sexta-feira, dezembro 14, 2007

Saber aprender

Com o primeiro dinheiro que me sobrou no ano 2000 comprei o baixo fender que me acompanha até hoje na estrada. É meu instrumento preferido. Nunca tive por ele nenhum amor especial ou cuidei dele com se fosse um poodle branco. Na realidade, o baixo está gasto, cheio de pancadinhas nos lugares mais pitorescos e ficando cada dia mais envelhecido. Aquele baixo é como um vinho. E, por isso, hoje ele fica comigo em casa. Depois de mais de 700 shows e três discos gravados chegou ao fim sua trajetória na estrada.
Comprei, logo depois do baixo, em 2003, meu segundo carro. Um fiat tipo 94 que está comigo até hoje. Não sinto por ele nenhum amor especial ou sinto que aquele carro seja melhor do que é. Mas ele serve para tudo o que eu preciso, é econômico e cabe meus equipamentos de homestudio que eu levo de cá para lá quase toda semana. Depois de mais de 50 mil quilômetros rodados eu não sinto nada por aquele carro. Ele é uma máquina.
A vida não tem valor. Ela é a própria caminhada, o próprio fim dos meios e dos começos. Apegar-se ao passado, às coisas materiais, às pessoas em si é quase uma sina, mas também uma forma de pecado. Somos todos menos do que elétrons livres. Somos pequenas partículas que compõem o campo harmônico-magnético-eletrônico da vida, assim como o vai-e-vêm de veículos, cada um com seu condutor, indo e vindo pelas ruas... todos em um ritmo caótico de quase nada sentir, mas indo em direção ao seu destino sem pensar em nada melhor para fazer do que comprar, gastar, usufruir.
Ontem o sol estava de rachar aqui em Brasília. O ar estava abafado, agonizante. O leigo não sabe mas um sinal assim significa chuva pesada. Hoje, chove desde madrugada e parece que será assim até o fim do dia. O que tem para aprender com isso?
Eu vou tocar baixo... o carro ficará na garagem. E a chuva irá diluir os nutrientes minerais do solo para alimentar os vegetais, armazenará água nos mananciais e limpará os céus de Brasília. Essa é a natureza se refrescando do dióxido de carbono lançado pelos carros nas ruas.
Silêncio.

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