A epidemia de cólera no Haiti que deixou mais de 2.000 mortos começou no acampamento dos soldados nepaleses da a Minustah (a missão da ONU no Haiti), aponta um relatório de especialistas pedido pelo governo francês.
Em novembro, rumores de que os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas foram os responsáveis pela epidemia de cólera no Haiti levou a uma onda de protestos que deixou ao menos dois haitianos mortos e seis soldados feridos. A missão é comandada pelo batalhão brasileiro da missão, que mantém 2.200 homens no país.
O renomado epidemiologista francês Renaud Piarroux coordenou no mês passado uma investigação no Haiti e concluiu que a epidemia foi gerada por uma cepa importada e se propagou a partir do pequeno povoado de Mirebalais, no centro do país --onde soldados nepaleses mantêm seu acampamento.
O relatório, entregue ao Ministério de Relações Exteriores francês, aponta ainda que os casos vieram logo após a chegada das tropas no local. O estudo explica também a forma de propagação da enfermidade --os resíduos sanitários eram drenados do acampamento para o rio Artibonite, que abastece os habitantes do povoado. Pela análise, a corrente fluvial facilitou o contágio.
O cólera é causado por bactérias que proliferam em água ou comida contaminada, frequentemente por fezes. Se não for tratada, a doença pode matar de desidratação em um dia. As pessoas mais vulneráveis são os mais jovens e os idosos.
Uma fonte ligada à investigação afirmou à France Presse, em condição de anonimato, que o ponto de partida foi localizado de forma muito precisa na base da ONU em Mirebalais.
"Não há outra explicação possível, em vista de que não havia cólera no país, e levando em conta a intensidade e a velocidade de disseminação e a concentração da bactéria no delta do Artibonite", enfatizou. "A explicação mais lógica é a introdução maciça de matéria fecal no rio Artibonite em uma única ocasião".
O porta-voz do ministério, Bernard Valero, não se pronunciou sobre as conclusões do relatório, mas afirmou que uma cópia será enviada a investigadores da ONU.
A ONU ainda não se pronunciou sobre a nova investigação, mas disse no passado que não há evidências de que o Vibrio cholerae que circula no país tenha sido trazido por militares da missão. Segundo a organização, a bactéria causadora da epidemia no Haiti é encontrada em várias partes da região sul da Ásia, não apenas no Nepal.
No mês passado, Edmond Mulet, chefe civil da missão das Nações Unidas no Haiti, havia dito que nenhum soldado da ONU, policial ou funcionário civil havia tido exame positivo para cólera, defendendo os nepaleses, que foram alvo de protestos. Segundo Mulet, todas as amostras retiradas de latrinas, cozinhas e suprimentos de água no campo nepalês suspeito tiveram resultado negativo.
A epidemia de cólera tornou ainda mais difícil a situação neste miserável país caribenho, que já tinha sido devastado por um forte terremoto, em janeiro deste ano, que matou 250 mil pessoas e deixou 1,3 milhão de desabrigados vivendo em tendas de campanha.
Segundo balanço divulgado nesta segunda-feira pelas autoridades haitianas, mais de 2.070 morreram por cólera no Haiti. O número de pessoas atendidas com cólera chegou a 91.700, das quais 43.200 foram hospitalizadas. A mortalidade é de 2,3% dos casos, segundo o Ministério da Saúde do Haiti.
No país vizinho, a República Dominicana, foram declarados 16 casos da doença, mas ainda não há mortes.
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