"Criminosos na epiderme e irredentos no mais fundo da alma." Assim o historiador Frederico Pernambucano de Mello define bandidos míticos como Lampião e Corisco em "Estrelas de Couro: A Estética do Cangaço".
O livro reúne uma impressionante iconografia de chapéus, roupas, alpercatas, punhais, pistolas, rifles e bornais (sacolas para carregar provisões) usados pelo bando do rei do cangaço. Os utensílios pertencem ao acervo particular de Pernambucano de Mello e a coleções públicas e privadas.
Além do prefácio em que Ariano Suassuna expõe "os sentimentos contraditórios de admiração e repulsa" desencadeados pelas lendas de Lampião e Maria Bonita, os ensaios de "Estrelas de Couro" dissecam as raízes do irredentismo nordestino, movimentos de resistência sertaneja às leis trazidas pelo governo litorâneo.
É nesse conflito entre o arcaico e o moderno, entre a virilidade dos costumes e a violência do Estado, que se inserem desde revoltas populares do século 19, como a Balaiada ou a Sabinada (no Maranhão e na Bahia, respectivamente) e a Guerra de Canudos, até sua faceta menos politizada, e por isso associada ao crime comum: o cangaço.
À condição ambígua de facínora e herói popular conquistada por Lampião, soma-se outra ambiguidade: o fato de que seus fora da lei, em vez de se camuflarem para escapar das autoridades, tenham criado um fardamento vistoso e roupas de festa, com bordados repletos de símbolos, que Pernambucano de Mello descreve como "blindagem mística" nesse livro belíssimo, que mostra como a estética inscreveu bandoleiros cruéis no imaginário dos mártires.
LIVRO
ESTRELAS DE COURO: A ESTÉTICA DO CANGAÇO
autor: Frederico Pernambucano de Mello
editora: Escrituras (258 págs., R$ 150)
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