diferença na escolha do Theatro São Pedro, em Porto Alegre.
1 - Fomos convidados para produzir um show acústico por uma empresa de celular, que seria no Theatro
2 - Queríamos gravar um DvD diferencial, que não se parecesse com nada do que tivéssemos feito até então
3 - A oportunidade em produzir o dvd, junto com o cineasta René Goya
Com esses 3 elementos nós juntamos a fome e a vontade de comer e trabalhamos 230 horas de ensaios, mais duas sessões de show/gravação, e depois alguns meses de pós-produção lançamos o dvd em 2006.
CL – Sabemos que Brasília é um grande “celeiro” musical, muitas bandas importantes do cenário nacional são provenientes do Distrito Federal. Isso acontece também com São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Rio Grande do Sul, porém, Santa Catarina e Paraná não possuem nenhuma banda de sucesso nacional expressivo. O que está faltando para nós?
M - Pra ser sincero, eu admiro muito alguns renomados artistas do Norte e do Nordeste do país, como Saia Rodada ou Balança Neném, porque eles são justamente o oposto do que é ser um sucesso nacional expressivo. Eles são muito bem sucedidos em seu próprio recanto, no Nordeste por exemplo, dominando o circuito de shows em 10, 12 estados e ninguém em São Paulo fala deles. Mas eles fazem shows pra 10 mil pessoas em média e são totalmente independentes; lançam cds, dvds, tem lojinha e o escambau, ônibus próprio, iluminação. O Maskavo não tem isso ainda e tocamos em média 2 vezes por ano em Brasília. Somos nômades procurando um oásis para nos refrescarmos. A maioria das bandas é assim também... Nomes como Caetano Veloso, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii, acredito, foram mais longe por abandonar naturalmente suas raízes, ao abranger o Brasil todo em suas canções. Acho que é isso o que o Maskavo busca: universalidade musical sem preconceitos. Se for pra filosofar, o que falta no SC e no PR em termos de banda é apenas timing, que quer dizer temporalidade.
CL – Como é viver o sonho de muitas bandas, ou seja, fazer sucesso, tocar nas rádios e televisão e fazer shows para milhares de pessoas? Isso acabou afetando o ego dos integrantes?
M - Uma vez lendo os Analectos de Confúcio, em uma de suas passagens, o autor diz que ser músico, apesar de parecer que ele faz algo sublime, nada mais é do que ser um perito em alguma coisa, ou seja, o músico é uma pessoa especial como outra qualquer.
CL – Quais são os planos para o futuro? Cd novo?
M - Pretendemos continuar a turnê de divulgação do Dvd, que foi relançado no mês de Junho, e já temos planos de produzir um novo material, só estamos em dúvidas se será um CD. Pensamos em usar novos formatos para lançar músicas no futuro.
CL – Como vocês viajam pelo Brasil todo para fazer shows, acabam entrando em contato com as diferenças culturais que aqui existem. Qual é a visão que vocês tem do nosso País?
M - O Brasileiro é o povo que gosta de festa, de dançar e de ser espontaneamente alegre. O Brasil é um país que é um rascunho do que a Rede Globo exibe em seu horário nobre, mas é isso aí. No Brasil, todo mundo quer ser rico mas ninguém quer ser notado por isso. É um país contraditório desde a sua concepção. Tem gente que não sabe onde fica Brasília, pode?
CL - Muito obrigado pela entrevista. Para finalizar eu gostaria que vocês deixassem uma mensagem para toda a galera que acessa a revista eletrônica Cidade Ligada.
M - Gostaria de agradecer a oportunidade desta entrevista, ao Vitor pelo convite e dizer que o sonho só vale à pena se for vivido além de idealizado. Obrigado.
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