quinta-feira, junho 26, 2008

Parte de mim

Os pensamentos diurnos são soluços, resquícios de sonhos que eu não consigo lembrar. Eu durmo como um cadáver e já não sei mais dormir abraçado com alguém. O passado tem me acordado, tem me poluído os primeiros pensamentos do dia. Antes de abrir os olhos já estou com sonhos, pendências, dívidas, pequenos deslizes, acertos e erros, tudo isso, e muito mais fervilhando como sílabas bobas dentro da minha mente e eu digo a mim mesmo "pare de pensar" e tento extrair as palavras desse tormento, tento extrair os sentimentos passados, tento acabar com a ponta de dor de cabeça que brota em minha fronte. Não passa.
Parte de mim está buscando no passado uma explicação lógica para a situação em que estou. Morando na casa de minha mãe e convivendo, como eu tenho feito, com as pessoas que fizeram parte de minha vida a 10 anos atrás, e digerindo as duas mais fortes frustrações possíveis no momento: lado pessoal em frangalhos, lado profissional estagnado: aceito sem pesar as conseqüências de ter escolhido em determinado ponto da vida abandonar os estudos, abandonar aquele Bruno que era certo, obediente, resignado porém satisfeito, para me tornar este homem, este pai, este filho, este ser que, apesar de sentir muito amor no coração, não sabe mais o que fazer, o que escrever, o que dizer de bom para seus amigos e pessoas queridas, e que suporta a insatisfação assim como bebe água de manhã. Lutei muito para ter minha própria família, minha casa e meu lar. Em um certo ponto, eu abri meu próprio negócio e ele afundou junto com minhas expectativas. Perdi dinheiro lutando para ter algo mais do que uma banda. Perdi minha mulher e não moro com meu filho porque eu quis escrever uma música sublime, especial, que fosse um retrato contemporâneo, que me fez endurecer os cascos e aguentar a pressão que eu mesmo me impus. Eu trabalhei 3 anos sem parar para produzir, ensaiar, gravar, arranjar e mixar dois discos e um dvd, compus 83 músicas... tudo isso não me levou onde eu queria estar agora. Eu não sabia se tudo o que eu tinha me proposto à fazer até os 30 anos ia dar certo, mas eu fiz e quase tudo deu errado no final das contas.
Hoje eu tenho que lidar com coisas tão sem importãncia que cuidar do meu filho virou algo fundamental. É a melhor coisa do mundo ser pai e, se eu pudesse, só ficaria com ele. O sol é lindo e todos os dias eu me banho dele abrindo meu coração pra novos desafios que já estão na ponta do meu nariz assim como busco na felicidade e no sossego do meu filho algo que foi plantado em mim quando eu era criancinha como ele. É fundamental a gente se encontrar e proteger aquilo que nos define. E eu tenho sido muito feliz aqui na mesma casa onde tudo começou para mim. Esses pensamentos estão tão presentes no meu sono porque eu estou simplesmente descansando, de férias, sossegado. A minha mente está tentando me pregar uma peça, isso eu consigo perceber. Mas não vai conseguir porque sou eu quem está com as rédeas dessa confusão mental. É uma poluição que está se agregando na Cubatão da minha mente para, logo,logo, ser descarregada na descarga.
É fundamental ser um bom pai para doar ao meu filho aquilo que me foi ensinado à custo de muita briga. O peso do meu filho é tudo para mim e as bochechas dele, eu beijo, beijo, beijo sem parar porque ele crescerá e não permitirá mais que eu faça tanto carinho e chamegos nele. Um dia será ele o papai de alguém e ele fará instintivamente aquilo que eu faço por gosto. É tanto amor que eu sinto que já não tem espaço aqui no meu peito pra nenhuma mulher ou pra trabalhar músicas insossas, ou mesmo para sair de casa para me envergonhar com as atitudes dos outros. Não há espaço pra nada por enquanto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário