Eu fui criado e meus pais sempre me deixaram claro que, se eu quisesse desempenhar atividades as quais eles se sentissem responsáveis por mim, eu teria que começae e ir até o fim com aquela atividade. Foi assim jogando tênis ou fazendo karatê, foi assim em todo o meu período escolar e nas tarefas domésticas importantes. Era fundamental você ter o ímpeto de ir até o fim; nas conseqüências finais dos meus atos eu sempre encontraria algo maior do que um prêmio ou troféu: estaria lá a experiência de ter trilhado um caminho só meu, com as dificuldades inerentes, as pessoas costurando esse caminho seriam parte dessa experiência e eu estaria natiuralmente crescendo.
Hoje em dia, eu deixo muitas coisas de lado porque me envolvo em causas sem fim ou causas perdidas e tenho a tendência a abandonar o que simplesmente não tem mais solução ou conserto. O que me pôs a pensar nisso foi um hard disk velho onde eu tenho armazenada as fotos do primeiro ano do meu filho e mais uma porrada de arquivos que já não me lembro mais. Fiz um backup disso tudo em um HD que não funciona mais. 5 gigabytes de fotos que eu preciso recuperar e havia me esquecido. É cedo, são 6 horas da manhã e eu acordei mais cedo do que isso pensando no medo que seria perder definitivamente estes registros da minha vida... os meus vídeos estão todos com um amigo em São Paulo que eu usei disponibilizei para fazer o making of do Maskavo. Por que ainda não recuperei estes vídeos? Morei em Marília e peguei emprestado para meu estúdio uma potência emprestada que nunca funcionou. Tentei arrumá-la, mas era tão caro fazer isso que eu comprei uma nova, fiz uma dívida numa época em que eu não deveria, e continuei o estúdio humildemente. Hoje, o dono da potência quebrada me pediu satisfações sobre o paradeiro dela e eu não sei onde ela está agora, mas ela estava com meu sócio na época e, bem, isso está me obrigando a lembrar da época em que eu decidi esquecer tudo o que não era meu e comecei a cuidar do pouco que eu tinha produzido e construído até então. Meu carro, meu velho Fiat, eu não consigo reformar por falta de dinheiro então ele vai comigo até o final. Eu comprei um alarme para a casa onde era meu estúdio, foi uma grana. Paguei sozinho porque tive a chance e escolhi um sócio bom de coração, mas falido. Eu entrei com o pouco que eu tinha, ele com a parte que eu não tinha, mas a estrutura técnica importante fui eu quem comprou tudo. Briguei muito comigo e com minha mulher por causa disso e veja que até hoje isso me dá problema. Eu deveria ter ido até o final com a história do estúdio em Marília. Eu fui. Paguei a casa, o alarme que foi roubado depois por quem me vendeu o produto, devolvi algumas coisas pro meu vizinho Beah, outras coisas meu sócio ficou de devolver. Mas pelo visto ele não fez isso...
Deixei muita coisa sem fim em Marília e talvez por isso eu tenha retornado até lá agora nessas linhas. É uma cidade boa com muitos fantasmas. Eu enterrei dois dos meus por lá, inclusive. Espero nunca mais pisar naquelas bandas.
Então, eu fui roubado, meu estúdio faliu, não fiz amigos, meu sócio não cumpriu com a parte dele financeira, eu e minha mulher engravidamos, eu estava ensaiando e produzindo o Transe Acústico ou dentro do Expresso de Prata trajeto Marília/São Paulo/Marília, estava começando a compor seriamente, nunca fui visitado pela minha mãe, meu irmão gêmeo, pelo meu sogro, por ninguém além do meu pai e meu irmão mais novo e pela minha sogra e pela cumadre da minha mulher. Conheci poucas pessoas realmente confiáveis em Marília e tive que aprender a ser só mesmo estando com a pessoa que eu amava. Eram muitas decisões maritais e mais um monte delas que eu tinha que decidir sozinho. Falta de dinheiro por falta de shows rolou demais. Foi um péssimo 2005 para o Maskavo até então. 2008 está tão ruim quanto e por isso que estou analisando o passado: pra não voltar aquele perrengue que me levou tudo o que eu tinha. Fui desorganizado com tudo o que eu pude. Confiei nas pessoas erradas. Fui ajudado por bandidos para salvar meu carro do Detran de lá. Tive ótimos vizinhos, no entanto. Ótimos, prestativos, humildes, sossegados vizinhos que me ajudaram demais. Cuidaram da minha casa e da minha gata, zelaram pela minha casinha. Eu só não abandonei minha mulher e meu trabalho. Fui nota 7 no casamento e nota 10 no Maskavo. E fui nota 1 comigo. Pelo visto, eu preciso finalizar algumas coisas antes de fazer o que eu quero hoje em dia.
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