Nunca havia passado na cabeça do Zé Pessoa que, sentado no saguão de embarque do aeroporto de Congonhas, ele poderia ver tantos computadores notebook ligados e funcionando ao mesmo tempo. Nunca. O Zé olhava admirado todos os lados, todas as pessoas usando um computador em seus colos, todos iguais e o Zé à admirar todas elas sentado sozinho perto do portão 4. Nada sobre seu vôo era favorável: muita chuva, muitos atrasos do dia anterior acumulados, muita neblina e era muito cedo. O Zé já não tinha mais forças para pensar quando parou seu olhar para cima, inclinando a cabeça e deixando de lado à visão e deixando a consciência tomar conta de tudo sem mais nada pensar... daí veio vindo aquele cheio de café e dois olhos dentro dos óculos e um fino nariz apareceram em seu desfoco. O Zé suspirou, estava com a boca seca e babou internamente pela sede de café que lhe acometeu. E aquela voz grave, tem alguém sentado aí? era do tipo educada e feroz adocicada. O Zé não tremeu nem piscou. Foda-se, pensou, o que é pior do que sair do estado de luz? O cheiro do café estava ótimo e o silêncio estava ótimo.
Daí a moça perguntou algo sobre os atrasos e algo no Zé disparou. O atraso virou um tormento para o Zé. Por que, POr que, Por que?
Porque você estava sonhando, Zé.
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