quarta-feira, março 16, 2011

Garoña, a Fukushima espanhola - Luisa Belchior

A Europa passou os dois últimos dias discutindo a segurança nuclear do continente depois da explosão da usina de Fukushima, no Japão. Mas o episódio preocupou particularmente o governo espanhol, que tem sobre seu solo um modelo de central nuclear idêntico ao japonês. Trata-se da usina de Garoña, que ano passado recebeu ordem do governo para encerrar as atividades em 2013, mas cuja vida útil membros do governo e da oposição tentam prolongar.

Garoña é a central nuclear ativa mais antiga da Espanha e uma das mais poderosas da Europa, com potência de 460 MW. Sua vida útil terminaria em 2009, segundo estipulado quando foi criada, em 1971, mas a empresa que administra a central conseguiu prorrogar o funcionamento da usina por mais 10 anos. A autorização, dada pela agência reguladora das usinas nucleares no país, enfureceu os ambientalistas espanhóis, que conseguiram reduzir o prazo para 2013.

O debate, que tomou as páginas dos jornais espanhóis nos dois últimos anos, havia arrefecido, mas voltou com força depois do acidente nuclear no Japão. Isso porque a usina espanhola é "irmã gêmea", na definição do jornal "El País", do primeiro reator a explodir no Japão.
O mesmo alerta fez na segunda-feira o Greenpeace espanhol, lembrando que Garoña tem o modelo idêntico ao de Fukushima, inclusive porque ambas foram construídas na década de 1970. A Ecologista en Acción, principal ONG ambientalista do país, calculou, com o acidente no Japão, que qualquer problema em Garoña poderia causar uma contaminação de radioatividade em toda a região do centro-norte da Espanha.

O governo espanhol garantiu oficialmente que não há riscos em Garoña, mas ao mesmo tempo estuda novas medidas de segurança. O Partido Popular, que lidera a oposição, é abertamente favorável às usinas nucleares no país. Mas ambos colocaram panos quentes na discussão, que não têm interesse em manter agora para não bater de frente com uma opinião pública mobilizada com os horrores dos efeitos da tragédia no Japão.

Mesmo assim, segurança nuclear é um dos temas mais ouvidos por aqui nesta semana. O debate, aliás, também foi tema de uma entrevista exclusiva da TVE (Televisão Espanhola) com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad na manhã desta terça-feira. Ahmadinejad despertou a Espanha discutindo com a jornalista Ana Pastor, o "carro-chefe" da TVE, que foi ao Irã para uma ácida entrevista de 30 minutos com o presidente.

A questão da segurança nuclear no Irã foi uma das únicas perguntas às quais Ahmadinejad efetivamente respondeu a Ana Pastor, garantindo que não há risco em seu país. Em quase todo o resto do programa, o iraniano foi ríspido e invocado com a jornalista espanhola, que lhe perguntou sobre a perseguição a opositores e jornalistas desaparecidos. A entrevista foi tão tensa que a jornalista chegou a deixar cair -- sem querer, segundo ela disse depois -- de sua cabeça o véu que é de uso obrigatório no país a todas as mulheres e assim ficou nos últimos dez minutos.

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